domingo, 25 de julho de 2021

DISTRIBUIU-OS E COMERAM QUANTO QUISERAM

 DOMINGO XVII DO TEMPO COMUM – ano B – 25JUL2021

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 67, 6-7.36

Deus vive na sua morada santa,

Ele prepara uma casa para o pobre.

É a força e o vigor do seu povo.

 

ORAÇÃO COLECTA

Deus, protector dos que em Vós esperam, sem Vós nada tem valor, nada é santo. Multiplicai sobre nós a vossa misericórdia, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens temporais que possamos aderir desde já aos bens eternos.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Liturgia da Palavra

 

LEITURA I – 2 Reis 4, 42-44

«Comerão e ainda há-de sobrar»

 

A liturgia continua em si a mesma linha de pensamento e até de acção da Sagrada Escritura. Assim, hoje, faz-nos ler duas passagens semelhantes, uma do Antigo, outra do Novo Testamento: duas multiplicações do pão. Em ambas se pode ver o mesmo dedo de Deus, amigo dos homens, capaz de lhes dar o alimento de que precisam, e, ao mesmo tempo, em ambas se manifesta que é Ele quem está sempre nos gestos e nas palavras dos que actuam e falam em seu nome.

 

Leitura do Segundo Livro dos Reis

Naqueles dias, veio um homem da povoação de Baal-Salisa e trouxe a Eliseu, o homem de Deus, pão feito com os primeiros frutos da colheita. Eram vinte pães de cevada e trigo novo no seu alforge. Eliseu disse: «Dá-os a comer a essa gente». O servo respondeu: «Como posso com isto dar de comer a cem pessoas?». Eliseu insistiu: «Dá-os a comer a essa gente, porque assim fala o Senhor: ‘Comerão e ainda há-de sobrar’». Deu-lhos e eles comeram, e ainda sobrou, segundo a palavra do Senhor.

Palavra do Senhor

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144 (145), 10-11.15-16.17-18 (R. cf. 16)

 

Refrão: Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome. (Repete-se)

 

Graças Vos dêem, Senhor, todas as criaturas

e bendigam-Vos os vossos fiéis.

Proclamem a glória do vosso reino

e anunciem os vossos feitos gloriosos. (Refrão)

 

Todos têm os olhos postos em Vós,

e a seu tempo lhes dais o alimento.

Abris as vossas mãos

e todos saciais generosamente. (Refrão)

 

O Senhor é justo em todos os seus caminhos

e perfeito em todas as suas obras.

O Senhor está perto de quantos O invocam,

de quantos O invocam em verdade. (Refrão)

 

LEITURA II – Ef 4, 1-6

 

«Um só Corpo, um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo»

 

Durante alguns domingos, sete, vamos ler a Epístola aos Efésios. É uma carta maravilhosa, escrita, como algumas outras, da prisão, e em que se aprofunda, de maneira particular, o mistério de Cristo e a vida vivida segundo esse mistério. Hoje insiste-se na unidade que deve reinar entre os cristãos, unidade não apenas de fora, mas de coração, porque todos somos um só, participantes da unidade de Deus, que d’Ele nos vem por Cristo

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

Irmãos: Eu, prisioneiro pela causa do Senhor, recomendo-vos que vos comporteis segundo a maneira de viver a que fostes chamados: procedei com toda a humildade, mansidão e paciência; suportai-vos uns aos outros com caridade; empenhai-vos em manter a unidade de espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como há uma só esperança na vida a que fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, actua em todos e em todos Se encontra.

Palavra do Senhor

 

ALELUIA – Lc 7, 16

 

Refrão: Aleluia (Repete-se)

 

Apareceu entre nós um grande profeta:

Deus visitou o seu povo. (Refrão)

 

EVANGELHO – Jo 6, 1-15

 

«Distribuiu-os e comeram quanto quiseram»

 

A multiplicação dos pães situa-se próximo da Páscoa. Hoje lemos o facto; nos dias seguintes ouviremos o comentário, a catequese que o próprio Senhor Jesus fará deste facto. Mas a multiplicação dos pães e dos peixes é apresentada nos termos da celebração eucarística. Depois da catequese sobre o Baptismo na fala com Nicodemos, depois da referência constante ao Espírito Santo, começamos hoje a catequese sobre a Eucaristia. Estamos no ambiente da iniciação cristã.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo, os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Então Jesus disse-lhes: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém. Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.

