sábado, 29 de fevereiro de 2020

JESUS JEJUA DURANTE QUARENTA DIAS E É TENTADO


 DOMINGO I DA QUARESMA – ano A – 1MAR2020



PROPOSTA DE DEUS, PROPOSTA DO HOMEM

Neste primeiro domingo é proposta uma reflexão fundamental sobre o destino do homem. É uma meditação religiosa, uma vez que põe em causa o justo relacionamento com Deus, libertando-o de duas concepções erróneas.
O homem é escravo de forças naturais ou históricas; a sua presença no mundo é o fruto de um acaso que lhe pregou uma partida breve e cruel, dando-lhe a ilusão de felicidade e abandonando-o ao poder da morte. O homem é árbitro absoluto do seu destino, senhor do bem e do mal, dominador das Forças cósmicas, único protagonista da história.

Uma opção que se repete
A Bíblia apresenta o homem como criatura de Deus, por ele modelado com amor, animado por seu sopro vital, colocado num “jardim” onde tudo é ordem e harmonia, onde o diálogo com Deus é cheio de confiança e amor (1ª leitura).
Com o pecado, entra a desordem: é a desconfiança da palavra de Deus, a tentativa de “se tornar como Deus”, definindo-se a si mesmo através do conhecimento (isto é, experiência íntima) do bem e do mal. O resultado é a consciência da própria “nudez”, a incapacidade de dialogar com Deus e com os semelhantes (já no relacionamento do casal), o sofrimento e a morte (2ª leitura).
Deus retoma o seu plano pacientemente; o povo judeu, ao qual promete a “terra” do repouso e do bem-estar, é submetido à mesma prova e cai, porque lhe falta confiança no Deus salvador, procura deuses mais imediatos e menos exigentes, estabelece alianças com os povos pagãos, supõe a protecção divina, mas não retribui como amor filial. O deserto permanece o lugar real e simbólico de um diálogo fracassado total ou parcialmente.

Uma confiança sem condições
Cristo é conduzido pelo Espírito ao deserto para repetir a prova: nele se concentra a fidelidade de Deus ao seu plano e a fidelidade do homem que lhe responde. Apoiando-se inteiramente na palavra de Deus (“está escrito”), Cristo sai vitorioso da provação; é uma antecipação da obediência incondicional do Filho bem-amado que se torna o primogénito da nova humanidade, fiel a Deus e chamado à sua intimidade (evangelho).
Todo homem, como toda geração e toda comunidade, é chamado a reviver a mesma opção fundamental.
“A mais temível tentação não é a que nasce da carne e do mundo, mas a que nasce de uma situação em que a bondade de Deus não entra no nosso campo de percepção. O cristão pode então dizer: 'Onde então está Deus?’ Só encontra indiferença e silêncio: Deus mostra-se tão distante que ele sente o abandono de Cristo. Vive naquela situação-limite em que viveram Abraão quando Deus lhe ordenou que sacrificasse Isaac, Jó durante a doença e Cristo na agonia. A confiança incondicional é o único meio de salvação, mas ela toca as raias da revolta contra Deus. Tais situações são a tentação suprema para o espírito. Atacam a fé na sua própria raiz e, compreende-se por que Cristo, pede aos cristãos que fujam em caso de perseguição: a não-intervenção de Deus é sentida então de modo tão cruel que poderia destruir a fé. Não é pois de admirar que a Igreja e os cristãos orem todos os dias para que Deus saia do seu silêncio, que abrevie o tempo em que não manifesta o seu poder” (C. Duquoc).

Tempo do teste
A Quaresma é o tempo do teste para nossa fidelidade na resposta ao plano de Deus; pode acontecer que o tenhamos traído, mutilado ou enterrado e, isso, por cobardia, interesse, hipocrisia, fraqueza, porque não soubemos vencer as tentações que hoje se nos oferecem. Toda a civilização inclui elementos bons e elementos nocivos, expressão de sua ambiguidade, a sua incapacidade para nos salvar. Hoje, esses elementos nocivos são a apatia diante das realidades espirituais, a sua asfixia “mórbida” para que não constituam mais problema e sejam relegados para os recantos da consciência e da vida; a total absorção no terrestre, nos valores e bens que nos são oferecidos em quantidade cada vez mais crescente e alienante: a “eficácia”, gerada pelo ídolo do produzir/consumir e consumir/produzir, esse círculo vicioso implacável e destruidor de todo o valor humano; o egoísmo e o espírito de opressão, a luta pela própria carreira, que reduz o próximo unicamente a mais um adversário a eliminar, um concorrente a superar, um degrau a subir.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 90, 15-16
Quando me invocar, hei-de atendê-lo; hei-de libertá-lo
e dar-lhe glória. Favorecê-lo-ei com longa vida
e lhe mostrarei a minha salvação.

