O QUE PREPARASTE, PARA QUEM
SERÁ?
DOMINGO XVIII
DO TEMPO COMUM
[CATECISMO]
A DESORDEM DAS COBIÇAS [2535-2540, 2547, 2728]
2535 O apetite sensível leva-nos a desejar as
coisas agradáveis que não possuímos. Exemplo disso é desejar comer quando se
tem fome ou aquecer-se quando se tem frio. Estes desejos são bons em si mesmos;
muitas vezes, porém, não respeitam os limites da razão e levam a cobiçar
injustamente o que não é nosso e que pertence, ou é devido, a outrem.
2536 O décimo mandamento condena a avidez e o desejo duma apropriação desmesurada
dos bens terrenos; e proíbe a cupidez desregrada, nascida da paixão imoderada
das riquezas e do seu poder. Interdita também o desejo de cometer uma injustiça
pela qual se prejudicaria o próximo nos seus bens temporais:
«Quando a Lei nos diz: “Não cobiçarás”, diz-nos, por outras palavras,
que afastemos os nossos desejos de tudo o que não nos pertence. Porque a sede
da cobiça dos bens alheios é imensa, infindável e insaciável, conforme ao que
está escrito: “O avarento nunca se fartará de dinheiro” (Sir 5, 9)».
2537 Não é violar este mandamento desejar obter
coisas que pertencem ao próximo, desde que seja por meios legítimos. A
catequese tradicional menciona, com realismo, «os que têm que lutar mais contra
as suas cobiças criminosas» e que, portanto, precisam de ser «exortados com
mais insistência a observarem este preceito»:
«São […] os comerciantes que desejam a falta ou carestia das coisas, que
vêem com pena não serem eles os únicos a comprar e a vender, o que lhes permitiria
vender mais caro e comprar mais barato; os que desejam ver o seu semelhante na
miséria, para obterem maiores lucros, quer vendendo quer comprando […]. Os
médicos, que desejam que haja doentes; os advogados, que reclamam causas e
processos importantes e numerosos...».
2538 O décimo
mandamento exige que seja banida a inveja do coração humano. Quando o profeta
Natan quis estimular o arrependimento do rei David, contou-lhe a história do
pobre que só possuía uma ovelha, tratada como se fosse uma filha, e do rico
que, apesar dos seus numerosos rebanhos, tinha inveja dele e acabou por lhe
roubar a ovelha. A inveja pode levar aos piores crimes. «Foi pela inveja do
demónio que a morte entrou no mundo» (Sb 2, 24).
«Combatemo-nos uns aos outros e é a inveja que nos arma uns contra os
outros […]. Se todos se encarniçam assim a abalar o corpo de Cristo, onde
chegaremos nós? Estamos a extenuar o corpo de Cristo. […] Declaramo-nos membros
dum mesmo organismo e devoramo-nos como feras».
2539 A inveja é um
vício capital. Designa a tristeza que se sente perante o bem alheio e o desejo
imoderado de se apropriar dele, mesmo indevidamente. Se desejar ao próximo um
mal grave, é pecado mortal:
Santo Agostinho via na inveja «o pecado diabólico por excelência». «Da
inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pelo mal do
próximo e o desgosto causado pela sua prosperidade».
2540 A inveja
representa uma das formas da tristeza e, portanto, uma recusa da caridade; o
baptizado lutará contra ela, opondo-lhe a benevolência. Muitas vezes, a inveja
nasce do orgulho; o baptizado exercitar-se-á a viver na humildade:
«Quereríeis ver Deus glorificado por vós? Pois bem, alegrai-vos com os
progressos do vosso irmão e, assim, será por vós que Deus é glorificado. Deus
será louvado, dir-se-á, pelo facto de o seu servo ter sabido vencer a inveja,
pondo a sua alegria nos méritos dos outros».
