sábado, 26 de outubro de 2019

HUMILDADE E VERDADE





DOMINGO XXX DO TEMPO COMUM – ano C – 27OUT2019

O PUBLICANO DESCEU JUSTIFICADO PARA SUA CASA. O FARISEU NÃO

Não se trata de se humilhar de uma maneira masoquista e penitencial, mas de ser o que se é, e realmente ser, reconhecê-lo diante de Deus (isto é, diante de si mesmo, diante dos outros), vivendo dessa maneira.
O publicano do evangelho aceita o que sabe, ele reconhece-se em Deus, ele pode realmente viver, em si mesmo, diante dos outros. Pelo contrário, o fariseu, um profissional em oração, ressurge neste caso como um mentiroso: ele mente diante de Deus, ele mente para si mesmo e despreza aqueles que acha que não são do seu nível social.
Obrigado, porque não sou como os outros – ladrões, injustos, adúlteros.
Sem dúvida, este fariseu cumpre a lei com os seus mandamentos (como o bom rico do seguinte texto: Lc 18, 18-31). Mas, como Paulo sabe, uma lei bem cumprida, de maneira legalista, leva à morte, porque acaba dividindo os homens entre os que cumprem e os que não cumprem, entre os limpos e os maculados (expulsando aqueles que não são importantes para o seu meio).
Os “executantes” podem usar a lei para ter sucesso, impondo-se aos outros, sem piedade. Entre eles está este fariseu, que veio dizer a Deus que ele triunfou e agradecer por isso.
A lei é boa, continuaria Jesus a dizer, mas entendida como é entendida por este fariseu, torna-se uma arma terrível, ao serviço da própria segurança e do desprezo pelos outros.
Essa pode ser a lei de um tipo de político que busca a sua própria justificação em detrimento de outros..., para aqueles que culpam tudo.
Esta é a lei do “bom capitalismo” que pensa que está certa no que faz (e até paga impostos, como justiça “religiosa” e financia procissões e manifestações de triunfo religioso!), mas condena milhões de pessoas à pobreza…
É a lei dos líderes do templo que administram com boa consciência o seu dinheiro e a sua memória histórica, para condenar outros (ladrões, injustos, adúlteros ...!). Entre eles está esse bom fariseu que não comete adultério com as mulheres dos outros (ele cumpre a lei!), Mas talvez ele não ame a si próprio (ou algum) com ternura e igualdade, e talvez “se divirta” com mulheres livres ou prostitutas (isso não é adultério!), não importa o que sintam, o que pensem.

Não é como aquele publicano.
A visão do publicano confirma-o na justiça e no valor dele. A visão do publicano permite que ele viva mais calmo, seja quem ele for e comporta-se como se comporta..., porque existem publicanos e prostitutas no mundo que querem usar sem arrependimentos, porque são ruins e merecem o que têm (ou seja, o que não têm).
Esse fariseu precisa ser divulgado, para cobrar os seus impostos e conduzir os seus negócios sujos; ele precisa (provavelmente) da prostituta (pelo menos para os seus empreendimentos morais: sentir-se bem). No fundo, ele mesmo está dizendo (sem perceber) que a sua “justiça” está montada na injustiça de outros, uma injustiça que ele está propiciando, dentro de um sistema religioso endossado pelo templo (um templo para o serviço dos fariseus).

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 104, 3-4
Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor.
Buscai o Senhor e o seu poder,
procurai sempre a sua face.

ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade; e para merecermos alcançar o que prometeis, fazei-nos amar o que mandais.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Sir 35, 15b-17.20-22a (gr. 12-14.16-18)

«A oração do humilde atravessa as nuvens»

Deus é a própria Verdade; diante d’Ele o homem deve agir com toda a verdade, sob pena de não ser acolhido por Ele. A oração deve ser o momento mais verdadeiro diante de Deus. E a oração humilde será sempre escutada por Deus.