ORAÇÃO COLECTA
Concedei-nos, Deus omnipotente, que, pela observância quaresmal, alcancemos maior compreensão do mistério de Cristo e a nossa vida seja dele um digno testemunho.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Gen 2, 7-9; 3, 1-7

«A criação e o pecado dos nossos primeiros pais»

No tempo da Quaresma, a primeira leitura “refere-se à história da salvação, que é um dos objectivos próprios da catequese quaresmal”. Nela “se apresentam os principais elementos daquela história desde o princípio até à promessa da Nova Aliança” (Intr. ao Lecc.).

Leitura do Livro do Génesis
O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. Fez nascer na terra toda a espécie de árvores, de frutos agradáveis à vista e bons para comer, entre as quais a árvore da vida, no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. Ora, a serpente era o mais astucioso de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: «É verdade que Deus vos disse: ‘Não podeis comer o fruto de nenhuma árvore do jardim’?». A mulher respondeu: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus avisou-nos: ‘Não podeis comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis’». A serpente replicou à mulher: «De maneira nenhuma! Não morrereis. Mas Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal». A mulher viu então que o fruto da árvore era bom para comer e agradável à vista, e precioso para esclarecer a inteligência. Colheu fruto da árvore e comeu; depois deu-o ao marido, que comeu juntamente com ela. Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas.
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 50 (51), 3-4.5-6a.12-13.14.17 (R. cf. 3a)

Refrão: Pecámos, Senhor: tende compaixão de nós. (Repete-se)

Ou: Tende compaixão de nós, Senhor,
porque somos pecadores. (Repete-se)

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia,
apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas. (Refrão)

Porque eu reconheço os meus pecados
e tenho sempre diante de mim as minhas culpas.
Pequei contra Vós, só contra Vós,
e fiz o mal diante dos vossos olhos. (Refrão)

Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade. (Refrão)

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Abri, Senhor, os meus lábios
e a minha boca cantará o vosso louvor. (Refrão)


LEITURA II – Rom 5, 12-19

«Onde abundou o pecado, superabundou a graça»

A leitura põe em contraste Adão e Cristo. Ambos são o princípio de uma humanidade nova. Mas, se a falta cometida por um só, Adão, se faz sentir abundantemente em todos os homens para sua perdição, a graça e o perdão trazidos por um só, Jesus Cristo, fazem sentir-se mais abundantemente ainda e levam à justificação.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos: Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram. De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo. Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei. Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo para aqueles que não tinham pecado por uma transgressão à semelhança de Adão, que é figura d’Aquele que havia de vir. Mas o dom gratuito não é como a falta. Se pelo pecado de um só todos pereceram, com muito mais razão a graça de Deus, dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo, se concedeu com abundância a todos os homens. E esse dom não é como o pecado de um só: o julgamento que resultou desse único pecado levou à condenação, ao passo que o dom gratuito, que veio depois de muitas faltas, leva à justificação. Se a morte reinou pelo pecado de um só homem, com muito mais razão, aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo. Porque, assim como pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só, virá para todos a justificação que dá a vida. De facto, como pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, todos se tornarão justos.
Palavra do Senhor

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Mt 4, 4b

Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai. (Repete-se)

Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 4, 1-11

«Jesus jejua durante quarenta dias e é tentado»

As tentações de Jesus resumem as tentações de todo o homem. Ao contrário de Adão, Jesus rejeita a tentação, fixando-Se no Pai e na sua palavra. Resistir ao mal, morrer para o pecado, firmando-se na palavra de Deus, é o primeiro passo para participar na Páscoa de Jesus. Quem deseja caminhar para a comunhão com Deus na Páscoa de Jesus, não pode deixar-se encantar, nesse caminho, com as tentações que o Inimigo lhe apresentará.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Diabo. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’». Então o Diabo conduziu-O à cidade santa, levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». Respondeu-lhe Jesus: «Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». De novo o Diabo O levou consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-Lhe: «Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares». Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo deixou-O e aproximaram-se os Anjos e serviram-n'O.
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Fazei que a nossa vida, Senhor, corresponda à oferta das nossas mãos, com a qual damos início à celebração do tempo santo da Quaresma.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Mt 4, 4

Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que vem da boca de Deus.

