sábado, 27 de fevereiro de 2016

Se não vos arrependerdes, morrereis do mesmo modo

DOMINGO, 28 DE FEVEREIRO DE 2016



(III Domingo da Quaresma, 28 de Fevereiro de 2016)

“Se não vos arrependerdes, morrereis do mesmo modo”

Deus não vos salva sem nós
A notícia de dois factos (algumas mortes numa revolta contra os romanos e o desmoronamento de uma torre que sepulta algumas pessoas) dá a Cristo ocasião de falar que o juízo de Deus virá repentinamente. Não só será imprevisto, mas cairá sobre quem menos o espera.
Às vezes admiramo-nos do lugar que a morte ocupa no anúncio do Reino; muitos ateus, e até mesmo cristãos, censuram a Igreja por essa espécie de complacência no servir-se do pavor da morte para levar os homens à conversão. No entanto, a morte não deveria ser causa de pavor; é, antes, um “sinal” que todo homem deve forçosamente interpretar. O convite do Cristão a fazer penitência não é um convite a preparar-se à pressa para entrar na outra vida. A penitência consiste exactamente em consentir morrer, e isto é, para todos os homens, a prova mais decisiva de sua condição de criatura.
A conversão, acto livre do homem
A urgência da conversão por causa da proximidade do juízo de Deus, que os sinais dos tempos continuamente nos evocam, é a nossa resposta à experiência do Deus que vem fazer-nos sair do Egipto, que vem ajudar-nos a encontrar a nossa identidade de homens. Ele ouve o clamor do seu povo e manda Moisés "libertá-lo das mãos dos egípcios e fazê-lo sair daquele país para uma terra boa e espaçosa" (1ª leitura). Um povo libertado é um povo em conversão. Uma conversão contínua. Assim como não foi suficiente ao povo de Israel, para ser fiel a Deus, passar o mar Vermelho, alimentar-se do maná e matar a sede com a água do rochedo (de facto, insurgiram-se contra Deus e foram castigados), também a nós, novo povo de Deus, não basta sermos baptizados e termos participado da mesa do corpo e sangue de Cristo, para entrarmos no reino da promessa (2ª leitura). A vida do povo no deserto, no tempo de Moisés, admoesta Paulo, foi escrita para nossa correcção. A palavra de Deus quer, portanto, provocar-nos à conversão, e a urgência desse apelo assume em Cristo uma tonalidade particular: ele é a misericórdia do Pai; é mais uma ocasião oferecida ao homem para fazer penitência. O tempo do Cristo é o tempo da paciência do Pai. Deus não impõe prazo fixo. Um longo passado de esterilidade não impede, pois, a Deus, de dar mais uma oportunidade à figueira. Não se trata de fraqueza, mas de amor.
A conversão, acto comprometedor
O risco é de subestimar as exigências desse acto e limitá-lo a gestos que só nos atingem superficialmente, deixando intacto o nosso íntimo. Conversão é um exame profundo de si mesmo e da direcção que tem tomado a própria vida. Implica uma “mudança de direcção". É uma passagem da fé aceite passivamente, fé herdada, a uma fé activamente conquistada, como resposta ao dom de Deus e à intervenção do Espírito na nossa vida. É ruptura com uma mentalidade voltada para o pecado, para valores puramente humanos, para a auto-suficiência e o orgulho, a fim de aderir aos sinais de penitência não apenas rituais. Conversão é, sobretudo, adesão ao Reino que vem e compromisso com ele; é atitude de pobre, de pequenino, de servo, de filho; é autenticidade de comportamento contra qualquer desacordo entre fé e vida. Deus espera-nos nesse instante decisivo. Espera da nossa fé um acto viril, a plena e consciente aceitação do nosso destino: pede-nos que o assumamos livremente. Ninguém pode fazê-lo em nosso lugar, nem mesmo Deus.
A conversão, acto que custa
O caminho de conversão pode levar a opções dilacerantes e que transtornam. Há situações em que não é fácil agir ou é impossível voltar atrás. Há opções, como a de quem se divorciou, ou de quem rompeu com a Igreja ou com a vida religiosa, que não podem ser facilmente modificadas; um concubinato com filhos, que não se pode solucionar com o matrimónio; uma inesperada e não desejada maternidade; o não estar psicologicamente preparada para aceitar um filho; um viciado em drogas; uma grande injustiça sofrida; um comportamento habitual de desconfiança entre marido e mulher, entre país e filhos; o conflito entre famílias, uma vingança levada além das próprias intenções. No entanto, sempre e em todos os casos, é válido o apelo à conversão. É um caminho longo e difícil. Caminho que dilacera o coração e exige o respeito e o auxílio de toda a comunidade. Exige a compreensão dos que sabem que essas opções nem sempre dependem das pessoas, e que certas situações podem vir a ser a de qualquer um de nós. Cristo não permitiu que se arrancasse uma árvore aparentemente estéril. Um germe de vida nova é possível em toda Primavera.


