DOMINGO XXXI do Tempo
Comum
(Domingo, 1 de Novembro
de 2015)
Dia de todos os Santos
«Os
Santos, tendo atingido pela multiforme graça de Deus a perfeição e alcançado a
salvação eterna, cantam hoje a Deus no Céu, o louvor perfeito e intercedem por
nós.
A
Igreja proclama o mistério pascal, realizado na paixão e glorificação deles com
Cristo, propõe aos fiéis os seus exemplos, que conduzem os homens ao Pai por
Cristo; e implora, pelos seus méritos, as bênçãos de Deus.
Segundo
a sua tradição, a Igreja venera os Santos e as suas relíquias autênticas, bem
como as suas imagens. É que as festas dos Santos proclamam as grandes obras de
Cristo nos Seus servos e oferecem aos fiéis os bons exemplos a imitar»
(Constituição Litúrgica, n.º 104 e 111).
“Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa”
LEITURA I – Ap 7, 2-4.9-14
“Vi
uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos,
povos e línguas”
O
aspecto positivo do grande Dia é a salvação. O povo de Deus é protegido no
julgamento. A marca na fronte é o sinal da salvação e da presença de Deus. O
povo de Deus é apresentado como o Israel total e perfeito. É um povo incontável
(versículo 9), porque a salvação está aberta para todos os homens (gente de
todas as nações, tribos, povos e línguas). O povo de Deus reconhece que a salvação
vem de Deus e do Cordeiro. Não são as coisas e nem os homens absolutizados que
salvam. Unido aos anjos e à criação, o povo de Deus adora a Deus e reconhece
que a plenitude do louvor pertence somente a Ele. João enfatiza a salvação do
povo de Deus. A grande tribulação são as perseguições. A veste branca significa
a participação no testemunho de Jesus. O Apocalipse foi escrito para encorajar
as comunidades cristãs a perseverar no meio de grande sofrimento. O texto deste
domingo reflecte o testemunho dado por uma multidão de cristãos diante da
violenta perseguição desencadeada pelo imperador Nero ao redor do ano 65. A
visão é um recurso próprio do género apocalíptico para revelar o que os olhos
da fé captam por trás dos acontecimentos. As comunidades perseguidas,
mergulhadas em profunda dor, gritam por justiça. Deus intervém a seu favor. Os
anjos são seus justiceiros. Devem, no entanto, respeitar todos os que são
assinalados. A cena lembra a saída do povo do Egipto, quando as casas dos
escravos hebreus foram marcadas com o sangue do cordeiro para serem protegidas
da vingança divina. As 144 mil pessoas assinaladas (12 x 12 x 1.000)
representam a totalidade dos servos e servas de Deus, tanto da primeira aliança
como da segunda. São todas as que não se contaminam com a ideologia dos
poderosos. São as que permanecem fiéis ao plano de Deus a ponto de entregar a
própria vida, como fez Jesus, o Cordeiro imolado. Esse é o sentido das vestes
brancas. Deus é o protector e salvador dos pequeninos, dos indefesos e dos perseguidos
por causa da justiça. São milhares de “todas as nações, tribos, povos e
línguas”. Pertencem a todas as tradições religiosas. Com coragem e
perseverança, seguem o caminho do bem e lutam por um mundo de fraternidade.
Nós, cristãos, recebemos a marca do baptismo, que nos torna servos e servas de
Deus. Somos convocados a perseverar no seguimento de Jesus; somos chamados a
ser santos, vivendo e anunciando os valores evangélicos da misericórdia, da
mansidão, da justiça, da paz...
Leitura do
Apocalipse de São João
“Eu, João, vi
um Anjo que subia do Nascente, trazendo o selo do Deus vivo.
Ele clamou em
alta voz aos quatro Anjos a quem foi dado o poder de causar dano à terra e ao
mar:
«Não causeis
dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os
servos do nosso Deus».
E ouvi o
número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as
tribos dos filhos de Israel.
Depois disto,
vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos,
povos e línguas.
Estavam de pé,
diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de
palmas na mão.
E clamavam em
alta voz:
«A salvação ao
nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro».
Todos os Anjos
formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos.
Prostraram-se
diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus, dizendo:
«Amen! A
bênção e a glória, a sabedoria e a acção de graças, a honra, o poder e a força ao
nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amen!».
Um dos Anciãos
tomou a palavra e disse-me:
«Esses que
estão vestidos de túnicas brancas, quem são e de onde vieram?».
Eu
respondi-lhe:
«Meu Senhor,
vós é que o sabeis».
Ele disse-me:
«São os que
vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Jo 3, 1-3
“Veremos
a Deus tal como Ele é”
João
começa novo tema: Deus é justo. Jesus Cristo manifestou inteiramente a Deus
porque, através de sua vida, mostrou concretamente o que é a justiça divina. Do
mesmo modo, quem pratica a justiça mostra que é filho do Deus justo, a
semelhança de Jesus. Não basta ser baptizado para ser filho de Deus: é preciso
praticar a justiça, Essa realidade, porém, ainda está em crescimento, e só se
realizará totalmente quando puderem contemplar toda a glória de Jesus Cristo. O
mundo não reconhece o Deus justo, porque o princípio que rege a vida do mundo é
a injustiça. Desse modo, o mundo considera como inimigos perigosos o Deus justo
e seus filhos que revelam a justiça. O amor de Deus não tem limites. Ele fez de
nós participantes de sua própria natureza divina. Somos seus filhos e filhas já
neste tempo transitório e o seremos plenamente na ressurreição. Essa verdade
tão bela nos enche de dignidade e nos impulsiona a viver de acordo com a
vocação divina. O jeito divino de viver não se conforma com os sistemas
baseados no domínio de uns sobre os outros e sobre a criação. Como fez Jesus,
os cristãos devem posicionar-se de forma clara a favor de uma sociedade onde
reine o amor fraterno, pois “quem diz que ama a Deus e odeia o seu irmão é um
mentiroso” (1Jo 4,20). As pessoas que vivem de modo coerente com o evangelho se
confrontam com os interesses egoístas dos que dominam este mundo. Jesus
preveniu seus discípulos de que seriam perseguidos, presos e até mortos. Os que
sofrem por causa da fidelidade aos valores evangélicos fazem parte dos
bem-aventurados...