OuSalmo 90, 4
O Senhor te cobrirá com as suas penas,
debaixo das suas asas encontrarás abrigo.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

Saciados com o pão do Céu, que alimenta a fé, confirma a esperança e fortalece a caridade, nós Vos pedimos, Senhor: ensinai-nos a ter fome de Cristo, o verdadeiro pão da vida, e a alimentar-nos de toda a palavra que da vossa boca nos vem.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 22 de fevereiro de 2020

AMAI OS VOSSOS INIMIGOS


DOMINGO VII DO TEMPO COMUM – ano A – 23FEV2020



O PAI, MODELO DA PERFEIÇÃO

Como se pode superar a vingança ou até mesmo a “justa” punição? O Evangelho propõe atitude nova, a fim de eliminar pela raiz o círculo infernal da violência: a resistência ao inimigo não deve ser feita com as mesmas armas usadas por ele, mas através de comportamento que o desarme. Um dos desafios mais tremendos para os discípulos de Jesus consistia em “oferecer a outra face a quem lhes esbofeteasse a face direita”. Receber um bofetada no rosto é uma experiência altamente ofensiva em qualquer cultura. Replicar é uma reacção natural. O discípulo do Reino, porém, é orientado para agir de maneira diferente: jamais responder à violência com violência. As primeiras comunidades cristãs viam-se pressionadas pela violência dos seus perseguidores. Quanto mais sem fundamento é a violência, tanto mais perversa e maligna ela é. A violência contra os cristãos era deste tipo. Se pagassem com a mesma moeda a violência sofrida, que moral teriam para proclamar a excelência do mandamento do amor e a urgência da reconciliação? Caso se submetessem passivamente seriam dizimados dentro de pouco tempo. Se optassem por se dispersar ou por viver na clandestinidade, não poderiam realizar a missão de arautos do Evangelho que tinham recebido. O gesto de oferecer a outra face era uma forma de resistência pacífica à fúria dos perseguidores. Significava que os discípulos de Jesus não temiam quem os perseguia; que recusavam a se rebaixar ao nível dos seus adversários; que buscavam eliminar a violência na sua origem; e que davam testemunho de um mundo novo onde a violência não tinha lugar. Este testemunho inusitado poderia até mesmo levar os perseguidores à conversão. O Evangelho abre a perspectiva do relacionamento humano para além das fronteiras que os homens costumam construir. Amar o inimigo é entrar em relação concreta com aquele que também é amado por Deus, mas que se apresenta como problema para mim. Os conflitos também são uma tarefa do amor. Os discípulos são convidados a um comportamento que os torne filhos testemunhando a justiça do Pai. Os cobradores de impostos eram desprezados e marginalizados porque colaboravam com a dominação romana, cobrando imposto e, em geral, aproveitando para roubar. Jesus rompe os esquemas sociais que dividem os homens em bons e maus, puros e impuros. Chamando um cobrador de impostos para ser seu discípulo, e comendo com os pecadores, Jesus mostra que a sua missão é reunir e salvar aqueles que a sociedade hipócrita rejeita como maus. A ordem de Jesus pode, à primeira vista, parecer exorbitante e inexequível. Quem será tão pretensioso a ponto de querer igualar-se, em perfeição, ao Pai? Não foi essa a tentação de Adão e Eva, no paraíso, quando ousaram querer ser como deuses, conhecedores de toda a ciência do bem e do mal? Conhecemos o resultado de tal ousadia. Urge entender, de maneira conveniente, o preceito de Jesus, para não classificá-lo de injusto. A ordem do Mestre desponta na vida do discípulo como um ideal, embora sabendo que jamais será alcançado. Com isso sentir-se-á impulsionado a progredir, sem se dar por satisfeito com as metas já alcançadas. Existe sempre a possibilidade de ir além e descobrir novas formas de manifestar o amor ao semelhante, de fazer-se servidor dos mais necessitados, de buscar construir comunhão e reconciliação entre todos os seres humanos, sem acepção de pessoas. Agindo assim, o discípulo torna-se sacramento da perfeição divina na história humana. Seu modo de proceder funcionará como um alerta para quem ainda não se deu conta de quem é o Pai e do que ele exige de nós. O discípulo deve recusar-se a modelar o seu agir pelos esquemas mundanos, calcados no egoísmo. É o Pai que, no esplendor da sua perfeição, aparece como modelo a ser imitado. O amor ao próximo e o ódio ao inimigo estão muito presentes na tradição de Israel. Como “próximo” era considerado todo aquele que integrava o “povo eleito” de Israel, que se identificava através de genealogias raciais. Os povos vizinhos eram inimigos a serem exterminados. Com a parábola do bom samaritano, no evangelho de Lucas, Jesus identifica o próximo com o necessitado, o excluído, o carente. O amor ao próximo ultrapassa qualquer fronteira racial ou religiosa. Com o preceito do amor aos inimigos, Jesus remove os limites da tradição do Antigo Testamento. Com as sugestivas imagens de Deus que faz o sol e a chuva para todos, Jesus revela a dimensão universal do amor e da misericórdia de Deus. Jesus exorta a não só amar os inimigos, mas, também, a orar por eles. Com essa oração se exprime o seu sincero acolhimento diante do Pai. O modelo da perfeição é o Pai celeste, que derrama os seus bens e a sua graça a bons e a maus, justos e injustos. Jesus, com o seu amor e a sua misericórdia, é a revelação do Pai e convida todos ao seu seguimento. Com a auto-afirmação de “povo eleito” por Deus, a religião de Israel pregava o amor entre os irmãos, filhos de Abraão, e o ódio e a destruição dos inimigos. A própria ocupação da “terra prometida”, com Josué, se deu com o extermínio dos povos que ali habitavam, considerados inimigos de Deus e seus. O amor do Pai, manifestado por Jesus, tem conotação universal, sem exclusões e sem limites. Não há discriminação no dom do seu amor. Pela comum filiação divina, devemos viver a fraternidade e a conaturalidade com o Pai. É esta atitude de amor indiscriminado que caracteriza as comunidades de discípulos e a sua acção missionária. A conversão, em seu sentido mais profundo, consiste no revestir-se de misericórdia até ao mais íntimo do seu ser. O “sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” é a grande síntese. Ela opõe-se a multiplicidade de preceitos e observâncias santificadoras do Antigo Testamento. A prática do amor misericordioso significa participar da perfeição do Pai celeste, em comunhão de vida com Deus e com os irmãos. A revelação do Deus Amor abre o caminho da perfeição a todos. A compreensão de que somos todos filhos do Deus Pai e Mãe e a percepção de que o seu amor é sem limites levam à fraternidade universal, à solidariedade e à partilha, vivendo-se com alegria, tendo como meta a união e a Paz.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 12, 6
Eu confio, Senhor, na vossa bondade.
O meu coração alegra-se com a vossa salvação.
Cantarei ao Senhor por tudo o que Ele fez por mim.