Leitura do Livro de Ben-Sirá
O Senhor é um juiz que não faz acepção de pessoas. Não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido. Não despreza a súplica do órfão, nem os gemidos da viúva. Quem adora a Deus será bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens. A oração do humilde atravessa as nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino. Não desiste, até que o Altíssimo o atenda, para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça.
Palavra do Senhor


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 33 (34), 2-3.17-18.19.23 (R. 7a)

Refrão: O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz. (Repete-se)
Ou: O Senhor ouviu o clamor do pobre. (Repete-se)

A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes. (Refrão)

A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua memória.
Os justos clamaram e o Senhor os ouviu,
livrou-os de todas as angústias. (Refrão)

O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.
O Senhor defende a vida dos seus servos,
não serão castigados os que n’Ele confiam. (Refrão)


LEITURA II – 2 Tim 4, 6-8.16-18

«Já me está preparada a coroa da justiça»

A leitura faz-nos escutar a última mensagem de S. Paulo antes de sofrer o martírio: abandonado dos homens, ele sente-se plenamente confiante na justiça de Deus que nunca o abandonou nem abandonará.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo: Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. Na minha primeira defesa, ninguém esteve a meu lado: todos me abandonaram. Queira Deus que esta falta não lhes seja imputada. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Ámen.
Palavra do Senhor

ALELUIA – 2 Cor 5, 19

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Deus estava em Cristo
reconciliando o mundo consigo
e confiou-nos a palavra da reconciliação. (Refrão)


EVANGELHO – Lc 18, 9-14

«O publicano desceu justificado para sua casa e o fariseu não»

Jesus ensina, por meio de uma parábola, como devemos orar. Este ensinamento não se aplica somente à oração individual, mas também à oração da assembleia litúrgica, onde os sinais de festa hão-de proceder sempre de um coração humilde e consciente do dom de Deus, que comunitariamente celebramos.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Olhai, Senhor, para os dons que Vos apresentamos
e fazei que a celebração destes mistérios
dê glória ao vosso nome.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 19, 6

Celebramos, Senhor, a vossa salvação
e glorificamos o vosso santo nome.

Ou: Ef 5, 2
Cristo amou-nos e deu a vida por nós,
oferecendo-Se em sacrifício agradável a Deus.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Fazei, Senhor, que os vossos sacramentos realizem em nós o que significam, para alcançarmos um dia em plenitude o que celebramos nestes santos mistérios.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 19 de outubro de 2019

O CLAMOR DO POBRE



DOMINGO XXIX DO TEMPO COMUM – ano C – 20OUT2019



DEUS FARÁ JUSTIÇA AOS SEUS ELEITOS, QUE POR ELE CLAMAM

Insistência e perseverança só existem naqueles que estão insatisfeitos com a situação presente e, por isso, não desanimam; pelo contrário, jamais conseguiriam alguma coisa. Deus atende àqueles que, através da oração, testemunham o desejo e a esperança de que se faça justiça. Jesus ilustrou o seu ensinamento, a respeito do dever de orar sem jamais desanimar, com a parábola da pobre viúva às voltas com um juiz iníquo. A sua doutrina tem como pano de fundo um tema frequente na literatura sapiencial do Antigo Testamento: a predisposição divina a ouvir e atender o clamor dos pobres. Pode-se falar em parcialidade de Deus em favor de seus preferidos. Ele ouve a prece de quem é tratado injustamente e jamais rejeita a súplica do órfão e da viúva, quando extravasam as suas queixas. O grito dos pobres atravessa as nuvens e o Altíssimo não descansa enquanto não intervém em favor deles. Deus está sempre pronto para defender a causa do humilde e do indefeso. Em suma, coloca-se a favor dos fracos e assume a causa deles. Pelo contrário, ele rejeita a oração dos injustos e prepotentes, cujas mãos estão manchadas de sangue e só são usadas para oprimir e massacrar. E, voltam-se para Deus, é só para falar com soberba e arrogância. Resultado: a sua oração jamais obterá o beneplácito divino! A oração do discípulo do Reino deve ser a do pobre que só conta com a protecção divina, pois, fora de Deus, não tem a quem recorrer. A sua oração será perseverante, uma vez que está sempre seguro de ser atendido, mesmo que isso possa demorar. Se um Juiz iníquo acabou sendo movido pela insistência de uma pobre viúva, quando mais o Pai misericordioso se deixará mover pelo clamor dos seus filhos queridos. Lucas, no seu evangelho, dá grande destaque à oração. Nesta parábola, a viúva, que é uma das categorias de extrema exclusão na Bíblia, representa o povo oprimido. O juiz é a expressão da classe dirigente, elitista e opressora. A insistência e a perseverança da viúva vencem a indiferença e a omissão do juiz iníquo. Se o pedido insistente da viúva demoveu o juiz iníquo da sua posição omissa, com maior razão Deus fará justiça aos seus, que a ele clamam dia e noite. É o clamor do seu povo, oprimido por um poder injusto, opressor e idólatra do dinheiro. Este poder acumula as riquezas que deveriam ser destinadas à promoção da vida no mundo e as aplica nas fabulosas e sofisticadas armas de destruição. É o clamor que exprime o desejo de uma nova sociedade, com a restauração da justiça e da vida plena para todos.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 16, 6.8.9
Respondei-me, Senhor, quando Vos invoco,
ouvi a minha voz, escutai as minhas palavras.
Guardai-me dos meus inimigos, Senhor.
Protegei-me à sombra das vossas asas.

ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, dai-nos a graça de consagrarmos sempre ao vosso serviço a dedicação da nossa vontade e a sinceridade do nosso coração.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Ex 17, 8-13

« Quando Moisés erguia as mãos, Israel ganhava vantagem»

O episódio de Moisés de braços erguidos em oração pela vitória do seu povo no combate contra os Amalecitas é-nos hoje lido em relação com a leitura do Evangelho, em que se nos fala da perseverança na oração. Seremos capazes de acreditar que Deus tem os ouvidos atentos à oração dos pobres e dos humildes que sabem confiar-se a Ele?

Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, Amalec veio a Refidim atacar Israel. Moisés disse a Josué: «Escolhe alguns homens e amanhã sai a combater Amalec. Eu irei colocar-me no cimo da colina, com a vara de Deus na mão». Josué fez o que Moisés lhe ordenara e atacou Amalec, enquanto Moisés, Aarão e Hur subiram ao cimo da colina. Quando Moisés tinha as mãos levantadas, Israel ganhava vantagem; mas quando as deixava cair, tinha vantagem Amalec. Como as mãos de Moisés se iam tornando pesadas, trouxeram uma pedra e colocaram-na por debaixo para que ele se sentasse, enquanto Aarão e Hur, um de cada lado, lhe seguravam as mãos. Assim se mantiveram firmes as suas mãos até ao pôr do sol e Josué desbaratou Amalec e o seu povo ao fio da espada.
Palavra do Senhor


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 120 (121), 1-8 (R. cf. 2)

Refrão: O nosso auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra. (Repete-se)

Levanto os meus olhos para os montes:
donde me virá o auxílio?
O meu auxílio vem do Senhor,
que fez o céu e a terra. (Refrão)

Não permitirá que vacilem os teus passos,
não dormirá Aquele que te guarda.
Não há-de dormir nem adormecer
Aquele que guarda Israel. (Refrão)

O Senhor é quem te guarda,
o Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo.
O sol não te fará mal durante o dia,
nem a lua durante a noite. (Refrão)

O Senhor te defende de todo o mal,
o Senhor vela pela tua vida.
Ele te protege quando vais e quando vens,
agora e para sempre. (Refrão)


LEITURA II – 2 Tim 3, 14 – 4, 2

«O homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas obras»

Ao procurar a formação do seu discípulo Timóteo, S. Paulo incute-lhe o amor à palavra de Deus, contida na Sagrada Escritura. A leitura assídua que dela fazemos, ao menos mas sobretudo na celebração da liturgia, é a melhor escola de formação no serviço de Deus, e sempre alimento que fortifica no crescimento da vida em Cristo, pois que ela continua a ser criadora.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo: Permanece firme no que aprendeste e aceitaste como certo, sabendo de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras; elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a justiça. Assim o homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas obras. Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há-de julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina.
Palavra do Senhor

ALELUIA – Hebr 4, 12

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

A palavra de Deus é viva e eficaz,
pode discernir os pensamentos
e intenções do coração. (Refrão)


EVANGELHO – Lc 18, 1-8

«Deus fará justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam»

No princípio da leitura desta passagem do Evangelho explica-se a intenção de Jesus ao pronunciar esta parábola: “Sobre a necessidade de orar sempre, sem desanimar”. A maior penúria do homem não será não possuir, mas não ter coragem de sentir a necessidade de pedir! Não queremos ser certamente dos que vão desanimar na sua fé antes da vinda do Senhor! Para isso, oramos sem cessar.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos uma parábola sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar: «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor acrescentou: «Escutai o que diz o juiz iníquo!... E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Fazei, Senhor, que possamos servir ao vosso altar com plena liberdade de espírito, para que estes mistérios que celebramos nos purifiquem de todo o pecado.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 32, 18-19

