sexta-feira, 28 de novembro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – 1º DOMINGO DO ADVENTO




(Domingo, 30 de Novembro de 2014)


Vigiai, porque não sabeis quando virá o dono da casa

LEITURA I – Is 63, 16b-17.19b; 64, 2b-7

Oh se rasgásseis os céus e descêsseis

O Advento começa com um profundo suspiro de fé e de esperança dirigido ao Senhor, “nosso Pai”, “nosso Redentor”, semelhante aos que subiam da boca e do coração dos nossos antepassados na fé, os santos do Antigo Testamento, que viveram antes da vinda do Filho de Deus. Não vamos agora imaginar-nos nos tempos antes de Cristo; mas vamos criar em nós desejos profundos de que Ele, que já veio ao mundo e está no meio de nós, seja por nós reconhecido e acolhido como nosso Salvador, Ele que, de novo, há-de vir e por quem suspiramos.

Leitura do Livro de Isaías
“Vós, Senhor, sois nosso Pai e nosso Redentor, desde sempre, é o vosso nome. Porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos e endurecer o nosso coração, para que não Vos tema? Voltai, por amor dos vossos servos e das tribos da vossa herança. Oh se rasgásseis os céus e descêsseis! Ante a vossa face estremeceriam os montes! Mas vós descestes e perante a vossa face estremeceram os montes. Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram que um Deus, além de Vós, fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam. Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça e recordam os vossos caminhos. Estais indignado contra nós, porque pecámos e há muito que somos rebeldes, mas seremos salvos. Éramos todos como um ser impuro, as nossas acções justas eram todas como veste imunda. Todos nós caímos como folhas secas, as nossas faltas nos levavam como o vento. Ninguém invocava o vosso nome, ninguém se levantava para se apoiar em Vós, porque nos tínheis escondido o vosso rosto e nos deixáveis à mercê das nossas faltas. Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro; somos todos obra das vossas mãos.”.

LEITURA II – 1 Cor 1, 3-9

Esperamos a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo

O Advento começa por ser o tempo litúrgico especialmente voltado para a última vinda do Senhor. É o tempo da expectativa, vivido na esperança, aguardando a aparição gloriosa do Senhor, que virá coroar o tempo da Igreja com a glória da sua ressurreição. É, portanto, para esta Igreja tempo de vigilância, para que o Dia do Senhor a encontre irrepreensível.

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Irmãos: A graça e a paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças a Deus, em todo o tempo, a vosso respeito, pela graça divina que vos foi dada em Cristo Jesus[1]. Porque fostes enriquecidos em tudo: em toda a palavra e em todo o conhecimento[2]; e deste modo, tornou-se firme em vós o testemunho de Cristo. De facto, já não vos falta nenhum dom da graça, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele vos tornará firmes até ao fim, para que sejais irrepreensíveis no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo[3]. Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor[4].”

EVANGELHO – Mc 13, 33-37

Vigiai, porque não sabeis quando virá o dono da casa

A vigilância, já apontada na leitura anterior, é agora inculcada, com todo o rigor, pelo próprio Senhor Jesus. Esta vida é como longa vigília, com os seus tempos sucessivos (as quatro vigílias da noite referidas no texto) aguardando o sol nascente – Cristo – que vem do alto, como todas as manhãs recordamos na Hora de Laudes. A solenidade do Natal, a que o Advento nos conduzirá, vem, em cada ano, antecipar simbolicamente aquela vinda gloriosa do Senhor no último dia, o dia que nos introduz na “vida do mundo que há-de vir”.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento. Será como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa, e mandou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, portanto, visto que não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha[5]; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!».”





