sábado, 27 de maio de 2017

TODO O PODER ME FOI DADO NO CÉU E NA TERRA




7.º Domingo da Páscoa

O destino do homem novo

Interpretando teologicamente a Ascensão de Jesus, recomendam os anjos que não se fique a olhar para o céu, mas que se espere e prepare a volta gloriosa do Senhor. Esta é, até ao fim dos tempos, a missão da Igreja, em tensão entre o visível e o invisível, entre a realidade presente e a futura cidade para a qual caminhamos.

O homem à direita de Deus
A fórmula do nosso Credo: “Ressuscitou, subiu aos céus, está sentado à direita do Pai”, exprime a fé pessoal da Igreja no destino de Jesus de Nazaré. Este homem, com o qual os apóstolos “comeram e beberam” durante a sua existência terrena, “tornou-se Senhor” depois da sua morte, porque o Pai o associou definitivamente à sua vida, ao seu poder sobre os homens e sobre o mundo. Pensando nesta realidade, podem-se compreender as expressões de entusiasmo dos antigos cristãos: “A ascensão do Cristo é a nossa ascensão; já que o Corpo é convidado a elevar-se até à glória em que o precedeu a cabeça, vamos cantar a nossa alegria, expandir em acção de graças todo o nosso júbilo. Hoje, não apenas conquistamos o paraíso, mas, em Cristo, penetramos nos mais altos céus” (S. Leão Magno).

O céu
Afirmar que a humanidade, na pessoa de Cristo, já está no céu, significa contestar as imagens espontâneas de um céu “espacial” (lá em cima, para além das estrelas) e a de uma felicidade eterna que começaria repentinamente, depois desta vida no tempo. Para Jesus, o céu é a participação plena na vida de Deus, de um homem verdadeiro, possuindo a mesma matéria e a mesma história de todos nós; uma relação nova entre o Criador e a criatura numa total transparência, livre dos limites e das dificuldades da condição terrena. Para nós será assim um dia (exceptuando o carácter único da relação entre o Pai e o Filho), quando se manifestar abertamente aquilo que já somos; quando, pelo conhecimento e o amor, o corpo não for mais obstáculo, mas meio perfeito de comunicação.
Um céu assim não é simplesmente a “recompensa” de uma vida justa e boa, porque “os sofrimentos do momento presente não são comparáveis com a glória futura que será revelada em nós” (Rm 8,18). Nem é tampouco um narcótico para pessoas passivas e resignadas, um álibi para o compromisso de trabalhar neste mundo pela realização (mesmo que imperfeita) daqueles valores de liberdade, justiça, paz, fraternidade, comunhão, vida, amor, alegria, que constituem a bem-aventurança do homem completo segundo o plano de Deus. Uma comunidade dos que crêem e caminham nesta direcção, isto é, aberta ao mundo, ao serviço de todos, torna-se testemunha da nova humanidade realizada em Cristo Jesus.

Realidade terrestre e contracto dos que crêem
A reflexão conciliar sobre a relação Igreja-mundo expressou-se na Constituição Gaudium et Spes com alguns textos fundamentais, que é bom reler: Reacção a uma apresentação alienante da religião: “Entre as formas do ateísmo hodierno não deve ser esquecida aquela que espera a libertação do homem principalmente da sua libertação económica e social. Sustenta que a religião, pela sua natureza, impede esta libertação, à medida que, estimulando a esperança do homem numa quimérica vida futura, o afastaria da construção da cidade terrestre”.
Um novo equilíbrio a ser encontrado: “Somos advertidos, com efeito de que não adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a si mesmo (cf Lc 9,25). Contudo, a esperança de uma nova terra, longe de atenuar, antes deve estimular a solicitude pelo aperfeiçoamento desta terra. Nela cresce o Corpo da nova família humana que já pode apresentar algum esboço do novo século. Por isso, ainda que o progresso terreno deva ser cuidadosamente distinguido do aumento do Reino de Cristo, é, contudo, de grande interesse para o Reino de Deus, na medida que pode contribuir para Organizar a sociedade humana”.


MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Actos 1, 11
Homens da Galileia, porque estais a olhar para o céu?
Como vistes Jesus subir ao céu, assim há-de vir na sua glória. Aleluia.

Diz-se o Glória.

