26.º Domingo do tempo comum – 01
Outubro 2017
“ELES VOS PRECEDERÃO”
As três parábolas lidas nos evangelhos deste e dos dois
domingos seguintes, tratam de um único tema: a rejeição do povo judeu que não
quis escutar Jesus e a sua substituição pelos pagãos.
Ninguém é
marginalizado por Deus
A parábola dos dois filhos justifica a posição do Cristo
diante dos “desprezados”, esta nova categoria de pobres. Cristo dirige a
parábola aos sumos sacerdotes e anciãos, como faz, com outra do mesmo teor, aos
fariseus (fariseu e publicano: Lc 18,9); replica a todos os que se escandalizam
com a sua predilecção pelos pecadores, dizendo-lhes que estes estão mais
próximos da salvação do que os que se consideram justos; entra em casa de
Zaqueu, que durante anos usurpou os vencimentos de todos, deixa que uma
prostituta lhe lave os pés e protege a adúltera contra os “puros” que a queriam apedrejar.
A sua vida deixa a Deus a possibilidade de manifestar-se
como verdadeiramente é. Estas situações revelam, no fundo, a liberdade de Deus.
A parábola dirige-se, pois, aos que se fecham para a Boa-nova, aos que não
querem reconhecer a identidade de Deus em nome da própria justiça e se
consideram pagos por sua própria suficiência.
As prostitutas haviam
dito “não”
A fidelidade a Deus e a justiça não se julgam pelo dizer
“sim” ou pela vinha que se possui (figura da pertença racial ao povo eleito!),
mas pelos factos. Trata-se de eliminar as discriminações sociais que a tradição
hebraica elaborou. O que importa não é agir como a tradição ensina. É
necessário ter coragem de sujar as mãos e de se arriscar na procura de novos
valores mais próximos da liberdade, do amor e da felicidade do homem. É pelas
obras que se julga a pertença. “Nem todo
que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus” (Mt 7,21). As
palavras, as ideologias podem enganar, podem ser uma ilusão. Descobre-se a
verdade do homem pelas suas obras. Elas não dão margem a equívocos. Só então o
homem mostra o que é. Compreendemos então aquela palavra de Jesus, que provoca
escândalos aos ouvidos dos que se pretendem bons: “Em verdade vos digo: os
publicanos e as prostitutas vos precederão no reino de Deus”.
Oficialmente, conforme as categorias religiosas e os critérios morais
exteriores da época, eles tinham dito “não”, mas de facto o que importa é a sua
profunda disponibilidade: a vontade de cumprir, não com palavras, mas com factos,
as obras de penitências.
Deus não decidiu, num dado momento da história, rejeitar
Israel e adoptar as nações pagãs. Foi o comportamento perante o Messias que os
fez perder o papel que desempenhavam na ordem da mediação. O modo como viviam o
seu “sim” à Lei os levou a dizer “não” ao evangelho.
Para além das
práticas
Existe ainda uma concepção exterior e quantitativa da religiosidade
dos grupos e das pessoas (como se só fosse possível medir a religiosidade pela
pertença sociológica ou a presença a certas práticas religiosas facilmente
verificáveis: missa, sacramentos, orações, devoções, esmolas...) Contribuem
para provocar este equívoco certas pesquisas sócio religiosas que codificam
convencionalmente uma escala de religiosidade e de pertença eclesial que, se de
certo ponto de vista obriga a abrir os olhos para situações penosas; por outro
lado, está bem longe de esgotar o complexo fenómeno da religiosidade, tanto de
grupo como individual.
Para além da prática e da pertença exterior e jurídica,
existe uma presença e um evidente influxo cristão e evangélico em camadas de
populações aparentemente marginais e alheias.
A religião, como é vivida pelos cristãos, apresenta diversos
níveis e modalidades de experiência. Pode ser vivida como uma soma de práticas,
de devoções, de ritos, como fins em si mesmos; como uma visão do mundo e das
coisas; como um critério de juízo sobre pessoas, valores, acontecimentos. Pode
manifestar-se como código moral e norma de acção ou como integração fé-vida,
isto é, como síntese no plano do juízo e da acção, entre a mensagem do
evangelho e as exigências e os esforços da própria vida pessoal e comunitária.
O cristão opera a integração fé-vida. Isto é, o “sim” da sua
fé torna-se o “sim” da sua vida; a palavra e a confissão dos lábios tornam-se acção
e gesto das mãos. Assim, a discriminação entre o “sim” e o “não” não passa
través das práticas e da observância das leis, mas através da vida.
MISSA
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ANTÍFONA DE ENTRADA – Dan 3, 31.29.30.43.42
Vós sois justo,
Senhor, em tudo o que fizestes.
