sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO IV DO TEMPO COMUM




(Domingo IV, 01 de Fevereiro de 2015)


Ensinava-os como quem tem autoridade

LEITURA I – Deut 18, 15-20

Farei surgir um profeta e porei as minhas palavras na sua boca

A leitura evangélica vai apresentar Jesus como Mestre a ensinar. É o que também significa a palavra do profeta, aquele que fala em nome de Deus. Profeta foi no Antigo Testamento Moisés. Mas é o próprio Moisés quem, nesta leitura, anuncia o aparecimento de outro profeta, que surgirá depois dele. Todo o povo do Antigo Testamento o esperou, embora não o tivesse sabido reconhecer na pessoa de Jesus de Nazaré. Admirável é que Deus fale aos homens por meio de outros homens; mas as palavras que eles hão-de dizer são as palavras de Deus. Como Deus tudo faz para que a sua palavra esteja perto de nós!

Leitura do Livro do Deuteronómio
15O SENHOR, teu Deus, suscitará no meio de vós, dentre os teus irmãos, um profeta como eu; a ele deves escutar. 16Foi o que pediste ao SENHOR, teu Deus, no monte Horeb, no dia da Assembleia, quando lhe disseste: 'Não queremos mais ouvir a voz do SENHOR, nosso Deus, nem tornar a ver mais este fogo enorme, para não morrer.'
17O SENHOR disse-me então: 'Está certo o que eles dizem. 18Suscitar-lhes-ei um profeta como tu[1], dentre os seus irmãos; porei as minhas palavras na sua boca e ele lhes dirá tudo o que Eu lhe ordenar. 19Mas aquele que não atender às palavras que ele disser em meu nome, Eu próprio lhe pedirei contas! 20O profeta, porém, que tiver a insolência de anunciar em meu nome palavras que não lhe mandei dizer, e aquele que falar em nome de deuses estrangeiros, esse profeta morrerá.”

LEITURA II – 1 Cor 7, 32-35

A virgem preocupa-se com os interesses do Senhor, para ser santa

O Apóstolo deseja que os cristãos vivam sem estarem prisioneiros de preocupações que os impeçam de servirem ao Senhor em liberdade de espírito. Por isso, vê no celibato consagrado ao Senhor, portanto por motivos de fé e de amor, uma forma superior de consagração de toda a pessoa, em corpo e espírito, ao serviço de Deus, mas que é sempre um dom seu.

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
32Eu quisera que estivésseis livres de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor, como há-de agradar ao Senhor. 33Mas aquele que tem esposa cuida das coisas do mundo, como há-de agradar à mulher, 34e fica dividido. Também a mulher não casada, tal como a virgem, cuidam das coisas do Senhor, para serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo, como há-de agradar ao marido. 35Digo-vos isto para vosso bem, não para vos armar uma cilada, mas visando o que é mais nobre e favoreça uma dedicação ao Senhor, sem partilha[2].”

EVANGELHO – Mc 1, 21-28

Ensinava-os como quem tem autoridade

O ensino de Jesus reveste-se de autoridade única, porque Ele é o Filho, Enviado de Deus, e, por isso, as suas palavras são a própria Palavra de Deus. Ele é realmente o Profeta por excelência. Para os escribas, que ensinavam as Escrituras, a autoridade vinha-lhes das mesmas Escrituras e da tradição; para Jesus a autoridade vem-lhe de Ele ser o Filho de Deus e seu Messias. Para o manifestar, Jesus expulsa o demónio, mostrando assim que o poder demoníaco cessa diante do seu poder. Ele é “o mais forte”, como noutra passagem se diz.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
21Entraram em Cafarnaúm. Chegado o sábado, veio à sinagoga e começou a ensinar. 22E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei[3]. 23Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um espírito maligno[4], que começou a gritar: 24«Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.» 25Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.» 26Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. 27Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e eles obedecem-lhe!» 28E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.”





