sábado, 24 de setembro de 2016

RECEBESTE OS TEUS BENS EM VIDA…




DOMINGO XXVI DO TEMPO COMUM

A riqueza que aliena dos bens do Reino
Pobreza e riqueza são tão antigas como o mundo. Mas sempre constituíram problemas. As interpretações e soluções são várias. Há os que ligam a pobreza e a riqueza à “sorte” e ao acaso; os que vêem na pobreza o sinal da incapacidade e da desordem moral, e na riqueza o sinal e o prémio da inteligência e da virtude. Para outros, é precisamente o contrário: os honestos não enriquecem, porque para enriquecer é preciso ser um tanto inescrupuloso. Riqueza coincide com exploração do homem pelo homem; o rico é ladrão, pronto para tudo a fim de defender seus privilégios. ordem das coisas?

Felizes os pobres, ai dos ricos
Na Bíblia também encontramos uma dupla “leitura” da pobreza e da riqueza. Por um lado, a pobreza é escândalo, um mal a ser eliminado, um mal que é como que a cristalização do pecado, enquanto há na riqueza o sinal da bênção de Deus. O amigo de Deus é o homem dotado de todos os bens. O pobre é aquele no qual se manifesta a desordem do mundo.
Mas, há também toda uma linha profética que termina no “ai de vós, os ricos!” de Jesus e que vê na riqueza o perigo mais grave de auto-suficiência e de afastamento de Deus e insensibilidade para com o próximo. E, em contraposição ao “ai de vós, os ricos!” são “felizes os pobres”: a pobreza torna-se uma espécie de zona privilegiada para a experiência religiosa. O pobre é o amado de Deus; a ele é anunciado o Reino. O pobre é o primeiro destinatário da Boa-nova. A pobreza já não é desgraça ou escândalo, mas bem-aventurança. A bem-aventurança do pobre será plenamente revelada depois da morte, com uma inversão da situação (evangelho).
A parábola do rico e do pobre Lázaro será considerada então como a aceitação fatalista de uma desordem constituída, na qual os ricos se tornam sempre mais ricos e os pobres mais pobres, e em que o rico oprime o pobre? Como consolação alienante para os pobres deste mundo? A religião será o ópio que entorpece e mantém inquietos os pobres? Não é evangélico esse modo de ler a parábola; é uma caricatura do evangelho. O evangelho é denúncia profética de qualquer ordem injusta, e é revelação das causas profundas da injustiça. O pobre pode ser também rico em potencial, e lutar não pela justiça, mas para tomar o lugar dos patrões. O evangelho é apelo à conversão radical para todos, pobres e ricos, conversão a ser feita imediatamente.

...e força de transformação do mundo
A parábola mostra como a perspectiva do futuro tem influência sobre o hoje e como a relação do homem com o homem incide na sua vida definitiva na presença de Deus. O evangelho é uma força dinâmica de transformação “contínua”. A aventura do amor, inaugurada por Cristo e prosseguida depois dele, convidando o homem a consentir activamente na lei da liberdade, causou, de facto, mudança progressiva nas relações dos homens... Não é, porém, um manifesto revolucionário nem um programa de reforma em matéria social. É algo maior e mais essencial. O evangelho não nos ensina nada sobre revolução. Tentar construir uma teologia da revolução a partir do evangelho é iludir-se e não captar o essencial. No plano dos objectivos e dos meios, os cristãos e os não-cristãos devem apelar para os recursos da razão humana, científica e moral; uns e outros devem procurar as soluções eficazes, ainda que os comportamentos concretos possam divergir. Mas os cristãos, conquistados pela aventura do amor e só na medida que aceitam vivê-la Como Cristo e em seu seguimento, estarão mais atentos em fazer com que a religião não degenere em novas opressões e novo legalismo.


LEITURA I – Am 6, 1a.4-7

«Agora acabará o bando dos voluptuosos»

O Evangelho vai mostrar-nos que a vida deste mundo prepara a do outro mundo; na medida em que vivermos aqui configurados com Cristo, nessa medida nos prepararemos para participar da sua glória. Assim, esta primeira leitura começa por nos pôr de sobreaviso contra as falsas seguranças deste mundo, sobretudo contra as riquezas e os prazeres tidos como ideal, como acontecia com aqueles a quem o profeta aqui se refere.