ORAÇÃO COLECTA
Deus omnipotente,
fazei-nos exultar em santa alegria e em filial acção de graças, porque a ascensão de Cristo, vosso Filho, é a nossa esperança: tendo-nos precedido na glória como nossa Cabeça, para aí nos chama como membros do seu Corpo.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Actos 1, 1-11

Elevou-Se à vista deles

A Ascensão de Jesus é a última aparição do Ressuscitado que não só dá testemunho da verdade da Ressurreição, como faz compreender que Jesus vive agora na glória do Pai. A Ascensão manifesta assim o sentido pleno da Páscoa: depois de destruir o pecado e a morte com a sua Morte e Ressurreição, Jesus Cristo introduz o homem, que tinha assumido na Encarnação, na glória de seu Pai. O livro dos Actos dos Apóstolos, que apresenta a vida dos primeiros dias da Igreja, começa pela Ascensão do Senhor; assim nos é dado a compreender que a Igreja continua agora a presença de Jesus entre os homens, até que Ele venha, de novo, no fim dos tempos, para pôr o termo à história e nos sentar consigo à direita do Pai.

Leitura dos Actos dos Apóstolos
“No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, «da qual – disse Ele – Me ouvistes falar. Na verdade, João baptizou com água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?». Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 46 (47), 2-3.6-7.8-9 (R. 6)
Refrão: Por entre aclamações e ao som da trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor. (Repete-se)

Ou: Ergue-Se Deus, o Senhor, em júbilo e ao som da trombeta. (Repete-se)

Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,
porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra. (Refrão)

Deus subiu entre aclamações,
o Senhor subiu ao som da trombeta.
Cantai hinos a Deus, cantai,
cantai hinos ao nosso Rei, cantai. (Refrão)

Deus é Rei do universo:
cantai os hinos mais belos.
Deus reina sobre os povos,
Deus está sentado no seu trono sagrado. (Refrão)

LEITURA II – Ef 1, 17-23

Colocou-O à sua direita nos Céus

Sentando-se à direita do Pai, Jesus introduz a humanidade na comunhão definitiva com Deus. É este o fruto do seu sacrifício na Cruz, a comunhão com o Pai, e é a esperança de todos os que n’Ele crêem.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
“Irmãos: O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há-de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – Mt 28, 19a.20b
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Ide e ensinai todos os povos, diz o Senhor:
Eu estou sempre convosco
até ao fim dos tempos. (Refrão)

EVANGELHO – Mt 28, 16-20

Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra

A Ascensão não é uma ausência, mas uma plenitude. O Senhor não abandona os seus na terra. Ele é, pela Ressurreição, o “Senhor” que domina o Céu e a terra. E continua presente e activo no meio de nós pelo seu Espírito que está na Igreja: na palavra de Deus, na acção dos Sacramentos, no amor da comunidade dos crentes vindos de todas as nações e em cada baptizado. E para que a sua presença possa chegar a todos os homens, a todos o Senhor envia agora os seus Apóstolos.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, os Onze discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Recebei, Senhor, o sacrifício que Vos oferecemos ao celebrar a admirável ascensão do vosso Filho e, por esta sagrada permuta de dons, fazei que nos elevemos às realidades do Céu.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Mt 28, 20
Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos. Aleluia.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus eterno e omnipotente, que durante a nossa vida sobre a terra
nos fazeis saborear os mistérios divinos, despertai em nós os desejos da pátria celeste, onde já se encontra convosco, em Cristo, a nossa natureza humana.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 20 de maio de 2017

EU PEDIREI AO PAI, QUE VOS DARÁ OUTRO DEFENSOR




6.º Domingo da Páscoa

Jesus ressuscitado, testemunhado pelos cristãos que se amam

Jesus promete o Espírito de verdade a quem observa os seus mandamentos. Só quem faz o que agrada ao amigo pode dizer que está verdadeiramente em comunhão com ele. Como Cristo sempre fez o que agradava ao Pai, aceitando sem reservas o plano de salvação e executando-o com livre obediência, e assim se manifestou como o “filho bem-amado”, também quem crê em Cristo entra na mesma corrente de amor, porque responde à escolha e à predilecção do Pai. O Espírito de Cristo ilumina agora os que crêem para que continuem na sua vida a atitude filial de Cristo. Não no sentido de que todos os pormenores sejam codificados como mais importantes, mas no de que o amor filial escolha da maneira mais justa em todas as circunstâncias, com liberdade e fidelidade. Ainda não é cristão quem pratica os dez mandamentos, código elementar de comportamento moral e religioso, mas quem é fiel ao único mandamento do amor, até dar a vida em plena liberdade. Este amor faz passar da morte para a vida.

Os profetas do amor
Esse amor é também o melhor testemunho da novidade de vida trazida por Cristo, porque é de outra ordem: não só o respeito da liberdade dos outros, da sua dignidade de homens, mas o reconhecimento de uma fraternidade baseada na adopção filial. Esse amor “teologal” dá uma dimensão mais profunda ao esforço, comum aos não-cristãos, de promoção e libertação do homem, de construção de um mundo justo e pacífico.
Essa lúcida fidelidade ao homem, esse esforço incansável e desinteressado é para o cristão uma participação do amor criador de Deus, da páscoa do Senhor. Assim, “santifica o Senhor Deus em seu coração” e responde a quem lhe pergunta a razão da sua esperança, remetendo, para além de sua pessoa, Àquele que é a fonte do amor.

