sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – OITAVA NATAL





(OITAVA NATAL, 27 de Dezembro de 2014)


SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ


O Menino crescia, e enchia-Se de sabedoria


LEITURA I – Sir 3, 3-7.14-17a

Aquele que teme a Deus honra os seus pais

A palavra de Deus faz o elogio da vida familiar. O Filho de Deus, ao fazer-Se homem, quis nascer e viver numa família humana. Foi ela a primeira família cristã, modelo, a seu modo, de todas as demais. O amor de Deus em todos os membros de uma família é condição fundamental para o crescimento, em paz, de todos os que nela nascem e vivem, como no quadro que o sábio nos apresenta nesta leitura.

Leitura do Livro de Ben-Sirá
3O que honra o pai alcança o perdão dos pecados, 4e quem honra a sua mãe é semelhante ao que acumula tesouros.
5Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos, e será ouvido no dia da sua oração.
6Quem glorifica o pai gozará de longa vida e quem obedece ao Senhor consolará a sua mãe.
7Quem teme o Senhor honrará seu pai e servirá, como a seus senhores, aqueles que lhe deram a vida.
14A caridade que exerceres com o teu pai não será esquecida, e ser-te-á considerada, em reparação de teus pecados.
15No dia da aflição, o Senhor há-de lembrar-se de ti, os teus pecados hão-de dissolver-se como o gelo em pleno sol.
16É um blasfemador o que desampara o seu pai, e é amaldiçoado pelo Senhor aquele que irrita a sua mãe.
17Filho, pratica as tuas obras com doçura,”

LEITURA II – Col 3, 12-21

A vida doméstica no Senhor

Desde o princípio que os cristãos compreenderam que a sua fé se deve manifestar em toda a sua vida e muito particularmente na vida de família; esta pode ter sempre diante dos olhos a Sagrada Família de Nazaré, que constituiu a melhor experiência do que devem ser as nossas famílias.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
12Como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos, pois, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência, 13suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, fazei-o vós também. 14E, acima de tudo isto, revesti-vos do amor, que é o laço da perfeição. 15Reine nos vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados num só corpo. E sede agradecidos. 16A palavra de Cristo habite em vós com toda a sua riqueza: ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria; cantai a Deus, nos vossos corações, o vosso reconhecimento, com salmos, hinos e cânticos inspirados.
17E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças por Ele a Deus Pai.

Novas relações no Senhor - 18Esposas, sede submissas aos maridos[1], como convém no Senhor. 19Maridos, amai as esposas e não vos exaspereis contra elas.
20Filhos, obedecei em tudo aos pais, porque isso é agradável no Senhor. 21Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.”

EVANGELHO – Lc 2, 22-40

O Menino crescia, e enchia-Se de sabedoria

O quadro da vida evangélica, que hoje nos é proclamado, é cheio de mistério: a Sagrada Família cumpre a Lei de Moisés, revelando assim como Deus realmente entrou no caminho dos homens; Maria escuta a profecia de Simeão, que anuncia desde já, o mistério pascal; a vida da Família de Nazaré é um mundo de sabedoria e de graça, de trabalho, de oração e de paz.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
22Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem[2] ao Senhor, 23conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas.
25Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel[3]. O Espírito Santo estava nele. 26Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias[4] do Senhor. 27Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito.
28Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo:[5]
29«Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, 30porque meus olhos viram a Salvação 31que ofereceste a todos os povos, 32Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.[6]»
33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele.
34Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe:[7] «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35uma espada trespassará a tua alma[8]. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»
36Havia também uma profetisa, Ana[9], filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção[10] de Jerusalém.
39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40Entretanto, o menino crescia[11] e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.”





