sábado, 25 de junho de 2016

SEGUIR-TE-EI PARA ONDE QUER QUE FORES




Domingo XIII do Tempo Comum

[CATECISMO]
A SUBIDA DE JESUS A JERUSALÉM PARA A SUA MORTE E RESSURREIÇÃO
«Ora, como se aproximavam os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a firme resolução de Se dirigir a Jerusalém» (Lc 9, 51). Por esta decisão, indicava que subia para Jerusalém pronto para lá morrer. Já por três vezes tinha anunciado a sua paixão e a sua ressurreição. E ao dirigir-Se para Jerusalém, declara: «não se admite que um profeta morra fora de Jerusalém» (Lc 13, 33).
MESTRE, QUE HEI-DE FAZER…?
«Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?» Ao jovem que Lhe faz esta pergunta, Jesus responde, primeiro, invocando a necessidade de reconhecer a Deus como «o único Bom», o Bem por excelência e a fonte de todo o bem. Depois, declara-lhe: «Se queres entrar na vida, observa os mandamentos». E cita ao seu interlocutor os mandamentos que dizem respeito ao amor do próximo: «Não matarás; não cometerás adultério; não furtarás; não levantarás falso testemunho; honra pai e mãe». Finalmente, resume estes mandamentos de modo positivo: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Mt 19, 16-19).
A esta primeira resposta vem juntar-se uma segunda: «Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá-os aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Vem, depois, e segue-Me» (Mt 19, 21). Esta resposta não anula a primeira. Seguir Jesus implica cumprir os mandamentos. A Lei não é abolida; mas o homem é convidado a reencontrá-la na Pessoa do seu mestre, em Quem ela encontra o seu perfeito cumprimento. Nos três evangelhos sinópticos, o apelo de Jesus ao jovem rico, para O seguir na obediência de discípulo e na observância dos preceitos, está associado ao apelo à pobreza e à castidade. Os conselhos evangélicos são inseparáveis dos mandamentos.
Jesus retomou os dez mandamentos, mas manifestou a força do Espírito que actua na letra em que eles se exprimem. Pregou a «justiça que excede a dos escribas e fariseus», do mesmo modo que a dos pagãos. E explicou todas as exigências dos mandamentos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás [...]; Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal» (Mt 5, 21-22).
Quando Lhe perguntam: «Qual é o maior mandamento que há na Lei?» (Mt 22, 36), Jesus responde: «Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente; tal é o maior e primeiro mandamento. O segundo é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. A estes dois mandamentos está ligada toda a Lei, bem como os Profetas» (Mt 22, 37-40). O Decálogo deve ser interpretado à luz deste duplo e único mandamento da caridade, plenitude da Lei.
«De facto: “Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás” bem como qualquer outro mandamento, estão resumidos numa só frase: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O amor não faz mal ao próximo. Assim, é no amor que está o pleno cumprimento da Lei» (Rm 13, 9-10).
A NECESSIDADE DO DISCIPULADO
As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja a respeito do Inferno são um apelo ao sentido de responsabilidade com que o homem deve usar da sua liberdade, tendo em vista o destino eterno. Constituem, ao mesmo tempo, um apelo urgente à conversão: «Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçoso o caminho que levam à perdição e muitos são os que seguem por eles. Que estreita é a porta e apertado o caminho que levam à vida e como são poucos aqueles que os encontram!» (Mt 7, 13-14):
«Como não sabemos o dia nem a hora, é preciso que, segundo a recomendação do Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que, no termo da nossa vida terrena, que é só uma, mereçamos entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados entre os benditos, e não sejamos lançados, como servos maus e preguiçosos, no fogo eterno, nas trevas exteriores, onde “haverá choro e ranger de dentes”».
O discípulo de Cristo, não somente deve guardar a fé e viver dela, como ainda professá-la, dar firme testemunho dela e propagá-la: «Todos devem estar dispostos a confessar Cristo diante dos homens e a segui-Lo no caminho da cruz, no meio das perseguições que nunca faltam à Igreja». O serviço e testemunho da fé são requeridos para a salvação: «A todo aquele que me tiver reconhecido diante dos homens, também Eu o reconhecerei diante do meu Pai que está nos céus. Mas àquele que me tiver negado diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus» (Mt 10, 32-33).

[LITURGIA DA PALAVRA]

LEITURA I – 1 Reis 19, 16b.19-21

Eliseu levantou-se e seguiu Elias

A partir deste Domingo, o Evangelho apresenta Jesus caminhando para a Paixão. E hoje Ele insiste já na necessidade de O seguir, sem hesitações, quando Ele chamar. Modelo desta disponibilidade é a atitude de Eliseu, que, uma vez chamado, deixa a sua ocupação anterior e, como sinal dessa renúncia, até queima o arado com que trabalhava e oferece aos seus antigos companheiros, em ambiente de festa, um banquete de confraternização e de despedida.

