sábado, 30 de janeiro de 2016

DOMINGO 31 DE JANEIRO DE 2016




(Domingo, 31 de Janeiro de 2016)

Um projecto de vida

Colocada no início da vida pública de Jesus, esta passagem constitui, conforme Lucas, o programa de toda a actividade de Jesus. Is 61,1-2 anunciara que o Messias iria realizar a missão libertadora dos pobres e oprimidos. Jesus aplica a passagem a si mesmo, assumindo-a no hoje concreto em que se encontra. No ano da graça eram perdoadas todas as dívidas e se redistribuíam fraternalmente todas as terras e propriedades: Jesus encaminha a humanidade para uma situação de reconciliação e partilha, que tornam possíveis a igualdade, a fraternidade e a comunhão. A dúvida e a rejeição de Jesus por parte dos seus compatriotas fazem prever a hostilidade e a rejeição de toda a actividade de Jesus por parte de todo o seu povo. No entanto, Jesus prossegue o seu caminho, para construir a nova história que engloba toda a humanidade. As profecias do Antigo Testamento ajudaram Jesus a compreender a sua identidade e missão. Um texto do profeta Isaías foi-lhe extremamente útil. Nesse texto encontramos o monólogo de alguém que voltara do exílio babilónico e expressava a consciência da sua missão: reorganizar o povo, após a sua total destruição às mãos de Nabucodonosor. Isaías tinha consciência de ser um profeta, nos moldes do Servo de Deus, cuja missão era a de infundir ânimo e esperança no povo, descortinando-lhe horizontes, e trazendo-lhe libertação. Foi esse o caminho que Jesus seguiu. O evento do seu baptismo constituiu-se numa verdadeira consagração por parte do Pai para a missão que estava prestes a ser iniciada. Os destinatários preferenciais da sua acção missionária foram os pobres, os humilhados e injustiçados, toda a sorte de prisioneiros e oprimidos, as vítimas da cegueira física e espiritual. A sua acção, por ser ele o Filho de Deus, era portadora de alegria semelhante à do ano jubilar, quando todas as dívidas e servidões eram abolidas e as pessoas tinham, novamente, a sua dignidade reconhecida. O texto profético era um resumo perfeito do projecto de vida de Jesus. Não possuímos informações a respeito do que se passou com o profeta vétero-testamentário. Com Jesus, sim. A história confirmou que nele se cumpriu plenamente o que o antigo profeta havia falado de si mesmo. Lucas, no seu evangelho, apresenta às suas comunidades, e a nós, o início do ministério de Jesus na Galileia, diferenciado da prática do judaísmo. Colocando a sinagoga como um espaço a ser superado, Lucas apresenta Jesus cheio do Espírito, profético, identificado com a vocação de Isaías, no texto em que lê. A missão de Jesus é a nossa missão: anunciar o evangelho aos pobres, proclamar e envolver-se na libertação dos aprisionados, dos oprimidos, dos explorados e dos excluídos; proclamar a Palavra que ilumine os que não vêem a realidade, desperte os acomodados e indiferentes, que fortaleça os abatidos e desesperançados.


LEITURA I – Jer 1, 4-5.17-19

Eu te constituí profeta entre as nações

Desde o dia da sua vocação, Jeremias, que os seus compatriotas hão-de acolher tão mal, é destinado por Deus para levar a palavra divina até aos pagãos. A palavra de Deus vem ao mundo para chegar a toda a Terra; e deve partir do meio do povo que Ele mesmo acolheu, mas que tantas vezes não é o que Lhe dá melhor acolhimento.

Leitura do Livro de Jeremias
“No tempo de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: «Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta entre as nações. Cinge os teus rins e levanta-te, para ires dizer tudo o que Eu te ordenar. Não temas diante deles, senão serei Eu que te farei temer a sua presença. Hoje mesmo faço de ti uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e uma muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e dos seus chefes, diante dos sacerdotes e do povo da terra. Eles combaterão contra ti, mas não poderão vencer-te, porque Eu estou contigo para te salvar».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Cor 12, 31 – 13, 13

Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade

No Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, há grande diversidade de dons e graças. Depois de se referir a essa variedade, que enriquece o corpo da Igreja, o Apóstolo aponta o que é carisma de todos os cristãos e a que todos são chamados, embora cada um em grau diferente: a caridade. Esta leitura é um verdadeiro hino à caridade.

