quinta-feira, 30 de outubro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO XXXI do Tempo Comum




(Domingo, 2 de Novembro de 2014)

Nota Histórica

Depois de ter cantado a glória e a felicidade dos Santos que «gozam em Deus a serenidade da vida imortal», a Liturgia, desde o início do século XI, consagra este dia à memória dos fiéis defuntos.

É uma continuação lógica da festa de Todos os Santos. Se nos limitássemos a lembrar os nossos irmãos Santos, a Comunhão de todos os crentes em Cristo não seria perfeita. Quer os fiéis que vivem na glória, quer os que vivem na purificação, preparando-se para a visão de Deus, são todos membros de Cristo pelo Baptismo. Continuam todos unidos a nós. A Igreja peregrina não podia, por isso, ao celebrar a Igreja da glória, esquecer a Igreja que se purifica no Purgatório.

É certo que a Igreja, todos os dias, na Missa, ao tornar sacramentalmente presente o Mistério Pascal, lembra «aqueles que nos precederam com o sinal da fé e dormem agora o sono da paz» (Prece Eucarística 1). Mas, neste dia, essa recordação é mais profunda e viva.

O Dia de Fiéis Defuntos não é dia de luto e tristeza. É dia de mais íntima comunhão com aqueles que «não perdemos, porque simplesmente os mandámos à frente» (S. Cipriano). É dia de esperança, porque sabemos que os nossos irmãos ressurgirão em Cristo para uma vida nova. É, sobretudo, dia de oração, que se revestirá da maior eficácia, se a unirmos ao Sacrifício de reconciliação, a Missa.


(Primeira Missa)

Vinde a Mim...Eu vos aliviarei


LEITURA I – Job 19, 1.23-27a


Eu sei que o meu Redentor está vivo


Leitura do Livro de Job
“Job tomou a palavra e disse:
«Quem dera que as minhas palavras fossem escritas num livro, ou gravadas em bronze com estilete de ferro, ou esculpidas em pedra para sempre! Eu sei que o meu Redentor está vivo e no último dia Se levantará sobre a terra. Revestido da minha pele, estarei de pé; na minha carne verei a Deus. Eu próprio O verei, meus olhos O hão-de contemplar».”

LEITURA II – 2 Cor 4, 14 – 5, 1

As coisas visíveis são passageiras; as invisíveis são eternas

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
“Como sabemos, irmãos, Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há-de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele.
Tudo isto é por vossa causa, para que uma graça mais abundante multiplique as acções de graças de um maior número de cristãos para glória de Deus. Por isso, não desanimamos. Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando, o homem interior vai-se renovando de dia para dia.
Porque a ligeira aflição dum momento prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória. Não olhamos para as coisas visíveis, olhamos para as invisíveis: as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas. Bem sabemos que, se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna, que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens.”

EVANGELHO Mt 11, 25-30

Vinde a Mim...Eu vos aliviarei

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus Naquele tempo, Jesus exclamou: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Tudo Me foi dado por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».”



sexta-feira, 24 de outubro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO XXX do Tempo Comum





(Domingo, 26 de Outubro de 2014)


Amarás o Senhor teu Deus e o próximo como a ti mesmo

LEITURA I – Ex 22, 20-26

Se fizerdes algum mal à viúva e ao órfão, inflamar-se-á a minha ira contra vós

O amor de Deus concretiza-se logo no amor do próximo. Esta leitura assinala algumas situações particularmente exigentes, onde se há-de tornar concreto este amor do próximo. A primeira expressão do amor ao próximo é a justiça, sem a qual não há caridade. E não se perca de vista que este texto é do Antigo Testamento, ainda anterior ao próprio Evangelho.

Leitura do Livro do Êxodo
“Eis o que diz o Senhor: «Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egipto. Não maltratarás a viúva nem o órfão[1]. Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor; inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos[2]. Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que vive junto de ti, não procederás com ele como um usurário, sobrecarregando-o com juros. Se receberes como penhor a capa do teu próximo, terás de lha devolver até ao pôr-do-sol, pois é tudo o que ele tem para se cobrir, é o vestuário com que cobre o seu corpo. Com que dormiria ele? Se ele Me invocar, escutá-lo-ei, porque sou misericordioso».”