Leitura do Primeiro Livro dos Reis
“Naqueles dias, disse o Senhor a Elias: «Ungirás Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meola, como profeta em teu lugar». Elias pôs-se a caminho e encontrou Eliseu, filho de Safat, que andava a lavrar com doze juntas de bois e guiava a décima segunda. Elias passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa. Então Eliseu abandonou os bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe; depois irei contigo». Elias respondeu: «Vai e volta, porque eu já fiz o que devia». Eliseu afastou-se, tomou uma junta de bois e matou-a; com a madeira do arado assou a carne, que deu a comer à sua gente. Depois levantou-se e seguiu Elias, ficando ao seu serviço.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Gal 5, 1.13-18

Fostes chamados à liberdade

Continuando a falar da relação entre a Lei do Antigo Testamento e o Novo, o Apóstolo chama à situação cristã uma situação de liberdade em Cristo, mas previne os cristãos para que essa liberdade não seja usada para cair noutra escravidão, a do pecado. A verdadeira liberdade é a do amor em Cristo, que se há-de manifestar na caridade para com o próximo.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
“Irmãos: Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permanecei firmes e não torneis a sujeitar-vos ao jugo da escravidão. Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Contudo, não abuseis da liberdade como pretexto para viverdes segundo a carne; mas, pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a Lei se resume nesta palavra: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros. Por isso vos digo: Deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne. Na verdade, a carne tem desejos contrários aos do Espírito e o Espírito desejos contrários aos da carne. São dois princípios antagónicos e por isso não fazeis o que quereis. Mas se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sujeitos à Lei de Moisés.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 9, 51-62

Tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém. Seguir-Te-ei para onde quer que fores

Desde agora, o Evangelho apresenta Jesus a caminho da Paixão. Esta caminhada de Jesus é entendida, de maneira diversa, pelas várias pessoas que dela têm consciência ou que Jesus até convida a segui-l’O. Seja qual for a situação de cada um, só há uma atitude certa: seguir o Senhor, como fez Eliseu quando Elias o chamou, como fez S. Paulo e os outros Apóstolos, e todos aqueles, que, um dia chamados, souberam escutar a sua voz.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém e mandou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de Lhe prepararem hospedagem. Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho de Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus: «Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?». Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os. E seguiram para outra povoação. Pelo caminho, alguém disse a Jesus: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores». Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça». Depois disse a outro: «Segue-Me». Ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». Disse-lhe Jesus: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o reino de Deus». Disse-Lhe ainda outro: «Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família». Jesus respondeu-lhe: «Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus».”
Palavra da Salvação


sábado, 18 de junho de 2016

TOMAR A PRÓPRIA CRUZ, TODOS OS DIAS




Domingo XII do Tempo Comum

TOMAR A PRÓPRIA CRUZ, TODOS OS DIAS, E SEGUIR JESUS
A conversão realiza-se na vida quotidiana por gestos de reconciliação, pelo cuidado dos pobres, o exercício e a defesa da justiça e do direito, pela confissão das próprias faltas aos irmãos, pela correcção fraterna, a revisão de vida, o exame de consciência, a direcção espiritual, a aceitação dos sofrimentos, a coragem de suportar a perseguição por amor da justiça. Tomar a sua cruz todos os dias e seguir Jesus é o caminho mais seguro da penitência.

A Igreja, comunhão com Cristo
Desde o princípio, Jesus associou os discípulos à sua vida. Revelou-lhes o mistério do Reino; deu-lhes parte na sua missão, na sua alegria e nos seus sofrimentos. Jesus fala duma comunhão ainda mais íntima entre Ele e os que O seguem: «Permanecei em Mim, como Eu em vós [...]. Eu sou a cepa, vós os ramos» (Jo 15, 4-5). E anuncia uma comunhão misteriosa e real entre o seu próprio Corpo e o nosso: «Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e Eu nele» (Jo 6, 56).
Quando a sua presença visível lhes foi tirada, Jesus não deixou órfãos os discípulos. Prometeu-lhes ficar com eles até ao fim dos tempos, e enviou-lhes o seu Espírito. A comunhão com Jesus tornou-se, de certo modo, mais intensa: «Comunicando o seu Espírito aos seus irmãos, por Ele reunidos de todas as nações, constituiu-os seu Corpo Místico».
A comparação da Igreja com um corpo lança uma luz particular sobre a ligação íntima existente entre a Igreja e Cristo. Ela não está somente reunida à volta d’Ele: está unificada n’Ele, no seu Corpo. Na Igreja, Corpo de Cristo, são de salientar mais especificamente três aspectos: a unidade de todos os membros entre si, pela união a Cristo; Cristo, Cabeça do Corpo; a Igreja, Esposa de Cristo.
Os crentes que respondem à Palavra de Deus e se tornam membros do Corpo de Cristo, ficam estreitamente unidos a Cristo: «Neste Corpo, a vida de Cristo difunde-se nos crentes, unidos pelos sacramentos, dum modo misterioso e real, a Cristo sofredor e glorificado». Isto verifica-se particularmente no Baptismo, que nos une à morte e ressurreição de Cristo, e na Eucaristia, pela qual, «participando realmente no Corpo de Cristo», somos elevados à comunhão com Ele e entre nós.
Mas a unidade do Corpo não anula a diversidade dos membros: «Na edificação do Corpo de Cristo existe diversidade de membros e funções. É o mesmo Espírito que distribui os seus vários dons, segundo a sua riqueza e as necessidades dos ministérios para utilidade da Igreja». A unidade do Corpo Místico produz e estimula a caridade entre os fiéis: «Daí que, se algum membro padece, todos os membros sofrem juntamente; e se algum membro recebe honras, todos se alegram». Em suma, a unidade do Corpo Místico triunfa sobre todas as divisões humanas: «Todos vós que fostes baptizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; porque todos vós sois um só, em Cristo Jesus» (Gl 3, 27-28).