Leitura da primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Aspirai com ardor aos dons espirituais mais elevados. Vou mostrar-vos um caminho de perfeição que ultrapassa tudo: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu possua a plenitude da fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Ainda que distribua todos os meus bens aos famintos e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita. A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O dom da profecia acabará, o dom das línguas há-de cessar, a ciência desaparecerá; mas a caridade não acaba nunca. De maneira imperfeita conhecemos, de maneira imperfeita profetizamos. Mas quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, sentia como criança e pensava como criança. Mas quando me fiz homem, deixei o que era infantil. Agora vemos como num espelho e de maneira confusa, depois, veremos face a face. Agora, conheço de maneira imperfeita, depois, conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 4, 21-30

Como Elias e Eliseu, Jesus não é enviado somente aos judeus

Como Jeremias, também Jesus foi mal recebido pelos seus, e, deixando Nazaré, a terra “onde Se tinha criado”, partiu para outros lugares, onde a palavra de Deus pudesse encontrar quem melhor a escutasse. Deus liga-Se a determinadas circunstâncias humanas e temporais; mas a sua Palavra vem ao mundo para ser levada até aos confins da Terra. Ela não veio para dividir, mas para unir; dividir, só a verdade do erro, o bem do mal, a luz das trevas, porque Deus é Luz.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, Jesus começou a falar na sinagoga de Nazaré, dizendo: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir». Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam das palavras cheias de graça que saíam da sua boca. E perguntavam: «Não é este o filho de José?». Jesus disse-lhes: «Por certo Me citareis o ditado: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’. Faz também aqui na tua terra o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum». E acrescentou: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra. Em verdade vos digo que havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia. Havia em Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu; contudo, nenhum deles foi curado, mas apenas o sírio Naamã». Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga. Levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade e levaram-n’O até ao cimo da colina sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo. Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.”
Palavra da Salvação



sábado, 23 de janeiro de 2016

DOMINGO 24 DE JANEIRO DE 2016




(Domingo, 24 de Janeiro de 2016)

APROFUNDANDO A PALAVRA

Uma comunidade de escuta
O cristianismo é revelação; Deus revela-se e comunica-se ao homem histórico. Essa revelação-comunhão torna-se presente na história através do sinal da Palavra (palavra e gesto) cujo cerne é Jesus de Nazaré, a Palavra de Deus viva encamada. Não é tanto o esforço que o homem faz para atingir e conhecer Deus, quanto o acto de Deus que se dá e se une ao homem.
Deus revela-se e comunica-se ao homem. O Deus de Abraão, de Isaac, de Jesus Cristo não é um Deus imposto, não é um Deus que se revela nos fenómenos naturais, mas na história dos homens, revela-se e comunica-se de modo perfeito e definitivo no homem Jesus.
A Bíblia é a literatura de um povo; nela estão reunidas as vicissitudes, os sofrimentos, as angústias, as alegrias e as esperanças da história de um povo; as reflexões dos sábios, os líricos, os hinos dos poetas, as canções populares, até a vida das primitivas comunidades cristãs. Tudo isto é certamente “revelação do homem”, mas ao mesmo tempo “revelação de Deus”. A história passada é lida como palavra de Deus para que, à sua luz, possamos ler a nossa história, a nossa vida, e descobrir e encontrar Deus nas vicissitudes do nosso quotidiano.

Palavra de Deus e comunidade
A palavra de Deus, porém, longe de alienar o homem, procura promover uma fidelidade radical à condição humana.
A 1.ª leitura manifesta-nos a relação entre a palavra de Deus, tal como está contida na Bíblia, e a comunidade. O gesto de Neemias diz-nos que o povo de Deus, para se reconstruir depois da ruína do exílio, procura a sua mais profunda identidade e unidade na palavra de Deus.
Hoje também (e sempre) a Igreja encontra a sua identidade na palavra de Cristo. Sem a palavra de Cristo ela não é “nada”. A Igreja está sempre em religiosa escuta da palavra de Deus; nela é congregada e dela depende totalmente; por ela deve continuamente deixar-se “julgar” e contestar.
Por outro lado, só na Igreja a palavra de Deus ressoa em toda a sua verdade; e a sua razão de ser está em anunciar essa palavra e testemunhá-la como fiel discípula de Cristo, plenitude de toda a revelação. Portanto, a Igreja não proclama uma abstracta ideologia humana, mas a Palavra que se fez carne em Cristo, Filho de Deus, Senhor e Redentor de todos os homens.
O Cristo, cabeça da Igreja (2.ª leitura) é o Cristo Senhor, o Cristo-Palavra (evangelho). É ele que unifica a multiplicidade e diversidade dos membros num só corpo; é ele que, unindo com a sua palavra viva as mentes e corações, cria a unidade da fé.
A leitura evangélica revela-nos a actualidade da palavra de Deus e o modo cristão de lê-la. “Hoje cumpriu-se esta escritura que acabais de ouvir” (Lc 4,21).