Leitura da Profecia de Amós
“Eis o que diz o Senhor omnipotente: «Ai daqueles que vivem comodamente em Sião e dos que se sentem tranquilos no monte da Samaria. Deitados em leitos de marfim, estendidos nos seus divãs, comem os cordeiros do rebanho e os vitelos do estábulo. Improvisam ao som da lira e cantam como David as suas próprias melodias. Bebem o vinho em grandes taças e perfumam-se com finos unguentos, mas não os aflige a ruína de José. Por isso, agora partirão para o exílio à frente dos deportados e acabará esse bando de voluptuosos».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Tim 6, 11-16

Guarda este mandamento, até à aparição do Senhor

A vida é tempo de luta. Para o cristão ela tem de ser conduzida segundo as normas da fé; doutro modo, não seria uma vida cristã. O termo desta luta cristã é a aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo na sua glória, ao encontro de quem caminhamos.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo: Tu, homem de Deus, pratica a justiça e a piedade, a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e sobre a qual fizeste tão bela profissão de fé perante numerosas testemunhas. Ordeno-te na presença de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Cristo Jesus, que deu testemunho da verdade diante de Pôncio Pilatos: Guarda o mandamento do Senhor, sem mancha e acima de toda a censura, até à aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo, a qual manifestará a seu tempo o venturoso e único soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível, que nenhum homem viu nem pode ver. A Ele a honra e o poder eterno. Ámen.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 16, 19-31

Recebeste os teus bens em vida e Lázaro apenas os males. Agora ele encontra-se aqui consolado, enquanto tu és atormentado

O contraste entre a vida terrena do rico avarento e a do pobre e depois a vida futura de um e de outro mostra como será o resultado do bom ou mau uso que fizermos dos dons de Deus. É ele, afinal, que dá sentido à vida e lhe garante uma realização feliz ou infeliz, e isto para todo o sempre.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: «Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e linho fino e se banqueteava esplendidamente todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, jazia junto do seu portão, coberto de chagas. Bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas. Ora sucedeu que o pobre morreu e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, estando em tormentos, levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado. Então ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim. Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nestas chamas’. Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida e Lázaro apenas os males. Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, há entre nós e vós um grande abismo, de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós, ou daí para junto de nós, não poderia fazê-lo’. O rico insistiu: ‘Então peço-te, ó pai, que mandes Lázaro à minha casa paterna – pois tenho cinco irmãos – para que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento’. Disse-lhe Abraão: ‘Eles têm Moisés e os Profetas: que os oiçam’. Mas ele insistiu: ‘Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles, arrepender-se-ão’. Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas, também não se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dos mortos’».”
Palavra da Salvação



sábado, 17 de setembro de 2016

UMA FALSA RELIGIÃO OCULTA A INJUSTIÇA





DOMINGO XXV DO TEMPO COMUM

A riqueza para construir a fraternidade
O mundo está geralmente dividido entre ricos e pobres. A contestação, a luta de classes parece baseada no princípio de que não há possibilidade de acordo senão pela eliminação de uma das partes. O anúncio do reino de Deus, do seu amor que salva, é feito num mundo dividido entre ricos e pobres. E um anúncio que, revolucionando o íntimo do homem, revoluciona também certo tipo de ordem social.

Uma falsa religião oculta a injustiça
Há uma falsa religião que os profetas nunca cessaram de denunciar: a religião dos que julgam ter a consciência em dia sem muito esforço, cumprindo ritos e práticas exteriores de culto. Muitas vezes é uma aparência de religiosidade que serve para encobrir a exploração dos pobres.

De uma terra dividida...
A amizade que o rico deve construir não é fruto de seu bom coração, mas exigência e dever que lhe advêm daquilo que possui. O que ele dá não deve parecer uma esmola. O pobre, na comunidade cristã, tem direitos a serem satisfeitos. O rico deve considerar-se mais um atento administrador dos bens do que um proprietário.
“Não és acaso um ladrão, afirma São Basílio, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste?... Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu, o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que se estão a estragar na tua casa; ao necessitado, o dinheiro que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar”.
E santo Ambrósio continua: “É justo, pois, que, se reivindicas como teu algo daquilo que foi dado em comum (a terra) ao género humano e até a todos os animais, ao menos dês uma parte aos pobres; eles participam do teu direito; não lhes negues o alimento”.
O que os Padres da Igreja pregam, referindo-se a casos particulares, agora inclui povos, nações, milhões de pessoas. Nações ou grupos multinacionais controlam toda a riqueza com uma liberdade que não se pode discutir, continuam a fazer da riqueza a fonte de divisões e aproveitam-se dessas divisões para seu domínio económico.
Os capitais são transferidos de um país para outro onde pode haver maior incentivo para o lucro. Milhões de trabalhadores rurais não têm direito nem possibilidade de habitar em terras que, no entanto, são suas, enquanto grandes proprietários têm incultas as suas terras, visando mais à exploração ou a maior fonte de lucro.

