sábado, 28 de janeiro de 2017

4º. Domingo do Tempo Comum


Bem-aventurados os pobres em espírito



A verdadeira felicidade

As bem-aventuranças são o anúncio da felicidade, porque proclamam a libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino através da palavra e acção de Jesus. Estas tornam presente no mundo a justiça do próprio Deus. Justiça para aqueles que são inúteis ou incómodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza exploradora e no poder que oprime. Os que buscam a justiça do Reino são os “pobres em espírito”. Sufocados no seu anseio pelos valores que a sociedade injusta rejeita, esses pobres estão profundamente convictos de que têm necessidade de Deus, pois só com Deus esses valores podem vigorar, surgindo assim uma nova sociedade. A santidade é uma meta a ser atingida por todos os cristãos. Ninguém é excluído deste apelo nem pode eximir-se de dar a sua resposta. Importa, todavia, nutrir um ideal sadio de santidade, sem se deixar levar por falsas concepções. Ser santo é ser capaz de se colocar totalmente nas mãos do Pai, contar com ele, sabendo-se dependente dele. Por outro lado, é colocar-se ao serviço dos semelhantes, fazendo-lhes o bem, como resposta aos benefícios recebidos do Pai. O enraizamento em Deus desabrocha em forma de misericórdia para com o próximo. A santidade constrói-se ao ritmo da entrega da própria vida nas mãos do Pai, explicitada no serviço gratuito e desinteressado aos demais, deixando de lado os interesses pessoais e tudo quanto seja incompatível com o projecto de Deus. Este ideal não é inatingível. Constrói-se nas situações mais simples nas quais a pessoa é chamada a ser bondosa, a não agir com dolo ou fingimento, a criar canais de comunicação entre os desavindos, a superar o ódio e a violência, a cultivar o hábito da partilha fraterna, a ser defensor da justiça. Qualquer cristão, no seu dia-a-dia, tem a chance de fazer experiências deste género. Se o fizer, com a graça de Deus, estará a dar passos decisivos no caminho da bem-aventurança. Mateus, no seu evangelho, apresenta a proclamação das bem-aventuranças como sendo as primeiras palavras de Jesus dirigidas às multidões, no início de seu ministério. Estas bem-aventuranças são uma proposta de felicidade a ser encontrada na união da vontade com Deus a partir das práticas amorosas acessíveis a todos. Não se trata da prática de virtudes pessoais, ascéticas ou morais, para um aperfeiçoamento individual. As bem-aventuranças são a felicidade alcançada por aqueles que entram em comunhão de vida com os irmãos, particularmente os mais excluídos, num processo solidário e fraterno de libertação e restauração da dignidade humana. As bem-aventuranças não têm o mesmo carácter que os mandamentos. Elas são um convite e uma proposta de vida nova, na prática da justiça que conduz à paz. Todos são chamados à prática das bem-aventuranças, sem elitismos ou exclusões, particularmente os mais simples e humildes. A primeira bem-aventurança apresenta a pobreza, na forma de desapego concreto dos bens terrenos, como a característica fundamental do Reino. As duas bem-aventuranças seguintes apontam para as vítimas da sociedade injusta: os que choram e os submissos (“mansos”) aos quais o amor de Deus traz a libertação. Seguem-se quatro bem-aventuranças activas com vista à transformação da sociedade: a fome e a sede da justiça, que são a vontade de Deus; a misericórdia, que impulsiona à acção solidária; a pureza do coração, que supera a pureza ritual e acolhe a todos, e os promotores da paz com vista à construção de um mundo sem ambição e violência, daqueles que tiram o alimento dos pobres para transformá-lo em armas de destruição maciça diante da consolidação de um império mundial. As duas últimas bem-aventuranças retomam o tema da justiça, exaltando sua grandeza e advertindo sobre a repressão a que estarão sujeitos os que a buscam. Neste mundo em que a violência é alimentada pela ambição dos poderosos, a prática das bem-aventuranças aponta para novos rumos com vista à comunhão fraterna, da solidariedade mundial e da conquista da paz.


