sábado, 30 de setembro de 2017

AS PROSTITUTAS E OS PUBLICANOS VOS PRECEDERÃO




26.º Domingo do tempo comum – 01 Outubro 2017


ELES VOS PRECEDERÃO

As três parábolas lidas nos evangelhos deste e dos dois domingos seguintes, tratam de um único tema: a rejeição do povo judeu que não quis escutar Jesus e a sua substituição pelos pagãos.

Ninguém é marginalizado por Deus
A parábola dos dois filhos justifica a posição do Cristo diante dos “desprezados”, esta nova categoria de pobres. Cristo dirige a parábola aos sumos sacerdotes e anciãos, como faz, com outra do mesmo teor, aos fariseus (fariseu e publicano: Lc 18,9); replica a todos os que se escandalizam com a sua predilecção pelos pecadores, dizendo-lhes que estes estão mais próximos da salvação do que os que se consideram justos; entra em casa de Zaqueu, que durante anos usurpou os vencimentos de todos, deixa que uma prostituta lhe lave os pés e protege a adúltera contra os “puros” que a queriam apedrejar.
A sua vida deixa a Deus a possibilidade de manifestar-se como verdadeiramente é. Estas situações revelam, no fundo, a liberdade de Deus. A parábola dirige-se, pois, aos que se fecham para a Boa-nova, aos que não querem reconhecer a identidade de Deus em nome da própria justiça e se consideram pagos por sua própria suficiência.

As prostitutas haviam dito “não”
A fidelidade a Deus e a justiça não se julgam pelo dizer “sim” ou pela vinha que se possui (figura da pertença racial ao povo eleito!), mas pelos factos. Trata-se de eliminar as discriminações sociais que a tradição hebraica elaborou. O que importa não é agir como a tradição ensina. É necessário ter coragem de sujar as mãos e de se arriscar na procura de novos valores mais próximos da liberdade, do amor e da felicidade do homem. É pelas obras que se julga a pertença. “Nem todo que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus” (Mt 7,21). As palavras, as ideologias podem enganar, podem ser uma ilusão. Descobre-se a verdade do homem pelas suas obras. Elas não dão margem a equívocos. Só então o homem mostra o que é. Compreendemos então aquela palavra de Jesus, que provoca escândalos aos ouvidos dos que se pretendem bons: “Em verdade vos digo: os publicanos e as prostitutas vos precederão no reino de Deus”. Oficialmente, conforme as categorias religiosas e os critérios morais exteriores da época, eles tinham dito “não”, mas de facto o que importa é a sua profunda disponibilidade: a vontade de cumprir, não com palavras, mas com factos, as obras de penitências.
Deus não decidiu, num dado momento da história, rejeitar Israel e adoptar as nações pagãs. Foi o comportamento perante o Messias que os fez perder o papel que desempenhavam na ordem da mediação. O modo como viviam o seu “sim” à Lei os levou a dizer “não” ao evangelho.

Para além das práticas
Existe ainda uma concepção exterior e quantitativa da religiosidade dos grupos e das pessoas (como se só fosse possível medir a religiosidade pela pertença sociológica ou a presença a certas práticas religiosas facilmente verificáveis: missa, sacramentos, orações, devoções, esmolas...) Contribuem para provocar este equívoco certas pesquisas sócio religiosas que codificam convencionalmente uma escala de religiosidade e de pertença eclesial que, se de certo ponto de vista obriga a abrir os olhos para situações penosas; por outro lado, está bem longe de esgotar o complexo fenómeno da religiosidade, tanto de grupo como individual.
Para além da prática e da pertença exterior e jurídica, existe uma presença e um evidente influxo cristão e evangélico em camadas de populações aparentemente marginais e alheias.
A religião, como é vivida pelos cristãos, apresenta diversos níveis e modalidades de experiência. Pode ser vivida como uma soma de práticas, de devoções, de ritos, como fins em si mesmos; como uma visão do mundo e das coisas; como um critério de juízo sobre pessoas, valores, acontecimentos. Pode manifestar-se como código moral e norma de acção ou como integração fé-vida, isto é, como síntese no plano do juízo e da acção, entre a mensagem do evangelho e as exigências e os esforços da própria vida pessoal e comunitária.
O cristão opera a integração fé-vida. Isto é, o “sim” da sua fé torna-se o “sim” da sua vida; a palavra e a confissão dos lábios tornam-se acção e gesto das mãos. Assim, a discriminação entre o “sim” e o “não” não passa través das práticas e da observância das leis, mas através da vida.



MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Dan 3, 31.29.30.43.42
Vós sois justo, Senhor, em tudo o que fizestes.
Pecámos contra Vós, não observámos os vossos mandamentos.
Mas para glória do vosso nome, mostrai-nos a vossa infinita misericórdia.

ORAÇÃO COLECTA
Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis, derramai sobre nós a vossa graça, para que, correndo prontamente para os bens prometidos, nos tornemos um dia participantes da felicidade celeste.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Ez 18, 25-28

«Quando o pecador se afastar do mal, salvará a sua vida»

A liturgia da palavra deste domingo vai insistir na sinceridade profunda do coração e na resposta autêntica e prática que ele dá ou não à palavra de Deus. A todo o momento, logo que o homem se converter a essa palavra e por ela orientar a sua vida, logo o Senhor o acolherá. Deus não é de vinganças; é sim salvador.