ORAÇÃO COLECTA
Concedei-nos, Deus todo-poderoso, que, meditando continuamente nas realidades espirituais, pratiquemos sempre, em palavras e obras, o que Vos agrada.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Lev 19, 1-2.17-18

«Amarás o teu próximo como a ti mesmo»

Na leitura do Evangelho, continuamos a ler o sermão da montanha: o Senhor continua a expor a novidade da Nova Aliança, do Testamento Novo. A passagem de hoje põe, uma vez mais, em relevo a caridade para com o próximo. Mas este era já mandamento de Deus no Antigo Testamento, como bem o mostra esta leitura. Na verdade, quem faz a ligação e até a unidade dos dois Testamentos é Deus, que é sempre o mesmo. Ele é Santo, o Santo por excelência; por isso, não admira que desde sempre e para sempre Deus proponha aos homens o mandamento do amor mútuo, sinal daquele amor com que Ele sempre amou todos os homens.

Leitura do Livro do Levítico
O Senhor dirigiu-Se a Moisés nestes termos: «Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo’. Não odiarás do íntimo do coração os teus irmãos, mas corrigirás o teu próximo, para não incorreres em falta por causa dele. Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor».
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 102 (103), 1-2.3-4.8.10.12-13 (R. 8a)

Refrão: O Senhor é clemente e cheio de compaixão. (Repete-se)

Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios. (Refrão)

Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades;
salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia. (Refrão)

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade;
não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos castigou segundo as nossas culpas. (Refrão)

Como o Oriente dista do Ocidente,
assim Ele afasta de nós os nossos pecados;
como um pai se compadece dos seus filhos,
assim o Senhor Se compadece dos que O temem. (Refrão)


LEITURA II – 1 Cor 3, 16-23

«Tudo é vosso; vós sois de Cristo; Cristo é de Deus»

A fé cristã faz nascer no crente uma forma nova de sabedoria, que não tem nada a ver com a sabedoria do mundo. A sabedoria que vem de Cristo leva-nos a olhar para tudo e para todos como Deus olha, e de tudo e de todos sabe fazer a unidade. Deus é uno, e a todos quer reconduzir à unidade por Cristo. Assim como pelo Verbo de Deus tudo foi chamado à existência, assim pelo Verbo feito homem, por Cristo, tudo é chamado à unidade.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo, e vós sois esse templo. Ninguém tenha ilusões. Se alguém entre vós se julga sábio aos olhos do mundo, faça-se louco, para se tornar sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus, como está escrito: «Apanharei os sábios na sua própria astúcia». E ainda: «O Senhor sabe como são vãos os pensamentos dos sábios». Por isso, ninguém deve gloriar-se nos homens. Tudo é vosso: Paulo, Apolo e Pedro, o mundo, a vida e a morte, as coisas presentes e as futuras. Tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.
Palavra do Senhor