A palavra de Deus realiza-se hoje
Cada página do evangelho não é palavra morta, mas palavra viva, que Deus nos diz e deve realizar-se hoje. O evangelho não narra apenas a vida de Jesus, mas também a minha vida. O evangelho contém-nos, envolve-nos. Por isto, a liturgia da Palavra não é uma simples lição de moral, nem a afirmação da esperança escatológica recebida dos profetas; mas proclama o cumprimento do desígnio do Pai no hoje da vida e da assembleia. Não se contempla aí um passado desaparecido, nem se imagina um futuro extraordinário, mas vive-se o tempo presente como lugar privilegiado da vinda do Senhor. Portanto, não se procura aplicar aos factos vividos pelos membros da assembleia um ou outro texto inspirado, mas indicar que o acontecimento vivido hoje pelos homens e pelos cristãos revela o desígnio de Deus que se realiza em Cristo.
O Antigo e o Novo Testamento tornam-se actuais, próximos, se não ficarmos presos à letra morta. Mais cedo ou mais tarde descobriremos que podemos dizer a cada página: “Aqui se fala de nós. Eu sou Adão. Nós somos os apóstolos no mar. Encontramo-nos precisamente como Jesus no caminho do Calvário e da ressurreição. Assim, através da palavra de Deus, vamos lentamente descobrindo como é a nossa vida aos olhos dele, isto é, na sua dimensão profunda...”. A palavra que vem de Deus possui a força e a eficácia de Deus. Interpela, provoca, consola, cria comunhão e salva, das mais diversas maneiras, conforme os momentos e as formas; todo acto de pregação é glorificação de Deus e acontecimento sociológico para os homens. Hoje, também a Palavra quer tornar-se carne para nossa vida.


LEITURA I – Ne 8, 2-4a.5-6.8-10

Liam o Livro da Lei e explicavam o seu sentido

A proclamação da palavra de Deus, que Jesus faz na sinagoga de Nazaré, como se irá ouvir na leitura do Evangelho de hoje, aparece já no Antigo Testamento, cinco séculos antes de Cristo, como se vê por esta leitura. Podemos observar o cuidado na proclamação, a atenção na assembleia e como já então o povo aclamava a palavra escutada, tal como a celebração litúrgica actual continua a prever. É com esta leitura e o salmo que se lhe segue que se inaugura a “mesa da palavra”, o ambão, no dia da Dedicação de uma nova igreja.

Leitura do Livro de Neemias
“Naqueles dias, o sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei perante a assembleia de homens e mulheres e todos os que eram capazes de compreender. Era o primeiro dia do sétimo mês. Desde a aurora até ao meio dia, fez a leitura do Livro, no largo situado diante da Porta das Águas, diante dos homens e mulheres e todos os que eram capazes de compreender. Todo o povo ouvia atentamente a leitura do Livro da Lei. O escriba Esdras estava de pé num estrado de madeira feito de propósito. Estando assim em plano superior a todo o povo, Esdras abriu o Livro à vista de todos; e quando o abriu, todos se levantaram. Então Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus, e todo o povo respondeu, erguendo as mãos: «Ámen! Ámen!». E prostrando-se de rosto por terra, adoraram o Senhor. Os levitas liam, clara e distintamente, o Livro da Lei de Deus e explicavam o seu sentido, de maneira que se pudesse compreender a leitura. Então o governador Neemias, o sacerdote e escriba Esdras, bem como os levitas, que ensinavam o povo, disseram a todo o povo: «Hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus. Não vos entristeçais nem choreis». – Porque todo o povo chorava, ao escutar as palavras da Lei –. Depois Neemias acrescentou: «Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Cor 12, 12-30

Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada um na sua parte

Com esta comparação do corpo, S. Paulo quer fazer-nos compreender que, na Igreja, há muitos campos de acção, diferentes uns dos outros, mas que isso não deve ser causa de divisão, mas, ao contrário, de unidade, porque todos esses serviços são fruto do mesmo e único Espírito.

