“Confiança plena, mas não passiva”
A aquisição de bens necessários para viver torna-se ansiedade contínua e
pesada, se não for precedida pela busca da justiça do Reino, isto é, a promoção
de relações de partilha e fraternidade. O necessário para a vida virá junto com
essa justiça, como fruto natural de árvore boa. Jesus exortou os seus
discípulos a “buscarem, antes de qualquer coisa, o Reino de Deus e a sua
justiça”. Esta admoestação pode ser tomada como uma espécie de resumo dos
ensinamentos do Mestre. Nela está sintetizado o essencial da sua doutrina.
Busca o Reino de Deus quem centra a sua vida em Deus e na sua vontade, não
deixando de fora nenhum âmbito da sua existência, por mais simples que seja.
Deus não quer ter concorrentes, e não os tem. A idolatria não encontra lugar no
coração do discípulo, uma vez que está solidamente ancorado em Deus. A justiça
do Reino decorre desta busca sincera, sendo sua expressão. Ela torna-se patente
no modo de proceder do discípulo cuja vida está centrada em Deus. Neste sentido,
a justiça torna-se sinónimo de amor misericordioso, solidariedade fraterna,
perdão reconciliador, igualdade respeitosa, empenho por construir a paz. A Justiça
do Reino é acção visando expandir o senhorio de Deus na vida de cada pessoa e
da sociedade. É luta em prol de um mundo mais conformado com o querer divino. É
rejeição de tudo quanto impede o Reino de acontecer. Enfim, é recusa a toda
forma de idolatria e de injustiça. A busca do Reino de Deus e da sua justiça
polariza de tal modo as preocupações do discípulo, a ponto de nada mais lhe
parecer importante. Independentemente das suas preocupações, ele terá, por
acréscimo, tudo quanto necessita. Com uma clareza meridiana, Jesus faz a
contraposição entre o projecto de Deus e o projecto de enriquecimento pessoal.
O destinatário do nosso serviço é o destinatário do nosso amor. Quem serve a
Deus ama a Deus. Quem serve ao dinheiro ama o dinheiro. Servir a Deus é servir a
causa da vida, em comunhão de amor com os irmãos, particularmente os mais
necessitados. Servir ao dinheiro é consumir-se em preocupações sobre como
aumentar as suas riquezas e mantê-las. Quem serve ao dinheiro está consolidando
a estrutura socioeconómica que favorece o enriquecimento de minorias, à custa
da exploração das maiorias empobrecidas, os trabalhadores, que produzem os
bens, e os consumidores. A bem-aventurança da pobreza conduz à paz, no abandono
nas mãos de Deus. Alcança-se, assim, a liberdade e a disponibilidade para
servir os irmãos, em comunhão com Deus na eternidade.
O cristão, apoiado nas palavras de Jesus, evita a concepção ingénua e
mágica dos que circundam em Deus passivamente no quietismo, e também a
pretensão orgulhosa do ateu que risca o nome de Deus do seu horizonte. A
confiança do cristão em Deus é total e sem reservas, mas não passiva e
alienante. Pelo contrário, desta confiança precisamente nasce a sua actividade,
porque sabe que o seu trabalho é continuação da obra criadora de Deus. É
colaborador de Deus e, como ele, “construtor para a eternidade”.
O homem descobre-se colaborador de Deus, artífice do próprio destino
sobre a terra, porque tudo foi posto à sua disposição”.
ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo
17, 19-20
O Senhor veio em meu
auxílio,
livrou-me da angústia e
pôs-me em liberdade.
Levou-me para lugar seguro,
salvou-me pelo seu amor.
ORAÇÃO COLECTA
Fazei, Senhor,
que os acontecimentos do
mundo
decorram para nós segundo os
vossos desígnios de paz
e a Igreja Vos possa servir
na tranquilidade e na alegria.
Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I – Is 49,
14-15
“Eu não te
esquecerei”
O amor de Deus pelos homens é
a origem da própria criação e de toda a história da salvação, e é atitude
constante de Deus que nunca deixa o homem abandonado nem completamente entregue
a si próprio. Por isso Deus pede ao homem que O ame a Ele acima de todas as
coisas. A maior manifestação do amor de Deus pelos homens é a vinda a este
mundo de nosso Senhor Jesus Cristo; mas já o Antigo Testamento afirmava
claramente este amor, como nesta breve passagem do profeta. Só esse amor traz
ao homem a paz total.