ALELUIA – 1 Jo 2, 5

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Quem observa a palavra de Cristo,
nesse o amor de Deus é perfeito. (Refrão)


EVANGELHO – 5, 38-48

«Amai os vossos inimigos»

A Boa Nova, o Evangelho, que o Filho de Deus nos revelou, é o ponto mais alto aonde a palavra de Deus guiou os homens. Tudo o que antes dessa Boa Nova foi dito encaminhava-se para a revelação que o Evangelho do Senhor Jesus nos manifestou. Se o Antigo Testamento nos ensinava a amar os amigos, o Novo Testamento vai mais longe e ensina-nos a amar até os inimigos. É assim que se ama como Ele nos amou; e será ao reconhecerem o amor de Deus no nosso coração que os outros serão levados a amá-l’O também.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Olho por olho e dente por dente’. Eu, porém, digo-vos: Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado. Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem a mesma coisa os publicanos? E se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Concedei, Senhor, que celebremos dignamente estes divinos mistérios, de modo que os dons oferecidos para vossa glória sejam para nós fonte de eterna salvação.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 9, 2-3

Cantarei todas as vossas maravilhas.
Quero alegrar-me e exultar em Vós.
Cantarei ao vosso nome, ó Altíssimo.

Ou Jo 11, 27
Senhor, eu creio que sois Cristo, Filho de Deus vivo,
o Salvador do mundo.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

Nós Vos pedimos, Deus omnipotente, que este sacramento de salvação seja para nós penhor seguro de vida eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 15 de fevereiro de 2020

FOI DITO AOS ANTIGOS…


DOMINGO VI DO TEMPO COMUM – ano A – 16FEV2020



…EU, PORÉM, VOS DIGO

A lei não deve ser observada simplesmente por ser lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça. Cumprir a lei fielmente não significa subdividi-la em observâncias minuciosas, criando uma burocracia escravizante; significa, isto sim, buscar nela inspiração para a justiça e a misericórdia, a fim de que o homem tenha vida e relações mais fraternas. Em 5,21-48, Mateus apresenta cinco exemplos, para mostrar como é que uma lei deve ser entendida. A lei que proíbe matar, proíbe esse acto desde a raiz, isto é, desde a mais simples ofensa ao irmão. Mesmo ofendido e inocente, o discípulo de Jesus deve ter a coragem de dar o primeiro passo para se reconciliar. Caso se sinta culpado, procure urgentemente a reconciliação, porque sobre a sua culpa pesa um julgamento. Jesus radicaliza até à interioridade a fidelidade matrimonial, apelando ao amor verdadeiro e leal. O adultério começa com o olhar de desejo, mas o mal deve ser cortado pela raiz. A excepção ilegítima, por causa do grau de parentesco que trazia impedimento matrimonial segundo a Lei (Lv 18,6-18; At 15,29). A necessidade de juramentos é sinal de que a mentira e a desconfiança pervertem as relações humanas. Jesus exige relacionamento em que as pessoas sejam verdadeiras e responsáveis. A severidade com que Jesus tratou a questão da violação dos mandamentos – “mesmo dos menores” – deve ser entendida no contexto de sua pregação e do seu próprio testemunho de vida. Estaria equivocado quem tentasse entendê-la com a mentalidade dos fariseus legalistas da época. O apego deles aos mandamentos estava longe da prática de Jesus. Os fariseus apegavam-se à letra da Lei; o Messias Jesus, no entanto, ia além, buscando viver o espírito escondido nas entrelinhas dessa mesma Lei. Jesus estava pouco interessado em minúcias, em questões irrelevantes com as quais os fariseus se debatiam. A sua preocupação centrava-se na prática do amor misericordioso, de modo especial em relação aos pobres e marginalizados; na busca constante de fidelidade ao Pai, cuja vontade era um imperativo inquestionável; na relativização das prescrições religiosas, quando estava em jogo a defesa da vida; na liberdade profética diante de tudo quanto se apresentava como empecilho para a realização do Reino. Portanto, o seu horizonte era mais vasto e mais radical que o dos seus adversários. O mandamento antigo permitia o juramento, desde que não fosse falso e se cumprisse o juramento feito. Para não infringir o 2º. mandamento, recorria-se a certos eufemismos, a fim de encobrir a referência a Deus. Por isso, jurava-se pelo Céu, pela Terra, por Jerusalém. A invocação de Deus ou de outros elementos visava reforçar a palavra dada, de forma a criar confiança e um senso de segurança entre as pessoas. Assim, dava-se às palavras humanas um tom de seriedade e credibilidade. Jesus pôs um basta a tudo isto, proibindo o juramento, puro e simplesmente. O discípulo do Reino não tem necessidade de jurar, pois age com transparência, sem a menor intenção de enganar os seus semelhantes. Daí ser desnecessário lançar mão de juramentos para fazer-se credível. A sua boca fala o que traz no coração, sem necessidade de reforçar as suas palavras com juramentos. Na perspectiva do Reino, as palavras supérfluas são intoleráveis e a mentira, obra do maligno. Este é quem move o ser humano a inverter o sentido das palavras, encobrir-lhes o significado verdadeiro, não permitindo que a verdade transpareça. O discípulo do Reino é sóbrio no falar. Cada palavra que pronuncia assume o seu sentido pleno. Seu sim é sim, seu não é não. As sugestões do maligno não encontram guarida em seu coração.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 30, 3-4
Sede a rocha do meu refúgio, Senhor,
e a fortaleza da minha salvação.
Para glória do vosso nome, guiai-me e conduzi-me.