...a uma terra de amizade
Ambos os apelos só podem ser compreendidos e acolhidos pelo homem novo, renascido de Deus, que descobre o verdadeiro valor das coisas. Sem a conversão do coração, as riquezas nas mãos do homem tomam-se riquezas de iniquidade, tanto no acto de possuir como no de dar. A doação feita para tranquilizar a consciência e não por amizade não é verdadeira doação.
Toda decisão que não termina no amor está errada na raiz. Fazer amigos significa procurar, no uso dos bens, uma realização horizontal, entre irmãos, e não vertical, de alto para baixo.
“O dinheiro, símbolo das coisas, é instrumento de divisão e de luta; deve tornar-se instrumento de comunhão entre as pessoas, de amizade, de igualdade, e não veículo de guerra e discriminação. Isto exige comunidade na produção, na distribuição, no consumo. Ora, a pobreza dos que têm bens, e não podem nem devem despojar-se deles, consiste em usá-los para criar amizade e comunicar-se com os homens. Este ‘fazei amigos’ deve ser repensado em cada época e continuamente renovado no conteúdo” (A. Paoli).


LEITURA I – Am 8, 4-7

«Contra aqueles que “possuem dinheiro alheio”»

No Evangelho, o Senhor vai ensinar-nos como deve o cristão usar o dinheiro. Esta primeira leitura prepara-nos já, pela palavra do profeta, para escutarmos o Senhor a prevenir-nos de como o amor ao dinheiro pode vir a dominar o coração do homem e a fazê-lo cometer as maiores injustiças, de que os mais pobres acabam sempre por ser as maiores vítimas.

Leitura da Profecia de Amós
“Escutai bem, vós que espezinhais o pobre e quereis eliminar os humildes da terra. Vós dizeis: «Quando passará a lua nova, para podermos vender o nosso grão? Quando chegará o fim de sábado, para podermos abrir os celeiros de trigo? Faremos a medida mais pequena, aumentaremos o preço, arranjaremos balanças falsas. Compraremos os necessitados por dinheiro e os indigentes por um par de sandálias. Venderemos até as cascas do nosso trigo». Mas o Senhor jurou pela glória de Jacob: «Nunca esquecerei nenhuma das suas obras».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Tim 2, 1-8

Façam-se preces por todos os homens a Deus, que quer salvar todos os homens

Na continuação da leitura da epístola de S. Paulo encetada no domingo anterior, lemos hoje uma passagem que está na origem da “oração universal” ou “oração dos fiéis” que fazemos na Missa a concluir a liturgia da palavra. Recomenda-se a oração por todos os homens e, em especial, por aqueles que estão constituídos em autoridade. A sua missão é em favor da comunidade; é, portanto, normal que toda a comunidade reze por eles. A leitura inclui uma bela palavra de louvor a Cristo.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo: Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades, para que possamos levar uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador; Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte pela redenção de todos. Tal é o testemunho que foi dado a seu tempo e do qual fui constituído arauto e apóstolo – digo a verdade, não minto – mestre dos gentios na fé e na verdade. Quero, portanto, que os homens rezem em toda a parte, erguendo para o Céu as mãos santas, sem ira nem contenda.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 16, 1-13

Não podeis servir a Deus e ao dinheiro

Jesus ensina que o dinheiro deve ser administrado com sabedoria, a sabedoria de Deus, e não com avareza ou ganância. O dinheiro serve muitas vezes para fins vis; para o conseguir há quem não hesite em tomar atitudes cheias de astúcia e mentira, como o administrador de que fala a parábola. O Senhor convida-nos a pormos, pelo menos, tanto cuidado em usá-lo bem, como ele o fez, embora de maneira má, para granjear amigos que depois o acolhessem.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Um homem rico tinha um administrador, que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens. Mandou chamá-lo e disse-lhe: ‘Que é isto que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar’. O administrador disse consigo: ‘Que hei-de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a administração? Para cavar não tenho força, de mendigar tenho vergonha. Já sei o que hei-de fazer, para que, ao ser despedido da administração, alguém me receba em sua casa’. Mandou chamar um por um os devedores do seu senhor e disse ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’. Ele respondeu: ‘Cem talhas de azeite’. O administrador disse-lhe: ‘Toma a tua conta: senta-te depressa e escreve cinquenta’. A seguir disse a outro: ‘E tu quanto deves?’. Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. Disse-lhe o administrador: ‘Toma a tua conta e escreve oitenta’. E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes. Ora Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas também é injusto nas grandes. Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedica a um e despreza o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».”
Palavra da Salvação