LEITURA I – Zac 12, 10-11; 13, 1

Voltarão os olhos para aquele a quem trespassaram” (Jo 19, 37)

O profeta anuncia a libertação e renovação de Jerusalém; mas essa salvação custará dores e lamentos. S. João, no seu Evangelho, vê no servo trespassado, de que fala o profeta, a figura de Jesus crucificado e trespassado pela lança do soldado. O seu Coração assim aberto tornou-se fonte de água viva, de salvação e de graça, para os que para Ele olharem com fé e amor. Tanto custaria a salvação da nova Jerusalém, a santa Igreja de Deus!

Leitura da Profecia de Zacarias
“Eis o que diz o Senhor: «Sobre a casa de David e os habitantes de Jerusalém derramarei um espírito de piedade e de súplica. Ao olhar para Mim, a quem trespassaram, lamentar-se-ão como se lamenta um filho único, chorarão como se chora o primogénito. Naquele dia, haverá grande pranto em Jerusalém, como houve em Hadad-Rimon, na planície de Megido. Naquele dia, jorrará uma nascente para a casa de David e para os habitantes de Jerusalém, a fim de lavar o pecado e a impureza».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Gal 3, 26-29

Todos vós que recebestes o baptismo de Cristo, fostes revestidos de Cristo

Continuando a fazer o confronto entre o regime da Lei, no Antigo Testamento, e o do Novo Testamento, o Apóstolo afirma que, pela fé e pelo baptismo, os cristãos estão “revestidos de Cristo”, formam todos, seja qual for a sua origem natural, o povo descendente de Abraão, herdeiro das promessas que Deus tinha feito àquele antigo Patriarca do Povo de Deus. Não é, portanto, a descendência carnal, mas a que vem da fé, que torna os homens “filhos de Abraão” e herdeiros das promessas a ele feitas por Deus.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
“Irmãos: Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque todos vós, que fostes baptizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; todos vós sois um só em Cristo Jesus. Mas, se pertenceis a Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 9, 18-24

És o Messias de Deus. O Filho do homem tem de sofrer muito

S. Pedro, em nome de todos, reconhece e proclama a fé fundamental da Igreja: Jesus de Nazaré, o Filho do homem, é o Messias de Deus, o profeta anunciado desde os tempos antigos, o Ungido pelo Espírito Santo, o Enviado de Deus. É Ele que vem dar a vida pela salvação dos homens. Ele é, como na profecia da primeira leitura, Aquele que os homens trespassaram, mas cujo Coração aberto na Cruz é fonte de graça. Para ser seu discípulo, não há outro caminho senão o que Ele mesmo traçou.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?». Eles responderam: «Uns, dizem que és João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou». Disse-lhes Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «És o Messias de Deus». Ele, porém, proibiu-lhes severamente de o dizerem fosse a quem fosse e acrescentou: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia». Depois, dirigindo-Se a todos, disse: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á».”
Palavra da Salvação