ORAÇÃO COLECTA
Senhor, que prometestes estar presente nos corações rectos e sinceros, ajudai-nos com a vossa graça a viver de tal modo que mereçamos ser vossa morada.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Sir 15, 16-21 (15-20)

«Não mandou a ninguém fazer o mal»

Todas as orientações que a palavra de Deus nos dá são luz a iluminar o nosso caminho, para assim melhor chegarmos até Ele. A moral, como se diz, do povo de Deus não é uma lei negativa, mas auxílio para ele se orientar. Esta lei não destrói a liberdade do homem, antes se lhe oferece como ajuda. São sempre dois os caminhos possíveis e nenhum deles escapa ao olhar de Deus; ao homem pertence agora a escolha.

Leitura do Livro de Ben-Sirá
Se quiseres, guardarás os mandamentos: ser fiel depende da tua vontade. Deus pôs diante de ti o fogo e a água: estenderás a mão para o que desejares. Diante do homem estão a vida e a morte: o que ele escolher, isso lhe será dado. Porque é grande a sabedoria do Senhor, Ele é forte e poderoso e vê todas as coisas. Seus olhos estão sobre aqueles que O temem, Ele conhece todas as coisas do homem. Não mandou a ninguém fazer o mal, nem deu licença a ninguém de cometer o pecado.
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 118 (119), 1-2.4-5.17-18.33-34 (R. 1b)

Refrão: Ditoso o que anda na lei do Senhor. (Repete-se)

Felizes os que seguem o caminho perfeito
e andam na lei do Senhor.
Felizes os que observam as suas ordens
e O procuram de todo o coração. (Refrão)

Promulgastes os vossos preceitos
para se cumprirem fielmente.
Oxalá meus caminhos sejam firmes
na observância dos vossos decretos. (Refrão)

Fazei bem ao vosso servo:
viverei e cumprirei a vossa palavra.
Abri, Senhor, os meus olhos
para ver as maravilhas da vossa lei. (Refrão)

Ensinai-me, Senhor, o caminho dos vossos decretos,
para ser fiel até ao fim.
Dai-me entendimento para guardar a vossa lei
e para a cumprir de todo o coração. (Refrão)


LEITURA II – 1 Cor 2, 6-10

«Antes dos séculos Deus predestinou a sabedoria para a nossa glória»

O plano de Deus sobre este mundo é um mistério, que só foi completa e definitivamente revelado em Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo. Antes da Encarnação de Jesus Cristo, já ele ia sendo anunciado, mais ou menos claramente; mas a manifestação deste plano de salvação, que está acima de toda a sabedoria dos homens, brilha agora como maravilhoso dom celeste. Conhecê-lo não é conquista humana, mas dom divino, que havemos de acolher com humildade e em acção de graças.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: Nós falamos de sabedoria entre os perfeitos, mas de uma sabedoria que não é deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que vão ser destruidos. Falamos da sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que já antes dos séculos Deus tinha destinado para a nossa glória. Nenhum dos príncipes deste mundo a conheceu; porque se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. Mas, como está escrito, «nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam». Mas a nós Deus o revelou por meio do Espírito Santo, porque o Espírito Santo penetra todas as coisas, até o que há de mais profundo em Deus.
Palavra do Senhor

ALELUIA – Mt 11, 25

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque revelastes aos pequeninos
os mistérios do reino. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 5, 17-37

«Foi dito aos antigos... Eu, porém, digo-vos...»