Vede como se amam
O amor dos cristãos dá testemunho do Cristo ressuscitado, de dois modos. Primeiramente, o amor dos cristãos entre si. “Vede como se amam” diziam os pagãos sobre os primeiros cristãos. Hoje, os novos pagãos pós-cristãos poderão dizer o mesmo ao olhar-nos? Ou o nosso comportamento só levará a menosprezar e desconfiar do cristianismo e de sua insistência sobre o amor? Certamente, falamos demais de amor, dele fazendo quase um género literário; mas, não o vivemos sinceramente entre nós, divididos como somos por preconceitos, sectarismos, guetos diversos. Em segundo lugar, o amor dos cristãos pelo mundo. Em cada época da história, a Igreja é chamada a dar uma contribuição específica. Nos séculos passados empenhou-se em salvaguardar e difundir a cultura, entregou-se às obras assistenciais em beneficio dos pobres e indigentes, fundou hospitais, cuidou da instrução do povo, criou os primeiros serviços sociais. Hoje tudo isso é em geral assumido pelo Estado, e a obra que a Igreja ofereceu durante séculos tende a terminar. O Estado deve preocupar-se com a difusão da cultura, com a instrução, a escola, a assistência e todo tipo de serviço social.
Livre dessas tarefas, cabe agora à Igreja oferecer à humanidade sua contribuição original e única: o sentido e o valor construtivo do amor.

Que pede o mundo de hoje ao cristão?
A mais importante exigência a que devemos actualmente responder não está acaso em contribuir para suprimir as divisões entre os homens e lutar contra todos os ódios? Se a humanidade, que não crê mais em Deus, se o homem racional e ateu está mais avançado em outros pontos, não estará talvez menos avançado neste?
O Estado assistencial poderá criar estruturas perfeitas. Mas de que servirão se os homens que as devem animar não forem movidos por um profundo amor pelo homem? Esta é a acção dos cristãos, engajados ao lado dos outros homens no esforço por criar um mundo novo, mais justo e com mais respeito pelo homem. Lembrar que o motor de todo verdadeiro progresso é o amor e só o amor. Sem amor, o próprio progresso pode voltar-se contra o homem e destruí-lo ou aliená-lo. Procura-se um amor que salve o homem todo: a sua dignidade, a sua liberdade, a sua necessidade de Deus, o seu destino ultra terreno. Um amor concreto, que se interesse pelos que estão perto e a quem se pode prestar algum auxílio. Um amor que vai até onde nenhum outro pode ir.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Is 48, 20
Anunciai com brados de alegria, proclamai aos confins da terra: O Senhor libertou o seu povo. Aleluia.

Diz-se o Glória.

ORAÇÃO COLECTA
Concedei-nos, Deus omnipotente, a graça de viver dignamente estes dias de alegria em honra de Cristo ressuscitado, de modo que a nossa vida corresponda sempre aos mistérios que celebramos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Actos 8, 5-8.14-17

Impunham as mãos sobre eles e eles recebiam o Espírito Santo

A partir de Jerusalém, a Igreja vai dilatar-se pelo mundo ou, de maneira diferente, os homens começam a entrar na Igreja, à medida que escutam a Palavra de Deus e a ela se convertem. Isto será fruto da pregação dos mensageiros da Palavra e da acção do Espírito Santo, que actua nesta Palavra. Continua a ser o livro dos “Actos dos Apóstolos” que nos dá testemunho desta acção do Espírito de Deus.

Leitura dos Actos dos Apóstolos
“Naqueles dias, Filipe desceu a uma cidade da Samaria e começou a pregar o Messias àquela gente. As multidões aderiam unanimemente às palavras de Filipe, ao ouvi-las e ao ver os milagres que fazia. De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando enormes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados. E houve muita alegria naquela cidade. Quando os Apóstolos que estavam em Jerusalém ouviram dizer que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João. Quando chegaram lá, rezaram pelos samaritanos, para que recebessem o Espírito Santo, que ainda não tinha descido sobre eles: só estavam baptizados em nome do Senhor Jesus. Então impunham-lhes as mãos e eles recebiam o Espírito Santo.”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 65 (66), 1-3a.4-5.6-7a.16.20 (R. 1 ou Aleluia)
Refrão: A terra inteira aclame o Senhor. (Repete-se)

Ou: Aleluia. (Repete-se)

Aclamai a Deus, terra inteira,
cantai a glória do seu nome,
celebrai os seus louvores,
dizei a Deus: «Maravilhosas são as vossas obras». (Refrão)