Leitura do Livro de Ezequiel
Eis o que diz o Senhor: «Vós dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’. Escutai, casa de Israel: Será a minha maneira de proceder que não é justa? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto? Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. Se abrir os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há-de viver e não morrerá».
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 24 (25), 4-5.6-7.8-9 (R. 6a)
Refrão: Lembrai-Vos, Senhor, da vossa misericórdia. (Repete-se)

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador:
em vós espero sempre. (Refrão)

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças que são eternas.
Não recordeis as minhas faltas
e os pecados da minha juventude.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor. (Refrão)

O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer os seus caminhos. (Refrão)


LEITURA II – Filip 2, 1-11

«Tende os mesmos sentimentos de Cristo Jesus»

Para incutir nos cristãos sentimentos de união e de perdão mútuo, S. Paulo não encontra melhor maneira do que lembrar-lhes os sentimentos de Jesus Cristo, manifestados na sua Paixão. A leitura é, na segunda parte, um verdadeiro hino pascal, talvez mesmo um hino das primeiras gerações cristãs para celebrar o mistério pascal do Senhor, incluído depois por S. Paulo nesta sua carta. É uma passagem da Sagrada Escritura que não pode ser ignorada pelo comum dos cristãos.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos: Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma comunhão no Espírito, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração. Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
Palavra do Senhor

ALELUIA – Jo 10, 27
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

As minhas ovelhas ouvem a minha voz, diz o Senhor;
Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 21, 28-32

«Arrependeu-se e foi. Os publicanos e as mulheres de má vida
irão adiante de vós para o reino de Deus»

Enquanto a palavra de Deus não descer ao coração do homem e o tocar e o converter, não são as palavras, mesmo santas, que lhe saem da boca que o fazem entrar no reino de Deus. Mas, logo que o coração estiver convertido e voltado para Deus, logo o Senhor o acolhe e o recebe como um pai. É que os caminhos de Deus não são como os dos homens.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?». Eles responderam-Lhe: «O primeiro». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus. João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Deus de misericórdia infinita, aceitai esta nossa oblação e fazei que por ela se abra para nós a fonte de todas as bênçãos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 118, 9-5
Senhor, lembrai-Vos da palavra que destes ao vosso servo.
A consolação da minha amargura é a esperança na vossa promessa.

Ou – 1 Jo 3, 16
Nisto conhecemos o amor de Deus: Ele deu a vida por nós;
também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Fazei, Senhor, que este sacramento celeste renove a nossa alma e o nosso corpo, para que, unidos a Cristo neste memorial da sua morte, possamos tomar parte na sua herança gloriosa.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 23 de setembro de 2017

SERÃO MAUS OS TEUS OLHOS PORQUE EU SOU BOM?




25.º Domingo do tempo comum – 24 Setembro 2017


OS PRIMEIROS E OS ÚLTIMOS

A interpretação da leitura proposta pelo próprio Cristo para a parábola encontra-se no v. 15. A acusação feita ao senhor da vinha (Deus) é de ser injusto, acusação já formulada pelo filho mais velho ao pai do filho pródigo (Lc 15,29-30), acusação dos “bons” judeus ao ouvir a doutrina da retribuição (Ez 18,25-29), acusação de Jonas pelo perdão concedido por Deus a Nínive, pagã.

A justiça dos homens e a justiça de Deus
Em cada um desses casos, os textos opõem a justiça de Deus, concebida à maneira dos homens, à sua atitude misericordiosa, nova para os homens (Lc 15,1-2). A esta objecção, Cristo responde: o senhor da vinha é “justo” (à maneira humana) com os primeiros, pois dá-lhes o que havia combinado, e é “justo” com os últimos (à maneira divina), porque não assumira com eles nenhum compromisso de salário.
Afirma, pois, o primado da bondade de Deus: a sua maneira de agir não contrasta com a justiça humana, mas transcende-a totalmente pelo amor. Em consequência, o contrato concluído entre o senhor da vinha e os seus operários apresenta-se como uma figura da aliança entre Deus e os seus, aliança que não tem relação alguma com o contrato “dou para que dês”, que os judeus queriam encontrar no caso, mas é um acto gratuito de Deus (Dt 7,7-10; 4,7). A aliança é, portanto, uma graça do amor gratuito do Pai, baseada na sua absoluta liberdade, e supõe a nossa (Gl 3,16-22; 4,21-31). Aplicando uma justiça aos primeiros e outra aos últimos, Deus quer antes de tudo afirmar o seu amor por uns e outros, levando em conta as diversas situações em que cada um se encontra.
Jesus quer alertar os seus compatriotas contra o orgulho, atitude de quem se coloca pretensiosamente diante de Deus e julga a sua bondade e a sua escolha: Deus é bom e fiel, e a sua bondade, porque soberana, sempre encontra novos modos de afirmar-se cada vez mais para o bem dos que são chamados. Ao mesmo tempo, a conclusão da parábola, em que há uma inversão de lugares entre os primeiros e os últimos, quer ser uma advertência aos judeus, os primeiros a serem chamados por Deus, mas que, pela mesquinhez de uma justiça toda sua, correm o risco de ser ultrapassados pelos que foram chamados posteriormente ao reino, unicamente por dom e graça da bondade do Senhor.