Leitura da
Primeira Epístola de São João
“Caríssimos:
Vede que
admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus.
E somo-lo de
facto.
Se o mundo não
nos conhece, é porque não O conheceu a Ele.
Caríssimos,
agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser.
Mas sabemos
que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O
veremos tal como Ele é.
Todo aquele
que tem n’Ele esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é
puro.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Mt 5, 1-12a
“Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa”
As
bem-aventuranças são o anúncio da felicidade, porque proclamam a libertação, e
não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino através da
palavra e acção de Jesus. Estas tornam presente no mundo a justiça do próprio
Deus. Justiça para aqueles que são inúteis ou incómodos para uma estrutura de
sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. Os que buscam a
justiça do Reino são os “pobres em espírito”. Sufocados no seu anseio pelos
valores que a sociedade injusta rejeita, esses pobres estão profundamente
convictos de que eles têm necessidade de Deus, pois só com Deus esses valores
podem vigorar, surgindo assim uma nova sociedade. A santidade é uma meta a ser
atingida por todos os cristãos. Ninguém é excluído deste apelo nem pode
eximir-se de dar sua resposta. Mas importa nutrir um ideal sadio de santidade,
sem se deixar levar por falsas concepções. Ser santo é ser capaz de colocar-se
totalmente nas mãos do Pai, contar com ele, sabendo-se dependente dele. Por
outro lado, é colocar-se a serviço dos semelhantes, fazendo-lhes o bem, como
resposta aos benefícios recebidos do Pai. O enraizamento em Deus desabrocha em
forma de misericórdia para com o próximo. A santidade constrói-se no ritmo da
entrega da própria vida nas mãos do Pai, explicitada no serviço gratuito e
desinteressado aos demais, deixando de lado os interesses pessoais e tudo
quanto seja incompatível com o protejo de Deus. Este ideal não é inatingível. E
se constrói nas situações mais simples nas quais a pessoa é chamada a ser
bondosa, a não agir com dolo ou fingimento, a criar canais de comunicação entre
os desavindos, a superar o ódio e a violência, a cultivar o hábito da partilha
fraterna, a ser defensor da justiça. Qualquer cristão, no seu dia-a-dia, tem a
chance de fazer experiências deste género. Se o fizer, com a graça de Deus,
estará dando passos decisivos no caminho da bem-aventurança. Mateus, em seu
evangelho, apresenta a proclamação das bem-aventuranças como sendo as primeiras
palavras de Jesus dirigidas às multidões, no início de seu ministério. Estas
bem-aventuranças são uma proposta de felicidade a ser encontrada na união de
vontade com Deus a partir das práticas amorosas acessíveis a todos. Não se
trata da prática de virtudes pessoais, ascéticas ou morais, para um
aperfeiçoamento individual. As bem-aventuranças são a felicidade alcançada por
aqueles que entram em comunhão de vida com os irmãos, particularmente os mais
excluídos, em um processo solidário e fraterno de libertação e restauração da
dignidade humana. As bem-aventuranças não têm o mesmo carácter que os
mandamentos. Elas são um convite e uma proposta de vida nova, na prática da
justiça que conduz à paz. À prática das bem-aventuranças todos são chamados,
sem elitismos ou exclusões, particularmente os mais simples e humildes. A
primeira bem-aventurança apresenta a pobreza, na forma de desapego concreto dos
bens terrenos, como a característica fundamental do Reino. As duas
bem-aventuranças seguintes apontam para as vítimas da sociedade injusta: os que
choram e os submissos ("mansos") aos quais o amor de Deus traz a
libertação. Seguem-se quatro bem-aventuranças activas em vista da transformação
da sociedade: a fome e a sede da justiça, que são a vontade de Deus; a
misericórdia, que impulsiona à acção solidária; a pureza do coração, que supera
a pureza ritual e acolhe a todos, e os promotores da paz em vista da construção
de um mundo sem ambição e violência daqueles que tiram o alimento dos pobres
para transformá-lo em armas de destruição maciça diante da consolidação de um
império mundial. As duas últimas bem-aventuranças retomam o tema da justiça,
exaltando sua grandeza e advertindo sobre a repressão a que estarão sujeitos os
que a buscam. Neste mundo em que a violência é alimentada pela ambição dos
poderosos, a prática das bem-aventuranças aponta para novos rumos em vista da
comunhão fraterna, da solidariedade mundial e da conquista da paz.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele
tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se.
Rodearam-n’O
os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo:
«Bem-aventurados
os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados
os humildes, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados
os que choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados
os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados
os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados
os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados
os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados
sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo,
disserem todo o mal contra vós.
Alegrai-vos e
exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».”
Palavra da Salvação