O Senhor vela sobre os seus fiéis,
sobre aqueles que esperam na sua bondade,
para libertar da morte as suas almas,
para os alimentar no tempo da fome.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Concedei, Senhor, que a participação nos mistérios celestes nos faça progredir na santidade, nos obtenha as graças temporais e nos confirme nos bens eternos.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 12 de outubro de 2019

LOUVOR





DOMINGO XXVIII DO TEMPO COMUM – ano C – 13OUT2019

DEZ LEPROSOS

Esses dez leprosos são o mundo inteiro, a humanidade excluída que Jesus deseja curar, com fé, isto é, com humanidade profunda. Onde outros pensam que acreditar é enganar a si mesmos (homens racionais pensam e decidem raciocinar seus problemas, outros acreditam... quando crianças), Jesus sabe que acreditar está a receber a vida como um presente, comprometendo-se a viver de graça, pelo amor à vida. Vida, que é amor pelos outros.
Nesse sentido, o evangelho apresenta Jesus como um homem de fé. É por isso que não resolve os problemas dos homens, oferecendo-lhes algum tipo de ajuda externa. Não os leva à evasão ou esquecimento da terra (da sua condição humana), mas, pelo contrário, no centro da mesma doença, Jesus provoca um gesto de fé naqueles que o recebem e o escutam. Assim, ele age como um promotor da vida no meio da morte, como um sinal de esperança no meio de uma sociedade que parece fadada ao desespero.
Os milagres de Jesus, um acto de fé
a)   Jesus age como mediador da fé: diálogo com os doentes (ou possuídos); ele penetra no lugar da dor, na raiz da sua doença ou loucura, como amigo que ama, como psicólogo exigente, como crente que irradia fé. Precisamente onde parece que a vida está condenada e falhou, Jesus penetrou com a sua força de fé e amor livre e transformadora.
b)   Jesus coloca os enfermos diante do poder de Deus que definimos com todo o evangelho como “reino”, isto é, como o princípio da nova humanidade. Crer no Reino de Deus é acreditar numa vida diferente, no espírito interior, na fraternidade. Como mensageiro e testemunha daquele Reino de Deus (que é o Reino da vida dos homens), Jesus age, acendendo no enfermo (e no seu ambiente) a chama de uma fé que cura e transforma.
c)   É por isso que o milagre é realizado como fé. Isso é indicado pela tradição evangélica, lembrando repetidas vezes as palavras de Jesus que diz aos enfermos “se acreditas que te podes curar” ou “a tua fé te curou”. A fé está-se colocando nas mãos da graça de Deus, nas mãos da sua força criativa. A fé é o gesto pelo qual, superando quem somos, nos colocamos nos braços de quem nos faz viver, de quem nos permite esperar. Ao atingir esse nível, isso pode ser feito e o milagre é realizado muitas vezes.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 129, 3-4
Se tiverdes em conta as nossas faltas,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão, Senhor Deus de Israel.

ORAÇÃO COLECTA
Nós Vos pedimos, Senhor, que a vossa graça
preceda e acompanhe sempre as nossas acções
e nos torne cada vez mais atentos
à prática das boas obras.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – 2 Reis 5, 14-17

«Naamã foi ter novamente com o homem de Deus e confessou a sua fé no Senhor»

A primeira e a terceira leitura deste domingo põem, lado a lado, dois estrangeiros que mostram ter uma alma mais próxima de Deus do que muitos dos do seu povo. Não foi o pertencerem oficialmente ao povo eleito que os salvou, mas o saberem abrir-se à palavra de Deus e terem fé n’Ele. Para Deus não há estrangeiros, e os que são do seu povo só aproveitarão de tal situação se viverem da fé.

Leitura do Segundo Livro dos Reis
Naqueles dias, o general sírio Naamã desceu ao Jordão e aí mergulhou sete vezes, como lhe mandara Eliseu, o homem de Deus. A sua carne tornou-se tenra como a de uma criança e ficou purificado da lepra. Naamã foi ter novamente com o homem de Deus, acompanhado de toda a sua comitiva. Ao chegar diante dele, exclamou: «Agora reconheço que em toda a terra não há outro Deus senão o de Israel. Peço-te que aceites um presente deste teu servo». Eliseu respondeu-lhe: «Pela vida do Senhor que eu sirvo, nada aceitarei». E apesar das insistências, ele recusou. Disse então Naamã: «Se não aceitas, permite ao menos que se dê a este teu servo uma porção de terra para um altar, tanto quanto possa carregar uma parelha de mulas, porque o teu servo nunca mais há-de oferecer holocausto ou sacrifício a quaisquer outros deuses, mas apenas ao Senhor, Deus de Israel».
Palavra do Senhor