A lógica do reino
“Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos; os vossos caminhos não são os meus caminhos” (1ª leitura). A lógica de Deus é diferente da dos homens; às vezes, oposta e inconciliável com ela, embora sempre superior. Em geral, o que é lucro para o homem, poderá ser perda para Deus; e o que para o homem está em primeiro lugar, poderá vir em último lugar para Deus. A palavra de Deus e o seu juízo comportam uma radical inversão de valores; os primeiros são os últimos (evangelho); felizes são os que choram; os verdadeiros ricos são os que abandonam tudo; quem quer salvar sua vida perde-a...
A lei do seu reino parece ser o paradoxo, o inédito, o inesperado. Deus escolhe as coisas frágeis e desprezíveis deste mundo para confundir as fortes e bem consideradas. Não escolhe o primeiro, mas o último; não o justo, mas o pecador; não o sadio, mas o doente. Faz mais festa pela ovelha perdida e reencontrada do que pelas noventa e nove que estão na segurança do aprisco. O Deus cristão é o “absolutamente-Outro” o imprevisível. Nenhuma categoria humana pode “capturá-lo”. Ele escapa a qualquer definição e revela continuamente novos aspectos do seu mistério.

As preferências de Deus
Mas há um traço da face de Deus que Jesus revelou com clareza e insistência: a preferência pelos pobres, os humildes, os últimos. São eles, em contacto com a benevolência gratuita e proveniente de Deus, destinados a serem os primeiros, os afortunados, os eleitos.
Não se deve esquecer a aventura do povo judaico que, de primeiro, se torna último; de eleito, rejeitado. A parábola de Jesus conserva o seu valor de admoestação também para os novos chamados, que já começaram a pertencer ao reino, porque para eles também há o perigo de assumir a atitude dos primeiros chamados, e de se esquecerem de que tudo quanto têm é puro dom; portanto, não pode motivar nenhuma retribuição ou pretensão.



MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA
Eu sou a salvação do meu povo, diz o Senhor.
Quando chamar por Mim nas suas tribulações,
Eu o atenderei e serei o seu Deus para sempre.

ORAÇÃO COLECTA
Senhor, que fizestes consistir a plenitude da lei no vosso amor e no amor do próximo, dai-nos a graça de cumprirmos este duplo mandamento, para alcançarmos a vida eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Is 55, 6-9

Os meus pensamentos não são os vossos

O Evangelho vai apresentar-nos uma parábola, na qual se vê a liberdade e o amor com que Deus trata os homens, mesmo sem eles saberem, por vezes, apreciar essa bondade. Nesta leitura, o profeta vai-nos já prevenindo de que os caminhos de Deus não são como os dos homens, que têm dificuldade em compreender que o amor é mais generoso do que aquilo a que, por vezes, chamamos justiça.

Leitura do Livro de Isaías
“Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-O, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho e o homem perverso os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que terá compaixão dele, ao nosso Deus, que é generoso em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus – oráculo do Senhor –. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos vossos e acima dos vossos estão os meus pensamentos.”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144 (145), 2-3.8-9.17-18 (R. 18a)
Refrão: O Senhor está perto de quantos O invocam. (Repete-se)

Quero bendizer-Vos, dia após dia,
e louvar o vosso nome para sempre.
Grande é o Senhor e digno de todo o louvor,
insondável é a sua grandeza. (Refrão)

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas. (Refrão)

O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade. (Refrão)


LEITURA II – Filip 1, 20c-24.27a

Para mim, viver é Cristo

S. Paulo escreve estas palavras na prisão. Nelas mostra que todo o seu ideal é apenas servir a Cristo. Viver ou morrer é para ele coisa secundária; interessa-lhe, sim, estar sempre unido a Cristo. Ele é a sua vida. A própria morte o conduzirá ainda à união a Cristo: por isso, ela é para ele um lucro. Assim ele deseja que todos os cristãos vivam com ideal semelhante ao seu.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
“Irmãos: Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva quer eu morra. Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se viver neste corpo mortal me permite um trabalho útil, não sei o que escolher. Sinto-me constrangido por este dilema: desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal. Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – Actos 16, 14b
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Abri, Senhor, os nossos corações,
para aceitarmos a palavra do vosso Filho. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 20, 1-16a

Serão maus os teus olhos porque eu sou bom?

Esta parábola quer fazer-nos compreender que Deus é bom, e que a todos os homens que se disponham a servi-l’O Ele oferece a entrada no seu reino. Segundo o primeiro sentido da parábola, os operários da primeira hora foram os judeus; os outros, são os que, ao longo dos tempos, vão entrando na Igreja de Deus. A todos o Senhor abre as portas da salvação, porque, se para uns Se mostrou bondoso desde a primeira hora, para todos os outros Ele reserva os mesmos dons. Não há, pois, lugar para invejas, onde tudo é puro dom gratuito de Deus.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um pro­prie­tário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizen­do: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primei­ros e os primeiros serão os últimos».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai benignamente, Senhor, os dons da vossa Igreja, para que receba nestes santos mistérios os bens em que pela fé acredita.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 118, 4-5
Promulgastes, Senhor,
os vossos preceitos para se cumprirem fielmente.
Fazei que os meus passos sejam firmes
na observância dos vossos mandamentos.