«A terra inteira Vos adore e celebre,
entoe hinos ao vosso nome».
Vinde contemplar as obras de Deus,
admirável na sua acção pelos homens. (Refrão)

Todos os que temeis a Deus, vinde e ouvi,
vou narrar-vos quanto Ele fez por mim.
Bendito seja Deus que não rejeitou a minha prece,
nem me retirou a sua misericórdia. (Refrão)

LEITURA II – 1 Pedro 3, 15-18

Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito

Também a palavra de S. Pedro continua a fazer como que uma catequese mistagógica, isto é, a introduzir-nos no mistério da vida cristã, que é o mistério da vida de Cristo na vida dos baptizados. Cristo morreu, depois de ter assumido a nossa situação de mortais; mas ressuscitou, e, vencendo assim a morte, deu-nos a sua vida imortal. Ele é a nossa esperança.

Leitura da Primeira Epístola de São Pedro
“Caríssimos: Venerai Cristo Senhor em vossos corações, prontos sempre a responder, a quem quer que seja, sobre a razão da vossa esperança. Mas seja com brandura e respeito, conservando uma boa consciência, para que, naquilo mesmo em que fordes caluniados, sejam confundidos os que dizem mal do vosso bom procedimento em Cristo. Mais vale padecer por fazer o bem, se for essa a vontade de Deus, do que por fazer o mal. Na verdade, Cristo morreu uma só vez pelos nossos pecados – o Justo pelos injustos – para nos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – Jo 14, 23
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Se alguém Me ama, guardará a minha palavra.
Meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada. (Refrão)

EVANGELHO – Jo 14, 15-21

Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Defensor

Jesus promete aos Apóstolos enviar-lhes o Espírito Santo, que será neles, ao mesmo tempo, o seu auxiliar e advogado no meio das dificuldades que hão-de suportar para se manterem fiéis, e o consolador e intercessor nas lutas que hão-de sofrer para vencerem os obstáculos que lhes advirão da parte do mundo. Será o Espírito Santo que lhes fará reconhecer o Senhor vivo para além da morte, na glória da ressurreição.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos. E Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Paráclito, para estar sempre convosco: Ele é o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece, mas que vós conheceis, porque habita convosco e está em vós. Não vos deixarei órfãos: voltarei para junto de vós. Daqui a pouco o mundo já não Me verá, mas vós ver-Me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis. Nesse dia reconhecereis que Eu estou no Pai e que vós estais em Mim e Eu em vós. Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Subam à vossa presença, Senhor, as nossas orações e as nossas ofertas, de modo que, purificados pela vossa graça, possamos participar dignamente
nos sacramentos da vossa misericórdia.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Jo 14, 15-16
Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que vos mando, diz o Senhor. Eu pedirei ao Pai e Ele vos dará o Espírito Santo, que permanecerá convosco para sempre. Aleluia.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor Deus todo-poderoso, que em Cristo ressuscitado nos renovais para a vida eterna, multiplicai em nós os frutos do sacramento pascal e infundi em nossos corações a força do alimento que nos salva.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 13 de maio de 2017

EU SOU A PORTA DAS OVELHAS




5.º Domingo da Páscoa

CAMINHO, VERDADE E VIDA

A afirmação de Jesus personaliza os temas bíblicos característicos e permite a toda experiência humana confrontar-se com ele sobre o sentido fundamental da existência.
“Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado como ‘homem aos homens’, ‘fala as palavras de Deus’ e consuma a obra de salvação a ele confiada pelo Pai. Eis por que ele, ao qual quem vê, vê também o Pai, pela plena presença e manifestação de si mesmo por palavras e obras, sinais e milagres, e especialmente pela sua morte e gloriosa ressurreição de entre os mortos, enviado finalmente o Espírito de verdade, aperfeiçoa e completa a revelação e a confirma com o testemunho divino de que Deus está connosco para libertar-nos das trevas do pecado e da morte e para nos ressuscitar para a vida eterna”.

Somos um povo em marcha
Cristo é o Caminho, enquanto viveu em sua pessoa a transfiguração da humanidade fiel na glória de Deus e comunica essa experiência aos seus irmãos. É casa de Deus, porque nele e com ele a humanidade encontra o Pai e vive da sua vida. Só Cristo, a cujas mãos o Pai confiou todas as coisas, pode comunicar a Vida, que é o conhecimento, cheio de amor, de Deus. Cristo é a Verdade plena e profunda de todas as religiões, de suas doutrinas, ritos, comportamentos, na medida que constituem uma busca sincera de Deus.
Se Cristo é o único caminho que leva à casa do Pai, a Igreja em marcha participa do mesmo mistério; realiza no tempo a passagem ao Pai, que o Senhor Jesus cumpriu na sua páscoa de sofrimento e de glória. Ela não é a casa definitiva, mas apenas a tenda da reunião, o ponto de referência que não deve, com escleroses ideológicas ou discriminações práticas, impedir aos homens o diálogo de salvação com Aquele que é o caminho, a verdade e a vida. Porque sobre ele, como pedra fundamental, está fundada a Igreja (2ª leitura), uma pedra que é segurança para quem nela se ancora, mas que acaba constituindo um tropeço para quem não crê.
Cristo é o “sinal de contradição” para muitos, enquanto para nós é o novo Sinai, a rocha em torno da qual nossa assembleia sela a Nova Aliança com Deus.