sábado, 10 de setembro de 2016

A EXPERIÊNCIA DO PERDÃO, RENOVAÇÃO DO ÍNTIMO




DOMINGO XXIV DO TEMPO COMUM

O AMOR É GRATUITO
O amor de Deus para com os homens é tão gratuito que não podemos pretender ter direito a ele; é tão absoluto que jamais podemos dizer que nos falta. O amor humano, ao contrário, é tão limitado e fechado pelo nosso egoísmo, tão raramente ultrapassa a estrita justiça ou se liberta da severidade moralista, que facilmente imaginamos um Deus vingador e uma religião baseada no temor. Quem de nós se lembra de que a “graça” que pedimos a Deus significa “ternura e piedade” pelo pecador? Só um estudo atento da palavra de Deus pode ajudar-nos a tomar consciência do sentido da misericórdia indefectível de Deus.
Os judeus usavam o termo hesed para indicar o amor misericordioso de Deus para com o povo. Esse termo indica a benevolência, a solidariedade, o amor mútuo que deve existir entre os membros de uma mesma família ou sociedade, dispostos a ajudarem-se entre si com amor e generosidade. Deus manifesta essa benevolência, antes de tudo, escolhendo Israel como seu povo; prescindindo dos seus méritos, estabelece com ele um pacto de fidelidade e amor (Dt 7,7-15).

Um amor não condicionado pela nossa correspondência
A correspondência de Israel ao amor de Deus, que não é grande mas existe, é agora identificada com o termo hesed, que neste caso significa reconhecimento, amor filial, fidelidade. Entretanto, mesmo quando Israel não observa a aliança, Deus permanece fiel e perdoa, exercendo sempre a hesed, a bondade misericordiosa.
Por esta bondade misericordiosa, o povo, embora pecador e infiel, poderá sempre esperar pelo auxílio divino.
Assim a bondade passa a ser a ternura e a piedade que Deus tem pelo pecador, enquanto lhe oferece a salvação tirando-a do próprio pecado e lhe dá continuamente novos meios, cada vez mais eficazes, para triunfar do mal e corresponder finalmente as exigências da aliança.
Deste modo a bondade torna-se misericórdia para com o pecador. A religião do homem já não se baseia num título de justiça, mas unicamente na caridade de Deus. Lucas, o evangelista da ternura divina, multiplica as narrativas que mostram Jesus em busca dos mais abandonados, dos pobres, dos pecadores, realçando assim o próprio fundamento da nossa religião, que é a atitude dos que são arrebatados pelo abismo do amor de Deus.

Temos ainda necessidade de perdão?
Não tem necessidade de ser perdoado quem não tem consciência de ter traído alguém a quem ama. Mas o homem de hoje sentir-se-á ainda amado? Na sociedade contemporânea há uma difusa sensação de inquietude, devida ao carácter impessoal da nossa civilização. Estamos na era dos grandes aglomerados urbanos, em contacto com a multidão em toda parte: nos meios de transporte, nas fábricas, no cinema, nas praias. O homem está sempre ao lado de outros homens, mas a poucos pode chamar “pelo nome”. Toma-se frequentemente como símbolo da nossa civilização os congestionamentos de trânsito nas nossas cidades ou estradas. Há uma multidão, mas cada um se acha fechado no seu carro, com o seu cansaço, a sua desilusão, muitas vezes com a sua angústia. É grande o número dos que não são amados por ninguém, para os quais não se tem um olhar a não ser com referência à sua eficiência económica. Muitas pessoas sabem que quando já não forem úteis, ninguém mais se interessará por elas. No entanto, só pode ser feliz quem é reconhecido, estimado, apreciado, sobretudo amado. Não existe verdadeira “experiência humana” sem intercâmbio, diálogo, confidência, verdadeiro amor recíproco. Só o amor é capaz de transformar, mas com uma condição: que seja gratuito e livre.