[1] Um profeta. O profeta não é um extático (1 Sm 9,16; 19,23-24) mas, à semelhança de Moisés, é um mediador que fala em nome de Deus, transmitindo uma mensagem que, às vezes, se antecipa aos acontecimentos. A Igreja primitiva viu neste Profeta o Messias prometido, bem como o Servo sofredor (Is 53; Mt 21,11; Act 3,22; 7,25.37; Heb 1,1-2).
[2] O verdadeiro motivo da superioridade da virgindade está em facilitar o desprendimento e permitir uma dedicação livre e sem reservas ao serviço de Deus.
[3] Doutores da Lei. Pessoas do partido dos fariseus versadas nas Escrituras (Mt 22,41-45; 23,1.5.13).
[4] Espírito maligno, lit., "espírito impuro", é expressão frequente na literatura judaica, bíblica e extra-bíblica; com ele é indicado o demónio, porque se opõe a Deus.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Contributo para conhecer melhor… – LIVROS HISTÓRICOS




Livros Históricos


A sequência dos livros da Bíblia tem vários traços de uma longa parábola histórica e o interesse pela História já estava bastante presente nos livros do Pentateuco. Mas é costume chamar Livros Históricos a um conjunto que vem depois do Pentateuco. Na verdade, só se consegue fazer uma História de Israel em sentido actual a partir da instalação do povo em Canaã. E esse facto da actual historiografia coincide com a classificação tradicional do referido conjunto, que inclui os livros seguintes:

Josué, que apresenta a entrada dos hebreus na terra de Canaã, como quem vai tomar solenemente posse de uma herança que lhe fora atribuída. É uma construção simbólica, não representando inteiramente os acontecimentos históricos reais, como se pode ver no livro dos Juízes.

Juízes, de facto, mostra-nos uma entrada bastante mais dispersa das tribos em Canaã e dominando muito mais lentamente o conjunto do território. Por outro lado, descreve-nos as vicissitudes e a insegurança da vida levada por essas tribos, numa época ainda distante do tempo da monarquia.

Rute é um romance histórico situado na época dos Juízes, mas sobretudo um livro contra a xenofobia que marcou épocas mais tardias do judaísmo.

A mais representativa e formal sequência historiográfica deste período, que já começara com Josué e Juízes, integra ainda o grande conjunto de 1. e 2. de Samuel e 1. e 2. dos Reis. A sua redacção final parece ter-se inspirado já claramente na mentalidade deuteronomista; por isso, costuma chamar-se-lhe a “Historiografia deuteronomista”. Com ela pretendeu-se fazer o exame de consciência da História nacional após o desastre do fim da monarquia.

Mais tarde, os livros 1. e 2. das Crónicas retomam toda a História de Israel desde as origens, ou por meio de genealogias e sínteses históricas, ou relembrando alguns episódios coincidentes e outros complementares aos assuntos que tinham aparecido narrados na História deuteronomista.
Esdras e Neemias contam alguns episódios relativos à restauraçã
o do povo de Israel e da cidade de Jerusalém, depois do regresso da Babilónia. No entanto, a historiografia sobre esta época, marcada pelo domínio persa, ficou bastante aquém da sua importância no aparecimento da Bíblia.

Tobias oferece-nos, com um quadro familiar notável, as dificuldades de viver a piedade em condições sociais e políticas adversas.

Ester descreve um drama de colorido algo semelhante, mas alargado à experiência de todo o povo, que se vê ameaçado de destruição e consegue, no fim, cantar vitória.

Judite é um romance histórico; simboliza a capacidade de resistência aos inimigos, na época da luta contra os Selêucidas (séc. II a.C.).

O 1. e 2. Livro dos Macabeus espelham, por meio de uma historiografia muito ao gosto da época helenista, a luta dos judeus para conseguirem libertar-se da política opressora dos Selêucidas. São o último bloco historiográfico dentro da Bíblia.

Livros Históricos


·         Josué
·         Juízes
·         Rute
·         1º de Samuel
·         2º de Samuel
·         1º dos Reis
·         2º dos Reis
·         1º das Crónicas
·         2º das Crónicas
·         Esdras
·         Neemias
·         Tobite
·         Judite
·         Ester
·         1º dos Macabeus
·         2º dos Macabeus


sábado, 24 de janeiro de 2015

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO III DO TEMPO COMUM




(Domingo III, 25 de Janeiro de 2015)


Está próximo o reino de Deus

LEITURA I – Jonas 3, 1-5.10

Os habitantes de Nínive converteram-se do seu mau caminho

O “Tempo Comum” retoma, em cada ano, a leitura de um dos Evangelhos chamados sinópticos: este ano, o de S. Marcos, a partir precisamente deste terceiro Domingo. Como é conhecido, no Tempo Comum a primeira leitura é normalmente escolhida em ligação com a do Evangelho. Ora, S. Marcos começa o seu Evangelho pelo grande convite de Jesus à penitência, isto é, à conversão. Daí que esta primeira leitura nos apresente igualmente a mensagem da penitência, tão claramente anunciada pelo profeta e tão exemplarmente escutada por aqueles a quem ele a dirigiu.