sábado, 11 de junho de 2016

PROSTITUÍDAS OU PROSTITUTAS


A MULHER QUE SOUBE AMAR MUITO





1. Prostitutas e prostituídas; do sexo sagrado à liberdade e à opressão
A prostituição teve, ao longo da história, múltiplas funções; entre as que se pode recordar, as do tipo religioso. Nos grandes santuários das deusas, desde a Palestina e da Babilónia, até à India, havia mulheres e, também, homens: prostitutos sagrados (sacerdotes e sacerdotisas sagrados), que actuavam como sinal da divindade, iniciadores sexuais de homens (e mulheres), no plano do amor (neste contexto pode falar-se de Ishtar e Isis, da hierogamia e do tantrismo).
Porém, no geral, a prostituição separou-se do culto e veio a converter-se numa forma de imposição e opressão económica, sexual e afectiva.
Quase todas as culturas, edificadas sobre princípios patriarcais, toleraram a prostituição das mulheres como uma forma de regular a sexualidade dos homens e de manter seguras as relações familiares. Em geral, a mulher casada achava-se submetida ao marido e carecia de liberdade afectiva:
- Nalguns casos, a prostituta podia tornar-se como sinal de mulher libertada, exercendo funções superiores no plano cultural e social. Por isso, sempre houve (e continua a haver) “prostitutas ricas”, desde as cortesãs gregas até às mulheres de uma vida mais livre, que chegam a ser “rainhas” e que dominam as revistas cor-de-rosa de todos os tempos, especialmente nos actuais.
- Mas, a imensa maioria das prostitutas começavam e terminavam sendo um tipo de escravas sexuais. A prostituição é um sinal de “pecado” masculino, de tráfico de influências de poder, com milhões de euros em jogo (milhões associados ao jogo, a determinados casinos de luxo e aos prostíbulos de barro, com milhares e milhares de mulheres e crianças escravizados pelo dinheiro do sexo).

2. Evangelho e prostitutas
Dessas últimas prostitutas fala o Evangelho. Elas são mulheres “violadas, dominadas, destruídas”, muito abundantes no tempo de Jesus, de grande crise social e económica:
- Multiplicaram-se as mulheres que estavam sós, sem terra e sem trabalho, sem família ou opções laborais, sem outro “capital” que não fosse o seu corpo, utilizado por outros, num mundo onde só importava a ganância do sistema. A situação social condenava-as à “prostituição”, isto é, ao desenraizamento e à fome, à ignomínia social e à impureza.
- É evidente que Jesus, profeta dos pobres e dos excluídos, teve de se ligar a elas, pois relacionou-se, de um modo muito especial, com os impuros e os excluídos da sociedade, com os enfermos e com os loucos, com um submundo de homens e mulheres condenados pela mesma sociedade à opressão laboral e sexual (que muitas vezes estavam unidas).
A relação de Jesus com as prostitutas (e com os cobradores de impostos) constitui um dos temas centrais e mais enigmáticos do Evangelho. Assim, parece, numa das passagens mais luminosas e mais duras do Evangelho, onde Jesus se compara a João Baptista. Os “Justos” de Israel (ou de qualquer sociedade estabelecida) condenam-no por andar com gente de má vida. Jesus defende-se: “Em verdade vos digo: Os cobradores de impostos e as meretrizes vão preceder-vos no Reino de Deus. João veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os cobradores de impostos e as meretrizes acreditaram nele. E vós, nem depois de verdes isto, vos arrependestes para acreditar nele” (Mt 21,31-32).

3. Jesus, amigo de prostitutas
Era um tempo de senhores, que escravizavam e prostituíam os mais débeis, em especial a muitas mulheres. Era um tempo e lugar de escravos (pessoas que tinha de se vender e vendiam-se por motivos de trabalho e subsistência); um tempo de “pecadores” (pessoas que pareciam e eram impuras, na perspectiva de pureza da elite sacerdotal e no quadro do novo legalismo dos judeus); um tempo de prostitutas (mulheres sem capacidade nem possibilidade de um desenvolvimento afectivo e familiar que respondesse às exigências morais e religiosas daquele tempo).
Nesse contexto se situa Jesus, amigo de cobradores de impostos e de prostitutas, isto é, de marginais sociais e morais, de homens e mulheres que não têm nem podem desenvolver um trabalho próprio, de tal maneira que vivem, por um lado, “oprimidos” e por outro parece que oprimem, manipulam os outros (os “bons” cidadãos), aparecendo, desta forma, como objecto da exploração e do desprezo violento de toda a população.
Nesse abismo humano penetrou Jesus, tornando-se amigo de publicanos e prostitutas, para iniciar a partir deles e com eles o caminho do reino de Deus, isto é, um movimento integral e contra cultural, de transformação humana.
Não conheceremos Jesus se não o virmos no contexto e ambiente dos lugares onde se encontravam os “excluídos sociais” e onde Ele teve que conhecer as prostitutas e os publicanos, os enfermos e os marginalizados, partilhando com eles o escasso pão e vinho (Jesus comeu com publicanos e gente de “má vida”) para oferecer-lhes o seu caminho e esperança.
É evidente que Jesus não veio só para “perdoar” religiosamente as prostitutas, mas sim para iniciar com elas (a partir delas e com outros tipos de excluídos sociais e mentais, afectivos e religiosos) um caminho de Reino de Deus, um caminho onde surgia o perdão e a vida do Reino.

