7.º Domingo da Páscoa
“O destino
do homem novo”
Interpretando teologicamente a Ascensão de Jesus, recomendam os anjos que
não se fique a olhar para o céu, mas que se espere e prepare a volta gloriosa
do Senhor. Esta é, até ao fim dos tempos, a missão da Igreja, em tensão entre o
visível e o invisível, entre a realidade presente e a futura cidade para a qual
caminhamos.
O homem à
direita de Deus
A fórmula do nosso Credo: “Ressuscitou, subiu aos céus, está sentado à
direita do Pai”, exprime a fé pessoal da Igreja no destino de Jesus de Nazaré.
Este homem, com o qual os apóstolos “comeram e beberam” durante a sua
existência terrena, “tornou-se Senhor” depois da sua morte, porque o Pai o
associou definitivamente à sua vida, ao seu poder sobre os homens e sobre o
mundo. Pensando nesta realidade, podem-se compreender as expressões de
entusiasmo dos antigos cristãos: “A ascensão do Cristo é a nossa ascensão; já
que o Corpo é convidado a elevar-se até à glória em que o precedeu a cabeça,
vamos cantar a nossa alegria, expandir em acção de graças todo o nosso júbilo.
Hoje, não apenas conquistamos o paraíso, mas, em Cristo, penetramos nos mais
altos céus” (S. Leão Magno).
O céu
Afirmar que a humanidade, na pessoa de Cristo, já está no céu, significa
contestar as imagens espontâneas de um céu “espacial” (lá em cima, para além
das estrelas) e a de uma felicidade eterna que começaria repentinamente, depois
desta vida no tempo. Para Jesus, o céu é a participação plena na vida de Deus,
de um homem verdadeiro, possuindo a mesma matéria e a mesma história de todos
nós; uma relação nova entre o Criador e a criatura numa total transparência,
livre dos limites e das dificuldades da condição terrena. Para nós será assim
um dia (exceptuando o carácter único da relação entre o Pai e o Filho), quando
se manifestar abertamente aquilo que já somos; quando, pelo conhecimento e o
amor, o corpo não for mais obstáculo, mas meio perfeito de comunicação.
Um céu assim não é simplesmente a “recompensa” de uma vida justa e boa,
porque “os sofrimentos do momento presente não são comparáveis com a glória
futura que será revelada em nós” (Rm 8,18). Nem é tampouco um narcótico para
pessoas passivas e resignadas, um álibi para o compromisso de trabalhar neste
mundo pela realização (mesmo que imperfeita) daqueles valores de liberdade,
justiça, paz, fraternidade, comunhão, vida, amor, alegria, que constituem a
bem-aventurança do homem completo segundo o plano de Deus. Uma comunidade dos
que crêem e caminham nesta direcção, isto é, aberta ao mundo, ao serviço de
todos, torna-se testemunha da nova humanidade realizada em Cristo Jesus.
Realidade
terrestre e contracto dos que crêem
A reflexão conciliar sobre a relação Igreja-mundo expressou-se na
Constituição Gaudium et Spes com alguns
textos fundamentais, que é bom reler: Reacção a uma apresentação alienante da
religião: “Entre as formas do ateísmo hodierno não deve ser esquecida aquela
que espera a libertação do homem principalmente da sua libertação económica e
social. Sustenta que a religião, pela sua natureza, impede esta libertação, à
medida que, estimulando a esperança do homem numa quimérica vida futura, o
afastaria da construção da cidade terrestre”.
Um novo equilíbrio a ser encontrado: “Somos advertidos, com efeito de que
não adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a si mesmo (cf Lc
9,25). Contudo, a esperança de uma nova terra, longe de atenuar, antes deve
estimular a solicitude pelo aperfeiçoamento desta terra. Nela cresce o Corpo da
nova família humana que já pode apresentar algum esboço do novo século. Por
isso, ainda que o progresso terreno deva ser cuidadosamente distinguido do
aumento do Reino de Cristo, é, contudo, de grande interesse para o Reino de
Deus, na medida que pode contribuir para Organizar a sociedade humana”.
MISSA
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ANTÍFONA DE ENTRADA – Actos 1, 11
Homens da Galileia, porque estais a olhar
para o céu?
Como vistes Jesus subir ao céu, assim há-de
vir na sua glória. Aleluia.
Diz-se o Glória.
