(Domingo de Páscoa, 20 de Março
de 2016)
“Páscoa do
Senhor, nova criação e novo êxodo”
Hoje ressoa na Igreja o anúncio
pascal: Cristo ressuscitou; ele vive para além da morte; é o Senhor dos vivos e
dos mortos. Na noite mais clara que o dia, a palavra omnipotente de Deus que
criou os céus, a terra e formou o homem à sua imagem e semelhança chama a uma
vida imortal o homem novo, Jesus de Nazaré, filho de Deus e filho de Maria.
Realiza-se a grande e secreta esperança da humanidade
Nele, a semente da vida divina,
depositada inicialmente na criatura, atinge uma maturação pessoal única, porque
nele habita a plenitude da divindade, a do Filho Unigénito. A humanidade vê realizada,
por dom de Deus, a grande e secreta esperança: uma terra e céus “novos”, um
mundo sem luto e sem lágrimas, paz e justiça, alegria e vida sem sombra e sem
fim. Tudo isto, porém, não é visível; só aos olhos de quem crê é dado discernir
os traços da nova criatura que se está formando na obscuridade e no trabalho da
existência terrena. A morte é vencida pela morte livremente aceite por Jesus;
mas ela continua a agir até que tudo seja cumprido. O pecado é vencido pelo
sacrifício do inocente; mas o “mistério da iniquidade acompanha a existência
humana até o último dia. No Senhor ressuscitado, a morte e o pecado encontram
um sentido aceitável, inserem-se num desígnio cheio de sabedoria e de amor, não
mais causam medo, porque pertencem ao velho mundo de que fomos libertados.”
Um povo de homens livres caminha para a vida
Ao contrário da vida natural, que nos
é dada sem o nosso consentimento, na nova existência só se pode entrar com uma
adesão consciente e livre à proposta de renascer através da conversão e do baptismo.
(Isto é evidente no caso dos adultos; quanto às crianças, baptizadas na fé dos
pais e da comunidade, o caso é análogo ao primeiro dom da vida, em que a
resposta pessoal amadurece graças à educação). Assim, para cada um dos que
crêem, a Páscoa é a passagem de um modo de viver para outro; é saída do Egipto,
imersão no mar Vermelho e caminho pelo deserto até à terra da promessa. Numa
palavra, é o êxodo “deste mundo ao Pai” (cf Jo 13,1; Lc 9,31), em seguimento do
Cristo, cabeça do novo povo, animado pelo sopro vital do seu Espírito. Baptizados
na sua morte e ressurreição, devemos começar a “caminhar em novidade de vida”
de filhos de Deus. O nosso “êxodo” coincide com a duração da vida, até à
maturidade, até à última “passagem” da morte; o nosso crescimento dá-se conforme
a correspondência à lei da vida divina em nós, isto é, do amor. Aqui está toda
a moral “pascal”; não numa série de preceitos, mas num só mandamento, formulado
para cada pessoa e para cada comunidade na variedade das situações de um diálogo
incessante entre o Pai e os filhos; encontrando a nossa alegria, como Cristo,
na sintonia com os seus planos de salvação; abandonando para trás, como Cristo,
as formas caducas da religiosidade natural, para viver na fé, oferecendo toda a
nossa pessoa como sacrifício espiritual; como Cristo, fiéis ao Pai e fiéis ao
homem.
O homem novo, segundo o plano de Deus
Porque “o homem novo é o homem
verdadeiro, assim como Deus o concebeu desde toda a eternidade, é o homem fiel
à vocação de homem. O homem novo não é ‘outro’ homem, alienado da condição
terrestre para ser posto num paraíso qualquer. A oposição acha-se entre o
pecado e a graça; o homem velho vive na ilusão de poder realizar o seu destino
incorrendo unicamente aos seus recursos; o homem novo realiza perfeitamente a
vontade de Deus, único que pode admiti-lo à condição ‘filial’; sabe que o
conteúdo da sua fidelidade à vocação recebida reside na obediência à condição
terrena até a morte; sabe que este ‘sim’ de criatura constitui o suporte
necessário do ‘sim’ do filho adoptivo de Deus” (J. Frisque). Esta é a “novidade”
de que os cristãos são “testemunhas” no mundo.