Leitura da primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim sucede também em Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos baptizados num só Espírito para constituirmos um só corpo e a todos nos foi dado a beber um só Espírito. De facto, o corpo não é constituído por um só membro, mas por muitos. Se o pé dissesse: «Uma vez que não sou mão, não pertenço ao corpo», nem por isso deixaria de fazer parte do corpo. E se a orelha dissesse: «Uma vez que não sou olho, não pertenço ao corpo», nem por isso deixaria de fazer parte do corpo. Se o corpo inteiro fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfacto? Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros, segundo a sua vontade. Se todo ele fosse um só membro, que seria do corpo? Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo. O olho não pode dizer à mão: «Não preciso de ti»; nem a cabeça dizer aos pés: «Não preciso de vós». Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos são os mais necessários; os que nos parecem menos honrosos cuidamo-los com maior consideração; e os nossos membros menos decorosos são tratados com maior decência: os que são mais decorosos não precisam de tais cuidados. Deus organizou o corpo, dispensando maior consideração ao que dela precisa, para que não haja divisão no corpo e os membros tenham a mesma solicitude uns com os outros. Deste modo, se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se alegram com ele. Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada um por sua parte. Assim, Deus estabeleceu na Igreja em primeiro lugar apóstolos, em segundo profetas, em terceiro doutores. Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da assistência, de governar, de falar diversas línguas. Serão todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores? Todos farão milagres? Todos terão o poder de curar? Todos falarão línguas? Terão todos o dom de as interpretar?”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 1, 1-4; 4, 14-21

Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura

Esta leitura começa com a introdução em que o evangelista expõe o método que seguiu para se informar sobre o Evangelho que vai escrever, e faz a dedicatória do mesmo a um tal Teófilo, nome que significa “Amigo de Deus”. Depois, começa a sua narração, referindo o princípio do ministério público de Jesus. A cena passa-se na sinagoga de Nazaré, numa celebração de Sábado. É digno de nota este facto: Jesus inicia o seu ministério numa celebração, e nela Se apresenta como sendo Aquele a quem a leitura se refere. De facto, o Senhor é Aquele a quem toda a Sagrada Escritura se refere e Aquele que, em cada celebração litúrgica, é significado e tornado presente pela própria celebração, pois que “é Ele quem fala quando na Igreja se lêem as Sagradas escrituras” (Concílio SC 7).

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Já que muitos empreenderam narrar os factos que se realizaram entre nós, como no-los transmitiram os que, desde o início, foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também eu resolvi, depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens, escrevê-las para ti, ilustre Teófilo, para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado. Naquele tempo, Jesus voltou da Galileia, com a força do Espírito, e a sua fama propagou-se por toda a região. Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos. Foi então a Nazaré, onde Se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou na sinagoga a um sábado e levantou-Se para fazer a leitura. Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías e, ao abrir o livro, encontrou a passagem em que estava escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor». Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-Se. Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga. Começou então a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».”
Palavra da Salvação



sábado, 16 de janeiro de 2016

A AUTO-REVELAÇÃO DE JESUS




(Domingo, 17 de Janeiro de 2016)

APROFUNDANDO A PALAVRA

A nova comunidade nasce na fé
Jesus é homem como nós; tem amigos e aceita o convite para um casamento, com a sua mãe e os seus primeiros discípulos. Esta semelhança torna-o “acessível”, “conhecível” por nós. Mas Cristo é também “mistério” se não se revela, se não manifesta sua identidade. Revelação que fará pouco a pouco, com sábia pedagogia.

Tudo começa com uma festa de núpcias...
Repensando, à luz do Espírito, em tantos factos em que estivera envolvido, João descobre que Jesus começou a revelar a própria identidade em Caná; verá culminar esta revelação na morte, a hora de Jesus. Do mesmo modo, a adesão dos discípulos a Cristo tem uma história; a fé começa a esboçar-se exactamente em Caná. É ai que nasce um novo tipo de relação com Cristo e, em consequência, novas relações entre eles. O laço que deles faz uma comunidade é a fé comum em Jesus. Cristo começa a revelar a sua identidade não de modo verbal, explícito, como uma fórmula dogmática, mas através de uma linguagem dos gestos.