Palavra da salvação.

 

MEDITAÇÃO

 

O PÃO DOS POBRES

 

Comer é uma função tão essencial na vida humana que quase todas as religiões disso fazem um símbolo e o acompanham com um rito litúrgico. O cristianismo propõe a salvação sob forma de uma ceia, símbolo e antecipação do banquete eterno.

 

Os pobres comerão à saciedade

Os tempos preditos pelos profetas como tempos do Messias, caracterizam-se por este facto de imediata intuição: abundância para os pobres. “Os pobres comerão e serão saciados”; diz o salmista (Sl 21,27). E Isaías, numa visão profética, vê todos os povos reunidos para um grande banquete: “Preparará o Senhor dos exércitos, para todos os povos, neste monte, um banquete de carnes gordas, de vinhos excelentes, de comidas suculentas, de vinhos finos” (Is 25,6). Os pobres, sobretudo, estão em condições de apreciar uma visão deste género, aqueles que não comem nunca à saciedade. A ideia da abundância e da saciedade é acentuada expressamente tanto no evangelho (“encheram doze cestos com os pães, que sobraram”) como na 1ª. leitura que, também literária e estilisticamente, é paralela ao evangelho (“assim diz o Senhor: comerão e ainda sobrará”). Com o advento de Jesus, o tema messiânico da abundância atinge seu acabamento.

No evangelho, reveste-se de um evidente sentido eucarístico, como realidades que se anunciam e se completam mutuamente, e introduzem a comunhão sem véus com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O vocabulário empregado tanto por João como pelos sinópticos é tipicamente eucarístico. De facto, encontramos os mesmos verbos usados para a instituição da eucaristia: tomou o pão, e depois de ter dado graças, o distribuiu. A leitura eucarística do facto da multiplicação dos pães manifesta a compreensão teológica dos mesmos, por parte da comunidade primitiva, na superposição de planos desenvolvidos mais amplamente por João.

A eucaristia é vista, assim, em seu sentido mais genuíno de abundância de vida, e, capaz de dar a vida eterna dentro do banquete messiânico.

 

Um teste para a nossa caridade

O problema da fome no mundo é certamente uma das questões mais angustiantes do nosso tempo. A sua solução ainda está bem distante. O desequilíbrio económico entre as nações desenvolvidas e as outras continua a registar crescimento assustador. O auxílio económico oferecido pelas nações ricas às pobres é ainda muito fraco e mal orientado, para poder apressar o progresso económico social dos países em via de desenvolvimento. Perguntamo-nos se a Igreja, hoje ainda, multiplica os pães para os que têm fome, ou, mais concretamente, se no problema da fome que aflige o mundo de hoje, a Igreja tem alguma coisa a fazer, além do seu papel de lembrar, sem descanso, aos seus membros, suas obrigações individuais e colectivas. Mas será que estamos convencidos de que a Igreja somos nós? Jesus saciou concretamente homens que tinham fome e, revelou-se no pão da vida eterna, fê-lo a partir de uma realidade terrestre. O pão que ele dá não é só o símbolo do pão sobrenatural. Não é possível revelar o pão da vida eterna sem comprometer-se verdadeiramente nos deveres da solidariedade humana. O amor dos pobres, como o dos inimigos, é o teste por excelência da qualidade da nossa caridade. Reconhecer aos pobres o direito de receber o pão da vida é engajar-se totalmente nas exigências do amor; e, para o cristão, traduzir numa nova “multiplicação dos pães”, em escala mundial, o benefício que ele recebeu de Cristo.