Pecámos contra Vós,
não observámos os vossos mandamentos.
Mas para glória do
vosso nome, mostrai-nos a vossa infinita misericórdia.
ORAÇÃO COLECTA
Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando
perdoais e Vos compadeceis, derramai sobre nós a vossa graça, para que,
correndo prontamente para os bens prometidos, nos tornemos um dia participantes
da felicidade celeste.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I – Ez 18, 25-28
«Quando o pecador se afastar
do mal, salvará a sua vida»
A liturgia da palavra deste
domingo vai insistir na sinceridade profunda do coração e na resposta autêntica
e prática que ele dá ou não à palavra de Deus. A todo o momento, logo que o
homem se converter a essa palavra e por ela orientar a sua vida, logo o Senhor
o acolherá. Deus não é de vinganças; é sim salvador.
Leitura do Livro de Ezequiel
Eis o que diz o Senhor: «Vós
dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’. Escutai, casa de Israel:
Será a minha maneira de proceder que não é justa? Não será antes o vosso modo
de proceder que é injusto? Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal
e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar
do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida.
Se abrir os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há-de viver e
não morrerá».
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 24 (25),
4-5.6-7.8-9 (R. 6a)
Refrão: Lembrai-Vos, Senhor, da vossa misericórdia. (Repete-se)
Mostrai-me, Senhor,
os vossos caminhos,
ensinai-me as
vossas veredas.
Guiai-me na vossa
verdade e ensinai-me,
porque Vós sois
Deus, meu Salvador:
em vós espero
sempre. (Refrão)
Lembrai-Vos,
Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças
que são eternas.
Não recordeis as
minhas faltas
e os pecados da
minha juventude.
Lembrai-Vos de mim
segundo a vossa clemência,
por causa da vossa
bondade, Senhor. (Refrão)
O Senhor é bom e
recto,
ensina o caminho
aos pecadores.
Orienta os humildes
na justiça
e dá-lhes a
conhecer os seus caminhos. (Refrão)
LEITURA II – Filip 2, 1-11
«Tende
os mesmos sentimentos de Cristo Jesus»
Para incutir nos cristãos
sentimentos de união e de perdão mútuo, S. Paulo não encontra melhor maneira do
que lembrar-lhes os sentimentos de Jesus Cristo, manifestados na sua Paixão. A
leitura é, na segunda parte, um verdadeiro hino pascal, talvez mesmo um hino
das primeiras gerações cristãs para celebrar o mistério pascal do Senhor,
incluído depois por S. Paulo nesta sua carta. É uma passagem da Sagrada
Escritura que não pode ser ignorada pelo comum dos cristãos.
Leitura da Epístola do apóstolo
São Paulo aos Filipenses
Irmãos: Se há em Cristo alguma
consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma comunhão no Espírito,
alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então completai a minha alegria,
tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só
coração. Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade,
considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus
próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos
sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele, que era de condição divina, não Se
valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a
condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem,
humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz. Por isso, Deus
O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome
de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua
proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
Palavra do Senhor
ALELUIA – Jo 10, 27
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
As minhas ovelhas
ouvem a minha voz, diz o Senhor;
Eu conheço as
minhas ovelhas e elas seguem-Me. (Refrão)
EVANGELHO – Mt 21, 28-32
«Arrependeu-se
e foi. Os publicanos e as mulheres de má vida
irão adiante de vós para o
reino de Deus»
Enquanto a palavra de Deus não descer ao
coração do homem e o tocar e o converter, não são as palavras, mesmo santas,
que lhe saem da boca que o fazem entrar no reino de Deus. Mas, logo que o
coração estiver convertido e voltado para Deus, logo o Senhor o acolhe e o
recebe como um pai. É que os caminhos de Deus não são como os dos homens.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos
príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Que vos parece? Um homem tinha
dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na
vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi.
O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu:
‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?».
Eles responderam-Lhe: «O primeiro». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os
publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus.
João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não
acreditastes nele; mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E
vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Deus de misericórdia infinita, aceitai esta nossa oblação e
fazei que por ela se abra para nós a fonte de todas as bênçãos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 118, 9-5
Senhor,
lembrai-Vos da palavra que destes ao vosso servo.
A
consolação da minha amargura é a esperança na vossa promessa.
Ou – 1 Jo 3, 16
Nisto conhecemos o amor de Deus: Ele deu a vida
por nós;
também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Fazei, Senhor, que este sacramento celeste renove a nossa
alma e o nosso corpo, para que, unidos a Cristo neste memorial da sua morte, possamos
tomar parte na sua herança gloriosa.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.