30.º Domingo do tempo comum – 29
Outubro 2017
ENCONTRO DE DOIS AMORES
Será necessário
afastar-se dos homens para encontrar ao Deus? E quem encontrou a Deus ainda
poderá voltar aos homens e viver com eles? Interessar-se por eles, trabalhar
com eles e para eles? Noutras palavras, são compatíveis o amor de Deus e o amor
dos homens, ou, pelo contrário, um exclui o outro, de modo que seja
absolutamente necessário fazer uma opção?
Amar o homem para amar a Deus
Nenhuma destas
perguntas recebeu de Jesus uma resposta essencial: o primeiro mandamento é amar
a Deus e o segundo, que lhe é semelhante, amar os homens. Não se pode, pois,
pensar que a entrada de Deus numa consciência provoque a exclusão do homem
(evangelho).
Ao contrário, os
textos mais seguros da mensagem do Antigo Testamento e de Jesus levam-nos a
crer com certeza que o encontro com Deus renova e aperfeiçoa a atenção e a
solicitude para com os homens (1ª leitura).
“Quando Deus se
revela pessoalmente, ele fá-lo servindo-se das categorias do homem. Assim
revela-se Pai, Filho, Espírito de Amor: e revela-se supremamente na humanidade
de Jesus Cristo. Por isto, não é demasiada ousadia afirmar que é preciso
conhecer o homem para conhecer Deus; é preciso amar o homem para amar a Deus”
(rdC 122,b).
Mas, convém
aprofundar alguns problemas impostos pelos próprios textos evangélicos. Importa
amar os homens, mas importa também acautelar-se em relação ao mundo, saber
deixar o pai e a mãe... Como fazer um acordo entre proposições que, à primeira
vista, parecem opor-se? Devendo absolutamente escolher entre o homem e Deus,
que fazer? O amor dos homens não é uma ameaça ao amor de Deus?
Nunca a Escritura e
a tradição cristã permitiram ao cristão desinteressar-se do homem, sob pretexto
de interessar-se unicamente por Deus. Nunca deixaram de indicar no serviço do
homem um modo de servir a Deus.
Teoria e práxis
A atenção a Deus e
a atenção ao homem não são facilmente separáveis. Cultivar a “via interior” é
um valor cristão, um valor permanente, como a necessidade de recolhimento. Mas
a “vida interior”, quando se é cristão, não é monólogo nem é falar com Deus só.
Encontrando Deus na oração, o cristão, mais cedo ou mais tarde, encontra
inevitavelmente os homens que Deus cria e quer salvar. Ele não pode deixar de
subscrever estas linha de Paulo Ricoerur: “A minha vida interior é a fonte das
minhas relações exteriores. Contrariamente à sabedoria meditativa e
contemplativa do fim do paganismo grego ou do Oriente, a pregação cristã jamais
opôs o ser ao fazer, o interior ao exterior, a teoria à práxis, a oração à
vida, a fé às obras. Deus, ao próximo. É sempre no momento em que a comunidade
cristã se desfaz ou a fé decai, que se abandona o mundo e as suas
responsabilidades, reconstruindo o mito da interioridade. Então, o Cristo já
não é reconhecido na pessoa do pobre, do exilado, do prisioneiro”. Todo o
teu espírito: eis o grande e primeiro mandamento. Era o texto do Deuteronómio
que constituía a essência da oração que os Israelitas rezavam diariamente – o “Shemá”
– e que na actual liturgia das horas nós rezamos na oração da noite de Domingo.
Mas, Jesus acrescentou: “o segundo mandamento é semelhante a este: amarás o teu
próximo como a ti mesmo" (Mt 22, 37-37). E disse ainda: “Desses dois
mandamentos decorre toda a lei e os profetas (v 40)”.
Contemplação e acção
O cristão pode
afastar-se momentaneamente dos homens, para orar, para pensar só em Deus. Pode
fazer uma hora de meditação sem encontrar, expressamente na contemplação de um
mistério divino, o pensamento das necessidades dos homens... Isto torna-se
mesmo, em certos momentos, uma profunda necessidade. Na vida cristã, como na
vida humana em geral, existem normalmente ritmos; passa-se da contemplação à acção
e desta à contemplação. Mas, como acontece na nossa existência em que se
sucedem tempos de retiro e tempos de intensa actividade, também na Igreja vemos
contemplativos e activos. O mistério de Cristo, no seu todo, é vivido na
Igreja, no conjunto dos seus membros e em todos os séculos. O contemplativo
serve aos homens servindo a Deus; o activo serve a Deus servindo aos homens. Os
dois exprimem, especializando-se na limitação do Cristo, um mesmo e único
mistério: o da vida religiosa do Verbo encarnado. Assim aconteceu e acontece
ainda na história da Igreja. O santo Cura D´Ars suspirava por um convento e
pela solidão, enquanto se dedicava inteiramente aos homens; e os conventos deram
à Igreja grandes papas, bispos, reformadores e missionários, que passaram da
contemplação e da solidão à acção mais perseverante e ininterrupta.