LEITURA II – 1 Tes 1, 5c-10

Convertestes-vos dos ídolos para servir a Deus e esperar o seu Filho

Esta leitura é como que um certificado de vida cristã, passado pelo Apóstolo à sua querida comunidade de Tessalónica, e que poderá servir de modelo e estímulo a outras Igrejas. Assim ela sirva ainda hoje para a nossa comunidade.

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
“Irmãos: Vós sabeis como procedemos no meio de vós, para vosso bem[3]. Tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo; e assim vos tornastes exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia. Porque, partindo de vós, a palavra de Deus ressoou não só na Macedónia e na Acaia, mas em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus, de modo que não precisamos de falar sobre ela[4]. De facto, são eles próprios que relatam o acolhimento que tivemos junto de vós e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos Céus o seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livrará da ira que há-de vir[5].”

EVANGELHO Mt 22, 34-40

Amarás o Senhor teu Deus e o próximo como a ti mesmo

Uma pergunta frontal posta a Jesus, embora com má intenção, foi ocasião para o Senhor afirmar, de maneira solene e inequívoca, a verdadeira hierarquia dos valores à luz de Deus: o mandamento fundamental é o do amor a Deus e ao próximo. Ao ser interrogado sobre qual era o maior mandamento, Jesus acrescenta também qual é o segundo, não fosse julgar-se que, ao pretender amar-se a Deus, se poderia humilhar o próximo, como parece ter sido intenção daquele que O interrogou.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’[6]. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’[7]. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».”





[1] Estrangeiro, viúva, órfão, pobre. É o rol das chamadas "personae miserabiles", isto é, pessoas consideradas em difícil situação jurídica, social e económica (23,9; Lv 19,10; 23,22). Dt 16,11 inclui neste rol os levitas, certamente pelo facto da centralização do culto em Jerusalém ter atirado muitos deles para o desemprego (Dt 16,9-12 nota). Estrangeiro residente. Alude-se aqui aos descendentes de José, que não conheceram a opressão por parte do Egipto, mas um clima de vizinhança e amizade decorrente do seu estatuto de "estrangeiros residentes" (23,9; Dt 23,8).
[2] Viúva, órfão. Numa sociedade em que a família era considerada como propriedade do chefe de família, se este desaparecia, a viúva e os órfãos ficavam sem protecção e sem direitos, presa fácil da exploração.
[3] O nosso Evangelho, expressão frequente em Paulo, é aqui repetida: o Evangelho de Deus (2,2.8.9); o Evangelho (2,4); o Evangelho de Cristo (3,2). "Evangelho" traduz, ao mesmo tempo, o acto e o conteúdo do anúncio e, por isso, se justifica a diversidade de nosso e de Deus. Um aspecto particular é o do anúncio da salvação aos pagãos. Êxito significa plenitude, total cumprimento a que conduz a acção de Deus.
[4] À acção dos evangelizadores do v.5 responde o acolhimento da Palavra por parte dos destinatários, terceiro motivo da acção de graças. A evangelização realiza-se num dinamismo de imitação: os evangelizadores imitam o Senhor e as comunidades imitam aqueles ou outras comunidades. Ao acolherem a Palavra pregada pelos Apóstolos, fazem com que esta corra veloz, seja palavra do Senhor para outros crentes. A Palavra torna-se protagonista da missão (Act 6,7; 2 Ts 3,1).
[5] Fórmula kerigmática, de carácter narrativo, que resume a pregação aos pagãos (conversão da idolatria ao Deus vivo para o servir). Nesta Carta a tensão escatológica é nota dominante. Ira que está para vir. O termo ira reaparecerá em 2,16 e 5,9.
[6] A questão sobre o mandamento do amor, posta por um legista (v.35-40), faz parte das narrações de Mt sobre os conflitos de Jesus com os seus adversários. Jesus atribui igual importância aos dois mandamentos, já conhecidos do AT (Lv 19,18; Dt 6,5), e concentra neles todo o conteúdo da Lei.
[7] A observância do segundo mandamento não é alternativa, mas entitativa: amar o próximo não substitui o amor a Deus, e vice-versa. A medida própria do amor do próximo participa da totalidade do amor de Deus: como a ti mesmo (Lv 19,18), isto é, amar na mesma medida o próximo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO XXIX do Tempo Comum