Mas por que a Páscoa nunca cai no mesmo dia todo ano?
O dia da Páscoa é o primeiro domingo
depois da Lua Cheia que ocorre no dia ou depois de 21 Março (a data do
equinócio). Entretanto, a data da Lua Cheia não é a real, mas a definida nas
Tabelas Eclesiásticas. (A igreja, para obter consistência na data da Páscoa
decidiu, no Concílio de Niceia em 325 d. C., definir a Páscoa relacionada a uma
Lua imaginária – conhecida como a “lua eclesiástica”).
LEITURA I – Act. 10, 34a,
37-43
Diante
de pagãos, em casa do centurião Cornélio, Pedro anuncia o que já lhes havia
chegado aos ouvidos: Cristo ressuscitou! E, completando aquela «boa notícia»,
garantindo, com o seu testemunho pessoal, a verdade dos acontecimentos daqueles
dias, o Apóstolo explica-lhes o que eles querem dizer:
–
Jesus de Nazaré, homem que viveu como eles e com Quem Pedro convivera, não é um
simples homem. Ungido do Espírito de Deus, tem a plenitude de Deus em Si. Ele é
o Messias, o Filho de Deus, como o demonstrou pelos milagres por ele mesmo
presenciados e, sobretudo pelo milagre definitivo – a Ressurreição.
Pela
Ressurreição, de que Pedro é testemunha, Jesus de Nazaré é o Juiz dos vivos e
dos mortos, é o Salvador de todos os homens, judeus ou pagãos.
Leitura dos
Actos dos Apóstolos
“Naqueles
dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a
Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu
com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e
curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele.
Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém;
e eles mataram-n'O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e
permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão
designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter
ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele
foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d'Ele que todos os
profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a
remissão dos pecados».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Col. 3, 1-4
Pelo
seu Baptismo, o cristão morreu para o pecado e ressuscitou com Cristo para uma
vida nova. Desde esse momento, recebeu a missão de, à semelhança de Cristo,
conduzir os homens e todas as coisas para o Pai.
Inserido
nas realidades divinas, não pode alhear-se do mundo, nem ficar indiferente aos
esforços dos homens relativamente à construção dum mundo de felicidade, justiça
e paz.
Inserido
nas realidades da terra, não pode encerrar-se no mundo, trabalhando só para
fins terrenos, esquecido do destino final do homem e do mundo.
Feito
nova criatura pela Ressurreição de Cristo, o cristão viverá a vida de cada dia,
sem perder de vista o fim superior, para que foi criado.
Leitura da
Epístola do apóstolo S. Paulo aos Colossenses
“Irmãos: Se
ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra,
sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.
Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando
Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, então também vós vos haveis de
manifestar com Ele na glória.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Jo 20, 1-9
Pedro
e João, juntamente com Madalena, são as primeiras testemunhas do túmulo vazio,
naquela manhã de Páscoa. Não foi, porém, muito facilmente que eles chegaram à
conclusão de que Jesus estava vivo. A sua fé será progressiva, caminhará entre
incredulidade e dúvidas. Só perante as ligaduras e o lençol, cuidadosamente
dobrados, o que excluía a hipótese de roubo, se lhes começam a abrir os olhos
para a realidade.
No
seu amor intuitivo, João é o primeiro a compreender os sinais da Ressurreição.
Mas bem depressa Pedro, que, não por acaso mas intencionalmente, ocupa o
primeiro lugar e nos aparece já nesta manhã como Chefe do Colégio Apostólico,
descobre a verdade, anunciada tão claramente pela Escritura e pelo mesmo Jesus.
Depois, em contacto pessoal com o Ressuscitado, a sua fé tornar-se-á firme como
«rocha» inabalável.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“No primeiro
dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e
viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com
o outro discípulo que Jesus amava e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e
não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos
ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se,
correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro.
Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou
também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no
chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as
ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara
primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a
Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.”
Palavra da Salvação