Cristo, hoje
A figura de Cristo hoje impressiona e seduz muitos homens do nosso tempo, especialmente os jovens, por tudo o que de humano transmite, pelo seu amor aos pobres, a sua coerência, a sua tomada de posição, levada até à morte, contra as pretensões do poder.
Mas há o risco de que esse Cristo seja visto em perspectiva simplesmente humana, deixando para segundo plano ou mesmo recusando a sua divindade. Por isso, a fé na divindade de Jesus Cristo seja particularmente defendida em nosso tempo.
Cristo não é apenas um homem, nem mesmo um homem de proporções gigantescas – escrevia um jovem. De que me serve um Deus despojado da sua divindade, grandeza, poder, e reduzido à minha própria humanidade?
Já tivemos muitos grandes homens que conseguiram até certo ponto influenciar o espírito humano e modificá-lo. Mas todos, uns mais outros menos, apresentaram as suas limitações ideológicas e existenciais, teóricas e práticas.

Uma mensagem revolucionária
“Houve um Homem há mais de dois mil anos – prossegue o jovem – que ainda hoje nos comove com a sua mensagem revolucionária”; mas, diversamente de todos os outros grandes homens – Buda, Confúcio, Maomé, Francisco de Assis, Gandhi, Marx, Martin Luther King – não disse “sou um profeta”, “sou um teórico”, “sou um reformador”, “sou um contestador”, “sou um revolucionário” (mesmo que o tenha sido). Disse simplesmente: “Eu sou o Caminho, a Verdade, a Vida”.
Cristo é o caminho: não há outras vias para atingir a Deus e para chegar ao homem.
Cristo é a verdade: na confusão ruidosa das mil verdades que só duram um dia, ele permanece como o termo último de todas as verdades.
Cristo é a vida: todos os esforços do homem para vencer as barreiras da morte só conseguem retardar de um momento o terrível encontro. Só Cristo destrói essa barreira e nos abre as portas para uma vida sem fim, em plenitude total.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 97, 1-2
Cantai ao Senhor um cântico novo, porque o Senhor fez maravilhas: aos olhos das nações revelou a sua justiça. Aleluia.

Diz-se o Glória.

ORAÇÃO COLECTA
Senhor nosso Deus, que nos enviastes o Salvador e nos fizestes vossos filhos adoptivos, atendei com paternal bondade as nossas súplicas e concedei que, pela nossa fé em Cristo, alcancemos a verdadeira liberdade e a herança eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Actos 6,1-7

Escolheram sete homens cheios do Espírito Santo...

Logo desde o princípio, os Apóstolos começaram a sentir a necessidade de chamar outras pessoas para colaborarem em diversos ministérios da comunidade cristã. O grupo dos sete, de que hoje se referem os nomes, foram dos primeiros a serem escolhidos. O seu campo de acção foi a assistência material aos mais necessitados, no caso imediato, a certo grupo de viúvas; deste modo os Apóstolos ficavam mais disponíveis para a oração e a pregação da palavra de Deus. A Igreja começava a organizar-se, conforme as necessidades o pediam.

Leitura dos Actos dos Apóstolos
“Naqueles dias, aumentando o número dos discípulos, os helenistas começaram a murmurar contra os hebreus, porque no serviço diário não se fazia caso das suas viúvas. Então os Doze convocaram a assembleia dos discípulos e disseram: «Não convém que deixemos de pregar a palavra de Deus, para servirmos às mesas. Escolhei entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, para lhes confiarmos esse cargo. Quanto a nós, vamos dedicar-nos totalmente à oração e ao ministério da palavra». A proposta agradou a toda a assembleia; e escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos aos Apóstolos e estes oraram e impuseram as mãos sobre eles. A palavra de Deus ia-se divulgando cada vez mais; o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém e obedecia à fé também grande número de sacerdotes.”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 32 (33), 1-2.4-5.18-19 (R. 22)
Refrão: Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia. (Repete-se)

Ou: Venha sobre nós a vossa bondade, porque em Vós esperamos, Senhor. (Repete-se)

Justos, aclamai o Senhor,
os corações rectos devem louvá-l’O.
Louvai o Senhor com a cítara,
cantai-Lhe salmos ao som da harpa. (Refrão)