... e termina nas núpcias eternas
Os profetas haviam descrito as relações entre o homem e Deus em termos de relação nupcial. O povo de Israel, esposa escolhida por Deus, foi muitas vezes infiel e teve que ser purificado através de duras provas como o exílio. Nestes momentos de provação e abandono, o profeta anuncia a fidelidade de Deus, que ama apesar de tudo, virá o momento em que Deus se unirá indissoluvelmente e para sempre à humanidade. Esta união definitiva será Jesus. Caná é vista por João como o banquete nupcial da união definitiva do homem com Deus, a inauguração dos tempos messiânicos. O sinal de Caná revela a glória de Jesus, desvela o seu ser divino.

Caná, início da Igreja, como comunidade de fé
Paralelamente à primeira revelação de Jesus se dá a passagem do antigo para o novo povo de Deus, não mais fundado sobre a carne e o sangue, mas sobre a fé em Jesus. Este é o primeiro dos sinais feitos por Jesus; sinal visível, pelo qual manifesta sua glória e os discípulos crêem nele.
Este grupo dos que crêem em Jesus, nascido em Caná, se tornará a Igreja viva. Deus cumula de dons naturais e sobrenaturais os membros da comunidade.
Esses dons não devem ser um privilégio pessoal, um meio para a auto-afirmação, mas um serviço aos outros. Devem ser usados com critério e para o bem comum. São fruto não das forças humanas, mas do Espírito. Essa revelação do Cristo implica questionamento também para nós. Quais são os sinais pelos quais pode um homem de hoje “conhecer” o Cristo? A fé de Maria leva Jesus a “manifestar-se”. Os discípulos crêem em Jesus; chegam, de certo modo, até à fé de Maria.
Não é esta também a missão da Igreja hoje, a missão de cada cristão, comunicar a fé?
Hoje, a humanidade também está em situação de exílio: guerras, medo, justiças... De onde virá a salvação? Unicamente do esforço humano, que é necessário, ou também da aliança com Deus?
Nesta obra de salvação divino-humana, a Igreja e todos os que crêem têm obrigação de pôr ao serviço tudo o que são e o que têm. A pequena Igreja, em que estamos inseridos, aguarda talvez o momento de estar “unida” por uma fé mais viva no Cristo que se revela.
“A fé é virtude, atitude habitual da alma, inclinação permanente a julgar, agir segundo o pensamento do Cristo, com espontaneidade e vigor, como convém a homens ‘justificados’. Com a graça do Espírito Santo, cresce a virtude da fé, se a mensagem cristã é entendida e assimilada como ‘boa nova’, no sentido salvífico que tem para a vida quotidiana do homem”.


LEITURA I – Is. 62, 1-5

A esposa é a alegria do marido

O amor entre Deus e o seu povo é frequentemente comparado, na Sagrada Escritura, ao amor dos esposos. Jerusalém é a imagem de todo o povo de Deus, é a imagem antecipada da própria Igreja. Pelo amor que lhe tem, o Senhor fará dela sua esposa; será essa a glória de Jerusalém, da Igreja, a Esposa de Cristo. Com esta leitura prepara-se a compreensão da leitura do Evangelho deste dia, onde se lê o “sinal” das Bodas de Caná.

Leitura do Livro de Isaías
“Por amor de Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não terei repouso, enquanto a sua justiça não despontar como a aurora e a sua salvação não resplandecer como facho ardente. Os povos hão-de ver a tua justiça e todos os reis a tua glória. Receberás um nome novo, que a boca do Senhor designará. Serás coroa esplendorosa nas mãos do Senhor, diadema real nas mãos do teu Deus. Não mais te chamarão «Abandonada», nem à tua terra «Deserta», mas hão-de chamar-te «Predilecta» e à tua terra «Desposada», porque serás a predilecta do Senhor e a tua terra terá um esposo. Tal como o jovem desposa uma virgem, o teu Construtor te desposará; e como a esposa é a alegria do marido, tu serás a alegria do teu Deus.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Cor 12, 4-11

Um só e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um conforme Lhe agrada

Começamos hoje a leitura da terceira parte desta epístola, de que se leu o ano passado a segunda parte. Por ser bastante longa, é assim distribuída por mais de um ano. Ao dirigir-se a uma comunidade onde eram frequentes as divisões, o Apóstolo apela para a unidade, fruto da acção do Espírito de Deus, que é a fonte comum de todos os dons que existem na Igreja. Assim, a unidade na Igreja não provém de qualquer motivo humano, mas do facto de todos os dons que nela existem procederem do mesmo e único Espírito.