Jesus veio a este mundo, e não desfez a Lei antiga, mas levou-a à perfeição, ensinando a entender o seu sentido profundo e a observá-la no íntimo do coração, no espírito e não apenas na letra. Por isso, o cristianismo, que tem as suas leis como todas as comunidades humanas, coloca a exigência profunda no amor, do qual as regras de vida são a expressão concreta e visível. O cristianismo tem, por isso, uma moral, mas não se reduz a uma lei moral.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta ao altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo. Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher com maus desejos já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é melhor perder-se um só dos teus olhos do que todo o corpo ser lançado na geena. E se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor que se perca um só dos teus membros, do que todo o corpo ser lançado na geena. Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher dê-lhe certidão de repúdio’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que repudiar sua mulher, salvo em caso de união ilegítima, expõe-na ao adultério. E quem se casar com uma repudiada comete adultério. Ouvistes ainda que foi dito aos antigos: ‘Não faltarás ao que tiveres jurado, mas cumprirás diante do Senhor o que juraste’. Eu, porém, digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes fazer branco ou preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Concedei, Senhor, que estes dons sagrados nos purifiquem e renovem, para que, obedecendo sempre à vossa vontade, alcancemos a recompensa eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 77, 24.29

O Senhor deu-lhes o pão do Céu:
comeram e ficaram saciados.

Ou Jo 3, 16
Deus amou tanto o mundo que lhe deu
o seu Filho Unigénito.
Quem acredita n’Ele tem a vida eterna.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

Senhor, que nos alimentastes com o pão do Céu, concedei-nos a graça de buscarmos sempre aquelas realidades que nos dão a verdadeira vida.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 8 de fevereiro de 2020

SAL E LUZ




DOMINGO V DO TEMPO COMUM – ano A – 9FEV2020


VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO

Os discípulos de Jesus devem estar conscientes de que se acham unidos com todos aqueles que anseiam por um mundo novo. Eles não podem subtrair-se a essa missão, mas precisam dar testemunho através das suas obras. Não se comprometer com isso é deixar de ser discípulo do Reino. Através do testemunho visível dos discípulos é que os homens podem descobrir a presença e acção do Deus invisível. As parábolas do sal e da luz confrontam os discípulos do Reino com a sua responsabilidade perante a realidade humana, apelando para a força transformadora da sua presença no mundo. Na medida em que se revelam servidores, manifestam a profundidade da sua adesão ao projecto de Deus. A vocação de servidor concretiza-se na ajuda às pessoas a fim de que elas enfrentem as insinuações do maligno que quer corrompê-las pela maldade e pelo egoísmo. Se, diante da corrupção do mundo, o discípulo permanece impassível, recusando-se a agir, será como sal insosso. Logo, tornar-se-á imprestável e deverá ser jogado fora. O cozinheiro não terá por que conservá-lo. Algo semelhante se passa com o Pai em relação ao discípulo ocultado diante da realidade a ser transformada. Por outro lado, o discípulo mostra-se servidor, quando irradia a luz de Cristo para que os seus semelhantes trilhem o caminho da verdade, do amor e da justiça. Sem esta luz, correriam o risco de descambar para a mentira, o egoísmo e a injustiça, com uma consequente condenação. No entanto, ele deverá buscar a posição adequada para que o seu testemunho de vida abranja o maior número possível de pessoas. A sua luz deve chegar a todos os seres humanos, sem distinção, de modo a fazê-los encontrar o caminho para Deus – é o sentido de vida do cristão.
Mateus apresenta o discurso da promulgação do Reino dos Céus, o “Sermão da Montanha”. Ele reúne, de modo didáctico, ditos e sentenças originários de Jesus, que circulavam entre as primeiras comunidades. Vários desses ditos e sentenças são encontrados de modo disperso nos outros dois evangelhos sinópticos. Após a proclamação das bem-aventuranças, seguem-se as duas predicações em metáfora: “Vós sois o sal da terra”, “Vós sois a luz do mundo”. O sal e a luz são duas realidades muito presentes na vida quotidiana, em todas as culturas e em todos os tempos. Ao sal associa-se a propriedade de preservar os alimentos da corrupção, dando-lhes durabilidade. É também próprio do sal realçar o sabor dos alimentos, tornando mais saboroso o seu consumo. A luz revela-nos a natureza das coisas materiais e permite que nos orientemos em nossos movimentos. No âmbito das realidades espirituais, a luz simboliza a verdade. Os discípulos são chamados a ser o sal da terra, para testemunhar os valores eternos e tornar a vida prazerosa de ser vivida. São a luz do mundo, para revelar o caminho que leva a Jesus, que é a porta para a vida eterna. Os mestres tornaram-se como uma lâmpada que permaneceu debaixo de uma caixa. A luz é também a glória de Deus. No evangelho de João, Jesus declara-se a luz do mundo. Os discípulos, portadores desta luz, têm a missão de transmiti-la ao mundo para que se perceba, em todos os tempos e todos os lugares, a presença amorosa e vivificante de Jesus.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 94, 6-7
Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
O Senhor é o nosso Deus.