Leitura do
Livro de Isaías
“Sião dizia:
«O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-Se de mim». Poderá a mulher esquecer
a criança que amamenta e não ter compaixão do filho das suas entranhas? Mas
ainda que ela se esquecesse, Eu não te esquecerei.”
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo
61 (62), 2-3.6-7.8-9ab (R. 6a)
Refrão: Só em Deus descansa, ó
minha alma. (Repete-se)
Só em Deus descansa a minha
alma,
d’Ele me vem a salvação.
Ele é meu refúgio e
salvação,
minha fortaleza: jamais
serei abalado. (Refrão)
Minha alma, só em Deus
descansa:
d’Ele vem a minha esperança.
Ele é meu refúgio e
salvação,
minha fortaleza: jamais
serei abalado. (Refrão)
Em Deus está a minha
salvação e a minha glória,
o meu abrigo, o meu refúgio
está em Deus.
Povo de Deus, em todo o
tempo ponde n’Ele
a vossa confiança,
desafogai em sua presença os
vossos corações. (Refrão)
LEITURA II – 1 Cor 4, 1-5
“O
Senhor manifestará o desígnio dos corações”
A
comunidade cristã de Corinto não era das mais fáceis. Frequentemente nasciam
nela questiúnculas, divisões, contestações. O próprio Apóstolo Paulo não
escapava a essas críticas. Situações tristes, fruto das limitações humanas. No
meio de todas essas intrigas, S. Paulo entrega-se ao juízo de Deus. Só Ele sabe
e pode ser o Juiz das intenções dos homens. Hoje, como então, a comunidade
cristã não está livre de humilhações semelhantes às da Igreja de Corinto.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Todos
nos devem considerar como servos de Cristo e administradores dos mistérios de
Deus. Ora o que se requer nos administradores é que sejam fiéis. Quanto a mim,
pouco me importa ser julgado por vós ou por um tribunal humano; nem sequer me
julgo a mim próprio. De nada me acusa a consciência, mas não é por isso que
estou justificado: quem me julga é o Senhor. Portanto, não façais qualquer
juízo antes do tempo, até que venha o Senhor, que há-de iluminar o que está
oculto nas trevas e manifestar os desígnios dos corações. E então cada um
receberá da parte de Deus o louvor que merece.”
Palavra do Senhor
ALELUIA – Hebr 4, 12
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
A palavra de Deus é viva e
eficaz,
conhece os pensamentos e
intenções do coração. (Refrão)
EVANGELHO – Mt 6, 24-34
“Não vos inquieteis com o dia de amanhã”
Jesus
pede aos seus discípulos que ponham toda a sua confiança em Deus. Não lhes diz
que não tenham cuidados com as exigências da vida, o que é uma obrigação, mas
que se abandonem à providência de Deus na oração e na confiança, e que não
façam dos bens materiais – o texto diz do dinheiro, considerado como deus –,
objecto de culto. As coisas adoradas como deus, não passam de ídolos; e, se as
adorasse, o cristão voltaria ao paganismo. À preocupação desordenada, que leva
à inquietação, Jesus contrapõe a confiança, que gera a paz: “Não vos
inquieteis...”, diz o Senhor.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores,
porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o
outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: «Não vos
preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem, quanto ao
vosso corpo, com o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e
o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu: não semeiam nem
ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste as sustenta. Não valeis
vós muito mais do que elas? Quem de entre vós, por mais que se preocupe, pode
acrescentar um só côvado à sua estatura? E porque vos inquietais com o
vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas
Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se
Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno,
não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos inquieteis, dizendo:
‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos de vestir?’ Os pagãos
é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que
precisais de tudo isso. Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e
tudo o mais vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos inquieteis com o dia
de amanhã, porque o dia de amanhã tratará das suas inquietações. A cada dia
basta o seu cuidado».”
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Senhor, que nos concedeis
estes dons que Vos oferecemos
e nos atribuís o mérito do
oferecimento,
nós Vos suplicamos:
o que nos dais como fonte de
mérito
nos obtenha o prémio da
felicidade eterna.
Por Nosso Senhor.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo
12, 6
Cantarei ao Senhor pelo bem
que me fez,
exaltarei o nome do Senhor,
cantarei hinos ao Altíssimo.
Ou Mt
28, 20
Eu estou sempre convosco até
ao fim dos tempos,
diz o Senhor.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor, que nos saciais com
os vossos dons sagrados,
concedei-nos, por este
sacramento
com que nos alimentais na
vida presente,
a comunhão convosco na vida
eterna.
Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.