 

Uma Igreja pobre, sinal de abundância

Ora, precisamente por se encontrar a Igreja de facto mais desenvolvida nas nações ricas do Ocidente, deverá, para tornar digna de fé a sua mensagem, apresentar-se às multidões dos pobres que povoam o mundo e que são, de direito, os primeiros destinatários do evangelho, como aquela que faz os povos participarem de sua abundância.

A Igreja mudará de fisionomia na medida que os cristãos e os responsáveis pelas instituições eclesiais tomarem consciência das exigências que o terceiro mundo põe à sua fé e à sua caridade. Então, a relação entre a Igreja e a riqueza material será restaurada em sua evangélica verdade, e a Igreja voltará a ser no mundo um “sinal” para todos os que têm fome de pão e de vida eterna.

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

 

Aceitai, Senhor, os dons que recebemos da vossa generosidade e trazemos ao vosso altar, e fazei que estes sagrados mistérios, por obra da vossa graça, nos santifiquem na vida presente e nos conduzam às alegrias eternas.

Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 102, 2

Bendiz, ó minha alma, o Senhor

e não esqueças os seus benefícios.

 

Ou – Mt 5, 7-8

 

Bem-aventurados os misericordiosos,

porque alcançarão misericórdia.

Bem-aventurados os puros de coração,

porque verão a Deus.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

 

Senhor, que nos destes a graça de participar neste divino sacramento, memorial perene da paixão do vosso Filho, fazei que este dom do seu amor infinito sirva para a nossa salvação.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 


domingo, 18 de julho de 2021

ERAM COMO OVELHAS SEM PASTOR

 DOMINGO XVI DO TEMPO COMUM – ano B – 18JUL2021 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 53, 6.8

Deus vem em meu auxílio, o Senhor sustenta a minha vida.

De todo o coração Vos oferecerei sacrifícios,

cantando a glória do vosso nome.

 

ORAÇÃO COLECTA

Sede propício, Senhor, aos vossos servos e multiplicai neles os dons da vossa graça, para que, fervorosos na fé, esperança e caridade, perseverem na fiel observância dos vossos mandamentos.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Liturgia da Palavra

 

LEITURA I – Jer 23, 1-6

«Reunirei o resto das minhas ovelhas e dar-lhes-ei pastores»

 

No Evangelho, Jesus vai revelar-Se cheio de compaixão pela multidão, que é como um rebanho sem pastor. Mas já desde o Antigo Testamento Deus Se tinha revelado como bom Pastor do seu povo. Os cuidados do pastor pelo seu rebanho são uma boa comparação que nos pode fazer compreender o amor com que Deus Se preocupa com os homens e deseja que eles encontrem os verdadeiros caminhos da vida e o verdadeiro alimento que os há-de sustentar nesses caminhos. E logo se anuncia um “rebento justo”, um “verdadeiro rei”, o Messias futuro que Se há-de um dia apresentar como o “Bom Pastor”, Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Leitura do Livro de Jeremias

Diz o Senhor: «Ai dos pastores que perdem e dispersam as ovelhas do meu rebanho!». Por isso, assim fala o Senhor, Deus de Israel, aos pastores que apascentam o meu povo: «Dispersastes as minhas ovelhas e as escorraçastes, sem terdes cuidado delas. Vou ocupar-Me de vós e castigar-vos, pedir-vos contas das vossas más acções – oráculo do Senhor. Eu mesmo reunirei o resto das minhas ovelhas de todas as terras onde se dispersaram e as farei voltar às suas pastagens, para que cresçam e se multipliquem. Dar-lhes-ei pastores que as apascentem e não mais terão medo nem sobressalto; nem se perderá nenhuma delas – oráculo do Senhor. Dias virão, diz o Senhor, em que farei surgir para David um rebento justo. Será um verdadeiro rei e governará com sabedoria; há-de exercer no país o direito e a justiça. Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Este será o seu nome: ‘O Senhor é a nossa justiça’».