[1] Esta passagem contém preceitos de moral doméstica. O Apóstolo recomenda as novas relações nascidas no baptismo, o qual nos revestiu de Cristo ressuscitado. O v.18 é paralelo a 1 Cor 11,7. Na tradição do AT, aqui se estabelece a comparação do amor de Cristo pela sua Igreja sob a figura do amor conjugal. Submissas é um termo chocante para hoje; contudo, a palavra original grega (upotasso) implica uma atitude de liberdade e de consentimento na pessoa que obedece e reconhece a autoridade de outrem. A imagem da submissão é a da Igreja a Cristo (Ef 5,21-33), que é fruto da fidelidade e não da coacção. Neste mesmo contexto, Paulo afirma que todas as barreiras entre as pessoas (religiosas, sociais, nacionais, culturais) foram abolidas, porque Cristo é tudo em todos. Homens e mulheres estão, pois, no mesmo plano e devem trabalhar para um projecto comum com espírito cristão (Lv 25,43; Rm 2,6; 1 Cor 7; 11,3.7-9; Gl 3,28; Ef 5,21-33; 6,1-9; 1 Tm 6,1-2; Tt 2,5.9-10.9; 1 Pe 2,18-20; 3,1-7; 5,5).
[2] A apresentação do Menino no templo não era requerida pela Lei, que apenas prescrevia a purificação da mãe.
[3] A consolação de Israel, isto é, a salvação de Israel, segundo o Livro da Consolação de Isaías (40,1; 51,12; 61,2). Simeão é descrito como justo, profeta, por nele habitar o Espírito Santo.
[4] O Messias do Senhor, título messiânico tradicional no AT (grego), diferente do de Cristo Senhor, próprio do NT.
[5] O Cântico de Simeão sobre Jesus corresponde ao de Zacarias sobre o seu filho (1,68-79). Simeão saúda a chegada do Salvador e revela aos pais do Menino alguns traços característicos da sua missão. Último profeta do AT, Simeão inspira-se em Isaías, para proclamar a salvação de Deus já presente (Is 40,5; 42,6; 45,25; 46,13; 49,6; 52,10).
[6] A salvação das nações pagãs, um dos temas importantes de Lc, é anunciada aqui pela primeira vez. Só a partir da revelação pascal (24,47) será proclamada abertamente, como o documentam os Actos.
[7] O oráculo de Simeão dirige-se só a Maria (Jo 19,25). O menino é apresentado como motivo de divisão e sinal de contradição. Prepara a conclusão dos Actos, segundo a qual uma parte de Israel rejeitou o Messias (Mt 10,34-35; Act 28,25-27).
[8] Uma espada trespassará... A predição parece referir-se à dor de Maria perante a rejeição de Jesus por parte dos judeus (Jo 19,25-27 nota). Esse era o preço da missão de Jesus, que também iria denunciar a incredulidade dos seus ouvintes (5,22; 6,8; 9,47; 16,15; 24,38).
[9] Ana é apresentada como israelita exemplar que não se afastava do templo (Sl 23,6; 26,8; 27,4; 84,5.11).
[10] Redenção ("lutrosis" = resgate), como no caso da lei dos primogénitos (v.7 nota; 1,68). Aqui indica a salvação do povo de Deus (Jerusalém).
[11] O menino crescia, consequência da sua Encarnação. O versículo é paralelo a 1,80, sobre João Baptista. A sabedoria, no sentido próprio da Escritura, e a graça de Deus são atributos de Jesus, que lhe vêm do contacto com o Pai (v.52; 11,31; 21,15). Em Jesus, manifesta-se progressivamente a graça, a benevolência divina (1,80; 4,22).

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – NATAL




(NATAL, 25 de Dezembro de 2014)

Missa do dia

O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós

LEITURA I – Is 52, 7-10

Todos os confins da Terra verão a Salvação do nosso Deus

Esta leitura é constituída pelo belo e solene pregão que serviu outrora ao profeta para anunciar a Boa Nova ao povo de Deus em tempo de desolação e de abandono; esse mesmo pregão serve para nos anunciar agora a nós mensagem ainda mais feliz, a que nos traz o nascimento do Salvador de todo o mundo.

Leitura do Livro de Isaías
7Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que apregoa a boa-nova, e que proclama a salvação![1] Que diz a Sião: «O rei é o teu Deus!»
8Ouve: as tuas sentinelas gritam, cantam em coro, porque vêem olhos nos olhos[2] o regresso do SENHOR a Sião.
9Ruínas de Jerusalém, irrompei em cânticos de alegria, porque o SENHOR consola o seu povo, com a libertação de Jerusalém.
10O SENHOR mostra a força do seu braço poderoso aos olhos das nações, e todos os confins da terra verão o triunfo do nosso Deus.”

LEITURA II – Hebr 1, 1-6

Deus falou-nos por seu Filho

Jesus é a própria palavra de Deus, encarnada, feita homem no meio dos homens, mais reveladora de Deus do que a de todos os profetas, mais qualificada do que a de todos os outros mensageiros que vieram antes d’Ele ter vindo ao mundo. Ele é a imagem do Pai por quem tudo foi feito; pela sua morte purificou a humanidade de seus pecados e recebeu em herança todos aqueles que n’Ele acreditaram e a Ele se entregaram. Esses sentam-se com Ele à direita de Deus. Ele é o nosso Salvador e o nosso Deus. Por isso, O adoramos juntamente com todos os Anjos.