Leitura da Profecia de Jonas
1A palavra do SENHOR foi dirigida pela segunda vez a Jonas, nestes termos: 2«Levanta-te e vai a Nínive, à grande cidade e apregoa nela o que Eu te ordenar.» 3Jonas levantou-se e foi a Nínive, segundo a ordem do SENHOR. Nínive era uma cidade imensamente grande, e eram precisos três dias para a percorrer[1].
4Jonas entrou na cidade e andou um dia inteiro a apregoar: «Dentro de quarenta dias Nínive será destruída.» 5Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, ordenaram um jejum e vestiram-se de saco, do maior ao menor[2].
10Deus viu as suas obras, como se convertiam do seu mau caminho, e, arrependendo-se do mal que tinha resolvido fazer-lhes, não lho fez.”

LEITURA II – 1 Cor 7, 29-31

O cenário deste mundo é passageiro

Como já no Domingo anterior, a secção da carta apostólica que lemos como segunda leitura começa por se ocupar de casos concretos da comunidade a quem se dirige. Hoje, a propósito da atitude dos cristãos perante o casamento e o celibato consagrado, de que tratará no próximo Domingo, o Apóstolo começa por nos fazer reflectir sobre o sentido não definitivo da vida neste mundo.

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
29Eis o que vos digo, irmãos: o tempo é breve. De agora em diante, os que têm mulher, vivam como se não a tivessem; 30e os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; 31os que usam deste mundo, como se não o usufruíssem plenamente. Porque este mundo de aparências está a terminar[3].”

EVANGELHO – Mc 1, 14-20

Arrependei-vos e acreditai no Evangelho

A Boa Nova do Evangelho de Jesus Cristo traz aos homens um ideal novo e nova luz para os seus caminhos. É por este caminho novo, que a palavra do Filho de Deus lhes aponta, que os homens hão-de sair da prisão escura em que o pecado os mantém e ser conduzidos ao mundo novo a que o Senhor os quer levar. Para isso, é necessário deixar para trás muita coisa e seguir o Senhor que chama, como logo fizeram os primeiros discípulos que Jesus chamou e que logo O seguiram.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
14Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, 15*dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.»[4]
16Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. 17E disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens.» 18Deixando logo as redes, seguiram-no.
19Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco a consertar as redes, e logo os chamou. 20E eles deixaram no barco seu pai Zebedeu com os assalariados e partiram com Ele.”





[1] Três dias de caminho é expressão hiperbólica, para designar as grandes dimensões da cidade. Na verdade, o perímetro verdadeiro das muralhas não excedia 12km.
[2] Apesar de os oráculos do profeta serem apenas de ameaça, os habitantes de Nínive converteram-se e assim se realizaram os desígnios de Deus, que o homem não previa nem desejava. Esta conversão exemplar dos ninivitas será lembrada por Jesus em Mt 12,41; Lc 11,32. Aqui, como no Evangelho, ela contrasta com a incredulidade dos judeus. Ver Mt 12,38-42; Lc 11,30.
[3] O tempo é breve. É o que medeia entre a primeira e a segunda vinda de Cristo e esta última é imprevisível e está já, de algum modo, presente em Cristo ressuscitado. O cristão faz o que faz um pagão, mas com espírito diferente. Ao falar aqui da vida conjugal, Paulo não pretende retractar-se (v.3), mas acentuar que ela deve ser ordenada ao amor desinteressado e gratuito (Ef 5,21-33).
[4] Do Reino de Deus, que Jesus começa a implantar, se diz que está próximo. Nunca se diz nos Evangelhos em que consiste. É algo que não vem de maneira ostensiva, mas actua a partir do interior das pessoas (Lc 17,21). Pode dizer-se que é uma forma nova, definitiva, de relacionamento com Deus, por meio de Jesus Cristo "o que era, o que é e que há-de vir" (Ap 4,8). A conversão interior é condição imprescindível para nele se entrar (4,26-29; Mt 3,2; 6,10; Lc 17,20-21).