A palavra do Senhor é recta,
da fidelidade nascem as suas obras.
Ele ama a justiça e a rectidão:
a terra está cheia da bondade do Senhor. (Refrão)

Os olhos do Senhor estão voltados;
para os que O temem, para os que esperam na sua bondade,
para libertar da morte as suas almas
e os alimentar no tempo da fome. (Refrão)

LEITURA II – 1 Pedro 2, 4-9

Vós sois geração eleita, sacerdócio real

A Igreja foi comparada pelo Senhor a um edifício. Agora, o Apóstolo desenvolve a comparação: Cristo é a Pedra, viva pela sua ressurreição e fonte de vida; os cristãos são, por sua vez, pedras vivas, vivendo da vida do Ressuscitado, que unidos a Cristo, vão formando o edifício, o templo novo, em que habita o Espírito Santo, a Igreja. Ela é a comunidade dos crentes, escolhida na continuação do povo escolhido do Antigo Testamento, comunidade sacerdotal, que há-de levar aos pagãos a Boa Nova do reino de Deus, e fazer que também eles proclamem os louvores d’Aquele que os chamou das trevas para a luz do reino de Deus.

Leitura da Primeira Epístola de São Pedro
“Caríssimos: Aproximai-vos do Senhor, que é a pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. E vós mesmos, como pedras vivas, entrai na construção deste templo espiritual, para constituirdes um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso se lê na Escritura: «Vou pôr em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa; e quem nela puser a sua confiança não será confundido». Honra, portanto, a vós que acreditais. Para os incrédulos, porém, «a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular», «pedra de tropeço e pedra de escândalo». Tropeçaram por não acreditarem na palavra, pois foram para isso destinados. Vós, porém, sois «geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus, para anunciar os louvores» d’Aquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – cf. Jo 10, 14
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Eu sou o caminho, a verdade e a vida, diz o Senhor;
ninguém vai ao Pai senão por mim. (Refrão)

EVANGELHO – Jo 14, 1-12

Eu sou o caminho, a verdade e a vida

Jesus vai deixar visivelmente os seus, a quem o mundo há-de perseguir. Procura, por isso, incutir-lhes coragem e esperança. Ele parte, mas vai para o Pai. Os seus discípulos têm todos lá também o seu lugar. A Igreja seguirá o seu Senhor. Ele mesmo é o caminho, não só pelo que ensina, mas pelo que Ele mesmo é. Ele é a verdade e vida. Mas os seus discípulos, agora ainda mais profundamente unidos a Ele, hão-de continuar no mundo a sua presença e a sua acção, agora na Igreja, enviada ao mundo, sob a acção do Espírito Santo.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não se perturbe o vosso coração. Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim. Em casa de meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse, Eu vos teria dito que vou preparar-vos um lugar? Quando Eu for preparar-vos um lugar, virei novamente para vos levar comigo, para que, onde Eu estou, estejais vós também. Para onde Eu vou, conheceis o caminho». Disse-Lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais: como podemos conhecer o caminho?». Respondeu-lhe Jesus: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim. Se Me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. Mas desde agora já O conheceis e já O vistes». Disse-Lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta». Respondeu-lhe Jesus: «Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheces, Filipe? Quem Me vê, vê o Pai. Como podes tu dizer: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim próprio; mas é o Pai, permanecendo em Mim, que faz as obras. Acreditai-Me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim; acreditai ao menos pelas minhas obras. Em verdade, em verdade vos digo: quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço e fará obras ainda maiores, porque Eu vou para o Pai».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Senhor nosso Deus, que, pela admirável permuta de dons neste sacrifício, nos fazeis participar na comunhão convosco, único e sumo bem, concedei-nos que, conhecendo a vossa verdade, dêmos testemunho dela na prática das boas obras.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Jo 15, 1.5
Eu sou a videira e vós sois os ramos, diz o Senhor. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, dá fruto abundante. Aleluia.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Protegei, Senhor, o vosso povo que saciastes nestes divinos mistérios e fazei-nos passar da antiga condição do pecado à vida nova da graça.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 6 de maio de 2017

EU SOU A PORTA DAS OVELHAS




4.º Domingo da Páscoa

Jesus ressuscitado manifesta-se nos pastores da Igreja

A figura do pastor que guia as suas ovelhas era familiar a Israel, povo nómada; alimentou em tempos sucessivos a meditação religiosa das relações pessoais com Deus. Os seus chefes deviam ser servos do único pastor; mas, com muita frequência, seguindo interesses egoístas e perspectivas políticas erróneas, traíram, desviaram, depredaram o rebanho de Deus.
Jesus apresenta-se como o pastor segundo o coração de Deus, aquele que foi anunciado pelos profetas. Conhece intimamente o Pai e transmite esse conhecimento aos seus (evangelho). Por isto, ele é a “porta”, o mediador. Conhece intimamente também a nossa condição, porque como “cordeiro” carregou os pecados de todos nós (2.ª leitura). Conduz os seus com a autoridade de quem ama e deu sua vida; e eles, na fé, escutam a sua voz e seguem as suas pegadas. Seu sacrifício “pela multidão” exclui qualquer privilégio e abre a salvação a todos os homens.

