Domingo XVII
do Tempo Comum – ano B – 29JUL2018
O
Alimento
Comer é uma função tão essencial na vida humana que quase todas as
religiões disso fazem um símbolo e o acompanham com um rito litúrgico. O
cristianismo propõe a salvação sob forma de uma ceia, símbolo e antecipação do
banquete eterno.
Os pobres comerão à saciedade
Os tempos preditos pelos profetas como tempos do Messias, se
caracterizam por este facto de imediata intuição: abundância para os pobres. “Os
pobres comerão e serão saciados”; diz o salmista (Sl 21,27). E Isaías, numa
visão profética, vê todos os povos reunidos para um grande banquete: “Preparará
o Senhor dos exércitos, para todos os povos, neste monte, um banquete de carnes
gordas, de vinhos excelentes, de comidas suculentas, de vinhos finos” (Is
25,6). Os pobres, sobretudo, estão em condições de apreciar uma visão deste género,
aqueles que não comem nunca à saciedade. A ideia da abundância e da saciedade é
acentuada expressamente tanto no evangelho (“encheram doze cestos com os pães…
que sobraram”) como na 1ª. leitura que, também literária e estilisticamente, é
paralela ao evangelho (“assim, diz o Senhor: comerão e ainda sobrará”). Com o
advento de Jesus, o tema messiânico da abundância atinge o seu acabamento.
No evangelho, reveste-se de um evidente sentido eucarístico, como
realidades que se anunciam e se completam mutuamente, e introduzem a comunhão
sem véus com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O vocabulário empregado tanto
por João como pelos sinópticos é tipicamente eucarístico. De fato, encontramos
os mesmos verbos usados para a instituição da eucaristia: tomou o pão, e depois
de ter dado graças, o distribuiu. A leitura eucarística do facto da
multiplicação dos pães manifesta a compreensão teológica dos mesmos, por parte
da comunidade primitiva, na superposição de planos desenvolvidos mais
amplamente por João.
A eucaristia é vista, assim, no seu sentido mais genuíno de
abundância de vida e capaz de dar a vida eterna dentro do banquete messiânico.
Um teste para a nossa caridade
O problema da fome no mundo é, certamente, uma das questões mais
angustiantes do nosso tempo. A sua solução ainda está bem distante. O
desequilíbrio económico entre as nações desenvolvidas e as outras continua a
registar crescimento assustador. O auxílio económico oferecido pelas nações
ricas às pobres é ainda muito fraco e mal orientado, para poder apressar o
progresso económico-social dos países em via de desenvolvimento. Perguntamo-nos
se a Igreja, hoje ainda, multiplica os pães para os que têm fome, ou, mais
concretamente, se no problema da fome que aflige o mundo de hoje, a Igreja tem
alguma coisa a fazer, além do seu papel de lembrar, sem descanso, aos seus
membros, as suas obrigações individuais e colectivas. Mas será que estamos
convencidos de que a Igreja somos nós? Jesus saciou concretamente homens que
tinham fome e revelou-se como o pão da vida eterna; fê-lo a partir de uma
realidade terrestre. O pão que ele dá não é só o símbolo do pão sobrenatural.
Não é possível revelar o pão da vida eterna sem comprometer-se verdadeiramente
nos deveres da solidariedade humana. O amor dos pobres, como o dos inimigos, é
o teste por excelência da qualidade da nossa caridade. Reconhecer aos pobres o
direito de receber o pão da vida é comprometer-se totalmente nas exigências do
amor; e, para o cristão, traduzir numa nova “multiplicação dos pães”, em escala
mundial, o benefício que ele recebeu de Cristo.
Uma Igreja pobre, sinal de abundância
Ora, precisamente por se encontrar a Igreja, de facto, mais
desenvolvida nas nações ricas do Ocidente, deverá, para tornar digna de fé a sua
mensagem, apresentar-se às multidões dos pobres que povoam o mundo e que são,
de direito, os primeiros destinatários do evangelho, como aquela que faz os
povos participarem da sua abundância.
A Igreja mudará de fisionomia na medida que os cristãos e os
responsáveis pelas instituições eclesiásticas tomarem consciência das
exigências que o terceiro mundo põe à sua fé e à sua caridade. Então, a relação
entre a Igreja e a riqueza material será restaurada na sua evangélica verdade;
a Igreja voltará a ser no mundo um “sinal” para todos os que têm fome de pão e
de vida eterna.
MISSA
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ANTÍFONA DE
ENTRADA – Salmo 67, 6-7.36
Deus vive na sua morada santa,
Ele prepara uma casa para o pobre.
É a força e o vigor do seu povo.
ORAÇÃO COLECTA
Deus, protector dos que em Vós esperam, sem Vós nada tem
valor, nada é santo. Multiplicai sobre nós a vossa misericórdia, para que,
conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens temporais que possamos aderir
desde já aos bens eternos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
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LEITURA I – 2 Reis
4, 42-44
«Comerão e ainda há-de sobrar»
A liturgia continua
em si a mesma linha de pensamento e até de acção da Sagrada Escritura. Assim,
hoje, faz-nos ler duas passagens semelhantes, uma do Antigo, outra do Novo
Testamento: duas multiplicações do pão. Em ambas se pode ver o mesmo dedo de
Deus, amigo dos homens, capaz de lhes dar o alimento de que precisam, e, ao
mesmo tempo, em ambas se manifesta que é Ele quem está sempre nos gestos e nas
palavras dos que actuam e falam em seu nome.