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Contributo para conhecer melhor… – DEUTERONÓMIO



Deuteronómio

Das cinco narrativas históricas que integram o Pentateuco, o DEUTERONÓMIO constitui a unidade literária mais heterogénea e diferenciada. Com razão, os exegetas falam de uma nova tradição ou fonte documental, que se distingue das outras fontes do Pentateuco por motivos de estilo e de teologia e se prolonga até ao fim do 2.° Livro dos Reis, formando a “Fonte ou História Deuteronomista”.

NOME


“Deuteronómio” quer dizer “segunda Lei”. Foi o nome dado a este livro nas traduções grega e latina, porque se apresenta como a reedição ou síntese dos textos legislativos anteriores, enquadrada por um estilo diferente. Na tradição hebraica, chama-se apenas “Debarim” (Palavras), pelo modo como o texto começa: «Estas são as Palavras». Mas a designação greco-latina sintetiza bem o conteúdo deste livro, o qual, mais do que um final do Pentateuco, parece representar sobretudo o começo de uma nova maneira de escrever a História do Povo Eleito.

TEXTO E CONTEXTO


O texto deste livro teve uma história complicada. A sua origem é geralmente colocada no Reino do Norte, antes da conquista da Samaria, em 722, aquando da invasão dos assírios. Na bagagem dos levitas do Norte terá vindo uma primeira redacção do DEUTERONÓMIO, que teria como esquema base uma celebração litúrgica da Aliança (ver a aliança de Siquém: Js 24). Curiosamente, um século mais tarde, foi encontrado no templo de Jerusalém o «Livro da Lei do Senhor» ou «Livro da Aliança» (2 Rs 22,8.11; 23,2.21). O rei Josias começou imediatamente a pôr esta Lei em prática, fazendo uma reforma do culto (2 Rs 23,3-20). A relação entre esta reforma e o DEUTERONÓMIO encontra-se na insistência da centralização do culto em Jerusalém e na destruição dos cultos idolátricos.

Mas a Lei encontrada no templo poderá ter sido uma redacção posterior ao “esquema da aliança” que veio do Norte, onde a temática da Palavra, do profeta, da Aliança e do Sinai-Horeb se sobrepunham à temática do culto e do sacerdócio, que prevaleciam – como era natural – em Jerusalém. No Sul, deve ter sido feita uma primeira redacção elaborada depois da falhada reforma de Ezequias, ou seja, a meados do séc. VII a.C.. A última redacção deve ter acontecido aquando da redacção final do Pentateuco: séc. V-IV a.C.. Tudo isto denota um contexto posterior e uma finalidade catequética.

É no contexto destas diferentes etapas da redacção do DEUTERONÓMIO que deve entender-se o constante vaivém do tu e do vós no discurso de Moisés, quando se dirige ao povo de Israel (ver 6,1-3). Apesar desse tu e vós parecer por vezes ilógico, na nossa tradução preferimos respeitar o estilo do texto original hebraico.

DIVISÃO


Em três grandes discursos atribuídos a Moisés. Com estilo directo, num tom exortativo e profético, usando temas e frases estereotipadas e repetitivas, o redactor final sintetiza o programa ou projecto que torna possível fazer de Israel uma nova sociedade, segundo os ideais dos tempos puros da caminhada pelo deserto, num “hoje” de eterno presente. Assim, temos:

I. Primeiro Discurso (1,6-4,43): de forma historicizante, recapitula o passado, desde a planície desértica da Arabá até à entrada na Terra Prometida de Canaã.

II. Segundo Discurso (4,44-28,68): Moisés apresenta os fundamentos da Aliança e as determinações da Lei.

Código Deuteronómico: 11,29-26,15.

III. Terceiro Discurso (28,69-30,20): últimas instruções de Moisés.

IV. Apêndice (31,1-34,12): narra os últimos dias de Moisés, com cânticos e bênçãos, bem como a sua morte.

Os exegetas apresentam ainda uma outra divisão, atendendo à estrutura da Aliança que percorre o DEUTERONÓMIO do princípio ao fim:

Introdução: 1,1-5

1. Recordação do passado e exortação a servir o Senhor: 1,6-11,28

2. Proclamação da Lei da Aliança: 11,29-26,15

3. Compromisso mútuo entre Deus e Israel: 26,16-19

4. Bênçãos e maldições: 27,1-30,18

5. Testemunhas da Aliança: 30,19-20.

Este esquema vem confirmar que estamos perante o livro da Aliança por excelência.

