ACOLHENDO
O PECADOR
O capítulo 15 de Lucas é o coração de todo o Evangelho (Boa
Nova). Aí vemos que o amor do Pai é o fundamento da atitude de Jesus diante dos
homens. Respondendo à crítica daqueles que se consideram justos, cheios de
méritos, e se escandalizam da solidariedade para com os pecadores, Jesus narra uma
parábola. Antes, mostra a atitude de Deus em Jesus, questionando a hipocrisia
dos homens. Tem, como objectivo, dois aspectos: o processo de conversão do
pecador e o problema do “justo” que resiste ao amor do Pai. O processo de
conversão começa com a tomada de consciência: o filho mais novo sente-se
perdido económica e moralmente. O acolhimento do pai e as medidas tomadas
mostram não só o perdão, mas também o restabelecimento da dignidade de filho. O
filho mais velho é justo e perseverante, mas é incapaz de aceitar a volta do irmão
e o amor do pai que o acolheu. Recusa-se a participar da alegria. Com essa
parábola Jesus faz apelo supremo para que os doutores da Lei e os fariseus
aceitem partilhar da alegria de Deus pela volta dos pecadores à dignidade da
vida. A consciência do pecado vem acompanhada do sentimento de vergonha em
relação a Deus. A revolta contra o seu amor misericordioso parece não se
justificar. Junto com a vergonha vem o sentimento de ingratidão. E o pecador
reconhece ser uma loucura o ter-se afastado do Pai. A sua reacção costumeira:
duvidar de que possa ser perdoado. Noutros termos, duvidar que Deus esteja
disposto a perdoar, devido à magnitude do pecado cometido. O Evangelho
aconselha, firmemente, o pecador a voltar para o Pai, cujo rosto, revelado por
Jesus, é um incentivo a essa volta confiante. Deus quer ter junto de si todos
os seus filhos. E está sempre disposto a esquecer o passado, pois confia que,
no futuro, tudo será melhor. Não coloca limites para o perdão, nem faz
distinção entre faltas perdoáveis e faltas imperdoáveis. Tudo pode ser
perdoado, quando o pecador se predispõe a voltar. Alegra-se, de sobremaneira,
com a volta de um filho pecador, pois é como se este tivesse ressuscitado,
depois de experimentar a morte. Não considera o pecador como pessoa de segunda
categoria, só porque se desviou do bom caminho. Vale a pena confiar no amor
misericordioso de Deus Pai. Lucas, revela que o Deus de Jesus é o Deus do
perdão e da misericórdia, que a todos acolhe, sem exclusões. O núcleo da
parábola não é a “conversão” do filho mais novo. É o amor misericordioso do
pai, tanto diante do filho mais novo como diante do mais velho. O pai acolhe o
filho arrependido e, ternamente, procura abrir o coração do filho mais velho.
Jesus acolhe os publicanos e pecadores que vêm a ele (filho mais novo) e
procura tocar os corações dos fariseus e escribas (filho mais velho, o “justo”).
MISSA
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ANTÍFONA DE
ENTRADA – Is 66, 10-11
Alegra-te, Jerusalém; rejubilai, todos os seus amigos.
Exultai de alegria, todos vós que participastes no seu luto
e podereis beber e saciar-vos na abundância das suas consolações.
ORAÇÃO COLECTA
Deus de misericórdia, que, pelo vosso Filho, realizais
admiravelmente a reconciliação do género humano, concedei ao povo cristão fé
viva e espírito generoso, a fim de caminhar alegremente para as próximas
solenidades pascais.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
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LEITURA I – Jos 5,
9a.10-12
«Tendo
entrado na terra prometida, o povo de Deus celebra a Páscoa»
Mais um passo na
história da salvação nos é apresentado na primeira leitura deste Quarto
Domingo: depois da travessia do deserto, guiado por Moisés (domingo anterior),
o povo de Deus entra na Terra Prometida e celebra a Páscoa. É também esta a
perspectiva do tempo litúrgico em que nós entrámos: depois dos 40 dias do
deserto quaresmal, celebraremos o mistério da Páscoa, na Terra Santa da Igreja
de Cristo. O maná, a comida do deserto, cessou de cair, quando o povo de Deus
chegou à Terra Prometida, e lá pôde, finalmente, alimentar-se dos frutos
daquela nova Terra. Também a Igreja, depois do jejum da Quaresma, comerá da
Ceia do Senhor, na Eucaristia da Páscoa. Não se trata apenas de uma comparação,
mas de um mistério que todos os anos se renova no meio de nós.