ORAÇÃO COLECTA
Guardai, Senhor, com paternal bondade a vossa família; e, porque só em Vós põe a sua confiança, defendei-a sempre com a vossa protecção.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Is 58, 7-10

«A tua luz despontará como a aurora»

A palavra de Deus é-nos dirigida, muitas vezes, por meio de imagens, de comparações. A comparação é maneira fácil de ser compreendida e, por meio dela, a verdade chegará melhor à inteligência e ao coração. Hoje a palavra de Deus fala-nos muito de “luz”. A nossa vida, sem a luz da palavra de Deus, fica nas trevas; mas, se se deixa iluminar e guiar por aquela palavra, está sempre na luz, como na frescura clara das manhãs. Esta luz, que vem de Deus, ilumina o nosso coração e palpa-se nas próprias mãos, quando as nossas obras correspondem à nossa fé. É este o testemunho que já o Antigo Testamento propunha aos crentes.

Leitura do Livro de Isaías
Eis o que diz o Senhor: «Reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante. Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor. Então, se chamares, o Senhor responderá, se O invocares, dir-te-á: ‘Aqui estou’. Se tirares do meio de ti a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas, se deres do teu pão ao faminto e matares a fome ao indigente, a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite será como o meio-dia».
Palavra do Senhor


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 111 (112), 4-5.6-7.8a e 9

Refrão: Para o homem recto
nascerá uma luz no meio das trevas. (Repete-se)

Ou: Aleluia. (Repete-se)

Brilha aos homens rectos, como luz nas trevas,
o homem misericordioso, compassivo e justo.
Ditoso o homem que se compadece e empresta
e dispõe das suas coisas com justiça. (Refrão)

Este jamais será abalado;
o justo deixará memória eterna.
Ele não receia más notícias:
seu coração está firme, confiado no Senhor. (Refrão)

O seu coração é inabalável, nada teme;
reparte com largueza pelos pobres,
a sua generosidade permanece para sempre
e pode levantar a cabeça com altivez. (Refrão)


LEITURA II – 1 Cor 2, 1-5

«Anunciei-vos o mistério de Cristo crucificado»

A segunda leitura é, na maior parte das vezes, tirada de uma epístola, uma carta apostólica dirigida a determinada comunidade cristã. Essa leitura dá-nos, por isso, o quadro da vida dessa comunidade, e ensina-nos como poderá hoje a nossa comunidade viver também a fé cristã. Na leitura de hoje, o Apóstolo, ao dirigir-se a uma comunidade que era muito pobre, apresenta-se como missionário desprovido de meios humanos, e cuja força e riqueza lhe vem só de Jesus Cristo crucificado. É este mistério que ele tem para lhes anunciar. Assim também hoje a nós.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com sublimidade de linguagem ou de sabedoria a anunciar-vos o mistério de Deus. Pensei que, entre vós, não devia saber nada senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. Apresentei-me diante de vós cheio de fraqueza e de temor e a tremer deveras. A minha palavra e a minha pregação não se basearam na linguagem convincente da sabedoria humana, mas na poderosa manifestação do Espírito Santo, para que a vossa fé não se fundasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus.
Palavra do Senhor

ALELUIA – Jo 8, 12

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor:
quem Me segue terá a luz da vida. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 5, 13-16

«Vós sois a luz do mundo»

Jesus Cristo é luz que vem da luz, como dizemos no “Credo”; Ele é o Filho de Deus, que veio a este mundo como Luz para os homens. E agora é o próprio Senhor Jesus que diz aos seus discípulos que são eles a luz do mundo, porque a luz de Deus chegará aos homens do mundo por meio daqueles que já se deixaram iluminar pela luz de Cristo. É por meio dos discípulos de Cristo que os homens acreditarão em Cristo, e, por Ele, irão ao Pai.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há-de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Senhor nosso Deus, que criastes o pão e o vinho para auxílio da nossa fraqueza concedei que eles se tornem para nós sacramento de vida eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 106, 8-9

Dêmos graças ao Senhor pela sua misericórdia,
pelos seus prodígios em favor dos homens,
porque Ele deu de beber aos que tinham sede
e saciou os que tinham fome.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

Deus de bondade, que nos fizestes participantes do mesmo pão e do mesmo cálice, concedei que, unidos na alegria e no amor de Cristo, dêmos fruto abundante para a salvação do mundo.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.