[1] Paulo dá graças a Deus por verificar a eficácia da graça divina e dos dons carismáticos.
[2] Em vós alude à consolidação interior da fé. Mas também poderá traduzir-se por "entre vós" e, então, aludiria à confirmação exterior da pregação por milagres (Mc 16,17-18).
[3] O Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo designa "o Dia do Senhor" anunciado pelos profetas, quando Ele vier julgar a humanidade (3,13.15; Sl 7,8; Is 13,9; Jl 2; Am 5,18-20; Mt 25,31-46; 1 Ts 2,19; 2 Ts 2,1).
[4] O motivo desta confiança reside na fidelidade de Deus que quer levar a bom termo o que começou, e que se exprime pela palavra comunhão, que é participação da filiação divina e da vida de Cristo.
[5] Referem-se aqui as quatro partes (vigílias) da noite: à tarde (18-21 h); à meia-noite (21-24 h); ao cantar do galo (0-3 h); de manhãzinha (3-6h). Ver 6,48; 15,25; Ex 14,24; Jz 7,19; 25,1-13; Lc 12,35-48; 21,34; 1 Ts 5,4-6.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO XXXIV do Tempo Comum


(Domingo, 23 de Novembro de 2014)




Vinde, benditos de meu Pai

LEITURA I – Ez 34, 11-12.15-17

Hei-de fazer justiça entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e cabritos

A figura do Bom Pastor, que se desenha neste oráculo dirigido contra os reis israelitas, maus pastores, nos tempos que antecederam o Exílio, corresponde a um título real. Cristo aplicou a Si mesmo este título de Bom Pastor. Ele veio ao encontro do seu Povo, para cuidar dele e o conduzir à felicidade. Dizer de Cristo que Ele é Rei é outra maneira de O designar como o Pastor do povo de Deus.

Leitura da Profecia de Ezequiel
“Eis o que diz o Senhor Deus: «Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas e hei-de encontrá-las. Como o pastor vigia o seu rebanho, quando estiver no meio das ovelhas que andavam tresmalhadas, assim Eu guardarei as minhas ovelhas, para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram num dia de nevoeiro e de trevas. Eu apascentarei as minhas ovelhas, Eu as levarei a repousar, diz o Senhor Deus[1]. Hei-de procurar a que anda perdida e reconduzir a que anda tresmalhada. Tratarei a que estiver ferida, darei vigor à que andar enfraquecida e velarei pela gorda e vigorosa. Hei-de apascentá-las com justiça. Quanto a vós, meu rebanho, assim fala o Senhor Deus: Hei-de fazer justiça entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e bodes[2]»”.

LEITURA II – 1 Cor 15, 20-26.28

Entregará o reino a Deus Pai, para que seja tudo em todos

Ressuscitado de entre os mortos, o primeiro entre todos, Cristo, no final dos tempos, tendo submetido a Si todas as coisas criadas, entregará o seu reino ao Pai. E nós, que pertencemos a Cristo, ressuscitados com Ele, também tomaremos parte no seu triunfo total e no seu reino de glória.

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois será o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai, depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder. É necessário que Ele reine, até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. E o último inimigo a ser aniquilado é a morte. Quando todas as coisas Lhe forem submetidas, então também o próprio Filho Se há-de submeter Àquele que Lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos[3].”

EVANGELHO – Mt 25, 31-46

Sentar-Se-á no seu trono glorioso e separará uns dos outros

Jesus retoma nesta leitura a mesma imagem atribuída a Deus na primeira leitura, a imagem do pastor. O julgamento que se propõe fazer será a libertação final de todos os que foram salvos pelo seu Sangue derramado na Cruz, para com Ele se sentarem no seu trono glorioso, se, neste mundo, tiverem seguido os passos do seu Pastor. Esta leitura é assim um anúncio e um convite.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso[4]. Todas as nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’[5]. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão-de perguntar: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’. E Ele lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna».”