LEITURA I – Sof 2, 3; 3, 12-13

Deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde

Não é de todo novidade o que o Senhor nos vai dizer no Evangelho ao proclamar as bem-aventuranças. Já no Antigo Testamento, como vemos nesta leitura, Deus Se revela como particularmente amigo dos pobres e humildes, daqueles que para Ele se voltam, O procuram, não se instalando orgulhosamente na sua auto-suficiência, porque reconhecem que só no nome de Deus encontram a salvação.

Leitura do Livro de Sofonias
“Procurai o Senhor, vós todos os humildes da terra, que obedeceis aos seus mandamentos. Procurai a justiça, procurai a humildade; talvez encontreis protecção no dia da ira do Senhor. Só deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde, que buscará refúgio no nome do Senhor. O resto de Israel não voltará a cometer injustiças, não tornará a dizer mentiras, nem mais se encontrará na sua boca uma língua enganadora. Por isso, terão pastagem e repouso, sem ninguém que os perturbe.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Cor 1, 26-31

Deus escolheu o que é fraco aos olhos do mundo

A maneira como a Igreja primitiva olhava para si própria, como se pode ver por esta passagem do Apóstolo, está na mesma linha da apontada na leitura anterior e da que vai ser proclamada ainda mais claramente no Evangelho: Deus olha particularmente para os humildes, e, com eles, realiza as maiores e mais maravilhosas acções; assim neles mais se revela o poder da sua graça.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Vede quem sois vós, os que Deus chamou: não há muitos sábios, naturalmente falando, nem muitos influentes, nem muitos bem-nascidos. Mas Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo para confundir os sábios; escolheu o que é fraco, para confundir o forte; escolheu o que é vil e desprezível, o que nada vale aos olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale, a fim de que nenhuma criatura se possa gloriar diante de Deus. É por Ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual Se tornou para nós sabedoria de Deus, justiça, santidade e redenção. Deste modo, conforme está escrito, «quem se gloria deve gloriar-se no Senhor».”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Mt 5, 1-12a

Bem-aventurados os pobres em espírito

As “bem-aventuranças” são o princípio do chamado “Sermão da montanha”. Nelas está resumido todo o espírito do Evangelho, a nova maneira de olhar para o mundo. Bem-aventurados aqueles que sabem encontrar a felicidade na fé com que olham para as coisas e para as circunstâncias da vida. Para esses, nada, nem mesmo aquilo que, visto superficialmente, poderia ser considerado como fonte de infelicidade, nada os fará infelizes. Mas não serão os olhos da carne, senão somente os do espírito, iluminados pela palavra de Deus, que poderão alcançar tão longe.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».”
Palavra da Salvação



