(OITAVA NATAL, 27 de Dezembro
de 2014)
SAGRADA FAMÍLIA DE
JESUS, MARIA E JOSÉ
“O Menino crescia, e enchia-Se de sabedoria”
LEITURA I – Sir 3,
3-7.14-17a
“Aquele que teme a Deus honra os seus pais”
A palavra de Deus faz o elogio da vida familiar. O Filho de
Deus, ao fazer-Se homem, quis nascer e viver numa família humana. Foi ela a
primeira família cristã, modelo, a seu modo, de todas as demais. O amor de Deus
em todos os membros de uma família é condição fundamental para o crescimento,
em paz, de todos os que nela nascem e vivem, como no quadro que o sábio nos
apresenta nesta leitura.
Leitura do Livro de
Ben-Sirá
3O que honra o pai alcança o perdão dos pecados, 4e quem honra
a sua mãe é semelhante ao que acumula tesouros.
5Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos, e será ouvido no dia
da sua oração.
6Quem glorifica o pai gozará de longa vida e quem obedece ao Senhor
consolará a sua mãe.
7Quem teme o Senhor honrará seu pai e servirá, como a seus senhores, aqueles
que lhe deram a vida.
14A caridade que exerceres com o teu pai não será esquecida, e ser-te-á
considerada, em reparação de teus pecados.
15No dia da aflição, o Senhor há-de lembrar-se de ti, os teus pecados
hão-de dissolver-se como o gelo em pleno sol.
16É um blasfemador o que desampara o seu pai, e é amaldiçoado pelo Senhor
aquele que irrita a sua mãe.
17Filho, pratica as tuas obras com doçura,”
LEITURA II – Col 3,
12-21
“A vida doméstica no Senhor”
Desde o princípio que os cristãos compreenderam que a sua fé
se deve manifestar em toda a sua vida e muito particularmente na vida de
família; esta pode ter sempre diante dos olhos a Sagrada Família de Nazaré, que
constituiu a melhor experiência do que devem ser as nossas famílias.
Leitura da Epístola do
apóstolo São Paulo aos Colossenses
“12Como
eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos, pois, de sentimentos de
misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência, 13suportando-vos
uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa
contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, fazei-o vós também. 14E,
acima de tudo isto, revesti-vos do amor, que é o laço da perfeição. 15Reine
nos vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados num só corpo. E
sede agradecidos. 16A palavra de Cristo habite em vós com toda a sua
riqueza: ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria;
cantai a Deus, nos vossos corações, o vosso reconhecimento, com salmos, hinos e
cânticos inspirados.
17E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do
Senhor Jesus, dando graças por Ele a Deus Pai.
Novas relações no
Senhor - 18Esposas, sede submissas aos maridos[1], como convém no Senhor. 19Maridos, amai as esposas e não vos
exaspereis contra elas.
20Filhos, obedecei em tudo aos pais, porque isso é agradável no Senhor. 21Pais,
não irriteis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.”
EVANGELHO – Lc 2,
22-40
“O Menino crescia, e enchia-Se de sabedoria”
O quadro da vida evangélica, que hoje nos é proclamado, é
cheio de mistério: a Sagrada Família cumpre a Lei de Moisés, revelando assim
como Deus realmente entrou no caminho dos homens; Maria escuta a profecia de
Simeão, que anuncia desde já, o mistério pascal; a vida da Família de Nazaré é
um mundo de sabedoria e de graça, de trabalho, de oração e de paz.
Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo segundo São Lucas
“22Quando se
cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a
Jerusalém para o apresentarem[2] ao Senhor, 23conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o
primogénito varão será consagrado ao Senhor» 24e para oferecerem em
sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas.
25Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e
esperava a consolação de Israel[3]. O Espírito Santo estava nele. 26Tinha-lhe sido revelado pelo
Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias[4] do Senhor. 27Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando
os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu
respeito.
29«Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, 30porque
meus olhos viram a Salvação 31que ofereceste a todos os povos, 32Luz
para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.[6]»
33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele.
34Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe:[7] «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e
para ser sinal de contradição; 35uma espada trespassará a tua alma[8]. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»
36Havia também uma profetisa, Ana[9], filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada.
Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37ficou
viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no
culto noite e dia, com jejuns e orações. 38Aparecendo nessa mesma
ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a
redenção[10] de Jerusalém.
39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava,
regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40Entretanto, o
menino crescia[11] e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com
Ele.”
[1]
Esta passagem contém preceitos de moral doméstica. O Apóstolo recomenda as
novas relações nascidas no baptismo, o qual nos revestiu de Cristo
ressuscitado. O v.18 é paralelo a 1 Cor 11,7. Na tradição do AT, aqui se
estabelece a comparação do amor de Cristo pela sua Igreja sob a figura do amor
conjugal. Submissas é um termo chocante para hoje; contudo, a palavra original
grega (upotasso) implica uma atitude
de liberdade e de consentimento na pessoa que obedece e reconhece a autoridade
de outrem. A imagem da submissão é a da Igreja a Cristo (Ef 5,21-33), que é
fruto da fidelidade e não da coacção. Neste mesmo contexto, Paulo afirma que
todas as barreiras entre as pessoas (religiosas, sociais, nacionais, culturais)
foram abolidas, porque Cristo é tudo em todos. Homens e mulheres estão, pois,
no mesmo plano e devem trabalhar para um projecto comum com espírito cristão
(Lv 25,43; Rm 2,6; 1 Cor 7; 11,3.7-9; Gl 3,28; Ef 5,21-33; 6,1-9; 1 Tm 6,1-2;
Tt 2,5.9-10.9; 1 Pe 2,18-20; 3,1-7; 5,5).
[2]
A apresentação do Menino no templo não era requerida pela Lei, que apenas
prescrevia a purificação da mãe.
[3]
A consolação de Israel, isto é, a salvação de Israel, segundo o Livro da
Consolação de Isaías (40,1; 51,12; 61,2). Simeão é descrito como justo,
profeta, por nele habitar o Espírito Santo.
[4]
O Messias do Senhor, título messiânico tradicional no AT (grego), diferente do
de Cristo Senhor, próprio do NT.
[5]
O Cântico de Simeão sobre Jesus corresponde ao de Zacarias sobre o seu filho
(1,68-79). Simeão saúda a chegada do Salvador e revela aos pais do Menino
alguns traços característicos da sua missão. Último profeta do AT, Simeão
inspira-se em Isaías, para proclamar a salvação de Deus já presente (Is 40,5;
42,6; 45,25; 46,13; 49,6; 52,10).
[6]
A salvação das nações pagãs, um dos temas importantes de Lc, é anunciada aqui
pela primeira vez. Só a partir da revelação pascal (24,47) será proclamada
abertamente, como o documentam os Actos.
[7]
O oráculo de Simeão dirige-se só a Maria (Jo 19,25). O menino é apresentado
como motivo de divisão e sinal de contradição. Prepara a conclusão dos Actos,
segundo a qual uma parte de Israel rejeitou o Messias (Mt 10,34-35; Act
28,25-27).
[8]
Uma espada trespassará... A predição parece referir-se à dor de Maria perante a
rejeição de Jesus por parte dos judeus (Jo 19,25-27 nota). Esse era o preço da
missão de Jesus, que também iria denunciar a incredulidade dos seus ouvintes
(5,22; 6,8; 9,47; 16,15; 24,38).
[9]
Ana é apresentada como israelita exemplar que não se afastava do templo (Sl
23,6; 26,8; 27,4; 84,5.11).
[10]
Redenção ("lutrosis" =
resgate), como no caso da lei dos primogénitos (v.7 nota; 1,68). Aqui indica a
salvação do povo de Deus (Jerusalém).
[11]
O menino crescia, consequência da sua Encarnação. O versículo é paralelo a
1,80, sobre João Baptista. A sabedoria, no sentido próprio da Escritura, e a
graça de Deus são atributos de Jesus, que lhe vêm do contacto com o Pai (v.52;
11,31; 21,15). Em Jesus, manifesta-se progressivamente a graça, a benevolência
divina (1,80; 4,22).