TEOLOGIA


O DEUTERONÓMIO é, sem dúvida, um livro de grande riqueza doutrinal, sempre preocupado em inculcar a fidelidade de Israel a Deus, que é chamado Pai (1,31), e a estabelecer entre os membros do povo escolhido uma verdadeira fraternidade.

Defende a centralização do culto, dentro do princípio da aliança, que os profetas evidenciaram. Mesmo insistindo na observância das leis, não deixa de salientar a responsabilidade da consciência individual e o compromisso pessoal, que a fé no Deus único exige.

Apesar da visão profundamente religiosa e das preocupações teológicas mais voltadas para os problemas institucionais e nacionais, não deixa de reclamar o amor fraterno e a justiça social, apresentando leis verdadeiramente humanitárias.

Pela sua intenção de recapitular a Lei e repropor o conceito de aliança, e pela influência que teve na reflexão sobre a História de Israel, o livro do DEUTERONÓMIO ocupa um lugar central dentro da Bíblia. E é, por conseguinte, de primeira importância para qualquer tentativa de sistematização de uma teologia bíblica.



sábado, 17 de janeiro de 2015

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO II DO TEMPO COMUM




(Domingo II, 18 de Janeiro de 2015)


Os vossos corpos são membros de Cristo

LEITURA I – 1 Sam 3, 3b-10.19

Falai, Senhor, que o vosso servo escuta

A leitura do Evangelho continua ainda a fazer a “manifestação” ou “epifania” do Senhor. E apresenta-O hoje como Aquele que vem chamar os homens para os reunir em volta de Si. A palavra de Jesus é a voz do Pai chamando os homens à grande assembleia do seu povo. Mas antes de o Filho vir ao mundo, já a palavra de Deus se fizera ouvir e chamava os homens. E os que a ouviram e lhe responderam ficaram sendo o modelo dos verdadeiros discípulos do Senhor, como Samuel.

Leitura do Primeiro Livro de Samuel
3 Samuel repousava no templo do SENHOR, onde se encontrava a Arca de Deus. 4O SENHOR chamou Samuel. Ele respondeu: «Eis-me aqui.» 5Samuel correu para junto de Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» 6O SENHOR chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Eli respondeu: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.»[1]
7Samuel ainda não conhecia o SENHOR, pois até então nunca se lhe tinha manifestado a palavra do SENHOR. 8Pela terceira vez, o SENHOR chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Compreendeu Eli que era o SENHOR quem chamava o menino e disse a Samuel: 9«Vai e volta a deitar-te. Se fores chamado outra vez, responde: «Fala, SENHOR; o teu servo escuta!» Voltou Samuel e deitou-se. 10Veio o SENHOR, pôs-se junto dele e chamou-o, como das outras vezes: «Samuel! Samuel!» E Samuel respondeu: «Fala, SENHOR; o teu servo escuta!»
19Samuel ia crescendo, o SENHOR estava com ele e cumpria à letra todas as suas predições[2].”

LEITURA II – 1 Cor 6, 13c-15a.17-20

Os vossos corpos são membros de Cristo

A Primeira Epístola aos Coríntios, por ser bastante longa, é lida, repartida em três partes, no princípio do Tempo Comum de cada um dos três anos A, B, e C. Continuamos, por isso, este ano, a leitura começada no ano anterior. A passagem que hoje se lê fala-nos do respeito que havemos de ter pela pessoa humana total. A fé cristã não se afirma apenas no espírito, mas também no corpo, templo, como é, do Espírito de Deus, e destinado à glória futura que em nós se há-de manifestar.

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
13Mas o corpo não é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo. 14E Deus, que ressuscitou o Senhor, há-de ressuscitar-nos também a nós, pelo seu poder[3].
15Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo. 17Mas quem se une ao Senhor, forma com Ele um só espírito. 18Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que o homem cometa é exterior ao seu corpo, mas quem se entrega à impureza, peca contra o próprio corpo[4].
19Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis? 20Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.”

EVANGELHO – Jo 1, 35-42

Foram ver onde morava e ficaram com Ele

Jesus vem ao mundo. A sua vinda é dom gratuito, que quer ser aceite pelos homens. De facto, se muitos O não reconheceram, outros O procuraram e ficaram junto d’Ele. A alguns, o Senhor chama-os a segui-l’O, de mais perto, para o serviço em favor do seu reino e da salvação dos homens. Este chamamento exige, por vezes, transformação profunda na vida: a Simão até o nome lhe foi mudado.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
35No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. 36Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» 37Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. 38Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi – que quer dizer Mestre – onde moras?» 39*Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Eram as quatro[5] da tarde.
40André[6], o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. 41Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!»[7] – que quer dizer Cristo. 42E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» – que significa Pedra[8].”