sábado, 21 de janeiro de 2017

3º. Domingo do Tempo Comum




Arrependei-vos porque o Reino dos Céus está próximo

A Esperança começa na Galileia
Jesus começa sua actividade na Galileia, região distante do centro económico, político e religioso do seu país. A esperança da salvação inicia-se justamente numa região da qual nada se espera. A pregação de Jesus tem a mesma radicalidade que a de João Baptista: é preciso total mudança de vida, porque o Reino do Céu está próximo. O chamamento dos primeiros discípulos é um convite aberto a todos os que ouvem as palavras de Jesus. Simão e André deixam a profissão; Tiago e João deixam a família... Seguir Jesus implica deixar as seguranças que possam impedir o compromisso com uma acção transformadora. Depois de ter ido ao encontro de João para ser baptizado, Jesus volta para a sua terra de origem, a Galileia, após um tempo de permanência na Judeia. Mateus escreve para comunidades de cristãos oriundos do judaísmo. A sua intenção teológica é mostrar-lhes que as suas antigas esperanças tradicionais se realizam em Jesus e, para isto, recorre com frequência a citações do Antigo Testamento, que estariam a ser cumpridas em Jesus. Isaías, no texto citado por Mateus no seu evangelho (cf. primeira leitura), menciona a “Galileia dos gentios”. É nesta região que Jesus desenvolve o seu ministério, com uma abrangência universal, dirigindo-se às multidões tanto desta Galileia como dos territórios vizinhos gentílicos. Tendo deixado a sua cidade de origem, Nazaré, Jesus vai morar em Cafarnaum, nas margens do Mar da Galileia. E começa o seu ministério com o mesmo anúncio de João Batista: “Convertei-vos, pois o Reino de Deus está próximo” (Mt 3,2). É o baptismo da conversão à justiça para remover o pecado do mundo. Jesus revela que este é o caminho da comunhão com Deus, na sua vida divina e eterna. Enquanto João escolhera o deserto como espaço para o seu anúncio, Jesus orienta o seu ministério para as regiões habitadas da Galileia e das regiões gentílicas vizinhas. Nas margens do Mar da Galileia, Jesus encontra aqueles que serão seus primeiros discípulos. As narrativas da vocação dos discípulos são feitas pelos evangelistas de maneira sumária, em poucas linhas. Contudo, o seguimento de Jesus pelos seus discípulos efectiva-se num processo de conhecimento e diálogo, amadurecido durante um tempo conveniente. Os evangelistas, com os seus textos, procuram resgatar a humanidade de Jesus. Contudo, anteriormente a eles, Paulo limita a sua pregação ao binómio: morte na cruz e ressurreição de Jesus. A partir deste enfoque, ele desenvolve sua edificante pregação ética e moral para as suas comunidades (segunda leitura).


LEITURA I – Is 8, 23b – 9, 3 (9, 1-4)

Na Galileia dos gentios o povo viu uma grande luz

No Evangelho deste dia, cita-se esta passagem de Isaías que hoje serve de primeira leitura. Refere-se ela à Galileia, terra de Zabulão e de Neftali, a província mais ao norte de Israel. O profeta anuncia-lhe hoje melhores dias, depois do tempo de exílio. As trevas do momento presente transformar-se-ão em luz e a alegria reinará de novo depois da humilhação. A profecia terá um dia a sua realização perfeita, quando Jesus por aí começar o seu ministério público, como o Evangelho de hoje irá proclamar.

Leitura do Livro de Isaías
“Assim como no tempo passado foi humilhada a terra de Zabulão e de Neftali, também no futuro será coberto de glória o caminho do mar, o Além do Jordão, a Galileia dos gentios. O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz se levantou. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos. Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Cor 1, 10-13.17

Falai todos a mesma linguagem e não haja divisões

O Apóstolo insurge-se contra as divisões que separam os membros da Igreja de Corinto, divisões que, no caso concreto, assentam até em partidarismos religiosos. E apela para as razões profundas da unidade dos cristãos: Cristo, crucificado por todos; e só Ele e mais ninguém. Os mensageiros do Evangelho são apenas instrumentos d’Ele junto dos irmãos.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Rogo-vos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma linguagem e que não haja divisões entre vós, permanecendo bem unidos, no mesmo pensar e no mesmo agir. Eu soube, meus irmãos, pela gente de Cloé, que há divisões entre vós, que há entre vós quem diga: «Eu sou de Paulo», «eu de Apolo», «eu de Pedro», «eu de Cristo». Estará Cristo dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós? Foi em nome de Paulo que recebestes o Baptismo? Na verdade, Cristo não me enviou para baptizar, mas para anunciar o Evangelho; não, porém, com sabedoria de palavras, a fim de não desvirtuar a cruz de Cristo.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Mt 4, 12-23