MISSA
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ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 104, 3-4
Alegre-se o coração
dos que procuram o Senhor.
Buscai o Senhor e o
seu poder,
procurai sempre a
sua face.
ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, aumentai em nós a fé, a esperança
e a caridade; e, para merecermos alcançar o que prometeis, fazei-nos amar o que
mandais.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I – Ex 22, 20-26
« Se fizerdes algum mal à viúva e ao órfão, inflamar-se-á
a minha ira contra vós»
O amor de Deus concretiza-se
logo no amor do próximo. Esta leitura assinala algumas situações
particularmente exigentes, onde se há-de tornar concreto este amor do próximo.
A primeira expressão do amor ao próximo é a justiça, sem a qual não há
caridade. E não se perca de vista que este texto é do Antigo Testamento, ainda
anterior ao próprio Evangelho.
Leitura do Livro do Êxodo
Eis o que diz o Senhor: «Não
prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes
estrangeiros na terra do Egipto. Não maltratarás a viúva nem o órfão. Se lhes
fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor; inflamar-se-á
a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão
viúvas, e órfãos os vossos filhos. Se emprestares dinheiro a alguém do meu
povo, ao pobre que vive junto de ti, não procederás com ele como um usurário,
sobrecarregando-o com juros. Se receberes como penhor a capa do teu próximo,
terás de lha devolver até ao pôr do sol, pois é tudo o que ele tem para se
cobrir, é o vestuário com que cobre o seu corpo. Com que dormiria ele? Se ele
Me invocar, escutá-lo-ei, porque sou misericordioso».
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 17 (18),
2-3.7.47.51ab (R. 2)
Refrão: Eu Vos amo, Senhor: sois a minha força. (Repete-se)
Eu Vos amo, Senhor,
minha força,
minha fortaleza,
meu refúgio e meu libertador.
Meu Deus, auxílio
em que ponho a minha confiança,
meu protector,
minha defesa e meu salvador. (Refrão)
Na minha aflição
invoquei o Senhor
e clamei pelo meu
Deus.
Do seu templo Ele
ouviu a minha voz
e o meu clamor
chegou aos seus ouvidos. (Refrão)
Viva o
Senhor, bendito seja o meu protector;
exaltado
seja Deus, meu salvador.
O Senhor
dá ao Rei grandes vitórias
e usa de
bondade para com o seu Ungido. (Refrão)
LEITURA II – 1 Tes 1, 5c-10
« Convertestes-vos dos ídolos para servir a
Deus e esperar o seu Filho»
Esta leitura é como que um
certificado de vida cristã, passado pelo Apóstolo à sua querida comunidade de
Tessalónica, e que poderá servir de modelo e estímulo a outras Igrejas. Assim
ela sirva ainda hoje para a nossa comunidade.
Leitura da Primeira Epístola do
apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos: Vós sabeis como
procedemos no meio de vós, para vosso bem. Tornastes-vos imitadores nossos e do
Senhor, recebendo a palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do
Espírito Santo; e assim vos tornastes exemplo para todos os crentes da
Macedónia e da Acaia. Porque, partindo de vós, a palavra de Deus ressoou não só
na Macedónia e na Acaia, mas em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus, de
modo que não precisamos de falar sobre ela. De facto, são eles próprios que
relatam o acolhimento que tivemos junto de vós e como dos ídolos vos
convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos Céus o
seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livrará da ira que
há-de vir.
Palavra do Senhor
ALELUIA – Jo 14, 23
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Se alguém Me ama,
guardará a minha palavra,
diz o Senhor;
meu Pai o amará e
faremos nele a nossa morada. (Refrão)
EVANGELHO – Mt 22, 34-40
« Amarás o Senhor teu Deus e o próximo como a ti mesmo»
Uma pergunta frontal posta a Jesus, embora
com má intenção, foi ocasião para o Senhor afirmar, de maneira solene e
inequívoca, a verdadeira hierarquia dos valores à luz de Deus: o mandamento
fundamental é o do amor a Deus e ao próximo. Ao ser interrogado sobre qual era
o maior mandamento, Jesus acrescenta também qual é o segundo, não fosse
julgar-se que, ao pretender amar-se a Deus, se poderia humilhar o próximo, como
parece ter sido intenção daquele que O interrogou.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, os fariseus,
ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e
um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o
maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor teu Deus com todo
o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e
o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu
próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os
Profetas».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Olhai, Senhor, para os dons que Vos apresentamos e fazei que
a celebração destes mistérios dê glória ao vosso nome.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 19, 6
Celebramos,
Senhor, a vossa salvação
e
glorificamos o vosso santo nome.
Ou Ef 5, 2
Cristo amou-nos e deu a vida por nós,
oferecendo-Se em sacrifício agradável a Deus.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Fazei, Senhor, que os vossos sacramentos realizem em nós o
que significam, para alcançarmos um dia em plenitude o que celebramos nestes
santos mistérios.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.