(Domingo, 19 de Outubro de 2014)


Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus

LEITURA I – Is 45, 1.4-6

Tomei Ciro pela mão direita para subjugar diante dele as nações

O Evangelho de hoje vai afirmar a relação entre o poder temporal e o poder espiritual. Mas Deus é Senhor de todos os homens, e nada nem ninguém é autónomo em relação a Ele. Deus realiza os seus desígnios, que são sempre de salvação, através dos homens e das instituições humanas, por vezes até de maneira muito clara, como se mostra nesta leitura: o rei da Pérsia, Ciro, um pagão, é instrumento de Deus para a libertação do seu povo.

Leitura do Livro de Isaías
“Assim fala o Senhor a Ciro, seu ungido[1], a quem tomou pela mão direita, para subjugar diante dele as nações e fazer cair as armas da cintura dos reis, para abrir as portas à sua frente, sem que nenhuma lhe seja fechada: «Por causa de Jacob, meu servo, e de Israel, meu eleito, Eu te chamei pelo teu nome e te dei um título glorioso, quando ainda não Me conhecias. Eu sou o Senhor e não há outro; fora de Mim não há Deus. Eu te cingi, quando ainda não Me conhecias, para que se saiba, do Oriente ao Ocidente, que fora de Mim não há outro. Eu sou o Senhor e mais ninguém».”

LEITURA II – 1 Tes 1, 1-5b

Recordamos a vossa fé, caridade e esperança

Começamos hoje a leitura da primeira epístola aos Tessalonicenses, a comunidade cristã existente na cidade de Tessalónica (ou Salónica), no norte da Grécia. Como de costume, S. Paulo começa com uma acção de graças, hoje, por verificar o progresso espiritual desses cristãos. Como podemos observar, os Apóstolos pregavam e escreviam como verdadeiros mestres e pastores, e não apenas como moralistas ou legisladores. E sempre será esta a verdadeira finalidade da pregação na Igreja: levar os seus filhos a crescerem nos caminhos do reino de Deus, o que é para ela fonte de alegria e de acção de graças.

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
“Paulo, Silvano e Timóteo à Igreja dos Tessalonicenses, que está em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: A graça e a paz estejam convosco[2]. Damos continuamente graças a Deus por todos vós, ao fazermos menção de vós nas nossas orações[3]. Recordamos a actividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo, na presença de Deus, nosso Pai. Nós sabemos, irmãos amados por Deus, como fostes escolhidos. O nosso Evangelho[4] não vos foi pregado somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a acção do Espírito Santo.”

EVANGELHO Mt 22, 15-21

Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus

Perante o poder temporal, aqui representado por César, o imperador de Roma – que ao tempo de Jesus imperava também na Terra Santa – a atitude de Jesus é de respeito pela sua autonomia, mas reivindica, ao mesmo tempo, as exigências primordiais do serviço de Deus, às quais nada se pode antepor. E, ao mesmo tempo, denuncia a falta de sinceridade dos que O interrogavam; sem ela, ninguém se poderá dirigir a Deus.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes acepção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-Lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».”