Foi para Cafarnaum, a fim de se cumprir o que anunciara o profeta Isaías

A Galileia vai ser o campo da primeira parte do ministério público de Jesus. É então que essa província há-de presenciar a “grande luz” de que falava a primeira leitura. Ele é a luz; foi assim mesmo que um dia Jesus Se apresentou. E essa luz começou a iluminar, quando Jesus começou a pregar e a chamar os primeiros discípulos. Essa sua luz nunca mais se extinguirá: hoje ainda, e até ao fim, Ele continua a anunciar o reino de Deus e a chamar para ele todos os homens. Assim, a Galileia dos pagãos chegará a tornar-se, um dia, na Galileia da Ressurreição: “Lá Me vereis”, dirá o Senhor ressuscitado.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Quando Jesus ouviu dizer que João Baptista fora preso, retirou-Se para a Galileia. Deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, terra à beira-mar, no território de Zabulão e Neftali. Assim se cumpria o que o profeta Isaías anunciara, ao dizer: «Terra de Zabulão e terra de Neftali, estrada do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios: o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou». Desde então, Jesus começou a pregar: «Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus». Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde e segui-Me e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco, na companhia de seu pai Zebedeu, a consertar as redes. Jesus chamou-os e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O. Depois começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo.”
Palavra da Salvação



sábado, 14 de janeiro de 2017

2º. Domingo do Tempo Comum




“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”

O Messias reconhecido
No idioma dos judeus, a mesma palavra pode significar servo e cordeiro. Jesus é o Servo de Deus, anunciado pelos profetas, aquele que devia sacrificar-se pelos seus irmãos. Também é o verdadeiro Cordeiro, que substitui o cordeiro pascal. João Baptista, ao chamar Jesus de Cordeiro, mostra que ele é o Messias que vem tirar a humanidade da escravidão em que se encontra e conduzi-la a uma vida na liberdade. A actividade frenética de João Baptista, às margens do Jordão, não o fez perder a consciência da sua missão. No afluxo de penitentes à procura do baptismo, ele deu conta da presença do Messias –Jesus. Por isso, advertiu a multidão para a presença do Cordeiro de Deus, enviado para abolir o pecado do mundo. A situação do baptismo de Jesus estava carregada de evocações. A sua exclamação lembrava o cordeiro pascal. As águas do Jordão recordavam o mar Vermelho. A eliminação do pecado do mundo aproximava Jesus de Moisés, condutor do povo de Israel para a terra prometida. Tudo isso servia para alertar a multidão acerca da presença do Messias. João só reconheceu Jesus, porque movido pelo Pai, uma vez que já tinha declarado, por duas vezes, não ter um conhecimento prévio do Messias. Para não se enganar na identificação do Messias, João colocou-se numa atitude de contínuo discernimento. Teria sido desastroso um falso reconhecimento e a consequente atribuição do título de Cordeiro de Deus à pessoa indevida. João, ao contrário, não titubeou quando viu Jesus diante de si. O seu testemunho foi firme, pois estava certo de não ter sido induzido em erro. Diante dele, estava, realmente, o Filho de Deus. Foi o Pai quem lhe revelara a identidade do Filho, e o movera a reconhecê-lo publicamente. O evangelista João, no início de seu evangelho, após o prólogo, introduz a pessoa de João Baptista. A seguir, no texto de hoje, introduz Jesus, relatando a sua súbita chegada. Jesus, atraído pela notícia da pregação de João, com o seu baptismo da conversão, vem até a ele para ser baptizado. Assim, insere-se no grupo de discípulos de João Baptista. A apresentação de Jesus por João Batista é feita por imagens do ritual sacrifical do Templo, onde os cordeiros eram oferecidos para a remissão dos pecados. O evangelho de João não narra o acto do baptismo de Jesus. Contudo, relata o testemunho de João Baptista de que viu o Espírito descer e permanecer sobre Jesus. A presença do Espírito significa o endosso ao anúncio de João: é a conversão para a prática da justiça que remove o pecado do mundo. Este anúncio foi assumido por Jesus. A libertação dos pecados dá-se não pelos sacrifícios cultuais de animais, mas pelo amor e pela prática da justiça, para que todos tenham vida.


LEITURA I – Is 49, 3.5-6

Farei de ti a luz das nações, para que sejas a minha salvação

A liturgia da Palavra deste Domingo refere-se ainda à manifestação do Senhor, celebrada no Tempo de Natal, particularmente na solenidade da Epifania. Esta primeira leitura é um dos chamados “Cânticos do Servo de Deus” do profeta Isaías. Este “Servo de Deus”, que vem a identificar-Se com o Senhor Jesus, é por Deus escolhido para levar a luz da palavra de Deus não apenas ao povo de Deus, mas a todos os povos, para a todos trazer à unidade de um só povo, que é afinal a sua Igreja. Mas esta luz só poderá iluminar os que olham para o Senhor com a fé que lhes vem da Palavra de Deus.