LEITURA I – Ex 3, 1-8a.13-15

O que Se chama ‘Eu sou’ enviou-me a vós

Continuando a apresentar, nesta subida quaresmal a caminho da Páscoa, certos momentos mais significativos da história da salvação, a primeira leitura deste domingo, em seguimento da dos domingos anteriores, dá-nos a célebre revelação de Deus a Moisés, a revelação do seu Nome, que define, tanto quanto isso é possível, Quem é Deus. Ao mesmo tempo, e na continuação dessa revelação, Deus chama Moisés e envia-o como instrumento de salvação para o seu povo escravizado no Egipto. Moisés será o chefe desse povo, o seu condutor através do deserto, e, como tal, figura de Cristo, o verdadeiro Pastor, guia e salvador do seu povo.

Leitura do Livro do Êxodo
“Naqueles dias, Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Ao levar o rebanho para além do deserto, chegou ao monte de Deus, o Horeb. Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor numa chama ardente, do meio de uma sarça. Moisés olhou para a sarça, que estava a arder, e viu que a sarça não se consumia. Então disse Moisés: «Vou aproximar-me, para ver tão assombroso espectáculo: por que motivo não se consome a sarça?». O Senhor viu que ele se aproximava para ver. Então Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés, Moisés!». Ele respondeu: «Aqui estou!» Continuou o Senhor: «Não te aproximes. Tira as sandálias dos pés, porque o lugar que pisas é terra sagrada». E acrescentou: «Eu sou o Deus de teus pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob». Então Moisés cobriu o rosto, com receio de olhar para Deus. Disse-lhe o Senhor: «Eu vi a situação miserável do meu povo no Egipto; escutei o seu clamor provocado pelos opressores. Conheço, pois, as suas angústias. Desci para o libertar das mãos dos egípcios e o levar deste país para uma terra boa e espaçosa, onde corre leite e mel». Moisés disse a Deus: «Vou procurar os filhos de Israel e dizer-lhes: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’. Mas se me perguntarem qual é o seu nome, que hei-de responder-lhes?». Disse Deus a Moisés: «Eu sou ‘Aquele que sou’». E prosseguiu: «Assim falarás aos filhos de Israel: O que Se chama ‘Eu sou’ enviou-me a vós». Deus disse ainda a Moisés: «Assim falarás aos filhos de Israel: ‘O Senhor, Deus de vossos pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob, enviou-me a vós. Este é o meu nome para sempre, assim Me invocareis de geração em geração’».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Cor 10, 1-6.10-12

A vida do povo com Moisés no deserto foi escrita para nos servir de exemplo

É o próprio Apóstolo que nos ensina a ler o Antigo Testamento: este anuncia as realidades do Novo Testamento, e serve, ao mesmo tempo, de exemplo e de guia ao povo da Nova Aliança, que já chegou “aos últimos tempos”, os tempos do Senhor Jesus Cristo, mas que ainda peregrina no deserto deste mundo a caminho da Terra Prometida. Não venha a suceder-nos a nós o que a muitos deles aconteceu: terem ficado pelo caminho.