Leitura da Epístola aos Hebreus
1Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais[3], nos tempos antigos, por meio dos profetas. 2Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo. 3Este Filho, que é resplendor da sua glória e imagem fiel da sua substância e que tudo sustenta com a sua palavra poderosa, depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade nas alturas, 4tão superior aos anjos quanto superior ao deles é o nome que recebeu em herança.
5Com efeito, a qual dos anjos disse Deus alguma vez[4]:
Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei? E ainda: Eu serei para Ele um Pai e Ele será para mim um Filho?
6E de novo, quando introduz o Primogénito no mundo, diz: Adorem-no todos os anjos de Deus.”

EVANGELHO – Jo 1, 1-18

O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós

O Natal não é apenas o nascimento de um menino. É um mistério, uma realidade divina que se esconde e ao mesmo tempo se revela no nascimento desse Menino. É o Nascimento no meio dos homens do próprio Filho de Deus. O evangelista chama-Lhe o Verbo, isto é, a Palavra, Aquele por quem o Pai Se dá a conhecer aos homens e deles faz seus filhos. O evangelista tenta desvendar-nos todo esse mistério neste poema admirável com que abre o seu Evangelho.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
1No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus.[5]
2No princípio Ele estava em Deus.
3Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência.
4Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir.
E a Vida era a Luz dos homens[6].
5A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam.
6Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João[7]. 7Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. 8Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz.
9O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina.
10Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu.
11Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
13Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne,
nem da vontade de um homem, mas sim de Deus.
14E o Verbo fez-se homem[8] e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade.
15João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'»
16Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. 17É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo.
18A Deus jamais alguém o viu[9]. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.”





[1] Comparar com Na 2,1; Rm 10,15.
[2] Olhos nos olhos, expressão que só aparece aqui e em Nm 14,14.
[3] Exórdio em estilo solene, próprio de um sermão, provavelmente escrito para pregadores itinerantes. Introduz a figura de Jesus, Filho de Deus, a sua acção na criação, a redenção e a glorificação. Ao contrário do que é costume nas Cartas, não apresenta o nome do remetente e dos destinatários, nem a saudação inicial.
Aos nossos pais, isto é, aos antepassados do povo de Israel (3,9; 8,9) aos quais os cristãos se sentem ligados (Rm 4,1-25.16-18; 11,11-24.17; 1 Cor 10,1-2).
[4] A prova escriturística da superioridade de Cristo em relação aos anjos justifica-se no mundo judaico, onde eles apareciam como alternativa ao poder salvífico do "Filho", morto e ressuscitado (1 Cor 15,23-28; Ef 1,20-21; 4,8; Fl 2,10; Cl 1,16; 2,10-15; 3,10; 1 Pe 3,22), entronizado nos céus, o único a quem se deve adorar (Ap 19,10; 22,9).
[5] 1-14. Este poema constitui o frontispício do IV Evangelho e é um dos hinos mais belos de todo o NT. Este Prólogo poderia proceder de um hino litúrgico em honra de Jesus Cristo, Verbo incriado, que, estando na origem de todas as criaturas, assumiu a nossa condição humana, oferecendo-nos a possibilidade de sermos filhos de Deus. São apontados aqui os grandes temas a desenvolver ao longo do Evangelho: o Verbo Incarnado, Luz e Vida da Humanidade, Messias e Revelador do Pai; os testemunhos a seu favor; a resposta humana de aceitação ou rejeição; as consequências da alternativa em que o ser humano é colocado perante a pessoa de Jesus.
1-3. O Verbo. Tradução latina do termo grego Logos, Palavra. Designa a pessoa divina de Jesus, pois corresponde a uma das formas que então se usava (Memrá, em aramaico) para evitar pronunciar o nome inefável de Deus (YHWH); além disso, diz-se expressamente que Ele era Deus. Ver Gn 1,1-5; Pr 8,22-30; Sb 7,24-26; 9,9-11; Sir 1,1-10 nota; 24,1-22 nota (mas a Sabedoria nasceu e é criada, ao passo que o Verbo é eterno e é criador); Cl 1,16; 1 Jo 1,1-2; Ap 19,13.
1. No princípio. Provável alusão ao início do Gn, para evidenciar que, com Jesus, se dá uma nova Criação, que nos faz nascer como filhos de Deus (v.12-13; 3,3-7). Não se diz que o Verbo começou a existir no princípio, mas que está no princípio de tudo o que veio à existência (v.3).
[6] Vida-Luz/Trevas são ideias mestras do IV Evangelho: Jesus é Luz e Vida (8,12; Luz: v.9; 3,19; 9,5; 11,9-10; vida e dador de vida: 3,15.16; 4,14.36; 5,21.26.40.46; 6,27.33.35.40.47.51.54.57.63; 7,37-39; 8,51.52; 10,10.28; 11,25; 14,6; 17,3; 20,31). A luz e a vida são características divinas e as trevas são símbolo das forças demoníacas. Não a receberam (v.9-11; 3,19). Também se poderia traduzir "não a dominaram" (7,34; 8,21; 12,36).
[7] João é o Baptista, mas nunca refere a sua vida e pregação (Mt 3,1.2; Mc 1,12-13; Lc 3,1-2.3.7-9.20.21-22); apenas o seu testemunho a favor de Jesus (v.15.19-35; 3,27-30; 5,33), para todos crerem por meio dele.
[8] O Verbo fez-se homem, lit., "fez-se carne", indicando, assim, que uma Pessoa divina, o Verbo, assumiu realmente a nossa natureza humana e não apenas a sua aparência. Por isso, Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, confissão de fé central do cristianismo (Lc 1,26-38; Fl 2,6.7 notas; 1 Tm 3,16 nota; Heb 2,14). Veio habitar connosco, lit., "ergueu a sua tenda no meio de nós", alusão ao santuário, habitação de Deus no meio do seu povo (Ex 25,10-25 nota). O Verbo assumiu não só a natureza humana, mas também todas as circunstâncias da nossa vida diária (veio habitar connosco); insiste-se também na sua condição divina através da alusão à habitação (de Deus), a Chekiná, uma das metonímias usadas para designar a Deus, evitando pronunciar o seu Nome. O verbo grego (habitou) tem o mesmo radical de Chekiná. É, pois, na pessoa de Jesus que Deus e a humanidade se encontram (v.51; 2,19-21; 4,20-24; Mt 27,51-53 nota; Heb 10,1-18). Glória. No AT, era a manifestação sensível da presença de Deus (Nm 14,10 nota); em Jo, é um atributo divino que se revela nos milagres de Jesus, sinais que levam à fé nele (2,11), na unidade dos discípulos (17,22-23) e sobretudo na sua hora da passagem deste mundo para o Pai (2,4 nota; 12,21-26.27-28 notas; 13,31; 17,2-5). Unigénito é um título exclusivamente joanino (v.14.18; 3,16.18; 1 Jo 4,9), que acentua a absoluta singularidade da filiação divina de Jesus.
[9] Nenhuma visão de Deus foi directa, nesta vida (Ex 33,20 nota); a visão de Jesus é directa, de quem está no seio do Pai.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – 4º DOMINGO DO ADVENTO