Leitura do Livro de Isaías
“Disse-me o Senhor: «Tu és o meu servo, Israel, por quem manifestarei a minha glória». E agora o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno, para fazer de mim o seu servo, a fim de Lhe reconduzir Jacob e reunir Israel junto d’Ele. Eu tenho merecimento aos olhos do Senhor e Deus é a minha força. Ele disse-me então: «Não basta que sejas meu servo, para restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Cor l, 1-3

A graça e a paz de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco

Começamos a ler a Primeira Epístola aos Coríntios. Hoje quase nos limitamos à dedicatória muito desenvolvida, como era costume naquele tempo. Mas logo aí se podem encontrar grandes afirmações da fé cristã, que depois serão desenvolvidas ao longo de toda a carta. Toda a vida cristã é fruto do chamamento de Deus à fé: foi assim com Paulo, é assim com todos os cristãos. Para todos, o chamamento à fé é dom gratuito de Deus, portador de paz. Com esta introdução, todos ficamos a sentirmo-nos destinatários da epístola, da qual este ano apenas leremos a primeira parte.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Paulo, por vontade de Deus escolhido para Apóstolo de Cristo Jesus e o irmão Sóstenes, à Igreja de Deus que está em Corinto, aos que foram santificados em Cristo Jesus, chamados à santidade, com todos os que invocam, em qualquer lugar, o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: A graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Jo 1, 29-34

Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo

Um dos testemunhos que manifesta Jesus como o Messias é o de João Baptista. Ele apresenta-O como o “Cordeiro de Deus”. O símbolo do Cordeiro reúne duas passagens do Antigo Testamento, aplicando-as a Jesus: a do “Servo de Deus” (I leit.), que carrega com o pecado do mundo (Is 53, 7), e a do cordeiro pascal, que é imolado para tirar o pecado do mundo. Uma e outra coisa o é o Senhor. Descendo à água entre os pecadores, Ele humilha-Se, assumindo a situação da nossa natureza de homens pecadores; uma vez ungido pelo Espírito Santo, Ele torna-Se fonte desse mesmo Espírito para todos os que são baptizados em seu nome.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Naquele tempo, João Baptista viu Jesus, que vinha ao seu encontro, e exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. É d’Ele que eu dizia: ‘Depois de mim vem um homem, que passou à minha frente, porque era antes de mim’. Eu não O conhecia, mas foi para Ele Se manifestar a Israel que eu vim baptizar na água». João deu mais este testemunho: «Eu vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e permanecer sobre Ele. Eu não O conhecia, mas quem me enviou a baptizar na água é que me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer e permanecer é que baptiza no Espírito Santo’. Ora, eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus».”
Palavra da Salvação



sábado, 7 de janeiro de 2017

EPIFANIA




PERIGO OU SALVAÇÃO?

