DOMINGO XXII DO TEMPO COMUM
[CATECISMO]
[…]
A ENCARNAÇÃO, UM MISTÉRIO DE HUMILDADE [525-526]
525 Jesus nasceu na humildade dum
estábulo, no seio duma família pobre. As primeiras testemunhas deste
acontecimento são simples pastores. E é nesta pobreza que se manifesta a glória
do céu. A Igreja não se cansa de cantar a glória desta noite:
«Hoje a Virgem dá à luz o Eterno
e a terra oferece uma gruta ao Inacessível.
Cantam-n’O os anjos e os pastores,
e com a estrela, os magos põem-se a caminho,
porque Tu nasceste para nós,
pequenino, Deus eterno!»
526 «Tornar-se criança» diante de
Deus é a condição para entrar no Reino, e para isso, é preciso abaixar-se,
tornar-se pequeno. Mais ainda: é preciso «nascer do Alto» (Jo
3, 7), «nascer de Deus», para se «tornar filho de Deus». O mistério do
Natal cumpre-se em nós quando Cristo «Se forma» em nós. O Natal é o mistério
desta «admirável permuta»:
«O
admirabile commercium! Creator generis humani, animatum corpus sumens de
Virgine nasci dignatus est; et, procedens homo sine semine, largitus est nobis
suam deitatem – Oh admirável
permuta! O Criador do género humano, tomando corpo e alma, dignou-Se nascer
duma Virgem; e, feito homem sem progenitor humano, tornou-nos participantes da
sua divindade!»
A DESORDEM DAS COBIÇAS [2535-2540]
2535 O
apetite sensível leva-nos a desejar as coisas agradáveis que não possuímos. Exemplo
disso é desejar comer quando se tem fome ou aquecer-se quando se tem frio.
Estes desejos são bons em si mesmos; muitas vezes, porém, não respeitam os
limites da razão e levam a cobiçar injustamente o que não é nosso e que
pertence, ou é devido, a outrem.
2536 O
décimo mandamento condena a avidez e o desejo duma apropriação desmesurada
dos bens terrenos; e proíbe a cupidez desregrada, nascida da paixão
imoderada das riquezas e do seu poder. Interdita também o desejo de cometer uma
injustiça pela qual se prejudicaria o próximo nos seus bens temporais:
«Quando a Lei nos diz: “Não cobiçarás”, diz-nos, por outras
palavras, que afastemos os nossos desejos de tudo o que não nos pertence.
Porque a sede da cobiça dos bens alheios é imensa, infindável e insaciável,
conforme ao que está escrito: “O avarento nunca se fartará de dinheiro” (Sir
5, 9)».
2537 Não
é violar este mandamento desejar obter coisas que pertencem ao próximo, desde
que seja por meios legítimos. A catequese tradicional menciona, com realismo,
«os que têm que lutar mais contra as suas cobiças criminosas» e que, portanto,
precisam de ser «exortados com mais insistência a observarem este preceito»:
«São […] os comerciantes que desejam a falta ou carestia das
coisas, que vêem com pena não serem eles os únicos a comprar e a vender, o que
lhes permitiria vender mais caro e comprar mais barato; os que desejam ver o
seu semelhante na miséria, para obterem maiores lucros, quer vendendo quer
comprando […]. Os médicos, que desejam que haja doentes; os advogados, que
reclamam causas e processos importantes e numerosos...».
2538 O
décimo mandamento exige que seja banida a inveja do coração humano. Quando
o profeta Natan quis estimular o arrependimento do rei David, contou-lhe a
história do pobre que só possuía uma ovelha, tratada como se fosse uma filha, e
do rico que, apesar dos seus numerosos rebanhos, tinha inveja dele e acabou por
lhe roubar a ovelha. A inveja pode levar aos piores crimes. «Foi pela inveja do
demónio que a morte entrou no mundo» (Sb 2, 24).
«Combatemo-nos uns aos outros e é a inveja que nos arma uns
contra os outros […]. Se todos se encarniçam assim a abalar o corpo de Cristo,
onde chegaremos nós? Estamos a extenuar o corpo de Cristo. […] Declaramo-nos
membros dum mesmo organismo e devoramo-nos como feras».
2539 A
inveja é um vício capital. Designa a tristeza que se sente perante o bem alheio
e o desejo imoderado de se apropriar dele, mesmo indevidamente. Se desejar ao próximo
um mal grave, é pecado mortal:
Santo Agostinho via na inveja «o pecado diabólico por
excelência».
«Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a
alegria causada pelo mal do próximo e o desgosto causado pela sua prosperidade».
2540 A
inveja representa uma das formas da tristeza e, portanto, uma recusa da caridade;
o baptizado lutará contra ela, opondo-lhe a benevolência. Muitas vezes, a
inveja nasce do orgulho; o baptizado exercitar-se-á a viver na humildade:
«Quereríeis ver Deus glorificado por vós? Pois bem, alegrai-vos com os
progressos do vosso irmão e, assim, será por vós que Deus é glorificado. Deus
será louvado, dir-se-á, pelo facto de o seu servo ter sabido vencer a inveja,
pondo a sua alegria nos méritos dos outros».