Em comunhão de fé e de amor
Antes de voltar para a direita do Pai, Jesus confiou ao colégio dos apóstolos (e particularmente a Pedro, como chefe desse colégio) o seu ministério pastoral junto àqueles que já chegaram à porta do redil e aos que ainda virão. Esse serviço torna efectiva a presença de Cristo ressuscitado no meio dos seus, prolonga-a no tempo (sucessão apostólica) e no espaço (colegialidade). Como todas as realidades que pertencem à Igreja peregrinante, o serviço pastoral é de ordem sacramental, e remonta ao Cristo Senhor que, invisível, leva os seus à comunhão de vida com o Pai através dos ministros da palavra e dos sacramentos. Especialmente na eucaristia, centro da instituição eclesial, aquele que preside à assembleia tem consciência de personificar o Cristo enquanto, associando os baptizados ao seu sacrifício, fá-los entrar numa fraternidade universal e os funde numa comunhão de amor. Mas também no “governo” e na responsabilidade perante as comunidades e cada irmão individualmente, os pastores sabem que a sua autoridade nasce da obediência a Cristo, a quem todo o corpo da Igreja deve buscar, e cuja voz lhes compete exprimir.

Pastores, guias dos irmãos
Falar hoje dos “pastores” da Igreja não é fácil, devido às incrustações históricas que deformaram as perspectivas e as mentalidades, mesmo entre os fiéis. Restituir aos pastores e às suas funções na Igreja a verdade e a autenticidade é tarefa urgente hoje.
O papa, pastor supremo, ainda é visto em muitos ambientes como um chefe político, um diplomata, a expressão de um monolitismo e de um absolutismo ultrapassados. Importa apresentá-lo como o centro de unidade e coesão da Igreja, o que realmente é.
O bispo não é um solene dignitário, um alto funcionário do espírito, distante e separado do seu rebanho; é o centro de unidade da Igreja local, o mestre e pai da família diocesana.
O pároco e os sacerdotes empenhados no ministério pastoral não são burocratas e funcionários a quem nos dirigimos para pôr em dia as nossas práticas, não são altas personagens a quem se recorre para obter cartas de recomendação, nem distribuidores de esmolas ou de sacramentos. São, acima de tudo, pastores totalmente dedicados a seu povo, a quem servem com amor, respeito e dedicação total.
Delegada a alguns homens, a autoridade na Igreja não pode ser mais do que o sinal do governo do Senhor: não é absoluta; é uma autoridade que está em relação com o Cristo ressuscitado. A obediência do cristão é uma obediência de fé, oferecida ao Senhor, reconhecido nos sinais vivos, isto e, nas pessoas que dirigem a Igreja.

Cristãos dóceis ou rebeldes?
Cabe aqui uma consideração a respeito do rebanho, isto é, da comunidade e de cada um dos que crêem; não devem unicamente ser exigentes com os seus pastores, como magistério, com a Igreja como instituição (o que corresponde à correcção fraterna); devem também sentir e manifestar-lhes o seu profundo amor, impregnado de franqueza, caridade e obediência. Ao lado do Espírito de crítica e de rebelião, que grassa mesmo no seio da Igreja, não faltam os testemunhos. O cardeal Newman, que se tornou católico por devoção à Igreja, vê-se, em certo momento, impedido de trabalhar pela própria Igreja. Menosprezado pelos protestantes, mal interpretado por muitos católicos, olhado com desconfiança por certos bispos, suspeito de heresia, carregou a sua cruz com paciência heróica, até ao momento em que pôde retomar a actividade apostólica que era o objectivo da sua vida. “Será necessário superarmo-nos, morrendo como grãozinhos de trigo no campo da Igreja, em lugar de morrermos como revolucionários diante das suas portas” (K. Rahner).

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 32, 5-6
A bondade do Senhor encheu a terra, a palavra do Senhor criou os céus. Aleluia.

Diz-se o Glória.

ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, conduzi-nos à posse das alegrias celestes, para que o pequenino rebanho dos vossos fiéis chegue um dia à glória do reino onde já Se encontra o seu poderoso Pastor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Actos 2, 14a.36-41

Deus fê-l’O Senhor e Messias

A grande afirmação da fé cristã não é apenas a de que Jesus, o homem que veio de Nazaré e foi crucificado, é mais do que um simples homem, mas antes a de que o Crucificado foi por Deus exaltado e Se tornou, na sua Ressurreição, Senhor e Cristo, isto é, o Ungido de Deus, o Messias, participando, como homem, na glória divina do Senhor. Esta fé em Jesus, Senhor e Cristo, é que há-de levar os que n’Ele crêem à conversão e, pelo Baptismo, à Igreja.