(Domingo, 21 de Dezembro de 2014)


Conceberás e darás à luz um Filho

LEITURA I – 2 Sam 7, 1-5.8b-12.14a.16

O reino de David permanecerá eternamente na presença do Senhor

O rei David deseja construir um templo em honra de Deus, que abrigue a Arca da Aliança e seja o centro espiritual do seu povo. Embora o Senhor não rejeite o seu nobre projecto, faz-lhe, no entanto, compreender que não é o homem que traça planos a Deus, mas é Deus que associa o homem à realização dos Seus desígnios de salvação.
Será, portanto, Deus que construirá uma casa a David, constituído, doravante, depositário pessoal das promessas divinas. Da sua descendência nascerá o Messias, em Quem habita toda a plenitude da Divindade, verdadeiro e vivo templo de Deus no meio dos homens
Esta Aliança e a fidelidade por ela exigida são mais importantes para o futuro do povo do que um templo material.

Leitura do Segundo Livro de Samuel
1Quando o rei se instalou em sua casa, e o SENHOR lhe deu paz, livrando-o dos seus inimigos[1], 2disse David ao profeta Natan: «Não vês que eu moro num palácio de cedro, enquanto a Arca de Deus está abrigada numa tenda?» 3Natan respondeu-lhe: «Pois bem, faz o que te dita o coração, porque o SENHOR está contigo!»
4Mas, naquela mesma noite, o SENHOR falou a Natan, dizendo-lhe: 5«Vai dizer ao meu servo David: Diz o SENHOR: «És tu que me vais construir uma casa para Eu habitar?[2]
8Diz o SENHOR do universo: Eu tirei-te das pastagens onde apascentavas as tuas ovelhas, para fazer de ti o chefe de Israel, meu povo. 9Estive contigo em toda a parte por onde andaste; exterminei diante de ti todos os teus inimigos e fiz o teu nome tão célebre como o nome dos grandes da terra. 10Fixarei um lugar para Israel, meu povo; nele o instalarei, e ali habitará, sem jamais ser inquietado; e os filhos da iniquidade não mais o oprimirão, como outrora, 11no tempo em que Eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. A ti concedo uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos[3].
Além disso, o SENHOR faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti. 12Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino.
14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho.
16A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre»[4]”.