4. Jesus e a prostituta de Lucas.
Texto:
«Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume.
Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!»
Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» – respondeu ele. «Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.»
Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.» (Lucas 7, 36-50)

5. La casa do Fariseu.
Este Jesus de Lucas não se encontra com a prostituta nas “tabernas” dos bairros baixos sa cidade, ou em refúgios dos caminhos, mas sim numa “vivenda pura”, de um puro cumpridor da lei. Neste contexto, é menos provável, ainda que não impossível, a presença de prostitutas…; mas essa soube como entrar e entrou.
É evidente que “por detrás” dessa do fariseu estão as “casas” sem dignidade, onde viviam as prostitutas e os diversos excluídos, a quem Jesus visitou e veio para oferecer-lhes o Reino. Nessas casas (tabernas e campos de provações incomensuráveis) deveria encontrar Jesus as prostitutas. Mas Lucas condensa esses “encontros” nesta casa do “limpo” fariseu, para por, deste modo, em relevo a falta de amor do “puro” fariseu e o grande amor da prostituta.
A prostituta tem de maior: é capaz de amar e quer amar… O fariseu não ama, apenas cumpre o que é lega, o que está estipulado. Pelo contrário, esta mulher ama muito acima da lei. Assim, dizemos que é uma “prostituta” boa (nos dois sentidos possíveis da palavra) Ela não exige nada, não confessa nada… Simplesmente “ama”.
Jesus não “confessa” a prostituta no sentido posterior da palavra, nem exige que mude de conduta. No final, Jesus não lhe diz “não peques mais”, mas, tão-somente, “vai em paz”, que viva em paz. O normal é que ela tenha de continuar na prostituição, que é o seu modo de vida (é a vida a que a condenaram). Apesar de tudo, é uma prostituta que vai “em paz”, porque é uma mulher capaz de amar, uma mulher em busca de amor.



SÓ DEUS PERDOA OS PECADOS




Domingo XI do Tempo Comum

SÓ DEUS PERDOA OS PECADOS
Só Deus perdoa os pecados. Jesus, porque é Filho de Deus, diz de Si próprio: «O Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados» (Mc 2, 10) e exerce este poder divino: «Os teus pecados são-te perdoados!» (Mc 2, 5). Mais ainda: em virtude da sua autoridade divina, concede este poder aos homens para que o exerçam em seu nome.
Cristo quis que a sua Igreja fosse, toda ela, na sua oração, na sua vida e na sua actividade, sinal e instrumento do perdão e da reconciliação que Ele nos adquiriu pelo preço do seu sangue. Entretanto, confiou o exercício do poder de absolvição ao ministério apostólico. É este que está encarregado do «ministério da reconciliação» (2 Cor 5, 18). O apóstolo é enviado «em nome de Cristo» e «é o próprio Deus» que, através dele, exorta e suplica: «Deixai-vos reconciliar com Deus» (2 Cor 5, 20).
A Justificação
A graça do Espírito Santo tem o poder de nos justificar, isto é, de nos lavar dos nossos pecados e de nos comunicar «a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo» e pelo Baptismo:
«Se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos, sabendo que, uma vez ressuscitado dos mortos, Cristo já não morre; a morte já não tem domínio sobre Ele. Porque, na morte que sofreu, Cristo morreu para o pecado de uma vez para sempre; mas a sua vida é uma vida para Deus. Assim vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus» (Rm 6, 8-11).
Pelo poder do Espírito Santo, nós tomamos parte na paixão de Cristo, morrendo para o pecado, e na sua ressurreição, nascendo para uma vida nova. Somos os membros do seu corpo, que é a Igreja, os sarmentos enxertados na videira, que é Ele próprio:
«É pelo Espírito que nós temos parte em Deus. […] Pela participação no Espírito, tornamo-nos participantes da natureza divina [...]. É por isso que aqueles em quem habita o Espírito são divinizados».
A primeira obra da graça do Espírito Santo é a conversão, que opera a justificação, segundo a mensagem de Jesus no princípio do Evangelho: «Convertei-vos, que está perto o Reino dos céus» (Mt 4, 17). Sob a moção da graça, o homem volta-se para Deus e desvia-se do pecado, acolhendo assim o perdão e a justiça do Alto. «A justificação comporta, portanto, a remissão dos pecados, a santificação e a renovação do homem interior».
A justificação desliga o homem do pecado, que está em contradição com o amor de Deus, e purifica-lhe o coração. A justificação continua a iniciativa da misericórdia de Deus, que oferece o perdão; reconcilia o homem com Deus; liberta-o da escravidão do pecado e cura-o.
A justificação é, ao mesmo tempo, acolhimento da justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo. Justiça designa, aqui, a rectidão do amor divino. Com a justificação, são difundidas nos nossos corações a fé, a esperança e a caridade, e é-nos concedida a obediência à vontade divina.
A justificação foi-nos merecida pela paixão de Cristo, que na cruz Se ofereceu como hóstia viva, santa e agradável a Deus, e cujo sangue se tornou instrumento de propiciação pelos pecados de todos os homens. A justificação é concedida pelo Baptismo, sacramento da fé. Conformanos com a justiça de Deus que nos torna interiormente justos pelo poder da sua misericórdia. E tem por fim a glória de Deus e de Cristo, e o dom da vida eterna;
«Mas agora, foi sem a Lei que se manifestou a justiça de Deus, atestada pela Lei e pelos Profetas: a justiça que vem para todos os crentes, mediante a fé em Jesus Cristo. É que não há diferença alguma: todos pecaram e estão privados da glória de Deus. Sem o merecerem, são justificados pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. Deus ofereceu-o para, nele, pelo seu sangue, se realizar a expiação que actua mediante a fé; foi assim que Ele mostrou a sua justiça, ao perdoar os pecados cometidos outrora, no tempo da divina paciência. Deus mostra assim a sua justiça no tempo presente, porque Ele é justo e justifica quem tem fé em Jesus» (Rm 3, 21-26).
A justificação estabelece a colaboração entre a graça de Deus e a liberdade do homem. Do lado do homem, exprime-se no assentimento da fé à Palavra de Deus que convida à conversão, e na cooperação da caridade com o impulso do Espírito Santo que se lhe adianta e o guarda:
«Quando Deus move o coração do homem pela iluminação do Espírito Santo, o homem não fica sem fazer nada ao receber esta inspiração, que, aliás, pode rejeitar; no entanto, também não pode, sem a graça de Deus, caminhar, por sua livre vontade, para a justiça na sua presença».
A justificação é a obra mais excelente do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus e concedido pelo Espírito Santo. Santo Agostinho pensa que «a justificação do ímpio é obra maior que a criação do céu e da terra»; porque «o céu e a terra passarão, ao passo que a justificação e a salvação dos eleitos permanecerão». Pensa mesmo que a justificação dos pecadores é mais importante que a criação dos anjos em justiça, pelo facto de testemunhar uma maior misericórdia.
O Espírito Santo é o mestre interior. Fazendo nascer o «homem interior», a justificação implica a santificação de todo o ser:
«Pois, como pusestes os vossos membros ao serviço da impureza e do mal para cometer a iniquidade, assim ponde agora os vossos membros ao serviço da justiça para chegar à santidade. [...] Mas agora, libertos do pecado e feitos servos de Deus, tendes por fruto a santidade; e o termo é a vida eterna» (Rm 6, 19.22).