Um Deus de braços abertos
Cristo revelou-nos um Deus como desejamos. Um Deus que é amor e misericórdia. É uma pessoa que dificilmente encontra lugar na nossa sociedade, e esta, por isso mesmo, tem dele necessidade vital. Aparentemente não serve, não é útil, não produz, não entra no jogo da inflação; mas dá-nos tudo, dá-nos o que nenhuma análise científica, nem progresso tecnológico, nem o desenvolvimento das ciências humanas jamais poderá dar-nos: que nos sintamos amados individualmente, um a um, de modo absoluto. Quando percebemos que Deus nos ama assim, então sentimos que estar longe dele e dos outros por razões humanas é perder tempo, e perder Deus. Então nasce espontaneamente a necessidade de pedir perdão.


LEITURA I – Ex 32, 7-11.13-14

O Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo

Deus revela-Se através de toda a história da salvação como ‘amigo dos homens’, Aquele que, depois da encarnação do seu Filho, S. João há-de dizer que é Amor. Momentos há, no entanto, em que a Sagrada Escritura atribui a Deus sentimentos de indignação e de ira, para indicar a sua detestação profunda do pecado, como nesta leitura, porque o pecado e a aliança são incompatíveis. Mas, uma vez que o pecador se volte para Ele, logo Se mostra pronto a perdoar-lhe e a acolhê-lo de novo na sua aliança.

Leitura do Livro do Êxodo
“Naqueles dias, o Senhor falou a Moisés, dizendo: «Desce depressa, porque o teu povo, que tiraste da terra do Egipto, corrompeu-se. Não tardaram em desviar-se do caminho que lhes tracei. Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: ‘Este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egipto’». O Senhor disse ainda a Moisés: «Tenho observado este povo: é um povo de dura cerviz. Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua. De ti farei uma grande nação». Então Moisés procurou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo: «Por que razão, Senhor, se há-de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo, que libertastes da terra do Egipto com tão grande força e mão tão poderosa? Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel, a quem jurastes pelo vosso nome, dizendo: ‘Farei a vossa descendência tão numerosa como as estrelas do céu e dar-lhe-ei para sempre em herança toda a terra que vos prometi’». Então o Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Tim 1, 12-17

Cristo veio salvar os pecadores

Começamos a ler hoje a primeira epístola de S. Paulo ao seu discípulo Timóteo. Por coincidência, a passagem que hoje se lê encerra uma palavra de acção de graças a Deus pela sua misericórdia revelada na conversão de Paulo. Assim, esta leitura nos fará compreender melhor a mensagem das outras duas.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Filémon
“Caríssimo: Dou graças Àquele que me deu força, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que me julgou digno de confiança e me chamou ao seu serviço, a mim que tinha sido blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, quando ainda era descrente. A graça de Nosso Senhor superabundou em mim, com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus. É digna de fé esta palavra e merecedora de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o primeiro deles. Mas alcancei misericórdia, para que, em mim primeiramente, Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade, como exemplo para os que hão-de acreditar n’Ele, para a vida eterna. Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amen.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 15, 1-32

Haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa

O amor de Deus não é uma palavra vaga sem sentido. Com três parábolas, qual delas a mais impressionante, o Senhor Se esforça por nos fazer sentir esse amor de misericórdia, que não cessa de nos convidar ao arrependimento, para nos perdoar e nos unir a Si.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Eu vos digo: Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar? Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’. Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa». Jesus disse-lhes ainda: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».”
Palavra da Salvação



sábado, 3 de setembro de 2016

“Quem não renunciar a todos os seus bens não pode ser meu discípulo”




DOMINGO XXIII DO TEMPO COMUM


[CATECISMO]
[…]
A TRANSCENDÊNCIA DE DEUS [273, 300, 314]

273 Só a fé pode aderir aos caminhos misteriosos da omnipotência de Deus. Esta fé gloria-se nas suas fraquezas, para atrair a si o poder de Cristo. Desta fé é modelo supremo a Virgem Maria, pois acreditou que «a Deus nada é impossível» (Lc 1, 37) e pôde proclamar a grandeza do Senhor: «O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas; ‘Santo’ – é o seu nome» (Lc 1, 49).