LEITURA II – Rom 16, 25-27

O mistério encoberto desde os tempos eternos foi agora manifestado

Neste hino de louvor e gratidão, com que encerra a Carta aos Romanos, S. Paulo dá glória a Deus, por haver, finalmente, revelado o mistério por excelência – o do acesso à salvação dos pagãos e dos judeus, incapazes, uns e outros, de a alcançar, pelos seus esforços.
Oculto no tempo, esse mistério revela-se no Natal, em que Deus nos deu a conhecer a sabedoria do Seu plano divino: salvar todos os homens e o homem todo por Jesus Cristo. Realiza-se na Cruz e é manifestado pelo anúncio do Evangelho feito pelos Apóstolos, testemunhas e realizadores deste mistério inefável.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
25Àquele que tem o poder para vos tornar firmes, de acordo com o Evangelho que anuncio pregando Jesus Cristo, segundo a revelação de um mistério que foi mantido em silêncio por tempos eternos, 26mas agora foi manifestado[5] e, por meio dos escritos proféticos, de acordo com a determinação do Deus eterno, levado ao conhecimento de todos os gentios, para os levar à obediência da fé, 27ao único Deus sábio, por Jesus Cristo, a Ele a glória pelos séculos! Ámen[6].”

EVANGELHO – Lc 1, 26-38

Conceberás e darás à luz um Filho

Maria aceitando ser a Mãe do Salvador, prometido a David, encerra o longo período de expectativa da humanidade. Pela sua fé, pelo seu «sim» generoso, Deus começa a habitar no Seu Povo.
Israel, apesar das advertências dos profetas (Deut. 12, 2-12), sonhava multiplicar os santuários, onde habitasse o Seu Deus. Mas só Deus pode escolher e construir uma morada digna d’Ele. E, na verdade, Ele mesmo a escolhe, pobre e humilde, de maneira desconcertante para o orgulho humano. O humilde acolhimento de Maria dá-Lhe a morada, que Ele desejava. O Espírito Santo realiza essa maravilha: Ele faz habitar o Verbo de Deus entre os homens.
Em Maria, a primeira entre os cristãos a comprometer-se na grande aventura da fé, nasce a Igreja, morada de Deus no meio dos homens (Apoc. 21, 3).

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
26Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27a uma virgem[7] desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria.
28Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo[8]29Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho[9], ao qual porás o nome de Jesus. 32Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.»
34Maria disse ao anjo[10]: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35O anjo[11] respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37porque nada é impossível a Deus.» 38Maria disse, então[12]: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.”