LEITURA I – 2 Sam 12, 7-10.13

O Senhor perdoou o teu pecado: Não morrerás

A fraqueza chega a todos os homens. O pecado do rei David é disso uma prova. Mas também chega a todos os homens a misericórdia do Senhor. Ela se manifesta bem clara na palavra que o profeta de Deus dirige ao rei, primeiro chamando-o à consciência do pecado, depois anunciando-lhe o perdão. A leitura põe em relevo o acolhimento dado por David à palavra de Deus e o perdão que logo Deus lhe oferece.

Leitura do Segundo Livro de Samuel
“Naqueles dias, disse Natã a David: «Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Ungi-te como rei de Israel e livrei-te das mãos de Saul. Entreguei-te a casa do teu senhor e pus-te nos braços as suas mulheres. Dei-te a casa de Israel e de Judá e, se isto não é suficiente, dar-te-ei muito mais. Como ousaste desprezar a palavra do Senhor, fazendo o que é mal a seus olhos? Mataste à espada Urias, o hitita; tomaste como esposa a sua mulher, depois de o teres feito passar à espada pelos amonitas. Agora a espada nunca mais se afastará da tua casa, porque Me desprezaste e tomaste a esposa de Urias, o hitita, para fazeres dela tua mulher». Então David disse a Natã: «Pequei contra o Senhor». Natã respondeu-lhe: «O Senhor perdoou o teu pecado: Não morrerás».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Gal 2, 16.19-21

Não sou eu que vivo: é Cristo que vive em mim

A grande descoberta que S. Paulo fez, na sua conversão, foi Cristo. A partir daí, Cristo ocupou o lugar central na sua vida. S. Paulo descobriu que a salvação nos foi alcançada por Cristo, morto e ressuscitado; que não somos nós que nos salvamos, mas que é Ele quem nos salva, e que a vida cristã não é outra coisa senão aceitar esse dom e a ele corresponder, na fé e na fidelidade em toda a vida.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
“Irmãos: Sabemos que o homem não é justificado pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo; por isso acreditámos em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei, porque pelas obras da Lei ninguém é justificado. De facto, por meio da Lei, morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Com Cristo estou crucificado. Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. Se ainda vivo dependente de uma natureza carnal, vivo animado pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim. Não quero tornar inútil a graça de Deus, porque, se a justificação viesse por meio da Lei, então Cristo teria morrido em vão.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 7, 36 – 8, 3