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Não quero que ignoreis que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, passaram todos através do mar e na nuvem e no mar, receberam todos o baptismo de Moisés. Todos comeram o mesmo alimento espiritual e todos beberam a mesma bebida espiritual. Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava: esse rochedo era Cristo. Mas a maioria deles não agradou a Deus, pois caíram mortos no deserto. Esses factos aconteceram para nos servir de exemplo, a fim de não cobiçarmos o mal, como eles cobiçaram. Não murmureis, como alguns deles murmuraram, tendo perecido às mãos do Anjo exterminador. Tudo isto lhes sucedia para servir de exemplo e foi escrito para nos advertir, a nós que chegámos ao fim dos tempos. Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 13, 1-9

Se não vos arrependerdes, morrereis do mesmo modo

A primeira mensagem da Boa Nova que Jesus nos traz é o anúncio da aproximação do reino dos Céus, e consequentemente o convite a acolhê-lo com o coração voltado para ele e afastado do que lhe é contrário. Esta atitude é assim uma conversão, um regresso dos caminhos do pecado, uma atitude de arrependimento em relação ao passado, uma atitude penitencial. E esta atitude do coração é fundamental na Quaresma.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante. Jesus disse então a seguinte parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’. Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano».”
Palavra da Salvação



sábado, 20 de fevereiro de 2016

DOMINGO, 21 DE FEVEREIRO DE 2016




(II Domingo da Quaresma, 21 de Fevereiro de 2016)

“A Glória do Filho de Deus”

Lucas apresenta Jesus rezando continuamente (5,16; 6,12; 9,18). Com isso o evangelista mostra que Jesus, através de sua palavra e acção, está a realizar a vontade do Pai. Na transfiguração aparece claramente esse sentido da oração. É a vontade do Pai que Jesus realize o êxodo, isto é, que ele realize, mediante a sua morte, ressurreição e ascensão, o acto supremo de libertação do povo, acabando com a opressão exercida pelo sistema implantado em Jerusalém. A transfiguração forma um fascinante contraste com a mensagem de sofrimento e humilhação. Como sempre acontece na tradição evangélica, é preciso manter unidos os dois extremos a fim de aceitar Jesus como ele é, Filho do Homem e Filho de Deus. Diversos detalhes lembram a experiência de Deus no Sinai: Moisés, o topo da montanha, a nuvem (Ex 24,9-19). Jesus é visto como Filho de Deus na sua glória celestial. O “aspecto do seu rosto mudou”, como ele mudará no seu corpo glorificado pela ressurreição (Mc 16,12). Com ele aparecem duas importantes figuras do Antigo Testamento, Moisés – o Legislador –, e Elias – o Profeta. Eles são um sinal de que Jesus satisfará as expectativas do povo hebreu. De facto, falam com ele sobre o seu êxodo, a sua morte, a ressurreição e, na teologia de Lucas, em especial a sua ascensão, que ia “realizar-se” em Jerusalém. O comportamento dos três discípulos íntimos desaponta-nos. Eles adormecem, como fará mais tarde num momento decisivo. Confrontando com a glória divina, Pedro não chama Jesus pelo título de “Senhor”, que o identifica adequadamente como o Salvador, a fala sem coerência sobre erguer tendas terrenas para os seres celestiais. A revelação culmina com a voz proveniente das nuvens, como no baptismo de Jesus. Ele é o Filho de Deus, escolhido por Deus (Sl 2,7; Is 42,1). A admoestação “ouvi-o!” salienta a importância daquilo que Jesus tem dito sobre a sua missão e a natureza do discipulado. A cena da Transfiguração é narrada pelos três evangelistas. A narrativa é feita num estilo apocalíptico, também presente nas narrativas do baptismo e da crucifixão de Jesus. Este estilo caracteriza-se por fenómenos espantosos, abalos da natureza, nuvens e voz celestial, que indicam a presença e comunicação de Deus. Com isto, na Transfiguração fica confirmada a filiação divina de Jesus e seu carácter de enviado para anunciar e instruir a todos. Moisés, representante da Lei, e Elias, representante do profetismo, haviam subido à montanha ao encontro de Deus. Agora, estando Jesus no alto da montanha a orar, Moisés e Elias vão a ele. O ponto alto é a voz que proclama: "Este é o meu filho, o Eleito. Escutai-o". Do ponto de vista de uma interpretação messiânica escatológica, a Transfiguração seria o prenúncio da ressurreição, como coroação dos sofrimentos de Jesus na sua Paixão. Sob outro ponto de vista, a Transfiguração revela a condição divina de Jesus de Nazaré, filho de Maria, na simplicidade de seu convívio entre nós. Os discípulos devem ver em Jesus a nova condição humana glorificada pela encarnação do Filho de Deus. Não se trata de esperar um messias poderoso, mas, sim, de reencontrar a dignidade e a grandeza da condição humana, em tudo que ela tem de justo, bom e verdadeiro. Ao entrarmos em comunhão de amor com Jesus e com o próximo, Deus é glorificado e é-nos comunicada a sua vida divina e eterna.