[1] Todo este capítulo é de grande importância para a compreensão das promessas messiânicas. A profecia aqui presente assenta numa oposição: não será David a construir uma casa (templo de Jerusalém) para Deus, mas é Deus quem vai construir uma casa (dinastia) para David. A linhagem de David há-de conservar-se no trono. Isto prepara-nos para a compreensão das profecias em que o Messias é apresentado como o "Filho de David"; que dará consistência eterna ao seu trono real (Sl 89,28-38; 132,11-12; Is 7,14; Mq 5,1-3).
[2] Os v.5-7 são reflexo de uma corrente de pensamento crítico em relação ao templo (1 Rs 8,16-27; Is 66,1; Act 7,48).
[3] Os v.10-11a, que aplicam a profecia a todo o povo de Israel, parecem um acrescento do redactor deuteronomista .
[4] Este texto é o fundamento do messianismo davídico e também do título de "Filho de David" atribuído a Jesus: Mc 8,29; 10,47-48; 11,9-10; Lc 1,32-33. Ver 23,5; 1 Sm 15,28; 1 Rs 11,38.
[5] Como os escritos proféticos (1,2), também Rm nos revela o mistério de Deus (v.25-26; Dn 2,19; 1 Cor 2,7; Ef 1,9; 3,3.5-9; Cl 1,26-27.26), o Evangelho que o Apóstolo anunciou (1,2-4.16-17). É por ele que Deus nos salva e fortalece (v.25; 1 Ts 3,13; 2 Ts 2,17; 3,3; 1 Pe 5,10). Daí o louvor que proferimos no final da leitura (v.25.27; 11,33-36), a envolver o conteúdo do Evangelho (v.25-26).
[6] Há manuscritos sem esta doxologia; noutros, vem a seguir a 14,23 ou 15,33. Talvez tenha sido acrescentada, quando a Carta entrou no cânon bíblico e passou a ser lida na liturgia (daí o Ámen da comunidade).
[7] Virgem, palavra grega (parthenos) que designa mais exactamente uma donzela virgem (hebr. 'almá: Is 7,14). No Evangelho, designa toda e qualquer jovem (Mt 25,1-13). Pondo em realce a virgindade de Maria, Lc elimina o equívoco sobre o seu casamento e prepara a narração da concepção milagrosa de Jesus (1,34): Maria estava legalmente casada com José (2,5), mas não tinham ainda vivido em comum. Segundo o costume judaico, havia um espaço de tempo até a esposa ser introduzida na casa do esposo (Mt 1,19).
[8]  Salvé. O imperativo (kaire) ultrapassa aqui o contexto da saudação habitual. É o eco dos anúncios de salvação à "filha de Sião" (2 Rs 19,21-28; Is 1,8; 12,6; Jr 4,31; Sf 3,14-17; Jl 2,21; Zc 2,14). A saudação do anjo é convite à alegria messiânica. Cheia de graça, termo grego endereçado a Maria; não se encontra senão em Sir 18,17; Ef 1,6. Aparentado com a palavra graça (favor do rei, amor do amado), o termo é atribuído a Maria, como àquela que é objecto da predilecção e amor de Deus. O Senhor está contigo, expressão que aparece com frequência nas narrações de vocação (Ex 3,12; Jz 6,12; Jr 1,8.19; 15,20). "Bendita és tu entre as mulheres" é inserida aqui por alguns textos antigos, mas trata-se de uma adição, por influência do v.42.
[9] O nome de Jesus não é explicado como em Mt 1,21 nota (Deus salva), mas Lc dá-lhe o mesmo sentido em 2,11. Retomando textos do AT de anúncio de nascimento, as palavras do anjo reflectem sobretudo o texto de Is 7,14 (Mt 1,23). Dar à luz um filho. O título de Filho (de Deus) equivale ao epíteto de filho de David (2 Sm 7,14; Sl 2,7; 89,27), em contraste com o do v.35. O nome Altíssimo, usual para designar Deus no helenismo e no AT, é quase só utilizado por Lc (v.35.76; 6,35; 8,28; Dn 3,93; Mc 5,7; Act 7,48; 16,17; Heb 7,1).
[10] A pergunta de Zacarias (v.18) manifestava incredulidade (v.20); a de Maria, inspirada pela fé, procura esclarecer-se (v.35-36.45). E serve para introduzir uma revelação mais completa do mistério de Jesus (v.29).
[11] Segundo o AT, o Espírito Santo que actua na criação (Gn 1,2) é o mesmo que intervém na investidura do Messias, como também no ministério dos profetas (Lv 4,3; 1 Sm 9,16 nota; 2 Sm 2,2-4; Sl 23,5; Is 45,1; Ez 34,23-24; Zc 4,14; Mc 6,14; 8,27-30). Estender a sua sombra indica, no AT, a presença eficaz de Deus no meio do seu povo (Ex 40,35; Nm 9,18.22; 10,34). Santo indica a pertença total e exclusiva a Deus; é um dos atributos mais antigos para exprimir a divindade de Cristo (Act 3,14; 4,27.30). Filho de Deus é uma designação do Messias; exprime a relação misteriosa que une Jesus a Deus. Em Lc, a expressão não sai dos lábios das pessoas, como em Mt e Mc, mas vem somente na voz do Pai (3,22; 9,35), na de Jesus (10,22; 22,70) e na dos anjos. Este título aprofunda o de Filho do Altíssimo (v.32). Sobre Filho de Deus, ver 3,21-22; 9,35; 22,69-70; Sl 29,1; Dn 3,92; Mt 16,14-16; Mc 1,1.
[12] Serva exprime uma atitude de fé e de amor, de posse incondicional por parte do Senhor (v.48). Maria conforma-se totalmente com o misterioso desígnio de Deus a seu respeito. No AT, servo de Deus é um título de glória, não de humildade (Is 41,8).