ORAÇÃO COLECTA
Deus omnipotente,
fazei-nos exultar em
santa alegria e em filial acção de graças, porque a ascensão de Cristo, vosso
Filho, é a nossa esperança: tendo-nos precedido na glória como nossa Cabeça, para
aí nos chama como membros do seu Corpo.
Ele que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I – Actos 1, 1-11
“Elevou-Se à vista deles”
A Ascensão de Jesus é a
última aparição do Ressuscitado que não só dá testemunho da verdade da
Ressurreição, como faz compreender que Jesus vive agora na glória do Pai. A
Ascensão manifesta assim o sentido pleno da Páscoa: depois de destruir o pecado
e a morte com a sua Morte e Ressurreição, Jesus Cristo introduz o homem, que
tinha assumido na Encarnação, na glória de seu Pai. O livro dos Actos dos
Apóstolos, que apresenta a vida dos primeiros dias da Igreja, começa pela
Ascensão do Senhor; assim nos é dado a compreender que a Igreja continua agora
a presença de Jesus entre os homens, até que Ele venha, de novo, no fim dos
tempos, para pôr o termo à história e nos sentar consigo à direita do Pai.
Leitura dos Actos dos Apóstolos
“No meu primeiro livro, ó
Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o
princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo
Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a
eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas,
aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia
em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém,
mas que esperassem a promessa do Pai, «da qual – disse Ele – Me ouvistes falar.
Na verdade, João baptizou com água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito
Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a
perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?». Ele
respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai
determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que
descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia
e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e
uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto
Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que
disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus,
que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir
para o Céu».”
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 46 (47),
2-3.6-7.8-9 (R. 6)
Refrão: Por entre aclamações e ao som da trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor. (Repete-se)
Ou: Ergue-Se
Deus, o Senhor, em júbilo e ao som da trombeta. (Repete-se)
Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,
porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra. (Refrão)
Deus subiu entre
aclamações,
o Senhor subiu ao
som da trombeta.
Cantai hinos a
Deus, cantai,
cantai hinos ao
nosso Rei, cantai. (Refrão)
Deus é Rei do
universo:
cantai os hinos
mais belos.
Deus reina sobre os
povos,
Deus está sentado
no seu trono sagrado. (Refrão)
LEITURA II – Ef 1, 17-23
“Colocou-O
à sua direita nos Céus”
Sentando-se à
direita do Pai, Jesus introduz a humanidade na comunhão definitiva com Deus. É
este o fruto do seu sacrifício na Cruz, a comunhão com o Pai, e é a esperança
de todos os que n’Ele crêem.
Leitura da Epístola do apóstolo
São Paulo aos Efésios
“Irmãos: O Deus de Nosso Senhor
Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de
revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração,
para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da
sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós
os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo,
que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo
o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é
pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há-de vir. Tudo
submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a
Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.”
Palavra do Senhor
ALELUIA – Mt 28, 19a.20b
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Ide e ensinai todos
os povos, diz o Senhor:
Eu estou sempre
convosco
até ao fim dos
tempos. (Refrão)
EVANGELHO – Mt 28, 16-20
“Todo
o poder Me foi dado no Céu e na terra”
A Ascensão não é uma
ausência, mas uma plenitude. O Senhor não abandona os seus na terra. Ele é,
pela Ressurreição, o “Senhor” que domina o Céu e a terra. E continua presente e
activo no meio de nós pelo seu Espírito que está na Igreja: na palavra de Deus,
na acção dos Sacramentos, no amor da comunidade dos crentes vindos de todas as
nações e em cada baptizado. E para que a sua presença possa chegar a todos os
homens, a todos o Senhor envia agora os seus Apóstolos.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, os Onze
discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que Jesus lhes indicara.
Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e
disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as
nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao
fim dos tempos».”
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Recebei, Senhor, o sacrifício que Vos
oferecemos ao celebrar a admirável ascensão do vosso Filho e, por esta sagrada
permuta de dons, fazei que nos elevemos às realidades do Céu.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Mt 28, 20
Eu estou
sempre convosco até ao fim dos tempos. Aleluia.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus eterno e
omnipotente, que durante a nossa vida sobre a terra
nos fazeis saborear
os mistérios divinos, despertai em nós os desejos da pátria celeste, onde já se
encontra convosco, em Cristo, a nossa natureza humana.
Ele que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.