LEITURA I – Gen 15, 5-12.17-18

Deus estabelece a aliança com Abraão

Toda a história da salvação, desde o princípio até ao fim dos tempos, não é outra coisa senão o estabelecimento de uma aliança entre Deus e os homens, aliança que é oferta gratuita de Deus e que há-de ser aceitação humilde e agradecida da parte do homem. Mas há momentos mais significativos no estabelecimento desta aliança. Um deles, que é o seu ponto de partida mais explícito, é o da Aliança com Abraão, o crente por excelência, que, pela fé, se entrega totalmente à palavra de Deus. Nesta leitura, a aliança é significada por meio de um antigo rito: os animais oferecidos e esquartejados são o gesto do homem e o fogo que passa pelo meio deles é sinal da presença de Deus. Assim, de aliança em aliança, nos encaminhamos para a celebração da nova e eterna aliança na Páscoa do Senhor.

Leitura do Livro do Génesis
“Naqueles dias, Deus levou Abrão para fora de casa e disse-lhe: «Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar». E acrescentou: «Assim será a tua descendência». Abraão acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído como justiça. Disse-lhe Deus: «Eu sou o Senhor que te mandou sair de Ur dos caldeus, para te dar a posse desta terra». Abraão perguntou: «Senhor, meu Deus, como saberei que a vou possuir?». O Senhor respondeu-lhe: «Toma uma vitela de três anos, uma cabra de três anos e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho». Abraão foi buscar todos esses animais, cortou-os ao meio e pôs cada metade em frente da outra metade; mas não cortou as aves. Os abutres desceram sobre os cadáveres, mas Abraão pô-los em fuga. Ao pôr-do-sol, apoderou-se de Abraão um sono profundo, enquanto o assaltava um grande e escuro terror. Quando o sol desapareceu e caíram as trevas, um brasido fumegante e um archote de fogo passaram entre os animais cortados. Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abraão uma aliança, dizendo: «Aos teus descendentes darei esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio Eufrates».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Filip 3, 17 – 4,1

Cristo nos transformará à imagem do seu corpo glorioso

Cristo glorioso é o termo de toda a história humana, o objecto da esperança de toda a nossa vida e a meta para onde se orienta o nosso itinerário quaresmal. Ao tempo da ascese difícil e dolorosa na subida, que acompanha a vida que vivemos neste corpo mortal, responde a vida gloriosa, que já se manifesta no Corpo do Senhor transfigurado. Mas o caminho e a porta da glória passa pela Cruz.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
“Irmãos: Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós. Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição: têm por deus o ventre, orgulham-se da sua vergonha e só apreciam as coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que Ele tem de sujeitar a Si todo o universo. Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 9, 28b-36

Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto

A Transfiguração aparece todos os anos no Segundo Domingo da Quaresma, como anúncio da Ressurreição, de modo que, ao longo deste tempo de preparação pascal, estejamos bem conscientes de que o termo, para onde caminhamos, é Jesus ressuscitado. A Transfiguração, lida neste Domingo depois do Domingo da Tentação, faz com ela uma espécie de preâmbulo, antes de chegarmos à parte central da Quaresma. Mortificação e glorificação, tentação e glória, morte e ressurreição, são de facto, a síntese do mistério pascal que vamos celebrar.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.”
Palavra da Salvação



sábado, 13 de fevereiro de 2016

DOMINGO 14 DE FEVEREIRO DE 2016




(I Domingo da Quaresma, 14 de Fevereiro de 2016)