300 Deus é infinitamente maior do que todas as suas obras: «A vossa majestade está acima dos céus» (Sl 8, 2), «insondável é a sua grandeza» (Sl 145, 3). Mas, porque Ele é o Criador soberano e livre, causa primeira de tudo quanto existe, está presente no mais íntimo das suas criaturas: «É n’Ele que vivemos, nos movemos e existimos» (Act 17, 28). Segundo as palavras de Santo Agostinho, Ele é «superior summo meo et interior intimo meo – Deus está acima do que em mim há de mais elevado e é mais interior do que aquilo que eu tenho de mais íntimo».

314 Nós cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Muitas vezes, porém, os caminhos da sua Providência são-nos desconhecidos. Só no fim, quando acabar o nosso conhecimento parcial e virmos Deus «face a face» (1 Cor 13, 12), é que nos serão plenamente conhecidos os caminhos pelos quais, mesmo através do mal e do pecado, Deus terá conduzido a criação ao repouso desse Sábado definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra.

PREFERIR CRISTO A TUDO E A TODOS [254]

2544 Jesus impõe aos seus discípulos que O prefiram a tudo e a todos e propõe-lhes que renunciem a todos os seus bens por causa d’Ele e do Evangelho. Pouco antes da sua paixão, deu-lhes o exemplo da pobre viúva de Jerusalém que, da sua penúria, deu tudo o que tinha para viver. O preceito do desapego das riquezas é obrigatório para entrar no Reino dos céus.

SEGUIR CRISTO NA VIDA CONSAGRADA [914-919, 931-932]

914 «O estado de vida constituído pela profissão dos conselhos evangélicos, embora não pertença à estrutura hierárquica da Igreja, está, no entanto, incontestavelmente ligado à sua vida e santidade».

915 Os conselhos evangélicos são, na sua multiplicidade, propostos a todos os discípulos de Cristo. A perfeição da caridade, a que todos os fiéis são chamados, comporta, para aqueles que livremente assumem o chamamento à vida consagrada, a obrigação de praticar a castidade no celibato por amor do Reino, a pobreza e a obediência. É a profissão destes conselhos, num estado de vida estável reconhecido pela Igreja, que caracteriza a «vida consagrada» a Deus.

916 A partir daí, o estado de vida consagrada aparece como uma das maneiras de viver uma consagração «mais íntima», radicada no Baptismo e totalmente dedicada a Deus. Na vida consagrada, os fiéis propõem-se, sob a moção do Espírito Santo, seguir Cristo mais de perto, entregar-se a Deus amado acima de todas as coisas e, procurando a perfeição da caridade ao serviço do Reino, ser na Igreja sinal e anúncio da glória do mundo que há-de vir.

917 «Tal como uma árvore se ramifica maravilhosa e variadamente no campo do Senhor, a partir de uma semente lançada por Deus, assim surgiram diversas formas de vida solitária ou comum, e várias famílias religiosas que vêm aumentar a riqueza espiritual, tanto em proveito dos seus próprios membros como no de todo o Corpo de Cristo».

918 «Desde as origens da Igreja, houve homens e mulheres que se propuseram, pela prática dos conselhos evangélicos, seguir mais livremente Cristo e imitá--Lo de modo mais fiel. Cada qual a seu modo, levaram uma vida consagrada a Deus. Muitos de entre eles, sob o impulso do Espírito Santo, viveram na solidão; outros fundaram famílias religiosas que a Igreja de bom grado acolheu e aprovou com a sua autoridade».

919 Os bispos devem esforçar-se sempre por discernir os novos dons de vida consagrada, confiados pelo Espírito Santo à sua Igreja. A aprovação de novas formas de vida consagrada é reservada à Sé Apostólica.

931 Entregando-se a Deus amado sobre todas as coisas, aquele que pelo Baptismo já Lhe estava devotado, encontra-se, assim, mais intimamente consagrado ao serviço divino e dedicado ao bem da Igreja. Pelo estado de consagração a Deus, a Igreja manifesta Cristo e mostra como o Espírito Santo nela actua de modo admirável. Aqueles que professam os conselhos evangélicos têm, pois, por missão, antes de mais, viver a sua consagração. «Visto estarem dedicados, em virtude da sua consagração, ao serviço da Igreja, têm obrigação de trabalhar, de modo especial, segundo a índole própria do instituto, na acção missionária».