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Contributo para conhecer melhor… – ÊXODO




Êxodo

O ÊXODO é o segundo livro da Bíblia e do Pentateuco. Na Bíblia Hebraica recebe o título de Shemôt, isto é, “Nomes”, de acordo com o hábito judaico de intitular os livros a partir das suas palavras iniciais: “We’elleh shemôt” (= «E estes são os nomes dos filhos de Israel que vieram para o Egipto»: 1,1). O título de ÊXODO provém da versão grega dos Setenta, que procura dar a cada livro um título de acordo com o seu conteúdo. Neste caso, privilegia os 15 primeiros capítulos, pois é aí que propriamente se descreve o “Êxodo”, isto é, a “saída” dos israelitas do Egipto.
Este léxico tem a ver prevalentemente com os grupos recalcitrantes que Moisés “fez sair” do Egipto pela “estrada do deserto”; mas, dada a importância determinante de Moisés, dos seus grupos e das suas experiências para a constituição de Israel e a formação da Bíblia, o seu léxico torna-se património comum, podendo expressar também as “libertações” de outros grupos da “opressão” do domínio egípcio.

CONTEÚDO E DIVISÃO


Pode dividir-se o seu conteúdo do seguinte modo:

I. “Opressão” e “Libertação” dos filhos de Israel no Egipto. Este é o tema fundamental de 1,1-15,21. Nesta secção, merecem especial relevo as peripécias no Egipto (1,1-7,8), como um povo que nasce no sofrimento. Seguem-se as pragas (7,8-12,32), como meio violento de libertação.

II. Caminhada pelo deserto (15,22-18,27) do povo, agora livre do Egipto.

III. Aliança do Sinai (19,1-24,18). Esta aliança é o encontro criacional ou fundacional de Javé com os “israelitas”, em que o Senhor se dá a si mesmo ao homem e restitui cada homem a si mesmo, e em que o homem aceita a dádiva pessoal de Deus e se aceita a si mesmo como dom de Deus com tudo o mais que lhe é dado: a natureza, a razão, a Lei, a História, o mundo. Por sua vez, a dádiva e a sua aceitação também reclamam dádiva mútua e, portanto, responsabilidade. O pecado surge como possibilidade da liberdade humana; mas Deus pode sempre recomeçar tudo de novo.

IV. Código sacerdotal, com especial relevo para a construção do santuário (25,1-31,18). A execução do mesmo vai ser revelada em 35,1-40,33, com a correspondente organização do culto. Esta narrativa está encerrada numa inclusão significativa: 40,34-38 descreve a descida do Senhor sobre o santuário com as mesmas características (nuvem, glória, fogo) com que 24,12-15a descreveu a descida do Senhor sobre o Sinai, mostrando, assim, que o santuário assumiu o papel do Sinai como lugar da manifestação de Deus. É a presença da ideologia sacerdotal (conhecida por fonte P), que projecta retrospectivamente no Sinai a imagem do segundo templo, do seu sacerdócio e do seu culto – em suma, o ideal da comunidade judaica pós-exílica (ver VI).

V. Renovação da Aliança do Sinai, relatada em 32,1-34,35.

VI. Código sacerdotal (35,1-40,38): execução das obras relativas ao santuário (ver IV).
O texto normativo do livro do ÊXODO é sobretudo um entrançado de peças narrativas e legislativas. Nestas últimas, destacam-se o “Decálogo” propriamente dito (20,1-17) e os chamados “Código da aliança” (20,22-23,19) e “Decálogo ritual” (34,12-26). São a Lei dada por Deus, mas formulada pelo homem a partir da razão e da experiência.

AUTOR


A antiga tradição judaica, tal como a antiga tradição cristã, atribuíam a Moisés a autoria de todo o Pentateuco e, por isso, também do livro do ÊXODO. Este modo de pensar está hoje claramente ultrapassado. Contudo, talvez hoje se avalie também, com mais clareza do que nunca, a eventual acção determinante de Moisés na constituição de Israel e do corpo bíblico do Pentateuco e do ÊXODO.

GÉNERO LITERÁRIO


O tecido literário deste livro resulta em parte da acostagem horizontal de temáticas por via redaccional (“teoria fragmentária”), mas fundamentalmente da complexidade dinâmica da vida de múltiplos grupos cujas experiências no terreno vão sendo recolhidas e integradas em contextos ideológicos mais amplos.

É ainda a questão da “teoria documentária”, embora redimensionada, nas suas componentes Javista (J), Eloista (E), Deuteronómico-Deuteronomista (D-Dtr) e Sacerdotal (P); das múltiplas “fichas” que recolhem e da ideologia e intenção das redacções; sem esquecer, também, a redacção final.