“Jesus supera as tentações”

A tentação no deserto resume os conflitos que Jesus vai experimentar em toda a sua vida. Deverá enfrentar o representante das forças do mal que escravizam os homens. E Deus sustentá-lo-á nessa luta. Mateus pormenoriza, salientando três tentações. Nelas, Jesus é tentado a falsificar a própria missão, realizando uma actividade que tenda só a satisfazer as necessidades imediatas, procurar o prestígio e ambicionar o poder e as riquezas. Jesus, porém, resiste a essas tentações. O seu projecto de justiça é transformar as estruturas segundo a vontade de Deus (palavra que sai da boca de Deus), não pondo Deus ao seu próprio serviço ou interesse (Não tente o Senhor seu Deus), e não universalizando coisas que geram opressão e exploração sobre os homens, criando ídolos (Você adorará ao Senhor seu Deus...). Lucas inverte a ordem das duas últimas tentações, porque em Jerusalém (Templo) é onde acontecerá a suprema tentação e a vitória final sobre ela. Na tradição do Êxodo, no Primeiro Testamento, o deserto é o lugar de purificação e definição, num processo de mudança de vida. As condições ambientais de despojamento, próprias do deserto, são propícias à reformulação de valores pessoais ou comunitários, previamente assumidos. Assim, o povo hebreu, conforme a tradição, ao sair do Egipto, permaneceu quarenta anos no deserto, que serviram como preparação para as novas condições de vida na "terra prometida", que conquistaram. Os três evangelistas sinópticos narram que Jesus, após receber o baptismo de João, passou também "quarenta dias" no deserto, como um tempo de provação. O agente da provação é o diabo, que propõe a Jesus, sucessivamente, que transforme pedras em pães, que se prostre diante dele e que se lance do alto do Templo. Estas tentações delineiam o perfil do messias glorioso: promessa demagógica de pão para todos, assumir o poder sobre todos os reinos do mundo e ostentar-se como o protegido pelo poder divino. Assim, o evangelista associa tal messias ao projecto do diabo. E a "tentação" de Jesus exprime um momento de decisão pelo início de seu ministério, optando pelas suas linhas mestras: Jesus vem para instaurar o Reino da partilha, da humildade e do serviço, com a comunicação do amor de Deus a todos os povos, sem exclusões. A Quaresma é o tempo propício a um maior amadurecimento da fé em Jesus, que toca os corações pela sua palavra. É a palavra humilde e amorosa que tem a força transformadora, revelando o "Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam", e renovando a vida no mundo.


LEITURA I – Deut 26, 4-10

A profissão de fé do povo eleito

Através da oferta dos primeiros frutos da terra, o Povo eleito reconhece que tudo vem de Deus: a terra que cultiva, assim como a energia para a cultivar. Com este gesto, o homem vencia a tentação de se encerrar no mundo material, afirmando o primado do espiritual: «nem só de pão vive o homem».
Mas este gesto tem uma dimensão religiosa mais profunda. Na verdade, a oferta das primícias a Deus, por intermédio do sacerdote, era acompanhada duma autêntica profissão de fé, em que se recapitulavam os acontecimentos mais importantes da História da Salvação.

Leitura do Livro do Deuteronómio
“Moisés falou ao povo, dizendo: «O sacerdote receberá da tua mão as primícias dos frutos da terra e colocá-las-á diante do altar do Senhor teu Deus. E diante do Senhor teu Deus, dirás as seguintes palavras: ‘Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egipto com poucas pessoas, e aí viveu como estrangeiro até se tornar uma nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios maltrataram-nos, oprimiram-nos e sujeitaram-nos a dura escravidão. Então invocámos o Senhor Deus dos nossos pais e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a opressão que nos dominava. O Senhor fez-nos sair do Egipto com mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios. Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e mel. E agora venho trazer-Vos as primícias dos frutos da terra que me destes, Senhor’. Então colocarás diante do Senhor teu Deus as primícias dos frutos da terra e te prostrarás diante do Senhor teu Deus».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Rom 10, 8-13