Ou – Jo 10, 14
Eu sou o Bom Pastor, diz o Senhor;
conheço as minhas ovelhas
e as minhas ovelhas conhecem-Me.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Sustentai, Senhor, com o auxílio da vossa graça aqueles que alimentais nos sagrados mistérios, para que os frutos de salvação que recebemos neste sacramento se manifestem em toda a nossa vida.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 16 de setembro de 2017

PERDOAR




24. º Domingo do tempo comum – 17 Setembro 2017


O PERDÃO

O judaísmo já conhecia o dever do perdão das ofensas, mas tratava-se de uma conquista recente, que só se conseguia impor mediante a lista de tarefas precisas. A mesquinhez humana procura sempre uma medida, uma norma que lhe dê satisfação. Perdoar, sim, mas quantas vezes? Os rabinos, para acentuar a liberalidade de Deus, diziam que ele perdoa três vezes; as escolas rabínicas exigiam que seus discípulos perdoassem certo número de vezes à mulher, aos filhos, aos irmãos etc., e esta lista variava de escola para escola. Pedro pergunta a Jesus qual a sua taxa.

Setenta vezes sete
Jesus havia ensinado a amar os próprios inimigos e a orar pelos que nos perseguem a fim de sermos filhos do Pai que está nos céus, que faz surgir o sol sobre os maus e os bons e faz chover sobre justos e injustos (Mt 5,44-45). No pai-nosso, havia ensinado a pedir: “perdoai as nossas dívidas, como nós perdoamos os nossos devedores”. Pedro, que, pelo contacto com Jesus, compreendeu que as medidas até agora tidas como válidas não servem mais, tenta uma resposta: “até sete vezes”? É mais do que o dobro de três, e além disso é um número simbólico que significa plenitude. Jesus formula a sua resposta retomando o numero simbólico, mas multiplicando-o de tal maneira que signifique uma plenitude ilimitada. É preciso perdoar sempre. A parábola que segue explica esse dever de perdoar sem limites. O sentido da parábola é que Deus perdoa gratuitamente o pecado a quem lhe pede perdão, demonstrando uma benevolência absolutamente desinteressada para com os pecadores.
Em consequência dessa experiência do perdão de Deus, o homem deve aprender a perdoar aos seus irmãos, tanto porque as suas ofensas nada são diante da gravidade do pecado, como porque ele já foi alvo do perdão de Deus.

O perdão cristão pode transformar a fisionomia da história
O perdão das ofensas e o amor aos inimigos constituem uma das características mais evidentes e a maior novidade da moral evangélica. Mas, como acontece frequentemente, quanto maior é a exigência, mais elevada se torna a meta indicada, tanto mais mesquinha e pobre se manifesta a sua realização na vida prática.
Qual a influência da doutrina evangélica sobre o perdão das ofensas na vida e no comportamento prático dos cristãos? Deve-se dizer que muitos cristãos, no decorrer da história da Igreja, têm tomado a sério a palavra de Jesus e a hagiografia cristã está cheia de exemplos sublimes de amor e de gestos heróicos de perdão e reconciliação. Se hoje se fala, cada vez com mais frequência, de paz, desarmamento, solução pacífica das controvérsias internacionais, de cooperação mútua e de auxílio aos povos em via de desenvolvimento... temos de reconhecer que muitos cristãos têm contribuído para a difusão e a maturação desses ideais do cristianismo. O evangelho teve importância capital na educação dos povos do Ocidente, e muitas ideias, instâncias e estímulos positivos alimentados por sistemas que combatem o cristianismo, nasceram de uma cultura originariamente cristã e fortemente marcada pelo espírito evangélico. Mas a história dos povos, mesmo a dos cristãos, está cheia de testemunhos negativos: guerras, discórdias, morticínios, vinganças, injustiças, guerras religiosas, conquistas coloniais; e hoje: o imperialismo económico, a exploração do Terceiro Mundo, a indústria da guerra e da morte. A responsabilidade dos cristãos perante o evangelho e perante os irmãos ainda não iluminados pela luz da fé é enorme. Os contra-testemunhos desmentem, no plano dos factos, todo esforço de evangelização e comprometem a credibilidade do próprio evangelho.

Romper a cadeia do ódio
A iniciativa da reconciliação vem de Deus. A Igreja e os cristãos devem ser os construtores da paz no mundo; devem criar um clima de reconciliação, perdão, encontro, fraternidade em todos os sectores e a todos os níveis, desde o internacional até às pequenas relações de vizinhança e trabalho, entre esposos, entre os filhos, nas relações entre operários e patrões, entre pobres e ricos. Não há relação humana, por menor que seja, que não possa melhorar pela reconciliação e o perdão. A curva ascendente da violência é um apelo ao amor cristão, do qual o perdão é um momento importante. Só com o amor é possível formar uma comunidade, também a nacional.



MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Sir 36, 18
Dai a paz, Senhor, aos que em Vós esperam e confirmai a verdade dos vossos profetas.
Escutai a prece dos vossos servos e abençoai o vosso povo.