[1] Seu ungido, lit., "seu Messias" ou "seu consagrado". Em grego, diz-se Christós (Cristo). Ungidos eram apenas os reis de Israel, mas uma vez que Ciro é o agente de Deus na libertação de Israel, recebe também o título de ungido (messias).
[2] Paulo, Silvano e Timóteo. Aparece aqui o carácter colegial da Carta. O remetente é um conjunto de três pessoas associadas antes na evangelização (Act 15-18; 16,1 nota; Rm 16,21-23 nota; 1 Cor 4,17 nota; 2 Cor 1,19; Fl 1,1-2 nota; 2 Ts 1,1; 1 Tm 1,2). Por isso, ao longo da Carta predomina o plural nós/vós. O singular, referido a Paulo, aparece apenas em 2,18; 3,5 e 5,27. O carácter eclesial transparece no destinatário, a igreja dos tessalonicenses. A Carta destina-se a ser lida na assembleia e, por isso, a breve saudação inicial e final não é convencional mas tem sabor de bênção litúrgica.
[3] É uma longa frase com um único verbo principal: damos continuamente graças; todos os outros verbos são particípios. Sublinha-se, assim, a atitude fundamental que é de intenso louvor, de profunda gratidão e de claro reconhecimento de que Deus é o protagonista. A actividade da fé evoca o controverso tema da fé sem obras (Rm 4,1-25). A contraposição obras/fé deve ser vista no seu contexto particular (Gl 2,16-17; 5,6; 1 Cor 13,13; Tg 2,14-26). A fé aparece inseparável da caridade e da esperança e a vitalidade das três provém de Deus.
[4]O nosso Evangelho”, expressão frequente em Paulo, é aqui repetida: o Evangelho de Deus (2,2.8.9); o Evangelho (2,4); o Evangelho de Cristo (3,2). "Evangelho" traduz, ao mesmo tempo, o acto e o conteúdo do anúncio e, por isso, se justifica a diversidade de nosso e de Deus. Um aspecto particular é o do anúncio da salvação aos pagãos (Rm 1,16-17 nota; 1 Cor 1,17; 2 Cor 2,12; Gl 1,6-10; Fl 1,27). Êxito significa plenitude, total cumprimento a que conduz a acção de Deus.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO XXVIII do Tempo Comum





(Domingo, 12 de Outubro de 2014)


Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos


LEITURA I – Is 25, 6-10a

O Senhor preparará um banquete e enxugará as lágrimas de todas as faces

O banquete é, com frequência, na Sagrada Escritura, figura da reunião dos homens no reino de Deus. Assim como também hoje se lê em Isaías, aí o banquete é o lugar de encontro de todos os povos, todos eles chamados à comunhão na montanha onde o Senhor habita, o Monte Sião, figura da Igreja de Cristo.

Leitura do Livro de Isaías
“Sobre este monte, o Senhor do Universo há-de preparar para todos os povos um banquete[1] de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos. Sobre este monte, há-de tirar o véu que cobria todos os povos, o pano que envolvia todas as nações; destruirá a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e fará desaparecer da terra inteira o opróbrio que pesa sobre o seu povo. Porque o Senhor falou. Dir-se-á naquele dia: «Eis o nosso Deus, de quem esperávamos a salvação; é o Senhor, em quem pusemos a nossa confiança. Alegremo-nos e rejubilemos, porque nos salvou. A mão do Senhor pousará sobre este monte».”

LEITURA II – Filip 4, 12-14.19-20

Tudo posso n’Aquele que me conforta

A experiência da prisão serviu a São Paulo para ele sentir mais profundamente que Cristo era tudo na vida; e por isso, ao mesmo tempo que agradece aos destinatários da sua carta o que eles lhe tinham enviado, afirma que em Cristo encontra toda a sua força e confiança.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
“Irmãos: Sei viver na pobreza e sei viver na abundância. Em todo o tempo e em todas as circunstâncias, tenho aprendido a ter fartura e a passar fome, a viver desafogadamente e a padecer necessidade. Tudo posso n’Aquele que me conforta. No entanto, fizestes bem em tomar parte na minha aflição[2]. O meu Deus proverá com abundância a todas as vossas necessidades, segundo a sua riqueza e magnificência, em Cristo Jesus. Glória a Deus, nosso Pai, pelos séculos dos séculos. Ámen.”

EVANGELHO Mt 22, 1-14

Convidai para as bodas todos os que encontrardes

Uma vez mais, a parábola do banquete serve para simbolizar o reino de Deus. Jesus anuncia aos seus ouvintes que o Evangelho, por eles rejeitado, vai ser anunciado a outros, e, destes, muitos o hão-de aceitar. Não é já a raça de Abraão segundo a carne que há-de encher a sala do banquete, mas todos aqueles que, pela fé, se hão-de tornar filhos de Abraão. A todos os povos se abrem as portas do reino dos Céus.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, disse-lhes: «O reino dos Céus pode comparar-se a um rei que preparou um banquete nupcial[3] para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos, tudo está pronto. Vinde às bodas’. Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio; os outros apoderaram-se dos servos, trataram-nos mal e mataram-nos. O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos, que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade. Disse então aos servos: ‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes’[4]. Então os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala do banquete encheu-se de convidados. O rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’. Mas ele ficou calado. O rei disse então aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes’. Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos»[5].”





