DOMINGO II DO ADVENTO
ACOLHEI-VOS MUTUAMENTE
Deus vem, portador da salvação para todos. A mensagem que acompanha a sua
vinda fala de paz e reconciliação. A reconciliação, que se faz na comunidade
cristã, entre os que provêm do judaísmo e os do paganismo, está sempre sujeita
à precariedade, ao equilíbrio instável; existe no presente e entrega-se à
esperança quanto ao futuro. É, todavia, o sinal de um mundo reconciliado em
Cristo, onde não se levam em conta os privilégios de raça (“somos filhos de
Abraão”) e tudo o que separa; só o que une é levado em conta: a fé no único
Senhor e Salvador.
Humanidade sem
barreiras
Neste caso, a salvação significa romper todas as barreiras, sair de si
para encontrar os outros, abrir-se para a revelação recíproca, perdoar-se e
amar-se como pessoas humanas, como filhos de Deus. Assim fez connosco o Senhor
Jesus, respeitando as demoras e as possibilidades de diálogo das pessoas: no
passado, aproximando-se dos hebreus como realizador da “fidelidade” de Deus, e
dos pagãos como portador de um amor gratuito; hoje e sempre, suscitando em cada
pessoa, povo, geração, uma resposta original que depois se torne riqueza comum.
Não é, pois, uma utopia, esperar uma humanidade reconciliada, apesar das
guerras e divisões actuais, dos desequilíbrios e discriminações; porque a
salvação definitiva é obra do Senhor que vem e que virá, e pede aos seus amigos
que colaborem para que o seu plano se torne cada vez mais uma realidade efectiva.
Isto significa aceitar a mensagem do Baptista, que hoje é a da Igreja, do papa
e dos homens mais lúcidos, que são os profetas do nosso tempo, e produzir
frutos de penitência e conversão.
Com as nossas mãos preparamos o juízo que nos aguarda: o fogo
inextinguível destruirá tudo o que não tem solidez por não estar fundamentado
sobre o único Salvador.
Diálogo com os
homens
Aceitar-nos reciprocamente é um convite que a Igreja nos dirige. A
coexistência dos cristãos de origem judaica com os de origem pagã nem sempre foi
fácil nas comunidades primitivas. Conhecemos a tentação de reserva que os
primeiros tinham em relação aos outros e as divisões suscitadas. Mas as
palavras de Paulo valem também para as nossas comunidades de hoje. O cristão,
com muita frequência, considera a sua pertença ao povo de Deus como um
privilégio que o separa dos demais, uma espécie de marca de qualidade, muitos
cristãos pertencem a grupos sociológicos (burguesia, etnia branca, organizações
cristãs, mundo ocidental) aos quais cabe fazer as maiores concessões a fim de
que a coexistência dos homens, dos blocos ideológicos, das restantes etnias e classes
sociais se tornem realidade.
A eucaristia proporciona aos cristãos a oportunidade de provar o seu
universalismo e recusar uma separação entre “fracos” e “fortes”, uma vez que
nesta mesa o Senhor se oferece por todos. É o “vinculo da união”: união com os
irmãos, união com Deus em Cristo.
O anuncio da libertação trazida por Cristo suscita uma grande esperança.
A nossa geração espera ansiosamente um futuro de liberdade, apesar da fuga de
muitos para um passado de recordações, ou para um presente de alienações. O
povo de Deus mantém viva no mundo esta esperança quando, com os olhos no
futuro, vive no presente de modo a merecer confiança, isto é, com fé, caridade
e firme esperança.
Diálogo com Deus
Nosso encontro com os outros deve ultrapassar os estreitos limites da
pura cortesia e da convivência social; do contrário se esvaziará. A categoria
social fundamental é a relação “eu-tu”. Ora, o “tu” do outro homem é o “tu” divino.
Cada “tu” humano é imagem do “tu” divino. Em consequência, o caminho para
os outros e o caminho para Deus coincidem; trata-se de aceitar ou recusar. O
relacionamento real (não só as “boas maneiras”) com o outro varia conforme o
relacionamento com Deus. Somente na comunidade eclesial, a dos que estão
voltados para Deus, é que se pode viver realmente o encontro com os outros,
dentro de um mesmo amor.
LEITURA I – Is 11,
1-10
“Julgará os
infelizes com justiça”
O
Profeta anuncia o Enviado de Deus como Alguém que será ungido pelo Espírito
Santo. É isto mesmo que significa a palavra Messias e o nome de Cristo, o
Ungido. Um dia, Jesus aplicará a Si mesmo outra passagem do mesmo profeta que O
apresenta igualmente como o Ungido de Deus. Jesus é realmente o Ungido, o
Cristo de Deus e o Salvador dos homens. Pela sua acção salvadora, Ele vem
reconduzir os homens ao novo paraíso, prefigurado nas imagens que, nesta leitura,
recordam o paraíso perdido.