Leitura da primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. A um o Espírito dá a mensagem da sabedoria, a outro a mensagem da ciência, segundo o mesmo Espírito. É um só e o mesmo Espírito que dá a um o dom da fé, a outro o poder de curar; a um dá o poder de fazer milagres, a outro o de falar em nome de Deus; a um dá o discernimento dos espíritos, a outro o de falar diversas línguas, a outro o dom de as interpretar. Mas é um só e o mesmo Espírito que faz tudo isto, distribuindo os dons a cada um conforme Lhe agrada.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Jo 2, 1-11

O primeiro milagre de Jesus

O milagre que Jesus fez nas Bodas de Caná pertence ainda ao ciclo da Epifania. De facto, por meio dele, o Senhor Se manifestou. A transformação da água em vinho e o facto de tal ter acontecido num banquete de núpcias e ainda o chamar-lhe o Evangelho um “sinal” leva-nos a perscrutar o mistério desta epifania ou manifestação do Senhor. Aquela não era ainda a hora de Jesus, que havia de chegar na hora da Cruz; mas aquele “sinal” apontava já para lá, para a hora das núpcias do Cordeiro, a hora do sacrifício que sela a Aliança, nova e definitiva, entre Deus e os homens, pelo Sangue de Jesus.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Naquele tempo, realizou-se um casamento em Caná da Galileia e estava lá a Mãe de Jesus. Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento. A certa altura faltou o vinho. Então a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Não têm vinho». Jesus respondeu-Lhe: «Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora». Sua Mãe disse aos serventes: «Fazei tudo o que Ele vos disser». Havia ali seis talhas de pedra, destinadas à purificação dos judeus, levando cada uma de duas a três medidas. Disse-lhes Jesus: «Enchei essas talhas de água». Eles encheram-nas até acima. Depois disse-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa». E eles levaram. Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho, – ele não sabia de onde viera, pois só os serventes, que tinham tirado a água, sabiam – chamou o noivo e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho bom e, depois de os convidados terem bebido bem, serve o inferior. Mas tu guardaste o vinho bom até agora». Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus deu início aos seus milagres. Manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele.”
Palavra da Salvação



sábado, 9 de janeiro de 2016

O PAI MANIFESTA A MISSÃO DO FILHO

DOMINGO DO BAPTISMO DO SENHOR




(Domingo, 10 de Janeiro de 2016)

O PAI MANIFESTA A MISSÃO DO FILHO

Na margem do rio Jordão, João Baptista prega a conversão dos pecados como meio para se receber o reino de Deus que está próximo. Jesus entra na água, como todo o povo, para ser baptizado. Para os judeus, o baptismo era um rito penitencial; por isso, aproximavam-se dele confessando seus pecados. Entretanto, o que Jesus recebe não é só um baptismo de penitência; a manifestação, do Pai e do Espírito Santo dão-lhe um significado preciso. Jesus é proclamado “filho bem-amado” e sobre ele desce o Espírito que o investe da missão de profeta (anúncio da mensagem da salvação), sacerdote (o único sacrifício agradável ao Pai), rei (messias esperado como salvador).

O BATISMO DE CRISTO É O “NOSSO BATISMO”
A redacção dos evangelistas procura apresentar o baptismo de Jesus como baptismo do “novo povo de Deus”, o baptismo da Igreja. No livro do Êxodo, Israel é o filho primogénito, que é libertado do Egipto para servir a Deus e oferecer-lhe o sacrifício (Ex 4,22); é o povo que passa entre os diques de água do mar Vermelho, e no caminho enxuto através do rio Jordão.
Cristo é o “filho bem-amado” que oferece o único sacrifício agradável ao Pai; Cristo, que “sai da água” é o novo povo libertado, e a libertação é definitiva; o Espírito não só desce sobre Cristo, mas permanece sobre ele. O Espírito, que depois do pecado não tinha mais morada permanente entre os homens (Gn 6,3), agora permanece para sempre em Cristo e na Igreja que é o seu complemento.
A missão de Cristo tem a sua imagem na do Servo sofredor de Isaías. O “Servo de Deus” é aquele que carrega os pecados do povo. Em Cristo, que se submete a um acto público de penitência (confissão dos pecados e baptismo), vemos a solidariedade do Pai, do Filho e do Espírito Santo com a nossa história. Jesus não se distancia da humanidade pecadora; é um homem com os homens; vindo a uma humanidade pecadora, identifica-se com ela, mas não é pecador. Não confessa os seus pecados, mas confessa-se por nós. A universalidade da sua confissão e a santidade da sua existência fazem com que a velha humanidade passe a uma humanidade renovada.