[1] Deus é o bom pastor de Israel; é Ele quem conduzirá o povo do Exílio, a fim de habitar novamente na sua pátria (Sl 23; 95,7). Na teocracia judaica que se seguirá ao Exílio - pois a monarquia desaparecerá - Deus é quem irá presidir. Ver v.1-2 nota; v.2-3 nota; v.5-6 nota.
[2] Aqui, fala-se já das ovelhas e não dos pastores. Há dois grupos de ovelhas: as fracas e as fortes. As últimas prejudicam as primeiras, isto é, os ricos e os poderosos oprimem os fracos e desprotegidos do povo.
[3] Há uma ordem, tanto categorial como cronológica, na ressurreição (1 Ts 4,15-16). Trata-se dos eventos finais, quando da sua vinda gloriosa ("parusia"; 1 Ts 2,19; 3,13; 4,13-18.15; 5,23), em que Cristo reunirá todos os eleitos e vencerá todo o principado, toda a dominação e poder, isto é, todas as forças inimigas de Deus (Ef 1,20-21; 3,10; 6,12; Cl 1,16; 2,13-15). Obterá assim o domínio universal, quando forem postos todos os inimigos debaixo dos seus pés (Sl 110,1) e for destruída a própria morte, aqui personificada (Rm 5,12), realizando o desígnio do Pai, que tudo submeteu debaixo dos pés dele (Sl 8,7).
[4] Esta perícopa é uma descrição profética do juízo final. Identificando-se com todos os necessitados como seus irmãos (v.40), Jesus coroa o ensinamento do cap. 24 e daqueles em que falava só dos seus discípulos (10,40; 18,5). Os actos louvados por Jesus correspondem às obras de piedade características do AT e do NT, das quais não eram separáveis as virtudes da justiça e da caridade, em relação aos irmãos mais pequeninos.
[5] Em 10,42, o ensinamento análogo diz respeito só aos discípulos, chamados pequeninos, enquanto aqui se refere a todos os necessitados: os meus irmãos, os mais pequeninos.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO XXXIII do Tempo Comum




(Domingo, 16 de Novembro de 2014)


Foste fiel em coisas pequenas: vem tomar parte na alegria do teu Senhor

LEITURA I – Prov 31, 10-13.19-20.30-31

Põe mãos ao trabalho alegremente

Esta leitura é um poema em louvor da mulher valorosa. Com o exemplo da mulher forte, a “mulher de valor”, a liturgia de hoje quer apresentar-nos uma lição de fidelidade ao longo de toda a vida. A Igreja é esta mulher de valor, fiel e laboriosa, à espera do seu Senhor; e, na Igreja, cada um de nós, os seus filhos, o há-de ser também.

Leitura do Livro dos Provérbios
“Quem poderá encontrar uma mulher virtuosa? O seu valor é maior que o das pérolas. Nela confia o coração do marido e jamais lhe falta coisa alguma. Ela dá-lhe bem-estar e não desventura, em todos os dias da sua vida. Procura obter lã e linho e põe mãos ao trabalho alegremente. Toma a roca em suas mãos, seus dedos manejam o fuso. Abre as mãos ao pobre e estende os braços ao indigente. A graça é enganadora e vã a beleza; a mulher que teme o Senhor é que será louvada. Dai-lhe o fruto das suas mãos e suas obras a louvem às portas da cidade.”

LEITURA II – 1 Tes 5, 1-6

Para que o dia do Senhor não vos surpreenda como um ladrão

A palavra de Deus exige dos cristãos a mesma fidelidade de que já falava a leitura anterior ao querer preparar-nos para o dia da vinda do Senhor, dia que virá como o ladrão, sem se fazer anunciar. Mas a certeza da sua vinda não nos pode deixar adormecidos na escuridão da nossa noite. Somos filhos da luz e do dia; havemos de viver despertos e vigilantes, “enquanto esperamos a vinda gloriosa de Jesus Cristo nosso Salvador”

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
“Irmãos: Sobre o tempo e a ocasião, não precisais que vos escreva, pois vós próprios sabeis perfeitamente que o dia do Senhor vem como um ladrão nocturno[1]. E quando disserem: «Paz e segurança», é então que subitamente cairá sobre eles a ruína, como as dores da mulher que está para ser mãe, e não poderão escapar. Mas vós, irmãos, não andais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão, porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia: nós não somos da noite nem das trevas[2]. Por isso, não durmamos como os outros, mas permaneçamos vigilantes e sóbrios.”