Leitura do
Livro de Isaías
“Naquele dia,
sairá um ramo do tronco de Jessé e um rebento brotará das suas raízes. Sobre
ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de inteligência,
espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de
Deus. Animado assim do temor de Deus, não julgará segundo as aparências, nem
decidirá pelo que ouvir dizer. Julgará os infelizes com justiça e com sentenças
rectas os humildes do povo. Com o chicote da sua palavra atingirá o violento e
com o sopro dos seus lábios exterminará o ímpio. A justiça será a faixa dos
seus rins e a lealdade a cintura dos seus flancos. O lobo viverá com o cordeiro
e a pantera dormirá com o cabrito; o bezerro e o leãozinho andarão juntos e um
menino os poderá conduzir. A vitela e a ursa pastarão juntamente, suas crias
dormirão lado a lado; e o leão comerá feno como o boi. A criança de leite
brincará junto ao ninho da cobra e o menino meterá a mão na toca da víbora. Não
mais praticarão o mal nem a destruição em todo o meu santo monte: o
conhecimento do Senhor encherá o país, como as águas enchem o leito do mar.
Nesse dia, a raiz de Jessé surgirá como bandeira dos povos; as nações virão
procurá-la e a sua morada será gloriosa.”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Rom 15, 4-9
“Cristo
salva todos os homens”
Jesus
Cristo é o Salvador de todos os homens. Se nasceu entre os judeus, Ele nasceu
para todos os povos. Se hoje é reconhecido apenas pelos cristãos, Ele veio chamar
à mesma Aliança com o Pai todos os povos. As promessas feitas aos Patriarcas e
Profetas no Antigo Testamento destinavam-se a todas as nações e foram então uma
preparação, como ainda hoje nos preparam a nós para O reconhecermos e
acolhermos, porque Ele continua a vir.
Leitura da
Epístola de São Paulo aos Romanos
“Irmãos: Tudo
o que foi escrito no passado foi escrito para nossa instrução, a fim de que,
pela paciência e consolação que vêm das Escrituras, tenhamos esperança. O Deus
da paciência e da consolação vos conceda que alimenteis os mesmos sentimentos
uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que, numa só alma e com uma
só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Acolhei-vos,
portanto, uns aos outros, como Cristo vos acolheu, para glória de Deus. Pois Eu
vos digo que Cristo Se fez servidor dos judeus, para mostrar a fidelidade de
Deus e confirmar as promessas feitas aos nossos antepassados. Por sua vez, os
gentios dão glória a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: «Por isso
eu Vos bendirei entre as nações e cantarei a glória do vosso nome».”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Mt 3, 1-12
“Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus”
João
Baptista, que veio à frente do Senhor a preparar-Lhe o caminho, é a grande
figura deste Domingo. Para nós ele é também, hoje, o Precursor. E o caminho que
nos aponta para nos levar a Jesus, ao reino dos Céus, é logo de início, a
conversão, a penitência, o arrependimento em relação aos nossos caminhos mal
andados, para que nos lancemos pelos caminhos de Jesus, que levam ao Pai. Só
por aí se pode ir ao encontro do Senhor que vem; é esse o caminho do Advento.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naqueles
dias, apareceu João Baptista a pregar no deserto da Judeia, dizendo:
«Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus». Foi dele que o profeta
Isaías falou, ao dizer: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do
Senhor, endireitai as suas veredas’». João tinha uma veste tecida com pêlos de
camelo e uma cintura de cabedal à volta dos rins. O seu alimento eram
gafanhotos e mel silvestre. Acorria a ele gente de Jerusalém, de toda a Judeia
e de toda a região do Jordão; e eram baptizados por ele no rio Jordão,
confessando os seus pecados. Ao ver muitos fariseus e saduceus que vinham ao
seu baptismo, disse-lhes: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que
está para vir? Praticai acções que se conformem ao arrependimento que
manifestais. Não penseis que basta dizer: ‘Abraão é o nosso pai’, porque eu vos
digo: Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão. O machado já está
posto à raiz das árvores. Por isso, toda a árvore que não dá fruto será cortada
e lançada ao fogo. Eu baptizo-vos com água, para vos levar ao arrependimento.
Mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu e não sou digno de
levar as suas sandálias. Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo. Tem a
pá na sua mão: há-de limpar a eira e recolher o trigo no celeiro. Mas a palha,
queimá-la-á num fogo que não se apaga».”
Palavra da Salvação
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