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98), 1-4 (R. cf. 2b)

Refrão: O Senhor manifestou a salvação a todos os povos. (Repete-se)
Ou: Diante dos povos manifestou Deus a salvação. (Repete-se)

Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória. (Refrão)

O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel. (Refrão)

Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai. (Refrão)


LEITURA II – 2 Tim 2, 8-13

«Se sofremos com Cristo, também com Ele reinaremos»

A leitura do Apóstolo começa por um acto de fé na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, para passar depois a uma profissão de fé no sentido da vida do cristão em comunhão com Cristo, que morreu e ressuscitou. Esta leitura é assim um verdadeiro hino, onde se proclama o sentido último da vida cristã, vida que encontra todo o sentido na união ao Senhor Jesus, no seu mistério pascal.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo: Lembra-te de que Jesus Cristo, descendente de David, ressuscitou dos mortos, segundo o meu Evangelho, pelo qual eu sofro, até ao ponto de estar preso a estas cadeias como um malfeitor. Mas a palavra de Deus não está encadeada. Por isso, tudo suporto por causa dos eleitos, para que obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com a glória eterna. É digna de fé esta palavra: Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com Ele reinaremos; se O negarmos, também Ele nos negará; se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo.
Palavra do Senhor

ALELUIA – 1 Tes 5, 18

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Em todo o tempo e lugar dai graças a Deus,
porque esta é a sua vontade a vosso respeito
em Cristo Jesus. (Refrão)


EVANGELHO – Lc 17, 11-19

«Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro»

A atitude fundamental da oração é a acção de graças, porque ela supõe no cristão, antes de mais, o reconhecimento do que Deus lhe dá e a resposta a esse dom, com o louvor agradecido. É precisamente esta atitude espiritual que se exprime com a palavra “eucaristia”, o nome da acção de graças por excelência.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, indo Jesus a caminho de Jerusalém, passava entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar numa povoação, vieram ao seu encontro dez leprosos. Conservando-se a distância, disseram em alta voz: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E sucedeu que no caminho ficaram limpos da lepra. Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto em terra aos pés de Jesus, para Lhe agradecer. Era um samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?». E disse ao homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Aceitai, Senhor, as orações e as ofertas dos vossos fiéis e fazei que esta celebração sagrada nos encaminhe para a glória do Céu.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 33, 11

Os ricos empobrecem e passam fome;
mas nada falta aos que procuram o Senhor.

Ou - 1 Jo 3, 2
Quando o Senhor Se manifestar,
seremos semelhantes a Ele,
porque O veremos na sua glória.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus de infinita bondade, que nos alimentais com o Corpo e o Sangue do vosso Filho, tornai-nos também participantes da sua natureza divina.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



sábado, 5 de outubro de 2019

O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ





DOMINGO XXVII DO TEMPO COMUM – ano C – 6OUT2019

A FORÇA DE QUEM TEM FÉ
Cristianismo é fé. Esta é sua característica específica. “Nós afirmamos muito facilmente, como pressuposto, que religião e fé são a mesma coisa”. Mas isso só é verdade até certo ponto...
Por exemplo, o Antigo Testamento apresentou-se, no seu conjunto, não sob o conceito de fé, mas de lei.
Estratifica primariamente um género de vida, no âmbito do qual o acto de fé vai continuamente adquirindo maior importância.
Mais tarde, para a religiosidade romana não é realmente decisivo que se emita um acto de fé no sobrenatural; ele pode, decerto, faltar sem, por isso, diminuir a religião. “Sendo a religião essencialmente um sistema de ritos, o elemento determinante é representado a seus olhos pela minuciosa observância das cerimónias”. (J. Ratzinger).
A história da fé começa com Abraão. A sua atitude diante de Deus é de fé. Ainda que nosso pai na fé não tenha percebido distintamente o objecto da sua fé, teve, entretanto, todas as condições pessoais necessárias à fé. Respondeu prontamente sim ao chamamento de Deus que derruba seus planos, disposto a dar-lhe tudo, até o filho, desprezando todos os cálculos humanos.
Superou as aparentes contradições para se entregar somente à palavra de Deus e nela viu a verdade que salva.
Durante toda a história do povo de Deus, os profetas foram os arautos da fé; convidaram a superar as seguranças e alianças humanas para se apegar com confiança à palavra dada por Deus.
Crer é dar-se a Deus. Vemo-lo na primeira leitura: Deus “parece” ausente da história. O profeta interroga-o sobre o enigma da opressão e da injustiça que invade a sociedade em que vive, tanto dentro de Israel como entre as outras nações pelas quais os fracos são esmagados. Deus responde que a fé é o único caminho para compreender o mistério da história.
A resposta de Deus, porém, não é fácil consolação: fala de espera ainda longa. O que importa é permanecer firmemente ancorados só em Deus; crer no seu amor, apesar de todas as aparências contrárias, porque a sua palavra não nos pode enganar.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Est 13, 9.10-11
Senhor, Deus omnipotente,
tudo está sujeito ao vosso poder
e ninguém pode resistir à vossa vontade.
Vós criastes o céu e a terra e todas as maravilhas
que estão sob o firmamento.
Vós sois o Senhor do universo.

ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, que, no vosso amor infinito, cumulais de bens os que Vos imploram muito além dos seus méritos e desejos, pela vossa misericórdia, libertai a nossa consciência de toda a inquietação e dai-nos o que nem sequer ousamos pedir.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Hab 1, 2-3; 2, 2-4

« O justo viverá pela sua fé»

A grande provação do exílio de Babilónia pôde fazer nascer no espírito de muitos de entre o povo de Deus interrogações e dúvidas, que vieram perturbar a sua fé: “Até quando Senhor...? Porquê ?” Mas a provação é purificação para a fé, e “o justo viverá pela sua fidelidade”. Sendo fiel até ao fim, viverá para sempre em Deus, a quem nenhum acontecimento do mundo poderá afectar.

Leitura da Profecia de Habacuc
«Até quando, Senhor, chamarei por Vós e não me ouvis? Até quando clamarei contra a violência e não me enviais a salvação? Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a injustiça? Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia?» O Senhor respondeu-me: «Põe por escrito esta visão e grava-a em tábuas com toda a clareza, de modo que a possam ler facilmente. Embora esta visão só se realize na devida altura, ela há-de cumprir-se com certeza e não falhará. Se parece demorar, deves esperá-la, porque ela há-de vir e não tardará. Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta; mas o justo viverá pela sua fidelidade».
Palavra do Senhor


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 94 (95), 1-2.6-7.8-9 (R.8)

Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor,
não fecheis os vossos corações. (Repete-se)

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor. (Refrão)

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
O Senhor é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho. (Refrão)

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras». (Refrão)


LEITURA II – 2 Tim 1, 6-8.13-14

«Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor»

A imposição das mãos, que foi certamente para Timóteo o momento da sua ordenação, é fonte do dom de Deus orientado para o apostolado. Este é uma obra difícil. É necessário, por isso, recorrer constantemente a essa fonte, donde brota a graça do Espírito Santo, que é a “força de Deus”.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo: Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro. Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus. Toma como norma as sãs palavras que me ouviste, segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo. Guarda a boa doutrina que nos foi confiada, com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós.
Palavra do Senhor

ALELUIA – 1 Pedro 1, 25

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

A palavra do Senhor permanece eternamente.
Esta é a palavra que vos foi anunciada. (Refrão)


EVANGELHO – Lc 17, 5-10

«Se tivésseis fé!»

A fé é a raiz de toda a vida do cristão. A fé é que nos há-de predispor a fazer, com simplicidade e generosidade, tudo o que o Senhor nos mandar. Por isso, no cristão, todo o serviço do reino de Deus é exercício da fé, e, no fim de tudo, realização da sua própria vocação cristã.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé». O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e beberás tu’?. Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’.
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Aceitai, Senhor, o sacrifício que Vós mesmo nos mandastes oferecer e, por estes sagrados mistérios que celebramos, confirmai em nós a obra da redenção.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Lam 3, 25

O Senhor é bom para quem n’Ele confia,
para a alma que O procura.

Ou - 1 Cor 10, 17
Porque há um só pão, todos somos um só corpo,
nós que participamos do mesmo cálice e do mesmo pão.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus todo-poderoso, que neste sacramento saciais a nossa fome e a nossa sede, fazei que, ao comungarmos o Corpo e o Sangue do vosso Filho, nos transformemos n’Aquele que recebemos.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.