DOMINGO, 28 DE FEVEREIRO DE 2016
(III Domingo da Quaresma, 28
de Fevereiro de 2016)
“Se não vos
arrependerdes, morrereis do mesmo modo”
Deus não vos salva sem nós
A notícia de dois factos
(algumas mortes numa revolta contra os romanos e o desmoronamento de uma torre
que sepulta algumas pessoas) dá a Cristo ocasião de falar que o juízo de Deus
virá repentinamente. Não só será imprevisto, mas cairá sobre quem menos o
espera.
Às vezes admiramo-nos do
lugar que a morte ocupa no anúncio do Reino; muitos ateus, e até mesmo
cristãos, censuram a Igreja por essa espécie de complacência no servir-se do
pavor da morte para levar os homens à conversão. No entanto, a morte não
deveria ser causa de pavor; é, antes, um “sinal” que todo homem deve
forçosamente interpretar. O convite do Cristão a fazer penitência não é um
convite a preparar-se à pressa para entrar na outra vida. A penitência consiste
exactamente em consentir morrer, e isto é, para todos os homens, a prova mais
decisiva de sua condição de criatura.
A conversão, acto livre do homem
A urgência da conversão
por causa da proximidade do juízo de Deus, que os sinais dos tempos
continuamente nos evocam, é a nossa resposta à experiência do Deus que vem
fazer-nos sair do Egipto, que vem ajudar-nos a encontrar a nossa identidade de
homens. Ele ouve o clamor do seu povo e manda Moisés "libertá-lo das mãos
dos egípcios e fazê-lo sair daquele país para uma terra boa e espaçosa"
(1ª leitura). Um povo libertado é um povo em conversão. Uma conversão contínua.
Assim como não foi suficiente ao povo de Israel, para ser fiel a Deus, passar o
mar Vermelho, alimentar-se do maná e matar a sede com a água do rochedo (de facto,
insurgiram-se contra Deus e foram castigados), também a nós, novo povo de Deus,
não basta sermos baptizados e termos participado da mesa do corpo e sangue de
Cristo, para entrarmos no reino da promessa (2ª leitura). A vida do povo no
deserto, no tempo de Moisés, admoesta Paulo, foi escrita para nossa correcção.
A palavra de Deus quer, portanto, provocar-nos à conversão, e a urgência desse
apelo assume em Cristo uma tonalidade particular: ele é a misericórdia do Pai;
é mais uma ocasião oferecida ao homem para fazer penitência. O tempo do Cristo
é o tempo da paciência do Pai. Deus não impõe prazo fixo. Um longo passado de
esterilidade não impede, pois, a Deus, de dar mais uma oportunidade à figueira.
Não se trata de fraqueza, mas de amor.
A conversão, acto comprometedor
O risco é de subestimar
as exigências desse acto e limitá-lo a gestos que só nos atingem
superficialmente, deixando intacto o nosso íntimo. Conversão é um exame
profundo de si mesmo e da direcção que tem tomado a própria vida. Implica uma
“mudança de direcção". É uma passagem da fé aceite passivamente, fé
herdada, a uma fé activamente conquistada, como resposta ao dom de Deus e à
intervenção do Espírito na nossa vida. É ruptura com uma mentalidade voltada
para o pecado, para valores puramente humanos, para a auto-suficiência e o
orgulho, a fim de aderir aos sinais de penitência não apenas rituais. Conversão
é, sobretudo, adesão ao Reino que vem e compromisso com ele; é atitude de
pobre, de pequenino, de servo, de filho; é autenticidade de comportamento
contra qualquer desacordo entre fé e vida. Deus espera-nos nesse instante
decisivo. Espera da nossa fé um acto viril, a plena e consciente aceitação do
nosso destino: pede-nos que o assumamos livremente. Ninguém pode fazê-lo em
nosso lugar, nem mesmo Deus.
A conversão, acto que custa
O caminho de conversão
pode levar a opções dilacerantes e que transtornam. Há situações em que não é
fácil agir ou é impossível voltar atrás. Há opções, como a de quem se
divorciou, ou de quem rompeu com a Igreja ou com a vida religiosa, que não
podem ser facilmente modificadas; um concubinato com filhos, que não se pode
solucionar com o matrimónio; uma inesperada e não desejada maternidade; o não
estar psicologicamente preparada para aceitar um filho; um viciado em drogas;
uma grande injustiça sofrida; um comportamento habitual de desconfiança entre
marido e mulher, entre país e filhos; o conflito entre famílias, uma vingança
levada além das próprias intenções. No entanto, sempre e em todos os casos, é
válido o apelo à conversão. É um caminho longo e difícil. Caminho que dilacera
o coração e exige o respeito e o auxílio de toda a comunidade. Exige a
compreensão dos que sabem que essas opções nem sempre dependem das pessoas, e
que certas situações podem vir a ser a de qualquer um de nós. Cristo não
permitiu que se arrancasse uma árvore aparentemente estéril. Um germe de vida
nova é possível em toda Primavera.