Leitura
do Livro de Josué
Naqueles
dias, disse o Senhor a Josué: «Hoje tirei de vós o opróbrio do Egipto». Os
filhos de Israel acamparam em Gálgala e celebraram a Páscoa, no dia catorze do
mês, à tarde, na planície de Jericó. No dia seguinte à Páscoa, comeram dos
frutos da terra: pães ázimos e espigas assadas nesse mesmo dia. Quando
começaram a comer dos frutos da terra, no dia seguinte à Páscoa, cessou o maná.
Os filhos de Israel não voltaram a ter o maná, mas, naquele ano, já se
alimentaram dos frutos da terra de Canaã.
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL
– Salmo 33 (34), 2-3.4-5.6-7 (R. 9a)
Refrão: Saboreai e vede
como o Senhor é bom. (Repete-se).
A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes. (Refrão)
Enaltecei comigo ao Senhor
e exaltemos juntos o seu nome.
Procurei o Senhor e Ele atendeu-me,
libertou-me de toda a ansiedade. (Refrão)
Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes,
o vosso rosto não se cobrirá de vergonha.
Este pobre clamou e o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias. (Refrão)
LEITURA II – 2 Cor 5, 17-21
«Por
Cristo, Deus reconciliou-nos consigo»
A Páscoa celebra
o mistério da aliança que Deus fez com os homens, e, porque o homem é pecador,
esse mistério é também de reconciliação. Pelo sacrifício de Jesus Cristo, todos
os homens são tornados nova criação, uma vez que são reconciliados com Deus,
que é o Criador de todas as coisas. Este mistério de reconciliação, realizado,
de uma vez para sempre, por Cristo, é-nos agora acessível através da Igreja. A
nós pertence, pois, aceitá-lo e deixar-nos reconciliar, cada um de nós, com
Deus, por Cristo, por meio da Igreja. O Sacramento da Penitência é o sinal
sagrado desta reconciliação. Por meio dele seremos, na Páscoa, novas criaturas.
Leitura
da Segunda Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram; tudo
foi renovado. Tudo isto vem de Deus, que por Cristo nos reconciliou consigo e
nos confiou o ministério da reconciliação. Na verdade, é Deus que em Cristo
reconcilia o mundo consigo, não levando em conta as faltas dos homens e
confiando-nos a palavra da reconciliação. Nós somos, portanto, embaixadores de
Cristo; é Deus quem vos exorta por nosso intermédio. Nós vos pedimos em nome de
Cristo: reconciliai-vos com Deus. A Cristo, que não conhecera o pecado, Deus
identificou-O com o pecado por causa de nós, para que em Cristo nos tornemos
justiça de Deus.
Palavra do Senhor
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Lc 15, 18
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai. (Repete-se)
Vou partir, vou ter com meu pai e dizer-lhe:
Pai, pequei contra o Céu e contra ti (Refrão)
EVANGELHO – Lc 15,
1-3.11-32
«Este teu irmão
estava morto e voltou à vida»
Na
parábola do filho pródigo está expresso todo o itinerário do pecador, que, pela
penitência, regressa à comunhão com Deus. Da morte à vida; é precisamente este
o movimento de todo o Mistério Pascal. A parábola põe em relevo sobretudo o
amor, paciente e sempre acolhedor, do Pai, de Deus nosso Pai. Por isso, a esta
parábola melhor se poderia chamar a parábola do Pai misericordioso.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele
tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O
ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este
homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte
parábola: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a
parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias
depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país
distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto
tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações.
Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para
os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas
que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos
trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome!
Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e
contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus
trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe,
quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço,
cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei
depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos
pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu
filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E
começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao
aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e
perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e
teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou
ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas
ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir
uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus
amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com
mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu
estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e
alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido
e foi reencontrado’».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS
OBLATAS
Ao apresentarmos com alegria estes dons de vida eterna, humildemente Vos
pedimos, Senhor, a graça de os celebrar com verdadeira fé e de os oferecer
dignamente pela salvação do mundo.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA
COMUNHÃO – Salmo 121, 3-4
Jerusalém, cidade de Deus,
para ti sobem as tribos do Senhor,
para celebrar o seu santo nome.
ORAÇÃO DEPOIS DA
COMUNHÃO
Senhor nosso Deus, luz de todo o homem que vem a este mundo,
iluminai os nossos corações com o esplendor da vossa graça, para que pensemos
sempre no que Vos é agradável e Vos amemos de todo o coração.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.