2547 O Senhor
lamenta-Se dos ricos, porque eles encontram a sua consolação na abundância de
bens. «O orgulhoso procura o poder terreno, ao passo que o pobre em espírito
procura o Reino dos céus». O abandono à providência do Pai do céu liberta da
preocupação pelo amanhã. A confiança em Deus dispõe para a bem-aventurança dos
pobres. Eles verão a Deus.
2728 Finalmente, o
nosso combate tem de enfrentar aquilo que sentimos como sendo os nossos
fracassos na oração: desânimo na aridez, tristeza por não dar tudo ao Senhor,
porque temos «muitos bens», decepção por não sermos atendidos segundo a nossa
própria vontade, o nosso orgulho ferido que se endurece perante a nossa
indignidade de pecadores, alergia à gratuitidade da oração, etc.. A conclusão é
sempre a mesma: de que serve orar? Para vencer tais obstáculos, é preciso
combater com humildade, confiança e perseverança.
[LITURGIA DA PALAVRA]
LEITURA I – Co (Ecle) 1, 2;
2, 21-23
“Que
aproveita ao homem todo o seu trabalho?”
Um
sábio do povo de Deus do Antigo Testamento fez, como toda a gente, a
experiência da vida; e tem sobre ela uma reflexão, talvez um pouco parecida com
a que Jesus faz no Evangelho. Simplesmente, a reflexão do sábio de Israel não
conseguiu chegar a descobrir o verdadeiro sentido da vida humana que Jesus veio
enfim revelar. Sem a luz da revelação trazida por Jesus Cristo, o Filho de Deus
feito homem, os outros homens, por mais homens que sejam, ficam a meio do
caminho, com as suas desilusões!
Leitura do
Livro de Coelet (Eclesiastes)
“Vaidade das vaidades
– diz Coelet – vaidade das vaidades: tudo é vaidade. Quem trabalhou com
sabedoria, ciência e êxito, tem de deixar tudo a outro que nada fez. Também
isto é vaidade e grande desgraça. Mas então, que aproveita ao homem todo o seu
trabalho e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol? Na verdade, todos os
seus dias são cheios de dores e os seus trabalhos cheios de cuidados e
preocupações; e nem de noite o seu coração descansa. Também isto é vaidade.”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Col 3, 1-5.9-11
“Aspirai
às coisas do alto, onde está Cristo”
O
cristão é o homem pascal, aquele que, pela fé e pelo baptismo, sacramento da
fé, passou com Cristo da morte à vida, deste mundo para o Pai. E como tal há-de
viver, mesmo ainda na terra. Renovados por esta novidade pascal, fruto da
Páscoa do Senhor, os baptizados são como uma nova criação, vivendo todos da
mesma vida, a vida de Cristo que a todos torna participantes do mesmo Corpo de
Cristo.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
“Irmãos: Se
ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado
à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós
morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que
é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos manifestareis com Ele na glória.
Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões,
maus desejos e avareza, que é uma idolatria. Não mintais uns aos outros, vós
que vos despojastes do homem velho com as suas acções e vos revestistes do
homem novo, que, para alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem
do seu Criador. Aí não há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro
ou cita, escravo ou livre; o que há é Cristo, que é tudo e está em todos.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 12, 13-21
“O que preparaste, para quem será?”
Jesus
não olha para o mundo e a vida com a amargura do sábio de Israel (primeira
leitura). Mas, através de uma meditação austera, faz-nos compreender que não é
no espírito de ganância, pelo qual todos, ricos e pobres, somos tantas vezes
levados, que está o verdadeiro sentido da vida, mas em cada um “se tornar rico
aos olhos de Deus.”
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que
reparta a herança comigo». Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou
árbitro das vossas partilhas?». Depois disse aos presentes: «Vede bem,
guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância
dos seus bens». E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha
produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: ‘Que hei-de fazer, pois não
tenho onde guardar a minha colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os meus
celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os
meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em depósito
para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe:
‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para
quem será?’. Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico
aos olhos de Deus».”
Palavra da Salvação