LEITURA I – Ex 3, 1-8a.13-15
“O
que Se chama ‘Eu sou’ enviou-me a vós”
Continuando
a apresentar, nesta subida quaresmal a caminho da Páscoa, certos momentos mais
significativos da história da salvação, a primeira leitura deste domingo, em
seguimento da dos domingos anteriores, dá-nos a célebre revelação de Deus a
Moisés, a revelação do seu Nome, que define, tanto quanto isso é possível, Quem
é Deus. Ao mesmo tempo, e na continuação dessa revelação, Deus chama Moisés e
envia-o como instrumento de salvação para o seu povo escravizado no Egipto.
Moisés será o chefe desse povo, o seu condutor através do deserto, e, como tal,
figura de Cristo, o verdadeiro Pastor, guia e salvador do seu povo.
Leitura do
Livro do Êxodo
“Naqueles
dias, Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Ao
levar o rebanho para além do deserto, chegou ao monte de Deus, o Horeb.
Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor numa chama ardente, do meio de uma sarça.
Moisés olhou para a sarça, que estava a arder, e viu que a sarça não se
consumia. Então disse Moisés: «Vou aproximar-me, para ver tão assombroso
espectáculo: por que motivo não se consome a sarça?». O Senhor viu que ele se
aproximava para ver. Então Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés, Moisés!».
Ele respondeu: «Aqui estou!» Continuou o Senhor: «Não te aproximes. Tira as
sandálias dos pés, porque o lugar que pisas é terra sagrada». E acrescentou:
«Eu sou o Deus de teus pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob».
Então Moisés cobriu o rosto, com receio de olhar para Deus. Disse-lhe o Senhor:
«Eu vi a situação miserável do meu povo no Egipto; escutei o seu clamor provocado
pelos opressores. Conheço, pois, as suas angústias. Desci para o libertar das
mãos dos egípcios e o levar deste país para uma terra boa e espaçosa, onde
corre leite e mel». Moisés disse a Deus: «Vou procurar os filhos de Israel e
dizer-lhes: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’. Mas se me perguntarem qual
é o seu nome, que hei-de responder-lhes?». Disse Deus a Moisés: «Eu sou ‘Aquele
que sou’». E prosseguiu: «Assim falarás aos filhos de Israel: O que Se chama
‘Eu sou’ enviou-me a vós». Deus disse ainda a Moisés: «Assim falarás aos filhos
de Israel: ‘O Senhor, Deus de vossos pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus
de Jacob, enviou-me a vós. Este é o meu nome para sempre, assim Me invocareis
de geração em geração’».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – 1 Cor 10, 1-6.10-12
“A
vida do povo com Moisés no deserto foi escrita para nos servir de exemplo”
É o
próprio Apóstolo que nos ensina a ler o Antigo Testamento: este anuncia as
realidades do Novo Testamento, e serve, ao mesmo tempo, de exemplo e de guia ao
povo da Nova Aliança, que já chegou “aos últimos tempos”, os tempos do Senhor
Jesus Cristo, mas que ainda peregrina no deserto deste mundo a caminho da Terra
Prometida. Não venha a suceder-nos a nós o que a muitos deles aconteceu: terem
ficado pelo caminho.
Leitura da
Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Não
quero que ignoreis que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem,
passaram todos através do mar e na nuvem e no mar, receberam todos o baptismo
de Moisés. Todos comeram o mesmo alimento espiritual e todos beberam a mesma
bebida espiritual. Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava: esse
rochedo era Cristo. Mas a maioria deles não agradou a Deus, pois caíram mortos
no deserto. Esses factos aconteceram para nos servir de exemplo, a fim de não
cobiçarmos o mal, como eles cobiçaram. Não murmureis, como alguns deles
murmuraram, tendo perecido às mãos do Anjo exterminador. Tudo isto lhes sucedia
para servir de exemplo e foi escrito para nos advertir, a nós que chegámos ao
fim dos tempos. Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 13, 1-9
“Se não vos arrependerdes, morrereis do mesmo modo”
A
primeira mensagem da Boa Nova que Jesus nos traz é o anúncio da aproximação do
reino dos Céus, e consequentemente o convite a acolhê-lo com o coração voltado
para ele e afastado do que lhe é contrário. Esta atitude é assim uma conversão,
um regresso dos caminhos do pecado, uma atitude de arrependimento em relação ao
passado, uma atitude penitencial. E esta atitude do coração é fundamental na
Quaresma.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos
galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes:
«Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores
do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos
arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a
torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que
todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos
arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante. Jesus disse então a seguinte
parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar
os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro:
‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves
cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’. Mas o
vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu,
entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar
frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano».”
Palavra da Salvação