[1] Dramatização que põe em relevo a vocação profética de Samuel.
[2] Todas as suas predições. Lit.: "e não permitia que nenhuma das suas palavras caísse por terra" (2,26; 2 Rs 10,10).
[3] Paulo parece responder a uma falsa concepção dos coríntios, que defenderiam a liceidade da impureza, porque corresponderia a uma necessidade natural, como os alimentos. A sexualidade é, portanto, constitutiva do ser humano e da sua vocação.
[4] Sendo membro de Cristo, o cristão não se pertence e, portanto, entregar-se a uma prostituta, seria um roubo e uma dessacralização. Toda a impureza é um insulto àquele que pagou por nós um alto preço (7,23; Rm 3,21-31). E é ainda uma profanação, porque nós somos templo do Espírito Santo: Paulo aplica aqui a cada fiel o que dissera antes de toda a comunidade (3,16). Este templo é santo (Ef 2,21), lugar de uma liturgia de louvor à glória de Deus (v.20; 1 Pe 2,5). Entregar-se à impureza seria conspurcar este templo, expulsar o Espírito Santo, que é um dom de Deus (Rm 5,5; 1 Ts 4,8). Serão os dois uma só carne: 7,12-14; Gn 2,23-24; Jz 9,2; 2 Sm 19,13-14; Mt 19,3-9; Mc 10,6-8; Lc 16,18.
[5] As quatro da tarde, lit., "Décima hora".
[6] André. Ver 6,8; 12,22. O outro dos dois seria João, que nunca é nomeado neste Evangelho (13,23; 18,15; 19,26.35; 20,2; 21,2.20.24).
[7] Messias, em hebraico, e Cristo, em grego, significam "aquele que foi ungido". Designam um novo David esperado para restaurar o reino de Israel no fim dos tempos (1 Sm 9,16; 2 Sm 2,2-4; 7,12-16.19.25.29; 1 Cr 17,1-15; Sl 23,5; Is 11,1-9; 45,1; Ez 34,23-24; Hab 3,13-15; Zc 4,14; Mc 6,14; 8,27-30; Lc 1,35; 9,20; Act 2,30).
[8] Cefas não era um nome, mas um apelativo original (kepha, pedra, em aramaico), para indicar, não uma característica pessoal, mas a missão a que Deus o destinava de ser "a pedra" em que Jesus assentaria a sua Igreja (21,15-18; Mt 16,18.19; Mc 3,16; Lc 22,32-34). Sobre o sentido do nome, ver 14,12-14; Ex 3,14-15; Lv 24,11; 1 Sm 1,20; Pr 18,10; Is 1,26; Mt 1,23; 16,18; Lc 6,14; Act 2,38.

sábado, 10 de janeiro de 2015

LITURGIA DA PALAVRA – Baptismo do Senhor




(Domingo do Baptismo do Senhor, 11 de Janeiro de 2015)


Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus a minha complacência

LEITURA I – Is 42, 1-4.6-7

Eis o meu servo, enlevo da minha alma

No Baptismo que recebeu das mãos de João, Jesus manifesta-Se como sendo Aquele que o profeta anunciara: o Servo de Deus, que desce à água no meio dos pecadores para inaugurar a obra da redenção que o Pai Lhe confiara, e, ao mesmo tempo, o Filho bem-amado, sobre quem repousa o Espírito de Deus, para que Ele seja portador da Boa Nova da salvação a toda a Terra.

Leitura do Livro de Isaías
1«Eis o meu servo[1], que Eu amparo, o meu eleito, que Eu preferi. Fiz repousar sobre ele o meu espírito, para que leve às nações a verdadeira justiça.
2Ele não gritará, não levantará a voz, não clamará nas ruas. 3Não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a fidelidade a verdadeira justiça. 4Não desanimará, nem desfalecerá, até estabelecer na terra o direito, as leis que os povos das ilhas esperam dele[2].
6Eu, o SENHOR, chamei-te por causa da justiça, segurei-te pela mão; formei-te e designei-te como aliança de um povo e luz das nações; 7para abrires os olhos aos cegos, para tirares do cárcere os prisioneiros, e da prisão, os que vivem nas trevas.”