Profissão de fé dos que crêem em Cristo

A fé do Povo Eleito baseava-se em factos concretos, pelos quais Deus manifestava o Seu amor e a Sua fidelidade.
A fé cristã consiste na adesão a uma pessoa, Jesus Cristo, Ressuscitado, e, por isso, Senhor. Com efeito, todas as maravilhosas intervenções salvíficas de Deus têm o seu ponto culminante no Mistério Pascal de Cristo.
Deste modo, «a fé é crer em Alguém e não em alguma coisa, o que significa abrir um crédito, que me põe à disposição do Único, em quem creio» (Gabriel Marcel).
Só esta fé em Cristo Ressuscitado, proclamada com alegria e vivida até às últimas consequências, nos dá a salvação.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
“Irmãos: Que diz a Escritura? «A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração». Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo. Pois com o coração se acredita para obter a justiça e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação. Na verdade, a Escritura diz: «Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido». Não há diferença entre judeu e grego: todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que O invocam. Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 4, 1-13

Esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado

A tentação no Deserto não foi um acontecimento isolado. Foi o começo duma luta contra o «príncipe deste mundo», que se prolongará por toda a vida, atingindo o auge com a Morte em Jerusalém.
Como a de Jesus, a vida do cristão conhece também a prova da tentação. O Baptismo, que nos faz filhos de Deus, não nos introduz num estado de segurança. É antes o começo de dura caminhada, no decorrer da qual a nossa fidelidade a Deus é, muitas vezes, posta à prova.
Em todas as circunstâncias, porém, o cristão poderá ser invencível. Cristo Ressuscitado, que venceu, definitivamente, o mal, ficou na Eucaristia, para nos comunicar esse poder.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome. O Diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’». O Diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo levou-O a Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». Então o Diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.”
Palavra da Salvação



sábado, 6 de fevereiro de 2016

DOMINGO 7 DE FEVEREIRO DE 2016




(Domingo, 7 de Fevereiro de 2016)

“Vida missionária”

Para anunciar Deus é preciso tê-Lo “conhecido”. Para conhecer Deus é necessário que Ele “se revele”. Não podemos atingir Deus com os nossos silogismos e encerrá-Lo nos nossos raciocínios. A revelação de Deus é um acto soberanamente livre, é iniciativa sua – totalmente gratuita. O homem não tem poder sobre Deus. Ora, o profeta não anuncia uma doutrina abstracta, meramente humana, mas o Deus vivo; ele só é profeta se Deus se lhe revela, se o chama, se o envia. Revelação, vocação e missão estão estreitamente unidas.

A cena é simbólica. Jesus chama os seus primeiros discípulos, mostrando-lhes qual a missão que lhes era reservada: fazer que os homens participem da libertação trazida por Jesus e que só pode realizar-se no seguimento dele, mediante a união com ele e a sua missão. O convite ao seguimento é exigente: é preciso “deixar tudo”, para que nada impeça o discípulo de anunciar a Boa Notícia do Reino. A cena da pesca milagrosa ilustra a vida missionária dos discípulos do Reino. Tudo começou com um encontro fortuito com Jesus. Comprimido pelas multidões ansiosas para ouvir a Palavra de Deus, o Mestre pediu a Simão um favor: levá-lo na sua barca um pouco para largo do lago de Genesaré, não muito longe da margem, para que pudesse falar às multidões. O seu pedido foi prontamente atendido. Quando concluiu a pregação, deu a Simão uma ordem inesperada: conduzir o barco para águas mais profundas e lançar a rede. Simão tinha trabalhado, em vão, toda a noite; mas, por obediência à ordem do Mestre, lançou novamente a rede. E disto resultou uma pescaria espectacular. Entretanto, o facto mais notável foi Simão ter tido a oportunidade de reconhecer Jesus como Messias. O espanto que se apoderou dele e dos seus companheiros foi semelhante ao que, no Antigo Testamento, acontecia nas teofanias, quando pessoas achavam que iriam morrer, caso vissem a Deus. Simão reconheceu em Jesus a manifestação da divindade. E Jesus exortou-o a não ter medo, pois a sua vida havia sido transformada. Doravante, teria outra preocupação, não mais com peixes, mas com pessoas humanas. Simão aceitou a tarefa de ser pescador de homens e pôs a seguir Jesus. Começava para ele uma nova vida. O centro desta narrativa é o anúncio de Jesus e a escolha dos seus colaboradores. A multidão comprime-se para ouvir a sua palavra, Jesus sobe ao barco de Simão (Pedro) e daí ensina estas multidões. A pesca imprevista e abundante (acentuada desmedidamente) sob a orientação de Jesus é uma confirmação da força da sua palavra e da confiança que se deve ter nesta palavra. Jesus chama os discípulos como cooperadores na sua missão. Os discípulos, com desprendimento, dispõem-se a seguir Jesus. O sucesso da missão implica o abandono e a docilidade à palavra de Jesus.