Com a festa da Epifania, a Igreja celebra a manifestação de Jesus ao mundo. Jesus é o Rei Salvador prometido pelas Escrituras. A sua vinda, porém, desperta reacções diferentes. Aqueles que conhecem as Escrituras, em vez de se alegrarem com a realização das promessas, ficam alarmados, vendo em Jesus uma séria ameaça para o seu próprio modo de viver. Outros, apenas guiados por um sinal, procuram Jesus e acolhem-no como Rei Salvador. Não basta saber quem é o Messias; é preciso seguir os sinais da história, que nos encaminham para reconhecê-lo e aceitá-lo. A cena mostra o destino de Jesus: rejeitado e morto pelas autoridades do seu próprio povo, é aceite pelos pagãos. Nas narrativas da infância de Jesus, em Mateus, Jesus recém-nascido já aparece para o mundo representado pelos magos do Oriente. No Evangelho de Lucas (2,8-20), quem vai adorar o recém-nascido são os humildes pastores. A narrativa de Mateus, com a adoração dos magos, é feita no estilo do “midraxe” judaico. É uma reconstrução literária de episódios bíblicos antigos, retratados de acordo com o tempo do narrador. Mateus narra a visita dos magos no sentido de associar o nascimento de Jesus a uma profecia de Isaías (primeira leitura), em que as várias nações pagãs trarão tesouros, ouro e incenso, ao Templo de Jerusalém. Mateus apresenta Jesus como a luz e a glória de Deus para o povo de Israel, sendo a ele que os povos se dirigem em adoração, numa perspectiva universalista (segunda leitura). A menção da estrela que guia os magos é uma alusão à estrela de Jacob (Nm 24,17) que, depois, se transformou na estrela de David, com seis pontas e doze lados, associando Jesus ao messianismo davídico. Assim, também se dá com o nascimento em Belém, cidade tida como a terra de origem de David. Mateus fazia todos estes acentos messiânicos para convencer a sua comunidade de cristãos originários do judaísmo que, em Jesus, se realizavam as expectativas messiânicas. Além do mais, a narrativa abre espaço para acentuar a crueldade do rei Herodes, com o episódio da matança das crianças de Belém. Do ponto de vista histórico, Jesus manifesta-se ao mundo a partir do início de seu ministério, o que se dá com o seu baptismo por João Batista. Com o anúncio da chegada do Reino dos Céus, Jesus revela Deus como Deus do amor para todos os povos, sem exclusões. O encontro com Deus dá se no desapego da riqueza e do poder e em toda a acção a favor da vida e da paz.

LEITURA I – Is 60, 1-6

Brilha sobre ti a glória do Senhor

Como uma cidade, construída sobre um monte, atrai o olhar de todos, ao ser iluminada pelo sol nascente, assim Jerusalém, iluminada pelo Nascimento de Jesus, atrai a si todos os povos, mergulhados na noite do pecado.
Será, porém, na Igreja, nova Jerusalém, que Deus reunirá todos os homens, para lhes dar a salvação. Será n’Ela que se constituirá, definitivamente, a comunidade dos povos. «A luz dos povos é Cristo – Mas a Sua luz resplandece no rosto da Sua Igreja» (LG. n.º 1). Ela é, na verdade, o sinal e o instrumento de união com Deus e de unidade de todo o género humano.

Leitura do Livro de Isaías
“Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Ef 3, 2-3a.5-6

Os gentios recebem a mesma herança prometida

O universalismo de Isaías era um pouco limitado; os estrangeiros não estavam em posição de igualdade com os filhos de Israel. S. Paulo, descrevendo o plano salvífico de Deus, proclama que todos os homens são chamados, igualmente, a ser herdeiros da Promessa.
Como consequência deste chamamento universal para a Fé, toda a separação, toda a discriminação, introduzidas na humanidade por culturas e civilizações, desaparecem. Todos são chamados a formar o verdadeiro Israel e a constituir um só Corpo – o Corpo Místico de Cristo – restabelecendo-se assim o plano primitivo de Deus acerca da humanidade, que era um projecto de unidade e amor.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
“Irmãos: Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Mt 2, 1-12

Viemos do Oriente adorar o Rei

Frente ao mistério do Nascimento de Jesus, S. Mateus procura, sobretudo, contemplá-Lo à Luz do primeiro encontro do mundo pagão com o Salvador, de que os magos são as primícias e os representantes. Sublinhando, de modo expressivo, a universalidade da Mensagem cristã, dirigida a todos os homens, mesmo àqueles que, segundo as concepções estreitas do Judaísmo, viviam fora da Geografia e da História da Salvação, o evangelista mostra como na visita dos Magos, se realizam as profecias do A. T.
Não deixa também de o impressionar, em contraste com o orgulho e cegueira de Herodes e dos sábios de Israel, a boa vontade dos Magos, que, atentos aos sinais dos Tempos, se dispõem a correr a aventura da Fé.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.”
Palavra da Salvação