[1] Banquete. A imagem do banquete é um paradigma bíblico para designar a felicidade escatológica 
[2] Os filipenses ajudaram Paulo com a sua generosidade (Act 18,3 nota; Rm 15,22-33 nota; 1 Cor 16,1-4 nota; 2 Cor 8,1-6.10-15).
[3] A parábola do banquete nupcial não tem paralelo senão em Lc 14,16-24. Apesar das diferenças entre os dois textos, existe em ambos a mesma cor polémica e abundantes traços alegóricos. Aliás, o acento da parábola não recai sobre o filho do Rei, mas sobre a recusa do convite pelos primeiros convidados. As bodas são um símbolo frequente na Bíblia para designar a feliz comunhão de Deus com o seu povo. O Rei era uma imagem habitual para falar de Deus.
[4] Saídas dos caminhos ou cruzamentos, fora da cidade; maus e bons: referência à universalidade do último convite e à totalidade das pessoas para terem parte na alegria do Reino.
[5] Estas palavras enigmáticas enquadram-se melhor a seguir ao v.10, podendo ver-se aí uma alusão aos judeus, os primeiros convidados à salvação. Depois dos v.11-13, dirigem-se contra aqueles que abusam do convite gratuito de Deus, sendo, por isso, rejeitados do Reino (20,16).

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – DOMINGO XXVII do Tempo Comum




(Domingo, 5 de Outubro de 2014)


Arrendará a vinha a outros vinhateiros

LEITURA I – Is 5, 1-7

A vinha do Senhor do Universo é a casa de Israel

Esta primeira leitura ajuda-nos a compreender depois a do Evangelho, que nos vai falar dos vinhateiros homicidas. A vinha de que uma e outra leitura nos fala é a casa de Israel, o povo de Deus. O Senhor cuida deste povo como o bom agricultor cuida das suas vinhas. Mas este povo nem sempre correspondeu ao carinho que o Senhor teve para com ele.

Leitura do Livro de Isaías
[1]Vou cantar, em nome do meu amigo, um cântico de amor à sua vinha. O meu amigo possuía uma vinha numa fértil colina. Lavrou-a e limpou-a das pedras, plantou-a de cepas escolhidas. No meio dela ergueu uma torre e escavou um lagar. Esperava que viesse a dar uvas, mas ela só produziu agraços. E agora, habitantes de Jerusalém, e vós, homens de Judá, sede juízes entre mim e a minha vinha: Que mais podia fazer à minha vinha que não tivesse feito? Quando eu esperava que viesse a dar uvas, porque é que apenas produziu agraços? Agora vos direi o que vou fazer à minha vinha: vou tirar-lhe a vedação e será devastada; vou demolir-lhe o muro e será espezinhada. Farei dela um terreno deserto: não voltará a ser podada nem cavada, e nela crescerão silvas e espinheiros; e hei-de mandar às nuvens que sobre ela não deixem cair chuva. A vinha do Senhor do Universo é a casa de Israel e os homens de Judá são a plantação escolhida. Ele esperava rectidão e só há sangue derramado; esperava justiça e só há gritos de horror.”

LEITURA II – Filip 4, 6-9

Ponde isto em prática e o Deus da paz estará convosco

No meio de todos os valores deste mundo, que realmente o sejam, os cristãos não devem ter medo de os apreciar e deles se servirem. Tudo são dons do Deus da paz, Criador e Senhor de todos eles. Assim respondia o Apóstolo aos primeiros cristãos que viviam no meio dos pagãos e não sabiam, por vezes, como haviam de proceder em relação aos valores que encontravam na civilização deles.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
“Irmãos: Não vos inquieteis com coisa alguma. Mas, em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e acções de graças. E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. [2]Quanto ao resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro e nobre, tudo o que é justo e puro, tudo o que é amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor é o que deveis ter no pensamento. O que aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim é o que deveis praticar. E o Deus da paz estará convosco.”