Leitura dos Actos dos Apóstolos
“No dia de Pentecostes, Pedro, de pé, com os onze Apóstolos, ergueu a voz e falou ao povo: «Saiba com absoluta certeza toda a casa de Israel que Deus fez Senhor e Messias esse Jesus que vós crucificastes». Ouvindo isto, sentiram todos o coração trespassado e perguntaram a Pedro e aos outros Apóstolos: «Que havemos de fazer, irmãos?». Pedro respondeu-lhes: «Convertei-vos e peça cada um de vós o Baptismo em nome de Jesus Cristo, para vos serem perdoados os pecados. Recebereis então o dom do Espírito Santo, porque a promessa desse dom é para vós, para os vossos filhos e para quantos, de longe, ouvirem o apelo do Senhor nosso Deus». E com muitas outras palavras os persuadia e exortava, dizendo: «Salvai-vos desta geração perversa». Os que aceitaram as palavras de Pedro receberam o Baptismo e naquele dia juntaram-se aos discípulos cerca de três mil pessoas.”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 22 (23), 1-3a.3b-4.5.6
Refrão: O Senhor é meu pastor:
nada me faltará; (Repete-se)

Ou: Aleluia. (Repete-se)

O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma. (Refrão)

Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo:
o vosso cajado e o vosso báculo; me enchem de confiança. (Refrão)

Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça
e o meu cálice transborda. (Refrão)

A bondade e a graça hão-de acompanhar-me,
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre. (Refrão)

LEITURA II – 1 Pedro 2, 20b-25

Voltastes para o pastor e guarda das vossas almas

A contemplação do mistério da Cruz há-de levar os homens que sabem olhar para ele a deixarem-se dominar pelo amor de Jesus Cristo, que deu a vida para trazer à unidade os filhos de Deus que andavam, e andam, dispersos. Jesus, pela sua Cruz, congrega os homens como o pastor congrega as ovelhas do seu rebanho. A Ele nos convertemos, porque nos deixámos conduzir pelo seu cajado de Bom Pastor.

Leitura da Primeira Epístola de São Pedro
“Caríssimos: Se vós, fazendo o bem, suportais o sofrimento com paciência, isto é uma graça aos olhos de Deus. Para isto é que fostes chamados, porque Cristo sofreu também por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos. Ele não cometeu pecado algum e na sua boca não se encontrou mentira. Insultado, não pagava com injúrias; maltratado, não respondia com ameaças; mas entregava-Se Àquele que julga com justiça. Ele suportou os nossos pecados no seu Corpo, sobre o madeiro da cruz, a fim de que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas chagas fomos curados. Vós éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes para o pastor e guarda das vossas almas.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – cf. Jo 10, 14
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Eu sou o bom pastor, diz o Senhor:
conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-Me. (Refrão)

EVANGELHO – Jo 10, 1-10

Eu sou a porta das ovelhas

A imagem do pastor é frequente na Sagrada Escritura: ela manifesta o amor e o desvelo de Deus pelos homens, ela ajuda-os a penetrar nos sentimentos do coração de Cristo, que Se entregou à morte por eles, ela faz sentir a alegria da união de uns com os outros em volta do Senhor, que não só cuida das ovelhas fiéis, mas vai à procura da ovelha perdida.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Naquele tempo, disse Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que não entra no aprisco das ovelhas pela porta, mas entra por outro lado, é ladrão e salteador. Mas aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. O porteiro abre-lhe a porta e as ovelhas conhecem a sua voz. Ele chama cada uma delas pelo seu nome e leva-as para fora. Depois de ter feito sair todas as que lhe pertencem, caminha à sua frente e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz. Se for um estranho, não o seguem, mas fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos». Jesus apresentou-lhes esta comparação, mas eles não compreenderam o que queria dizer. Jesus continuou: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. Aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por Mim será salvo: é como a ovelha que entra e sai do aprisco e encontra pastagem. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Concedei, Senhor, que em todo o tempo possamos alegrar-nos com estes mistérios pascais, de modo que o acto sempre renovado da nossa redenção seja para nós causa de alegria eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO
Ressuscitou o Bom Pastor, que deu a vida pelas suas ovelhas e Se entregou à morte pelo seu rebanho. Aleluia.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus, nosso Bom Pastor, olhai benignamente para o vosso rebanho e conduzi às pastagens eternas as ovelhas que remistes com o precioso Sangue do vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.