EVANGELHO – Mt 25, 14-30

Foste fiel em coisas pequenas: vem tomar parte na alegria do teu Senhor

A leitura contínua do Evangelho de S. Mateus ao longo de todo o ano vai deixar-nos hoje em frente do Senhor que regressa para coroar os servos que O esperaram na fidelidade, fazendo render os dons que Ele lhes confiou para que os administrassem como fiéis servidores. São dons que, de uma maneira ou outra, vêm sempre de Deus, mas que são dados aos homens para que eles os utilizem para bem dos próprios homens. Assim Deus será glorificado e o seu reino transformará o mundo.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um, conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu. O que tinha recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas o que recebera um só talento foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos e foi ajustar contas com eles. O que recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: ‘Senhor, confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste. Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que te pertence’. O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei; devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu. Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, dar-se-á mais e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado[3]. Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes’».”




[1] O Dia do Senhor, tema unificador deste texto, é um conceito herdado da profecia e da apocalíptica do AT. Trata-se de uma intervenção omnipotente de Deus, que é juízo e condenação dos que se opõem aos seus planos, e de triunfo e salvação dos que lhe são fiéis. Terror e esperança são sentimentos antitéticos que esse Dia suscita.
Tempos e momentos são uma hendíadis, duas palavras para expressar uma única ideia. A primeira traduz o tempo cronológico, quantitativo (chronoi), e a segunda, o tempo da decisão, qualitativo (kairoi). Indica-se, assim, a soberania de Deus nas suas intervenções históricas (Mt 24,36; Mc 13,32; Act 1,7).

[2] O texto move-se em antíteses: noite/dia, trevas/luz, dormir/vigiar, embriagar-se/ser sóbrio, ira/salvação. A força argumentativa destas antíteses pretende conduzir os destinatários a situar-se de uma forma justa face ao Dia do Senhor e a mostrar-lhes que esse Dia é para eles de salvação e não de condenação.
[3] Jesus recorre a um provérbio (ver 13,12; Mc 4,25; Lc 8,18; 19,26) para justificar a decisão do v.28. Por um lado, mostra a ilimitada generosidade de Deus e, por outro, o rigor do seu juízo.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO XXXII do Tempo Comum




(Domingo, 9 de Novembro de 2014)


DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DE LATRÃO

Nota Histórica

Segundo uma tradição que remonta ao século XII, celebra se neste dia o aniversário da dedicação da basílica de Latrão, construída pelo imperador Constantino. Inicialmente foi uma festa exclusivamente da cidade de Roma; mais tarde, estendeu se à Igreja de rito romano, com o fim de honrar a basílica que é chamada «a igreja mãe de todas as igrejas da Urbe e do Orbe» e como sinal de amor e unidade para com a Cátedra de Pedro que, como escreveu S. Inácio de Antioquia, «preside à assembleia universal da caridade».

Não façais da casa de meu Pai casa de comércio

LEITURA I – Ez 47, 1-2.8-9.12

Uma nascente no templo

Leitura da Profecia de Ezequiel
Naqueles dias, o Anjo conduziu-me para a entrada do templo, e eis que saía água da sua parte subterrânea[1], em direcção ao oriente, porque o templo estava voltado para oriente. A água brotava da parte de baixo do lado direito do templo, a sul do altar.
Fez-me sair pelo pórtico setentrional e contornar o templo por fora, até ao pórtico exterior oriental; vi rebentar a água do lado direito. Ele disse-me: «Esta água corre para o território oriental, desce para a Arabá e dirige-se para o mar; quando chegar ao mar, as suas águas tornar-se-ão salubres. Por onde quer que a torrente passar, todo o ser vivo que se move viverá. O peixe será muito abundante, porque aonde quer que esta água chegar, tornar-se-á salubre; e a vida desenvolver-se-á por toda a parte aonde ela chegar.
Ao longo da torrente, nas suas margens, crescerá toda a sorte de árvores frutíferas, cuja folhagem não murchará e cujos frutos nunca cessam: produzirão todos os meses frutos novos, porque esta água vem do Santuário. Os frutos servirão de alimento e as folhas, de remédio.»”