NA DESCOBERTA DO PRÓPRIO BAPTISMO
Os fiéis que nasceram e viveram na fé da Igreja têm necessidade de redescobrir a grandeza e as exigências da vocação baptismal. É paradoxal que o baptismo, fazendo do homem um membro vivo do Corpo de Cristo, não esteja bem presente na consciência explícita do cristão e que a maior parte dos cristãos não considere o ingresso na Igreja, através da iniciação baptismal, como o momento decisivo da sua vida. O baptismo foi-nos dado em nome de Cristo; põe-nos em comunhão com Deus; integra-nos na Família de Deus; é um novo nascimento; uma passagem da solidariedade no pecado à solidariedade no amor; das trevas e solidão ao mundo novo da fraternidade. Uma nova sensibilidade para com o baptismo foi suscitada na Igreja pelo Espírito; hoje, mais do que nunca, nas comunidades cristãs, apresenta-se a vida cristã como “viver o seu baptismo”; e manifesta-se mais intensamente nos adultos a necessidade de percorrer de novo os caminhos do próprio baptismo, através de um “catecumenato” feito de profunda experiência comunitária e sério conhecimento da Escritura.


LEITURA I – Is 42, 1-4.6-7

Eis o meu servo, enlevo da minha alma

No Baptismo que recebeu das mãos de João, Jesus manifesta-Se como sendo Aquele que o profeta anunciara: o Servo de Deus, que desce à água no meio dos pecadores para inaugurar a obra da redenção que o Pai Lhe confiara, e, ao mesmo tempo, o Filho bem-amado, sobre quem repousa o Espírito de Deus, para que Ele seja portador da Boa Nova da salvação a toda a Terra.

Leitura do Livro de Isaías
“Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Actos 10, 34-38

Deus ungiu-O com o Espírito Santo

O Espírito Santo desceu sobre Jesus na hora do Baptismo e ungiu-O para que Ele pudesse começar o seu ministério e, por Ele, os homens fossem também baptizados não só na água, mas na água e no Espírito. A unção que o Espírito Santo confere a Jesus na hora do seu baptismo marca-O como “Messias”, isto é, “Ungido”, ou seja “Cristo”, e, faz d’Ele a fonte da unção com que o mesmo Espírito marcará os “cristãos”, os “ungidos”, membros de Cristo, sua Cabeça.

Leitura dos Actos dos Apóstolos
“Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele».”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 3, 15-16.21-22

Jesus foi baptizado e, enquanto orava, abriu-se o céu

No livro do Génesis (Gn 3 23-24) diz-se que depois do pecado dos nossos primeiros pais, Adão e Eva, eles foram expulsos do paraíso terrestre, que se fechou atrás deles. Agora, na hora do baptismo de Jesus, o Céu abriu-se para franquear a entrada ao homem novo, que é Jesus, que a voz do Pai declara ser o seu Filho. N’Ele e por Ele a todos os que n’Ele crêem, santificados pela graça do Espírito Santo, está agora patente a porta do paraíso.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias. João tomou a palavra e disse-lhes: «Eu baptizo-vos com água, mas vai chegar quem é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias. Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo». Quando todo o povo recebeu o baptismo, Jesus também foi baptizado; e, enquanto orava, o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do céu fez-se ouvir uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência».”
Palavra da Salvação



sábado, 2 de janeiro de 2016

Jesus, perigo ou salvação?

DOMINGO DA EPIFANIA DO SENHOR



(Domingo, 3 de Janeiro de 2016)

“Jesus, perigo ou salvação?”