São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou

A pecadora de que nesta leitura se fala (e que não deve ser identificada nem com a irmã de Marta e de Lázaro, nem com Maria Madalena), é mais uma testemunha da misericórdia do Senhor, de que S. Lucas tanto gosta de falar. Toda a narração, que inclui, a certa altura, a pequena parábola do devedor perdoado, estabelece a ligação entre o amor e o perdão: o amor alcança o perdão, mas o perdão é fonte de amor. A resposta de Jesus a Simão deixa antever este duplo movimento.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, um fariseu convidou Jesus para comer com ele. Jesus entrou em casa do fariseu e tomou lugar à mesa. Então, uma mulher – uma pecadora que vivia na cidade – ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com perfume; pôs-se atrás de Jesus e, chorando muito, banhava-Lhe os pés com as lágrimas e enxugava-Lhos com os cabelos, beijava-os e ungia-os com o perfume. Ao ver isto, o fariseu que tinha convidado Jesus pensou consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia que a mulher que O toca é uma pecadora». Jesus tomou a palavra e disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa a dizer-te». Ele respondeu: «Fala, Mestre». Jesus continuou: «Certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Como não tinham com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles ficará mais seu amigo?». Respondeu Simão: «Aquele – suponho eu – a quem mais perdoou». Disse-lhe Jesus: «Julgaste bem». E voltando-Se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não Me deste água para os pés; mas ela banhou-Me os pés com as lágrimas e enxugou-os com os cabelos. Não Me deste o ósculo; mas ela, desde que entrei, não cessou de beijar-Me os pés. Não Me derramaste óleo na cabeça; mas ela ungiu-Me os pés com perfume. Por isso te digo: São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama». Depois disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados». Então os convivas começaram a dizer entre si: «Quem é este homem, que até perdoa os pecados?». Mas Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz». Depois disso, Jesus ia caminhando por cidades e aldeias, a pregar e a anunciar a Boa Nova do reino de Deus. Acompanhavam-n’O os Doze, bem como algumas mulheres que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades. Eram Maria, chamada Madalena, de quem tinham saído sete demónios, Joana, mulher de Cusa, administrador de Herodes, Susana e muitas outras, que serviam Jesus com os seus bens.”
Palavra da Salvação



sábado, 4 de junho de 2016

O FILHO DA VIUVA DE NAIM




Domingo X do Tempo Comum

NO RESSUSCITAR OS MORTOS, CRISTO ANUNCIA A SUA RESSURREIÇÃO
A ressurreição de Cristo não foi um regresso à vida terrena, como no caso das ressurreições que Ele tinha realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem de Naim e Lázaro. Esses factos eram acontecimentos milagrosos, mas as pessoas miraculadas reencontravam, pelo poder de Jesus, uma vida terrena «normal»; em dado momento, voltariam a morrer. A ressurreição de Cristo é essencialmente diferente. No seu corpo ressuscitado, Ele passa do estado de morte a uma outra vida, para além do tempo e do espaço. O corpo de Cristo é, na ressurreição, cheio do poder do Espírito Santo; participa da vida divina no estado da sua glória, de tal modo que São Paulo pode dizer de Cristo que Ele é o «homem celeste».
Mas há mais: Jesus liga a fé na ressurreição à sua própria pessoa: «Eu sou a Ressurreição e a Vida» (Jo 11, 25). É o próprio Jesus que, no último dia, há-de ressuscitar os que n’Ele tiverem acreditado, comido o seu Corpo e bebido o seu Sangue. Desde logo, Ele dá um sinal disto mesmo, e uma garantia, restituindo a vida a alguns mortos e preanunciando assim a sua própria ressurreição que, no entanto, será de ordem diferente. Jesus fala deste acontecimento único como do «sinal de Jonas», do sinal do templo; Ele anuncia a sua ressurreição ao terceiro dia depois da morte.
O sentido cristão da morte associado à Ressurreição
O sentido cristão da morte é revelado à luz do mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo, em quem pomos a nossa única esperança. O cristão que morre em Cristo Jesus «abandona este corpo para ir morar junto do Senhor».
Elias e a viúva
Depois de ter aprendido a misericórdia no seu retiro na torrente de Querit, ensina à viúva de Sarepta a fé na Palavra de Deus, fé que ele confirma com a sua oração insistente: Deus faz voltar à vida o filho da viúva.
Aquando do sacrifício no monte Carmelo, prova decisiva para a fé do povo de Deus, é em resposta à sua súplica que o fogo do Senhor consome o holocausto, «à hora de oferecer o sacrifício da tarde». «Responde-me, Senhor, responde-me!» são as palavras de Elias, que as liturgias orientais retomam na epiclese eucarística.
Finalmente, retomando o caminho do deserto em direcção ao lugar onde o Deus vivo e verdadeiro Se revelou ao seu povo, Elias recolheu-se, como Moisés, «na cavidade do rochedo», até «passar» a presença misteriosa de Deus. Mas será somente no monte da transfiguração que Se mostrará sem véu Aquele cuja face eles procuravam: o conhecimento da glória de Deus está na face de Cristo, crucificado e ressuscitado.
Cristo liberta a criação do pecado e da morte
A acção de graças caracteriza a oração da Igreja que, ao celebrar a Eucaristia, manifesta e cada vez mais se torna naquilo que é. De facto, pela obra da salvação, Cristo liberta a criação do pecado e da morte, para de novo a consagrar e fazer voltar ao Pai, para sua glória. A acção de graças dos membros do corpo participa na da sua Cabeça.