LEITURA II – 1 Cor 3, 9c-11.16-17

As coisas visíveis são passageiras; as invisíveis são eternas

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
“Irmãos:
Vós sois o edifício de Deus.
Segundo a graça de Deus que me foi dada, eu, como sábio arquitecto, assentei o alicerce, mas outro edifica sobre ele[2]. Mas veja cada um como edifica, pois ninguém pode pôr um alicerce diferente do que já foi posto: Jesus Cristo. Não sabeis que sois templo de Deus[3] e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá[4]. Pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós.”

EVANGELHO Jo 2, 13-22

Falava do templo do seu Corpo

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.»
Os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devora[5]. Então os judeus intervieram e perguntaram-lhe: «Que sinal nos dás de poderes fazer isto?» Declarou-lhes Jesus[6], em resposta: «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei!» Replicaram então os judeus: «Quarenta e seis anos levou este templo a construir[7], e Tu vais levantá-lo em três dias?» Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo. Por isso, quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito e creram na Escritura e nas palavras que tinha proferido.”





[1] Do subsolo do Vestíbulo interior do templo jorrava uma torrente de água, que se dirigia na direcção sul, para o Mar Morto, passando pela Arabá, isto é, pela parte meridional do Vale do Jordão. É uma água que vai aumentando progressivamente e dotada de um poder especial: os terrenos tornam-se férteis e o próprio Mar Morto virá a abundar em peixe; as suas margens serão de novo habitadas. En-Guédi é uma povoação no deserto de Judá, nas margens do Mar Morto (1 Sm 24,1; 2 Cr 20,2; Ct 1,14; 4,13-15; Sir 24,14). En-Eglaim é um local não identificado. Esta visão tem um sentido simbólico especial: significa as bênçãos que do novo templo advirão à Terra Santa mediante o espírito de Deus (Jo 7,37-39). O Mar Grande é o Mediterrâneo. Esta imagem da torrente que jorra do templo, o profeta tirou-a da fonte de Siloé (Is 8,6) ou da descrição do rio que regava o paraíso terrestre (Gn 2,10-14; Jo 7,37-39; Ap 22,1.2). Aparece igualmente em Jl 4,18; Zc 14,8.
[2] Na sequência da imagem do edifício, Paulo compara-se a um arquitecto que põe o alicerce insubstituível, que é Cristo (Rm 15,14-21).
[3] A comunidade cristã (6,15-20 nota) é o verdadeiro templo da Nova Aliança, consagrado pela inabitação do Espírito Santo, que vem substituir o templo de Jerusalém (Jr 31,31-34 nota; Ez 16,59-60; Ef 5,21-33). A inabitação do Espírito Santo realiza o que era prefigurado pela presença da glória de Deus no templo de Jerusalém.
[4] Quem o profanar com falsas doutrinas ou com divisões, comete um sacrilégio.
[5] O zelo da tua casa me devorou. Os discípulos evocaram o Sl 69,10 (grego). Este gesto messiânico anuncia a paixão de Jesus.
[6] Destruí este templo. Estas palavras encerram um sentido misterioso que só a reflexão posterior (v.22) permitiu captar: exprimem o mistério da Encarnação, ao designarem o Corpo de Jesus como um templo em que Deus habita (Cl 2,9). Para os inimigos de Jesus, esta afirmação era passível da pena de morte: Mt 21,12-14; 26,61; 27,40; Mc 14,58; 15,29; Act 6,14. Sobre o dar a vida em dois dias e levantar ao terceiro, ver Os 6,1-3; Mt 16,21; 26,61; Mc 8,31.
[7] Quarenta e seis anos. O templo tinha começado a ser reconstruído por Herodes, o Grande, em 19/20 a.C.