LEITURA CRISTÃ E TEOLOGIA


O acontecimento do Êxodo relata a libertação de Israel do Egipto pelo Senhor, que faz com esse povo uma Aliança. Tal acontecimento fundador foi objecto de várias releituras, já dentro da própria Bíblia, pois toda a teologia e espiritualidade do povo de Israel ficaram profundamente marcadas por ela. Assim, o Segundo e Terceiro Isaías vêem a libertação de Judá do domínio da Babilónia como um novo Êxodo.

Os primeiros discípulos de Jesus e as primeiras comunidades cristãs, que eram de origem judaica, viram na doutrina de Jesus um “êxodo” novo e definitivo (Lc 4,16-21); e, na sua pessoa, o verdadeiro libertador, à vista do qual o próprio Moisés era simples figura, e a Lei do Sinai mero pedagogo para conduzir o povo até ao verdadeiro Mestre, que é Cristo (Gl 3,24). O Novo Testamento apresenta Moisés como muito inferior a Jesus, que veio trazer a nova Lei (Mt 5,17-48). A Carta aos Hebreus chega mesmo a dizer que Moisés já considerava os opróbrios por Cristo superiores aos tesouros do Egipto, seguindo em frente com firmeza, «como se contemplasse o Invisível» (Heb 11,27).





sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – 3º DOMINGO DO ADVENTO




(Domingo, 14 de Dezembro de 2014)


Endireitai os caminhos do Senhor

LEITURA I – Is 61, 1-2a. 10-11

O espírito do Senhor DEUS está sobre mim

Leitura do Livro de Isaías
1O espírito do Senhor DEUS está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros; 2para proclamar um ano da graça do SENHOR, o dia da vingança da parte do nosso Deus[1].
10Rejubilo de alegria no SENHOR, e o meu espírito exulta no meu Deus, porque me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de triunfo.
Como um noivo que cinge a fronte com o diadema, e como uma noiva que se adorna com as suas jóias.
11Porque, assim como a terra faz nascer as plantas, e o jardim faz brotar as sementes, assim o Senhor DEUS faz germinar a justiça e o louvor diante de todas as nações.

LEITURA II – 1 Tes 5, 16-24

Sede sempre alegres

Leitura da Primeira Epístola de São Paulo aos Tessalonissenses
16Sede sempre alegres. 17Orai sem cessar. 18Em tudo dai graças. Esta é, de facto, a vontade de Deus a vosso respeito em Jesus Cristo. 19*Não apagueis o Espírito. 20Não desprezeis as profecias[2]. 21Examinai tudo, guardai o que é bom. 22Afastai-vos de toda a espécie de mal.
23*Que o Deus da paz vos santifique totalmente, e todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. 24Fiel é aquele que vos chama: Ele há-de realizá-lo.

EVANGELHO – Jo 1, 6-8. 19-28

Eu sou a voz de quem grita no deserto

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
6Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João. 7Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. 8Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz[3].
19Este foi o testemunho de João, quando as autoridades judaicas lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: «Tu quem és?» 20Então ele confessou a verdade e não a negou, afirmando: «Eu não sou o Messias.» 21E perguntaram-lhe: «Quem és, então? És tu Elias?» Ele disse: «Não sou.» «És tu o profeta?» Respondeu: «Não.» 22Disseram-lhe, por fim: «Quem és tu, para podermos dar uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?» 23*Ele declarou:
«Eu sou a voz de quem grita no deserto: 'Rectificai o caminho do Senhor', como disse o profeta Isaías.»
24Ora, havia enviados dos fariseus que lhe perguntaram: 25«Então porque baptizas, se tu não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» 26João respondeu-lhes: «Eu baptizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. 27É aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.» 28Isto passou-se em Betânia[4], na margem além do Jordão, onde João estava a baptizar.





[1] Ver Lc 4,18-19. Lucas retira da missão de Jesus a referência do v.2b: O dia da vingança
[2] 19-20O apreço pelos carismas, dom do Espírito, caracteriza a comunidade cristã. Mas o critério da sua valorização é a edificação dos outros (v.11), como é o caso do discurso profético (1 Cor 7,7-9; 12,1-2.4-7.8-11.28-30; 14,1-5.13-14.26-33).
[3] 6-8João é o Baptista, mas nunca refere a sua vida e pregação (Mt 3,1.2; Mc 1,12-13; Lc 3,1-2.3.7-9.20.21-22); apenas o seu testemunho a favor de Jesus (v.15.19-35; 3,27-30; 5,33), para todos crerem por meio dele.
[4] 28Betânia. Não é a de Lázaro (11,1), mas uma povoação na margem esquerda do Jordão (10,39-40), possivelmente em frente de Jericó.