ORAÇÃO COLECTA
Deus, Criador e Senhor de todas as coisas, lançai sobre nós o vosso olhar; e para sentirmos em nós os efeitos do vosso amor, dai-nos a graça de Vos servirmos com todo o coração.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Sir 27, 33 – 28, 9

Perdoa a ofensa do teu próximo e quando pedires, as tuas faltas serão perdoadas

A vingança pode ser uma tendência instintiva natural, fruto de uma natureza ainda não suficientemente dominada e educada. Mas, a compreensão das faltas dos outros e o perdão são atitudes fundamentais para o coração de quem olha para os outros como gostaria que Deus olhasse para si. Mesmo já no Antigo Testamento, os homens de Deus assim pensavam.

Leitura do Livro de Ben-Sirá
“O rancor e a ira são coisas detestáveis, e o pecador é mestre nelas. Quem se vinga sofrerá a vingança do Senhor, que pedirá minuciosa conta de seus pecados. Perdoa a ofensa do teu próximo e, quando o pedires, as tuas ofensas serão perdoadas. Um homem guarda rancor contra outro e pede a Deus que o cure? Não tem compaixão do seu semelhante e pede perdão para os seus próprios pecados? Se ele, que é um ser de carne, guarda rancor, quem lhe alcançará o perdão das suas faltas? Lembra-te do teu fim e deixa de ter ódio; pensa na corrupção e na morte, e guarda os mandamentos. Recorda os mandamentos e não tenhas rancor ao próximo; pensa na aliança do Altíssimo e não repares nas ofensas que te fazem.”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 102 (103), 1-2.3-4.9-10.11-12 (R. 8)
Refrão: O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. (Repete-se)

Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios. (Refrão)

Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia. (Refrão)

Não está sempre a repreender,
nem guarda ressentimento.
Não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos castigou segundo as nossas culpas. (Refrão)

Como a distância da terra aos céus,
assim é grande a sua misericórdia
para os que O temem.
Como o Oriente dista do Ocidente,
assim Ele afasta de nós os nossos pecados. (Refrão)


LEITURA II – Rom 14, 7-9

Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor

É preciso viver, tendo sempre o sentido de Deus em toda a nossa vida. Só assim a vida e a morte têm sentido e nos enchem de paz e de alegria.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
“Irmãos: Nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum de nós morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor, e se morremos, morremos para o Senhor. Portanto, quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Na verdade, Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos vivos e dos mortos.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – Jo 13, 34
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 18, 21-35

Não te digo que perdoes até sete vezes, mas até setenta vezes sete

O perdão das ofensas é atitude fundamental para o discípulo de Cristo. Este perdão não tem limites, vai até ao que se possa imaginar. O número sete tem uma certa ideia de plenitude, de totalidade. Mas Jesus, para indicar que o perdão deve ser sem limites, ainda o multiplica por setenta, setenta vezes sete, isto é, sempre.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe: «Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?». Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Na verdade, o reino de Deus pode comparar-se a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo de começo, apresentaram-lhe um homem que devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido, com a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, para assim pagar a dívida. Então o servo prostrou-se a seus pés, dizendo: ‘Senhor, concede-me um prazo e tudo te pagarei’. Cheio de compaixão, o senhor daquele servo deu-lhe a liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço, dizendo: ‘Paga o que me deves’. Então o companheiro caiu a seus pés e suplicou-lhe, dizendo: ‘Concede-me um prazo e pagar-te-ei’. Ele, porém, não consentiu e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto devia. Testemunhas desta cena, os seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor tudo o que havia sucedido. Então, o senhor mandou-o chamar e disse: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque mo pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’. E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Ouvi, Senhor, com bondade as nossas súplicas e recebei estas ofertas dos vossos fiéis, para que os dons oferecidos por cada um de nós para glória do vosso nome sirvam para a salvação de todos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 35, 8
Como é admirável, Senhor, a vossa bondade!
À sombra das vossas asas se refugiam os homens.

Ou – 1 Cor 10, 16
O cálice de bênção é comunhão no Sangue de Cristo;
e o pão que partimos é comunhão no Corpo do Senhor.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor nosso Deus, concedei que este sacramento celeste nos santifique totalmente a alma e o corpo, para que não sejamos conduzidos pelos nossos sentimentos mas pela virtude vivificante do vosso Espírito.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 9 de setembro de 2017