Com a festa da Epifania, a Igreja celebra a manifestação de Jesus ao mundo. Jesus é o Rei Salvador prometido pelas Escrituras. A sua vinda, porém, desperta reacções diferentes. Aqueles que conhecem as Escrituras, em vez de se alegrarem com a realização das promessas, ficam alarmados, vendo em Jesus uma séria ameaça para o seu próprio modo de viver. Outros, apenas guiados por um sinal, procuram Jesus e o acolhem como Rei Salvador. Não basta saber quem é o Messias; é preciso seguir os sinais da história que nos encaminham para reconhecê-lo e aceitá-lo. A cena mostra o destino de Jesus: rejeitado e morto pelas autoridades do seu próprio povo, é aceite pelos pagãos. Nas narrativas da infância de Jesus, em Mateus, Jesus recém-nascido já aparece para o mundo representado pelos magos do Oriente. No Evangelho de Lucas (2,8-20), quem vai adorar o recém-nascido são os humildes pastores. A narrativa de Mateus, com a adoração dos magos, é feita no estilo do “midraxe” judaico. É uma reconstrução literária de episódios bíblicos antigos, retratados de acordo com o tempo do narrador. Mateus narra a visita dos magos no sentido de associar o nascimento de Jesus a uma profecia de Isaías (primeira leitura), em que as várias nações pagãs trarão tesouros, ouro e incenso, ao Templo de Jerusalém. Mateus apresenta Jesus como a luz e a glória de Deus para o povo de Israel, sendo a ele que os povos se dirigem em adoração, numa perspectiva universalista (segunda leitura). A menção da estrela que guia os magos é uma alusão à estrela de Jacob (Nm 24,17) que, depois, se transformou na estrela de David, com seis pontas e doze lados, associando Jesus ao messianismo davídico. Assim também se dá com o nascimento em Belém, cidade tida como a terra de origem de David. Todos estes acentos messiânicos Mateus os fazia para convencer a sua comunidade de cristãos originários do judaísmo que em Jesus se realizavam as expectativas messiânicas. Além do mais, a narrativa abre espaço para acentuar a crueldade do rei Herodes, com o episódio da matança das crianças de Belém. Do ponto de vista histórico, Jesus manifesta-se ao mundo a partir do início de seu ministério, o que se dá com o seu baptismo por João Baptista. Com o anúncio da chegada do Reino dos Céus, Jesus revela Deus como Deus do amor para todos os povos, sem exclusões. O encontro com Deus se dá no desapego da riqueza e do poder, e em toda acção a favor da vida e da paz.

LEITURA I – Is 60, 1-6

Brilha sobre ti a glória do Senhor

Como uma cidade, construída sobre um monte, atrai o olhar de todos, ao ser iluminada pelo sol nascente, assim Jerusalém, iluminada pelo Nascimento de Jesus, atrai a si todos os povos, mergulhados na noite do pecado.
Será, porém, na Igreja, nova Jerusalém, que Deus reunirá todos os homens, para lhes dar a salvação. Será n’Ela que se constituirá, definitivamente, a comunidade dos povos. «A luz dos povos é Cristo – Mas a Sua luz resplandece no rosto da Sua Igreja» (LG. n.º 1). Ela é, na verdade, o sinal e o instrumento de união com Deus e de unidade de todo o género humano.

Leitura do Livro de Isaías
“Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Ef 3, 2-3a.5-6

Os gentios recebem a mesma herança prometida

O universalismo de Isaías era um pouco limitado; os estrangeiros não estavam em posição de igualdade com os filhos de Israel. S. Paulo, descrevendo o plano salvífico de Deus, proclama que todos os homens são chamados, igualmente, a ser herdeiros da Promessa.
Como consequência deste chamamento universal para a Fé, toda a separação, toda a discriminação, introduzidas na humanidade por culturas e civilizações, desaparecem. Todos são chamados a formar o verdadeiro Israel e a constituir um só Corpo – o Corpo Místico de Cristo – restabelecendo-se assim o plano primitivo de Deus acerca da humanidade, que era um projecto de unidade e amor.

Leitura da Epístola de São Paulo aos Efésios
“Irmãos: Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Mt 2, 1-12

Viemos do Oriente adorar o Rei

Frente ao mistério do Nascimento de Jesus, S. Mateus procura, sobretudo, contemplá-Lo à Luz do primeiro encontro do mundo pagão com o Salvador, de que os magos são as primícias e os representantes. Sublinhando, de modo expressivo, a universalidade da Mensagem cristã, dirigida a todos os homens, mesmo àqueles que, segundo as concepções estreitas do Judaísmo, viviam fora da Geografia e da História da Salvação, o evangelista mostra como na visita dos Magos, se realizam as profecias do A. T.
Não deixa também de o impressionar, em contraste com o orgulho e cegueira de Herodes e dos sábios de Israel, a boa vontade dos Magos, que, atentos aos sinais dos Tempos, se dispõem a correr a aventura da Fé.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.”
Palavra da Salvação