LEITURA II – Actos 10, 34-38

Deus ungiu-O com o Espírito Santo

O Espírito Santo desceu sobre Jesus na hora do Baptismo e ungiu-O para que Ele pudesse começar o seu ministério e, por Ele, os homens fossem também baptizados não só na água, mas na água e no Espírito. A unção que o Espírito Santo confere a Jesus na hora do seu baptismo marca-O como “Messias”, isto é, “Ungido”, ou seja “Cristo”, e, faz d’Ele a fonte da unção com que o mesmo Espírito marcará os “cristãos”, os “ungidos”, membros de Cristo, sua Cabeça.

Leitura dos Actos dos Apóstolos
34Então, Pedro tomou a palavra e disse[3]: «Reconheço, na verdade, que Deus não faz acepção de pessoas, 35mas que, em qualquer povo, quem o teme e põe em prática a justiça, lhe é agradável. 36Enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando-lhes a Boa-Nova[4] da paz, por Jesus Cristo, Ele que é o Senhor de todos. 37Sabeis o que ocorreu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: 38como Deus ungiu com o Espírito Santo[5] e com o poder a Jesus de Nazaré, o qual andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com Ele.”

EVANGELHO – Mc 1, 7-11

Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus a minha complacência

O Baptismo de Jesus inaugura a sua vida pública. Ao fazer-Se homem, Ele tornou-Se solidário com os homens. Por isso, não receou descer à água do Baptismo no meio dos pecadores, mas para os elevar à dignidade de filhos de Deus. Estes dois aspectos estão bem claros no Baptismo do Senhor. Jesus desce à água, o Pai apresenta-O como seu Filho, o Céu abre-se e o Espírito Santo desce sobre Ele. A pomba é apenas a imagem sob a qual o Espírito Se manifesta. A palavra do Pai revela, de maneira autêntica, o mistério e a missão de Jesus. O baptismo do Senhor é uma das grandes “epifanias” ou “manifestações” de Jesus.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
7E pregava assim: «Depois de mim vai chegar outro que é mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias. 8Eu baptizei-vos em água, mas Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo.»
9Por aqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no Jordão.
10Quando saía da água, viu serem rasgados[6] os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. 11E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado.»”





[1] PRIMEIRO CÂNTICO DO SERVO. O Dêutero-Isaías contém quatro oráculos (poemas) sobre o Servo de Javé: v.1-4; 49,1-6; 50,4-11; 52,13-53,12. Não é fácil identificar esta figura: o próprio profeta? O Israel histórico? O Israel ideal? O NT identifica-o com Jesus Cristo, associando mormente o último oráculo com o Cristo da Paixão. Sobre o v.1, ver Mt 3,17.
[2] Comparar com Mt 12,18-21;17,5.
[3] Deus não tem em consideração os laços nacionais, a situação social ou outra (Lc 20,21), mas a pessoa em si. O que torna a pessoa agradável a Deus não é a pureza ou impureza legais, mas o temor de Deus e a justiça.
[4] Inicia um novo exemplo de pregação apostólica. Depois de uma afirmação sobre o sentido da vinda de Jesus, o discurso evoca as etapas do seu ministério segundo o plano dos Sinópticos (v.37-39a), com referência à morte, à ressurreição, às aparições e à missão confiada aos Apóstolos (v.39b-42), terminando com um apelo à fé confirmada pelo testemunho dos profetas (v.43). A Palavra de Deus anunciada pelos profetas (Sl 107,20; 147,18; Is 52,7) encerra uma mensagem de salvação (13,26.47) dirigida a todas as pessoas sem excepção, porque Jesus é Senhor de todos.
[5] A descida do Espírito sobre Jesus no momento do baptismo é vista como uma unção (4,25-26). De modo semelhante, o Espírito desce sobre os incircuncisos que escutam Pedro (v.44; 2,33.38; Lc 7,22-23).
[6] Esta teofania, com a presença das três divinas Pessoas, revela o mistério de Jesus de Nazaré: Deus Pai, com o Espírito Santo, apresenta-o solenemente como seu Filho, que assim inaugura a vida pública. Segundo Lc 3,21, isto aconteceu quando Jesus estava em oração. Em Mt 3,17, a voz do céu é dirigida às pessoas que estão presentes. Sobre as teofanias, ver Ex 19,16-18; 2 Sm 22,1; Is 6,4; Mt 26,64; Lc 4,3-4; Act 2,3. Sobre os céus rasgados, ver Is 63,19.