SE TE ESCUTAR, TERÁS GANHO O TEU IRMÃO




23. º Domingo do tempo comum – 10 Setembro 2017


CORRECÇÃO FRATERNA

Quando um irmão peca, prejudicando o bem comum, a comunidade age com prudência e justiça, procurando corrigir o irmão. Reunida em nome e no espírito de Jesus, a comunidade tem o poder de incluir ou excluir pessoas do seu meio, isto é, incluir ou excluir pessoas. A missão dela, porém, não termina com a exclusão do pecador: ela deve procurá-lo, como o pastor que sai em busca da ovelha perdida. Ninguém está isento do pecado. Mas, se alguém erra, não pode ser punido impiedosamente e ser excluído da comunidade, sem a devida ponderação. Havia, nas primeiras comunidades cristãs, uma tendência a resolver, com uma certa dose de leviandade, os casos de desvio da fé. Os pequeninos eram as primeiras vítimas desta intransigência. Deve-se percorrer um longo caminho, antes de se tomar a decisão de afastar da comunidade alguém que errou. O primeiro passo consiste em ser advertido, a sós, por quem se sente ofendido. Isto pode ser suficiente para que a pessoa refaça sua conduta. Pode, entretanto, acontecer de a pessoa não se deixar tocar e persistir no erro. O passo seguinte consistirá em convocar as testemunhas previstas pela Lei mosaica e, diante delas, admoestar quem pecou, tentando demovê-lo da sua má conduta. Talvez, ele se deixe convencer e se converta. Também esta iniciativa pode resultar inútil. Só então a comunidade toda, neste caso, deve ser convocada para discernir, com muita responsabilidade, se a melhor decisão consiste em afastar o pecador do seu meio. Jesus, porém, cuida para que a reunião da comunidade não se transforme numa espécie de tribunal. Antes, que busque descobrir o desígnio do Pai a este respeito. A certeza da presença do Filho de Deus visa garantir a justiça num assunto tão fundamental. A vida comunitária, reunindo pessoas de temperamentos, valores e costumes diversos comporta sempre desencontros e conflitos, que ameaçam a sua unidade. A busca de superação dos conflitos na comunidade não é exclusiva dos cristãos. Mesmo entre comunidades gregas e romanas havia normas e regras de procedimento com vista a esta superação. No caso de uma ofensa pessoal, entre dois membros da comunidade, Mateus apresenta uma regra em três etapas: primeiro uma correcção fraterna do ofendido ao ofensor; caso este não a aceite, recorrer ao testemunho de duas ou três pessoas e, se ainda o ofensor resistir à correcção, recorre-se à igreja, ou seja, à comunidade. A última providência, caso o ofensor persista na sua posição, é a exclusão, sendo “tratado como se fosse um pagão ou um publicano”. Esta etapa final, na regra de Mateus, causa certa estranheza, uma vez que Jesus sempre esteve próximo dos gentios e publicanos, procurando integrá-los no seu convívio comunitário. O reconhecimento do conflito e da ofensa faz-se, acima de tudo, em vista a sensibilizar o ofensor e, em plena misericórdia, procurar a sua mudança de atitudes, garantindo a sua inserção na comunidade. Lucas, no seu evangelho (17,1-2), apresenta a correcção de maneira simples: “Se o teu irmão pecar, repreende-o e se ele se arrepender, perdoa-lhe. E, caso ele peque contra ti sete vezes por dia, sete vezes retornar, dizendo “Estou arrependido”, tu perdoar-lhe-ás”. No seguimento do texto de Mateus, temos a prática mais característica das comunidades de discípulos de Jesus: a oração em comum ao Pai dos céus. A presença de Jesus, filho de Deus, entre os discípulos tem um sentido especial no momento em que não mais existe o Templo (destruído pelos romanos no ano 70) onde se pretendia ter a presença de Deus. E as próprias sinagogas estão dispensadas no momento em que os discípulos se “reúnem” em torno de Jesus, palavra viva de Deus. A presença de Deus dá-se na comunidade misericordiosa e inclusiva, comprometida com o acolhimento, a reconciliação e o perdão, mantendo a sua comunhão com o próprio Jesus presente em seu meio. “O amor é o cumprimento perfeito da Lei”.


MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 118, 137.124
Vós sois justo, Senhor, e são rectos os vossos julgamentos.
Tratai o vosso servo segundo a vossa bondade.

ORAÇÃO COLECTA
Senhor nosso Deus, que nos enviastes o Salvador e nos fizestes vossos filhos adoptivos, atendei com paternal bondade as nossas súplicas e concedei que, pela nossa fé em Cristo, alcancemos a verdadeira liberdade e a herança eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Ez 33, 7-9

Se não falares ao ímpio, pedir-te-ei contas do seu sangue

A palavra de Deus, anunciada, acreditada, posta em prática, faz nascer o povo de Deus, a Igreja de Deus. E cada membro deste povo é, por sua vez, anunciador, profeta, desta palavra de Deus. Por isso, há-de anunciá-la com as suas palavras, se o puder fazer, mas sempre com a sua vida. Deste modo, cada filho da Igreja é, ao mesmo tempo, construtor da Igreja.

Leitura da Profecia de Ezequiel
“Eis o que diz o Senhor: «Filho do homem, coloquei-te como sentinela na casa de Israel. Quando ouvires a palavra da minha boca, deves avisá-los da minha parte. Sempre que Eu disser ao ímpio: ‘Ímpio, hás-de morrer’, e tu não falares ao ímpio para o afastar do seu caminho, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas Eu pedir-te-ei contas da sua morte. Se tu, porém, avisares o ímpio, para que se converta do seu caminho, e ele não se converter, morrerá nos seus pecados, mas tu salvarás a tua vida».”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 94 (95), 1-2.6-7.8-9 (R. cf. 8)
Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações. (Repete-se)

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor. (Refrão)

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
Pois Ele é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho. (Refrão)

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras». (Refrão)