LEITURA I – 1 Reis 17, 17-24

Aqui tens o teu filho vivo

O Domingo é o dia da Ressurreição, do triunfo da vida sobre a morte, do poder de Deus sobre o pecado que leva à perdição. A narração do Evangelho é preparada com esta da ressurreição do filho de uma viúva, em casa de quem o profeta Elias se costumava hospedar. A ressurreição é sempre testemunho do poder e da acção de Deus. E, de facto, a mulher reconheceu que Elias era um homem de Deus, pela ressurreição do seu filho, que, por meio dele, o Senhor realizou.

Leitura do Primeiro Livro dos Reis
“Naqueles dias, caiu doente o filho da viúva de Sarepta e a enfermidade foi tão grave que ele morreu. Então a mãe disse a Elias: «Que tens tu a ver comigo, homem de Deus? Vieste a minha casa lembrar-me os meus pecados e causar a morte do meu filho?». Elias respondeu-lhe: «Dá-me o teu filho». Tomando-o dos braços da mãe, levou-o ao quarto de cima, onde dormia, e deitou-o no seu próprio leito. Depois invocou o Senhor, dizendo: «Senhor, meu Deus, quereis ser também rigoroso para com esta viúva, que me hospeda em sua casa, a ponto de fazerdes morrer o seu filho?». Elias estendeu-se três vezes sobre o menino e clamou de novo ao Senhor: «Senhor, meu Deus, fazei que a alma deste menino volte a entrar nele». O Senhor escutou a voz de Elias: a alma do menino voltou a entrar nele e o menino recuperou a vida. Elias tomou o menino, desceu do quarto para dentro da casa e entregou-o à mãe, dizendo: «Aqui tens o teu filho vivo». Então a mulher exclamou: «Agora vejo que és um homem de Deus e que se encontra verdadeiramente nos teus lábios a palavra do Senhor».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Gal 1, 11-19

Deus quis revelar em mim o seu Filho para que eu O anunciasse aos gentios

O Apóstolo previne a comunidade cristã contra desvios e infiltrações de falsos pregadores, que pretendiam espalhar erros e afastar aquela comunidade do Evangelho. A norma da fé não é o pregador, mas a palavra de Deus que ele há-de pregar. Nem interesses humanos, muito menos o espírito de inveja ou intriga podem perturbar a paz que é fruto da palavra do Senhor.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
“Quero que saibais, irmãos: O Evangelho anunciado por mim não é de inspiração humana, porque não o recebi ou aprendi de nenhum homem, mas por uma revelação de Jesus Cristo. Certamente ouvistes falar do meu proceder outrora no judaísmo e como perseguia terrivelmente a Igreja de Deus e procurava destrui-la. Fazia mais progressos no judaísmo do que muitos dos meus compatriotas da mesma idade, por ser extremamente zeloso das tradições dos meus pais. Mas quando Aquele que me destinou desde o seio materno e me chamou pela sua graça, Se dignou revelar em mim o seu Filho para que eu O anunciasse aos gentios, decididamente não consultei a carne e o sangue, nem subi a Jerusalém para ir ter com os que foram Apóstolos antes de mim; mas retirei-me para a Arábia e depois voltei novamente a Damasco. Três anos mais tarde, subi a Jerusalém para ir conhecer Pedro e fiquei junto dele quinze dias. Não vi mais nenhum dos Apóstolos, a não ser Tiago, irmão do Senhor.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 7, 11-17

Jovem, Eu te digo: levanta-te

O poder de Deus, que já se revelava em Elias, manifesta-se, em toda a plenitude, em Jesus Cristo, o Filho de Deus, Ele é a fonte de toda a vida. Ao ressuscitar o filho da viúva de Naim, Jesus manifesta a sua bondade e poder, e anuncia já a sua própria Ressurreição. Ele veio a este mundo precisamente para vencer o poder da Morte e dar aos homens a Vida que não morre mais. Os que presenciaram o milagre reconheceram-n’O e proclamaram-n’O como Profeta.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim; iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade. Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe: «Não chores». Jesus aproximou-Se e tocou no caixão; e os que o transportavam pararam. Disse Jesus: «Jovem, Eu te ordeno: levanta-te». O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe. Todos se encheram de temor e davam glória a Deus, dizendo: «Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo». E a fama deste acontecimento espalhou-se por toda a Judeia e pelas regiões vizinhas.”
Palavra da Salvação