932 Na Igreja, que é como o sacramento, isto é, o sinal e o instrumento da vida de Deus, a vida consagrada surge como um sinal particular do mistério da Redenção. Seguir e imitar Cristo «mais de perto», manifestar «mais claramente» o seu aniquilamento, é estar «mais profundamente» presente, no coração de Cristo, aos seus contemporâneos. Quem segue este caminho «mais estreito» estimula os seus irmãos pelo exemplo e «dá este esplêndido e sublime testemunho: o mundo não pode ser transfigurado e oferecido a Deus sem o espírito das bem-aventuranças».

933 Quer este testemunho seja público, como no estado religioso, quer seja mais discreto ou mesmo secreto, a vinda de Cristo é, para todos os consagrados, a origem e a meta das suas vidas:
«Como o povo de Deus não tem na terra cidade permanente [...], o estado religioso [...] manifesta a todos os crentes a presença, já neste mundo, dos bens celestes; dá testemunho da vida nova e eterna adquirida pela redenção de Cristo e anuncia a ressurreição futura e a glória celeste.

[…]

[LITURGIA DA PALAVRA]

LEITURA I – Sab 9, 13-19 (gr. 13-18b)

Quem pode sondar as intenções do Senhor

Tudo é conduzido pela Sabedoria de Deus, sabedoria esta que se revela por todos os meios ao homem atento em a perscrutar e desejoso de conhecer os seus caminhos. Mas é a Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, que é para nós a última Palavra sobre os desígnios de Deus.

Leitura do Livro da Sabedoria
“Qual o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Quem pode sondar as intenções do Senhor? Os pensamentos dos mortais são mesquinhos e inseguras as nossas reflexões, porque o corpo corruptível deprime a alma e a morada terrestre oprime o espírito que pensa. Mal podemos compreender o que está sobre a terra e com dificuldade encontramos o que temos ao alcance da mão. Quem poderá então descobrir o que há nos céus? Quem poderá conhecer, Senhor, os vossos desígnios, se Vós não lhe dais a sabedoria e não lhe enviais o vosso espírito santo? Deste modo foi corrigido o procedimento dos que estão na terra, os homens aprenderam as coisas que Vos agradam e pela sabedoria foram salvos.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Flm 9b-10.12-17

Revolução social

Exemplo de “revolução social” trazida ao mundo por Cristo é esta atitude de ternura de S. Paulo em favor de um escravo que tinha fugido, e por quem ele intercede junto do seu senhor. É um pequeno escrito de ocasião, mas é nas mais simples ocasiões que se manifesta a caridade.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Filémon
“Caríssimo: Eu, Paulo, prisioneiro por amor de Cristo Jesus, rogo-te por este meu filho, Onésimo, que eu gerei na prisão. Mando-o de volta para ti, como se fosse o meu próprio coração. Quisera conservá-lo junto de mim, para que me servisse, em teu lugar, enquanto estou preso por causa do Evangelho. Mas, sem o teu consentimento, nada quis fazer, para que a tua boa acção não parecesse forçada, mas feita de livre vontade. Talvez ele se tenha afastado de ti durante algum tempo, a fim de o recuperares para sempre, não já como escravo, mas muito melhor do que escravo: como irmão muito querido. É isto que ele é para mim e muito mais para ti, não só pela natureza, mas também aos olhos do Senhor. Se me consideras teu amigo, recebe-o como a mim próprio.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 14, 25-33

Quem não renunciar a todos os seus bens não pode ser meu discípulo

O conhecimento dos desígnios de Deus há-de levar à compreensão da palavra de Jesus, hoje tão exigente. Quem conhece o Senhor, reconhece também que é Ele quem revela os verdadeiros critérios para avaliar todos os valores da vida, critérios orientados pelo Espírito de Deus, e tão diferentes dos critérios do mundo. A renúncia que Jesus apresenta é, no fim de contas, o meio de ganhar, de ganhar as riquezas do reino de Deus.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, seguia Jesus uma grande multidão. Jesus voltou-Se e disse-lhes: «Se alguém vem ter comigo, e não Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo. Quem de vós, desejando construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa, para ver se tem com que terminá-la? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, se mostre incapaz de a concluir e todos os que olharem comecem a fazer troça, dizendo: ‘Esse homem começou a edificar, mas não foi capaz de concluir’. E qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro a considerar se é capaz de se opor, com dez mil soldados, àquele que vem contra ele com vinte mil? Aliás, enquanto o outro ainda está longe, manda-lhe uma delegação a pedir as condições de paz. Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo».”
Palavra da Salvação