Leitura
do Segundo Livro dos Reis
Naqueles
dias, veio um homem da povoação de Baal-Salisa e trouxe a Eliseu, o homem de
Deus, pão feito com os primeiros frutos da colheita. Eram vinte pães de cevada
e trigo novo no seu alforge. Eliseu disse: «Dá-os a comer a essa gente». O
servo respondeu: «Como posso com isto dar de comer a cem pessoas?». Eliseu
insistiu: «Dá-os a comer a essa gente, porque assim fala o Senhor: ‘Comerão e
ainda há-de sobrar’». Deu-lhos e eles comeram, e ainda sobrou, segundo a
palavra do Senhor.
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL
– Salmo 144 (145), 10-11.15-16.17-18 (R. cf. 16)
Refrão: Abris, Senhor,
as vossas mãos e saciais a nossa fome. (Repete-se).
Graças Vos dêem, Senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos. (Refrão)
Todos têm os olhos postos em Vós,
e a seu tempo lhes dais o alimento.
Abris as vossas mãos
e todos saciais generosamente. (Refrão)
O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade. (Refrão)
LEITURA II – Ef 4,
1-6
«Um só
Corpo, um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo»
Durante alguns
domingos, sete, vamos ler a Epístola aos Efésios. É uma carta maravilhosa,
escrita, como algumas outras, da prisão, e em que se aprofunda, de maneira
particular, o mistério de Cristo e a vida vivida segundo esse mistério. Hoje
insiste-se na unidade que deve reinar entre os cristãos, unidade não apenas de
fora, mas de coração, porque todos somos um só, participantes da unidade de
Deus, que d’Ele nos vem por Cristo.
Leitura
da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
Irmãos:
Eu, prisioneiro pela causa do Senhor, recomendo-vos que vos comporteis segundo
a maneira de viver a que fostes chamados: procedei com toda a humildade,
mansidão e paciência; suportai-vos uns aos outros com caridade; empenhai-vos em
manter a unidade de espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só
Espírito, como há uma só esperança na vida a que fostes chamados. Há um só
Senhor, uma só fé, um só Baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima
de todos, actua em todos e em todos Se encontra.
Palavra do Senhor
ALELUIA – Lc 7, 16
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Apareceu entre nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo. (Refrão)
EVANGELHO – Jo 6,
1-15
«Distribuiu-os e
comeram quanto quiseram»
A
multiplicação dos pães situa-se próximo da Páscoa. Hoje lemos o facto; nos dias
seguintes ouviremos o comentário, a catequese que o próprio Senhor Jesus fará
deste facto. Mas a multiplicação dos pães e dos peixes é apresentada nos termos
da celebração eucarística. Depois da catequese sobre o Baptismo na fala com
Nicodemos, depois da referência constante ao Espírito Santo, começamos hoje a
catequese sobre a Eucaristia. Estamos no ambiente da iniciação cristã.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele
tempo, Jesus partiu para o outro lado do mar da Galileia, ou de Tiberíades.
Seguia-O numerosa multidão, por ver os milagres que Ele realizava nos doentes.
Jesus subiu a um monte e sentou-Se aí com os seus discípulos. Estava próxima a
Páscoa, a festa dos judeus. Erguendo os olhos e vendo que uma grande multidão
vinha ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para
lhes dar de comer?». Dizia isto para o experimentar, pois Ele bem sabia o que
ia fazer. Respondeu-Lhe Filipe: «Duzentos denários de pão não chegam para dar
um bocadinho a cada um». Disse-Lhe um dos discípulos, André, irmão de Simão
Pedro: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas
que é isso para tanta gente?». Jesus respondeu: «Mandai-os sentar». Havia muita
erva naquele lugar e os homens sentaram-se em número de uns cinco mil. Então,
Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados,
fazendo o mesmo com os peixes; e comeram quanto quiseram. Quando ficaram
saciados, Jesus disse aos discípulos: «Recolhei os bocados que sobraram, para
que nada se perca». Recolheram-nos e encheram doze cestos com os bocados dos
cinco pães de cevada que sobraram aos que tinham comido. Quando viram o milagre
que Jesus fizera, aqueles homens começaram a dizer: «Este é, na verdade, o
Profeta que estava para vir ao mundo». Mas Jesus, sabendo que viriam buscá-l’O
para O fazerem rei, retirou-Se novamente, sozinho, para o monte.
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS
OBLATAS
Aceitai, Senhor, os dons que recebemos da vossa generosidade e trazemos
ao vosso altar, e fazei que estes sagrados mistérios, por obra da vossa graça, nos
santifiquem na vida presente e nos conduzam às alegrias eternas.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA
COMUNHÃO – Salmo 102, 2
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças os seus benefícios.
Ou – Mt 5, 7-8
Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus.
ORAÇÃO DEPOIS DA
COMUNHÃO
Senhor, que nos destes a graça de participar neste divino
sacramento, memorial perene da paixão do vosso Filho, fazei que este dom do seu
amor infinito sirva para a nossa salvação.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.