EVANGELHO Mt 21, 33-43

Arrendará a vinha a outros vinhateiros

Usando a mesma comparação que já encontrámos na primeira leitura, Jesus como que faz o julgamento do seu povo, que, no fim de ter sido, já tantas vezes, infiel a Deus ao longo do Antigo Testamento, agora O rejeita a Ele, o próprio Filho que Deus lhe enviou. O resultado será que outros virão a aproveitar do dom que eles rejeitaram. Foi assim que os pagãos, estranhos até então ao povo de Deus, vieram a entrar no seu povo, a Igreja de Cristo, a que hoje pertencemos.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Ouvi outra parábola: Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e levantou uma torre; depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. Quando chegou a época das colheitas, mandou os seus servos aos vinhateiros para receber os frutos. Os vinhateiros, porém, lançando mão dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram-no. Tornou ele a mandar outros servos, em maior número que os primeiros. E eles trataram-nos do mesmo modo. Por fim, mandou-lhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Respeitarão o meu filho’. Mas os vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; matemo-lo e ficaremos com a sua herança’. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. [3]Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?». Eles responderam: «Mandará matar sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entreguem os frutos a seu tempo». Disse-lhes Jesus:[4] «Nunca lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos’? Por isso vos digo: Ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo[5] que produza os seus frutos».”





[1] Este cântico pela vinha descreve em imagem poética o drama religioso de Israel: povo amado por Deus, que responde com ingratidão. A simbólica da vinha, escolhida e respeitada, é muito comum nos profetas (3,14; Jr 2,21; 5,10; 6,9; 12,10; Ez 15,1-8; 17,3-10; 19,10-14).
[2] Um programa de vida cristã para todos os tempos.
[3] Como a vinha designa o Reino de Deus, os vinhateiros representam o conjunto do povo de Israel.
[4] A citação do Sl 118,22-23 orienta a parábola num sentido cristológico; mais que de um anúncio da morte de Jesus e da sorte do Reino, trata-se de contemplar a obra admirável de Deus que ressuscitou o seu Filho (Act 4,11; 1 Pe 2,7).
[5] Versículo próprio de Mt, onde povo designa a nova geração dos crentes.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

NO CORAÇÃO DA IGREJA EU SEREI O AMOR




(Da autobiografia de Santa Teresa do Menino Jesus – Manuscrits autobiographiques, Lisieux 1957, 227-229) (Sec. XIX)

Não obstante a minha pequenez, quereria iluminar as almas como os Profetas, os Doutores, sentia a vocação de ser Apóstolo... Queria ser missionário, não apenas durante alguns anos mas queria tê lo sido desde o princípio do mundo e continuar até à consumação dos séculos. Mas acima de tudo, ó meu amado Salvador, quereria derramar o sangue por Vós até à última gota.
Porque durante a oração estes desejos me faziam sofrer um autêntico martírio, abri as epístolas de São Paulo a fim de encontrar uma resposta. Casualmente fixei-me nos capítulos XII e XIII da primeira epístola aos Coríntios; e li no primeiro que nem todos podem ser ao mesmo tempo Apóstolos, Profetas, Doutores, etc.... que a Igreja é formada por membros diferentes e que os olhos não podem ao mesmo tempo ser as mãos. A resposta era clara, mas não satisfazia completamente os meus desejos e não me trazia a paz.
Continuei a ler e encontrei esta frase que me confortou profundamente: Procurai com ardor os dons mais perfeitos; eu vou mostrar-vos um caminho mais excelente. E o Apóstolo explica como todos os dons mais perfeitos não são nada sem o amor e que a caridade é o caminho mais excelente que nos leva com segurança até Deus. Finalmente tinha encontrado a tranquilidade.
Ao considerar o Corpo Místico da Igreja, não conseguira reconhecer-me em nenhum dos membros descritos por São Paulo; melhor, queria identificar-me com todos eles. A caridade ofereceu-me a chave da minha vocação. Compreendi que, se a Igreja apresenta um corpo formado por membros diferentes, não lhe falta o mais necessário e mais nobre de todos; compreendi que a Igreja tem coração, um coração ardente de amor; compreendi que só o amor fazia actuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir-se, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno.
Então, com a maior alegria da minha alma arrebatada, exclamei: Ó Jesus, meu amor! Encontrei finalmente a minha vocação. A minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e este lugar, ó meu Deus, fostes Vós que mo destes: no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor; com o amor serei tudo; e assim será realizado o meu sonho.