LEITURA I – Is 6, 1-2a.3-8

Eis-me aqui: podeis enviar-me

Esta leitura apresenta a vocação de Isaías e a sua missão, para introduzir a missão dos Apóstolos, de que falará o Evangelho. A vocação e a missão vêm de Deus, são dom seu. Em presença de tais dons, ao homem compete simplesmente responder e deixar-se enviar, porque a obra a que é enviado é toda de Deus. Foi por isso que o profeta começou por sentir-se envolvido em sinais da presença e da santidade de Deus. E ao reconhecer que Deus o chamava, respondeu a esse chamamento e deixou-se enviar para a missão a que Deus o destinava.

Leitura do Livro de Isaías
“No ano em que morreu Ozias, rei de Judá, vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime; a fímbria do seu manto enchia o templo. À sua volta estavam serafins de pé, que tinham seis asas cada um e clamavam alternadamente, dizendo: «Santo, santo, santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!». Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos e o templo enchia-se de fumo. Então exclamei: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo». Um dos serafins voou ao meu encontro, tendo na mão um carvão ardente que tirara do altar com uma tenaz. Tocou-me com ele na boca e disse-me: «Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa». Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: «Quem enviarei? Quem irá por nós?». Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Cor 15, 1-11

É assim que pregamos e foi assim que acreditastes

Os cristãos de Corinto, cidade grega de ambiente pagão, deviam sentir a atitude negativa dos grupos no meio dos quais viviam, em relação à ressurreição dos mortos, que até os próprios Judeus só lentamente foram admitindo. Para os cristãos, a morte e a ressurreição de Cristo constitui a base e o fundamento da sua fé. Ao afirmar o mistério pascal de Cristo, S. Paulo apresenta o núcleo central da profissão de fé da Igreja, o “Credo”.

Leitura da primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Recordo-vos, irmãos, o Evangelho que vos anunciei e que recebestes, no qual permaneceis e pelo qual sereis salvos, se o conservais como eu vo-lo anunciei; aliás teríeis abraçado a fé em vão. Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maior parte ainda vive, enquanto alguns já faleceram. Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como o abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos e não sou digno de ser chamado Apóstolo, por ter perseguido a Igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou e a graça que Ele me deu não foi inútil. Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. Por conseguinte, tanto eu como eles, é assim que pregamos; e foi assim que vós acreditastes.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 5, 1-11

Deixaram tudo e seguiram Jesus

A disponibilidade verificada no profeta Isaías, vemo-la agora nos Apóstolos. É o Senhor que os envia, mas eles, por seu lado, deixam-se enviar. A obra de Deus está também nas mãos dos homens, porque Deus os quer associar a Si na obra de salvação. É, no fundo, a lei que nasce do mistério da Encarnação: Deus no homem e o homem em Deus. E a única atitude possível para o homem a quem Deus chama e envia é responder como Isaías: “Eis-me aqui”, e como Pedro: “Já que o dizes, lançarei as redes”.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus. Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré e viu dois barcos estacionados no lago. Os pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar as redes. Jesus subiu para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra. Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim fizeram e apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para os virem ajudar; eles vieram e encheram ambos os barcos, de tal modo que quase se afundavam. Ao ver o sucedido, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele e de todos os seus companheiros, por causa da pesca realizada. Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens». Tendo conduzido os barcos para terra, eles deixaram tudo e seguiram Jesus.”
Palavra da Salvação