LEITURA II – Rom 13, 8-10

A caridade é o pleno cumprimento da lei

Toda a lei moral cristã, toda a Lei de Deus, se resume na caridade, que é o amor segundo Deus. Todos e cada um dos preceitos cristãos são aplicações concretas desta lei da caridade, que os envolve e os anima a todos.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
“Irmãos: Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros, pois, quem ama o próximo, cumpre a lei. De facto, os mandamentos que dizem: «Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás», e todos os outros mandamentos, resumem-se nestas palavras: «Amarás ao próximo como a ti mesmo». A caridade não faz mal ao próximo. A caridade é o pleno cumprimento da lei.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – 2 Cor 5, 19
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo
e confiou-nos a palavra da reconciliação. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 16, 21-27

Se te escutar, terás ganho o teu irmão

Esta passagem do Evangelho tem em vista a vida em Cristo dos membros da comunidade cristã entre si. Desde o início a Igreja sentiu, no meio de si, dificuldades na vida de comunidade. Onde houver homens, haverá dificuldades de convivência. Mas, por isso mesmo, essas dificuldades hão-de ser resolvidas humanamente, e sempre à luz de Deus, que é como quem diz, à luz da caridade de Cristo, sempre em ordem à unidade, e à construção no amor, nunca à destruição. É então, na unidade, que a comunidade se tornará a morada do Senhor, onde os homens O poderão encontrar.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão. Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou um publicano. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu. Digo-vos ainda: Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus. Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Senhor nosso Deus, fonte da verdadeira devoção e da paz, fazei que esta oblação Vos glorifique dignamente e que a nossa participação nos sagrados mistérios reforce os laços da nossa unidade.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 41, 2-3
Como suspira o veado pela corrente das águas,
assim minha alma suspira por Vós, Senhor.
A minha alma tem sede do Deus vivo.

Ou Jo 8, 12
Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor;
quem Me segue não anda nas trevas,
mas terá a luz da vida.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor, que nos alimentais e fortaleceis à mesa da palavra e do pão da vida, fazei que recebamos de tal modo estes dons do vosso Filho que mereçamos participar da sua vida imortal.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 2 de setembro de 2017

SE ALGUÉM ME QUISER SEGUIR…




22. º Domingo do tempo comum – 03 Setembro 2017


A FELIZ RECOMPENSA

A pergunta de Jesus força os discípulos a fazerem uma revisão de tudo o que ele realizou no meio do povo. Esse povo não entendeu quem é Jesus. Os discípulos, porém, que acompanham e vêem tudo o que Jesus tem feito, reconhecem agora, através de Pedro, que Jesus é o Messias. A acção messiânica de Jesus consiste em criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Esse messianismo destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa de pobres e poderosos à custa de fracos. Por isso, essa sociedade vai matar Jesus, antes que ele a destrua. Mas os discípulos imaginam um messias glorioso e triunfante. Pedro é estabelecido como o fundamento da comunidade que Jesus está a organizar e que deverá continuar no futuro. Jesus concede a Pedro o exercício da autoridade sobre essa comunidade, autoridade de ensinar e de excluir ou introduzir os homens nela. Para que Pedro possa exercer tal função, a condição fundamental é ele admitir que Jesus não é o messias triunfalista e nacionalista, mas o Messias que sofrerá e morrerá na mão das autoridades do seu tempo. Caso contrário, ele deixa de ser Pedro para ser Satanás. Pedro será verdadeiro chefe, se estiver convicto de que os princípios que regem a comunidade de Jesus são totalmente diferentes daqueles em que se baseiam as autoridades religiosas do seu tempo. A morte na cruz era reservada a criminosos e subversivos. Quem quer seguir a Jesus esteja disposto a tornar-se marginalizado por uma sociedade injusta (perder a vida) e mais, a sofrer o mesmo destino de Jesus: morrer como subversivo (tomar a cruz). Jesus vinha exercendo o seu ministério na Galileia, onde se misturavam gentios e colónias judaicas, e nas regiões gentílicas vizinhas. Agora, tendo chegado bem ao norte, em Cesareia de Filipe, como que dando por encerrado o seu ministério nestas regiões, Jesus toma a decisão de voltar ao sul e, atravessando a Galileia, seguir o caminho de Jerusalém. Nesta nova etapa do seu ministério, Jesus decide fazer o seu anúncio libertador e vivificante directamente entre as multidões de fieis do judaísmo que acorriam a Jerusalém, para atenderem ao preceito religioso de cumprir o dever de celebrar a Páscoa. Esta era a principal festa religiosa da tradição de Israel, e era a ocasião de todos os fieis, particularmente os que moravam em regiões mais distantes, trouxessem as suas ofertas e dízimos anuais ao Templo. Jesus tinha consciência de que os chefes das sinagogas e do Templo de Jerusalém tinham a intenção de, em algum momento oportuno, matá-lo. A pregação e a prática libertadora de Jesus suscitaram o ódio destes chefes, que tinham garantidos a sua autoridade e o seu poder a partir da Lei opressora, elaborada ao longo da tradição de Israel. Agora, a ida a Jerusalém poderia ser fatal. Contudo Jesus não renuncia ao propósito de anunciar ao mundo, sem restrições, o projecto do Pai de libertar o mundo de toda opressão e promover a vida plena para todos. Jesus, então, fala aos discípulos sobre as provações que o aguardam em Jerusalém. É o chamado “anúncio da Paixão”. Este “anúncio” pode ter dois sentidos. Na perspectiva messiânica é o sofrimento necessário redentor, de acordo com a tradição do Antigo Testamento. Porém, pode significar a comum prática repressora dos poderosos deste mundo que não toleram e procuram destruir todo aquele que promove a libertação do povo oprimido, tal como foi Jesus em toda sua vida. Mateus, em seu evangelho, faz um contraste. Pedro, ao identificar Jesus com o Cristo, tinha uma revelação de Deus, era proclamado como pedra da Igreja, a as portas do inferno não prevaleceriam sobre ela. Agora, ao rejeitar o confronto de Jesus em Jerusalém, não tem a compreensão das coisas de Deus, é pedra de tropeço e satanás. Jesus convida os discípulos a consagrarem a sua vida à causa da justiça e da vida. Seduzidos pelo chamamento de Jesus, empenham-se em renovar as estruturas deste mundo conformando-o a tudo que é bom, justo, e agradável a Deus.


MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 85, 3.5
Tende compaixão de mim, Senhor,
que a Vós clamo o dia inteiro.
Vós, Senhor, sois bom e indulgente,
cheio de misericórdia para aqueles que Vos invocam.

ORAÇÃO COLECTA
Deus do universo, de quem procede todo o dom perfeito, infundi em nossos corações o amor do vosso nome e, estreitando a nossa união convosco, dai vida ao que em nós é bom e protegei com solicitude esta vida nova.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Jer 20, 7-9

A palavra do Senhor tornou-se para mim ocasião de insultos...

Apesar de falar em nome de Deus ao povo de Israel, o profeta só deste recebe insultos, ameaças e perseguição. Sentiu então a tentação de abandonar essa sua missão profética, apesar de sentir o coração abrasado do zelo do Senhor. Nesta luta interior, o amor foi mais forte que o desânimo, porque mais forte que os insultos dos homens é a palavra de Deus.

Leitura do Livro de Jeremias
“Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir; Vós me do­minastes e vencestes. Em todo o tempo sou objecto de escárnio, toda a gente se ri de mim; porque sempre que falo é para gritar e proclamar: «Violência e ruína!». E a palavra do Senhor tornou-se para mim ocasião permanente de insultos e zombarias. Então eu disse: «Não voltarei a falar n’Ele, não falarei mais em seu nome». Mas havia no meu coração um fogo ardente, comprimido dentro dos meus ossos. Procurava contê-lo, mas não podia.”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 62 (63), 2.3-4.5-6.8-9 (R. 2b)
Refrão: A minha alma tem sede de Vós, meu Deus. (Repete-se)

Senhor, sois o meu Deus:
desde a aurora Vos procuro. (Refrão)

A minha alma tem sede de Vós.
Por Vós suspiro,
como terra árida, sequiosa, sem água. (Refrão)

Quero contemplar-Vos no santuário,
para ver o vosso poder e a vossa glória.
A vossa graça vale mais do que a vida;
por isso, os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores. (Refrão)

Assim Vos bendirei toda a minha vida
e em vosso louvor levantarei as mãos.
Serei saciado com saborosos manjares,
e com vozes de júbilo Vos louvarei. (Refrão)

Porque Vos tornastes o meu refúgio,
exulto à sombra das vossas asas.
Unido a Vós estou, Senhor,
a vossa mão me serve de amparo. (Refrão)


LEITURA II – Rom 12, 1-2

Oferecei-vos como vítima viva

O culto verdadeiramente cristão nasce da fé e atinge toda a vida do homem renascido em Cristo. Como Cristo, o cristão é homem novo, vive, por isso, uma vida nova; não se conforma já com este mundo, mas vive do Espírito de Deus e faz de toda a sua vida uma oferta viva, agradável a Deus.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
“Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós mesmos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, como culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela renovação espiritual da vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – Ef 1, 17-18
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
ilumine os olhos do nosso coração,
para sabermos a que esperança fomos chamados. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 16, 21-27

Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo

À vista da Paixão, anunciada por Jesus aos seus discípulos, Pedro como que tenta Jesus, dissuadindo-O de aceitar a Cruz. Jesus rejeita energicamente a sua proposta, e, pelo contrário, apresenta aos discípulos, como programa para eles, o mistério da sua própria Cruz. Quem quiser ser seu discípulo, terá, como o Mestre, de renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-l’O. Assim ganhará a vida; doutro modo, perdê-la-ia, ainda que tivesse ganho todo o mundo.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, Jesus começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, tomando-O à parte, começou a contestá-l’O, dizendo: «Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de acontecer!». Jesus voltou-Se para Pedro e disse-lhe: «Vai-te daqui, Satanás. Tu és para mim uma ocasião de escândalo, pois não tens em vista as coisas de Deus, mas dos homens». Jesus disse então aos seus discípulos: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Que poderá dar o homem em troca da sua vida? O Filho do homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus Anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Santificai, Senhor, a oferta que Vos apresentamos e realizai em nós, com o poder da vossa graça, a redenção que celebramos nestes mistérios.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 30, 20
Como é grande, Senhor,
a vossa bondade para aqueles que Vos servem!

Ou Mt 5, 9-10
Bem-aventurados os pacíficos,
porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidos por amor da justiça,
porque deles é o reino dos céus.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor, que nos alimentastes com o pão da mesa celeste, fazei que esta fonte de caridade fortaleça os nossos corações e nos leve a servir-Vos nos nossos irmãos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.