A
ORAÇÃO CHAMA-NOS À HUMILDADE E POBREZA DE ESPÍRITO [2546, 2559,
2631, 2713]
2546 «Bem-aventurados
os pobres em espírito» (Mt 5,3). As bem-aventuranças revelam uma ordem
de felicidade e de graça, de beleza e de paz. Jesus celebra a alegria dos
pobres, aos quais o Reino pertence desde já:
«O Verbo chama “pobreza em espírito” à humildade voluntária
do espírito humano e à sua renúncia; e o Apóstolo dá-nos como exemplo a pobreza
de Deus, quando diz: «Ele fez-Se pobre por nós (2 Cor 8, 9)».
2559
«A oração é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de
bens convenientes». De onde é que falamos, ao orar? Das alturas do nosso
orgulho e da nossa vontade própria, ou das «profundezas» (Sl 129, 14)
dum coração humilde e contrito? Aquele que se humilha é que é elevado. A humildade
é o fundamento da oração. «Não sabemos o que havemos de pedir para rezarmos
como deve ser» (Rm 8, 26). A humildade é a disposição necessária para
receber gratuitamente o dom da oração: O homem é um mendigo de Deus.
2631 O
pedido de perdão é o primeiro movimento da oração de petição (cf. O publicano:
«Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador» (Lc 18, 13). É o preliminar
duma oração justa e pura. A humildade confiante repõe-nos na luz da comunhão
com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo, bem como dos homens uns com os outros.
Nestas condições, «seja o que for que Lhe peçamos, recebêlo- emos» (1 Jo 3,
22). O pedido de perdão é o preâmbulo da liturgia Eucarística, bem como da
oração pessoal.
2713 Assim,
a contemplação é a expressão mais simples do mistério da oração. É um dom,
uma graça; só pode ser acolhida na humildade e na pobreza. É uma relação de aliança
estabelecida por Deus no fundo do nosso ser. A contemplação é comunhão:
nela, a Santíssima Trindade conforma o homem, imagem de Deus, «à sua
semelhança».
[…]
[LITURGIA DA PALAVRA]
LEITURA I – Sir 3,
19-21.30-31 (gr.17-18.20.28-29)
“Humilha-te
e encontrarás graça diante do Senhor”
Se
“a humildade é a verdade”, no dizer de S. Teresa, nada pode ser mais certo e
mais agradável a Deus do que a humildade. É ela que prepara o íntimo do coração
para poder receber a palavra de Deus e permitir-lhe que aí lance raízes e dê
fruto.
Leitura do
Livro de Ben-Sirá
“Filho, em
todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem
generoso. Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás
graça diante do Senhor. Porque é grande o poder do Senhor e os humildes cantam
a sua glória. A desgraça do soberbo não tem cura, porque a árvore da maldade
criou nele raízes. O coração do sábio compreende as máximas do sábio e o ouvido
atento alegra-se com a sabedoria.”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Hebr 12,
18-19.22-24a
“Aproximastes-vos
do monte Sião, da cidade do Deus vivo”
O
povo de Deus do Antigo Testamento vivia da lembrança das maravilhas que Deus
por ele tinha feito, sobretudo aquando da saída do Egipto e da entrada na Terra
Prometida. Nesta leitura declara-se que hoje não são já esses milagres que se
repetem para nós, mas que muito mais foi o que Deus por nós fez ao
introduzir-nos com Cristo na Igreja, a cidade santa de Deus, de que o monte
Sião era uma imagem, visto que lá estava o Templo de Deus.
Leitura da
Epístola aos Hebreus
“Irmãos: Vós
não vos aproximastes de uma realidade sensível, como os israelitas no monte
Sinai: o fogo ardente, a nuvem escura, as trevas densas ou a tempestade, o som
da trombeta e aquela voz tão retumbante que os ouvintes suplicaram que não lhes
falasse mais. Vós aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo, a
Jerusalém celeste, de muitos milhares de Anjos em reunião festiva, de uma
assembleia de primogénitos inscritos no Céu, de Deus, juiz do universo, dos
espíritos dos justos que atingiram a perfeição e de Jesus, mediador da nova
aliança.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 14, 1.7-14
“Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”
A
propósito de um caso muito concreto, Jesus ensina aos seus discípulos a
humildade, particularmente nas relações com os outros, e que é melhor ir ao
encontro dos simples e humildes do que apoiar-se, egoistamente, naqueles de
quem se espera vir a receber.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, Jesus entrou, num sábado, em casa de um dos principais fariseus para
tomar uma refeição. Todos O observavam. Ao notar como os convidados escolhiam
os primeiros lugares, Jesus disse-lhes esta parábola: «Quando fores convidado
para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha
sido convidado alguém mais importante do que tu; então, aquele que vos convidou
a ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado,
se tiveres de ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai
sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe
mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Quem se
exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». Jesus disse ainda a
quem O tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou um jantar, não convides
os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes nem os teus vizinhos
ricos, não seja que eles por sua vez te convidem e assim serás retribuído. Mas
quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os
cegos; e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te: ser-te-á
retribuído na ressurreição dos justos.”
Palavra da Salvação