Palavra do Senhor

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 22 (23), 1-3a.3b-4.5.6 (R. 1)

 

Refrão: O Senhor é meu pastor:

nada me faltará. (Repete-se)

 

O Senhor é meu pastor: nada me falta.

Leva-me a descansar em verdes prados,

conduz-me às águas refrescantes

e reconforta a minha alma. (Refrão)

 

Ele me guia por sendas direitas por amor

do seu nome.

Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,

não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo:

o vosso cajado e o vosso báculo

me enchem de confiança. (Refrão)

 

Para mim preparais a mesa

à vista dos meus adversários;

com óleo me perfumais a cabeça,

e o meu cálice transborda. (Refrão)

 

A bondade e a graça hão-de acompanhar-me

todos os dias da minha vida,

e habitarei na casa do Senhor

para todo o sempre. (Refrão)

 

LEITURA II – Ef 2, 13-18

 

«Ele é a nossa paz, que fez de uns e outros um só povo»

 

Continuando a expor o plano de Deus sobre o mundo, S. Paulo mostra como Jesus fez a união de todos os homens por meio da sua Cruz, em particular, a união entre o povo de Deus do Antigo Testamento e o do Novo Testamento. Nem são rigorosamente dois povos, mas dois momentos do mesmo povo em que se manifesta a continuação e o desenvolvimento do mesmo e único plano divino de levar todos os homens, de todos os tempos, à unidade do Corpo que tem Cristo por cabeça e pastor

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

Irmãos: Foi em Cristo Jesus que vós, outrora longe de Deus, vos aproximastes d’Ele, graças ao sangue de Cristo. Cristo é, de facto, a nossa paz. Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo e derrubou o muro da inimizade que os separava, anulando, pela imolação do seu corpo, a Lei de Moisés com as suas prescrições e decretos. E assim, de uns e outros, Ele fez em Si próprio um só homem novo, estabelecendo a paz. Pela cruz reconciliou com Deus uns e outros, reunidos num só Corpo, levando em Si próprio a morte à inimizade. Cristo veio anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, e paz para aqueles que estavam perto. Por Ele, uns e outros podemos aproximar-nos do Pai, num só Espírito.

Palavra do Senhor

 

ALELUIA – Jo 10, 27

 

Refrão: Aleluia (Repete-se)

 

As minhas ovelhas escutam a minha voz,

diz o Senhor;

Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me (Refrão)

 

EVANGELHO – Mc 6, 30-34

 

«Eram como ovelhas sem pastor»

 

Sem a palavra de Deus os homens não encontram a união, são como ovelhas tresmalhadas de um rebanho a que falta o pastor. Jesus, ao contemplar a multidão que O seguia, mas que não era ainda a sua Igreja, sente por ela grande compaixão e vai-lhes dando o pão da palavra de Deus: “começou a ensinar-lhes muitas coisas”.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo, os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Então Jesus disse-lhes: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém. Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.

Palavra da salvação.

 

MEDITAÇÃO

 

SERVOS DO REBANHO, NÃO SENHORES

 

Profundamente enraizada na experiência dos “arameus nómades” (Dt 26,5), como eram os patriarcas de Israel em meio a uma civilização pastoril, a metáfora do pastor que guia o rebanho exprime admiravelmente dois aspectos aparentemente contrários e, em geral, separados da autoridade exercida sobre os homens.

 

O pastor é guia que ama

É homem forte, capaz de defender seu rebanho contra os animais ferozes (1Sm 17,34-37; cf Mt 10,16; At 20,29); é também delicado para com as suas ovelhas, conhecendo a sua condição, adaptando-se à sua situação, levando-as ao colo (Is 40,11), amando ternamente cada uma “como uma filha” (2Sm 12,3). A sua autoridade é indiscutível, baseada na dedicação e no amor. Mas comumente a autoridade torna-se uma tentação... De facto, os pastores de Israel revelaram-se infiéis à sua missão. Não procuraram Javé (Jr 10,21), revoltaram-se contra ele (Jr 2,8), não cuidando do rebanho, e apascentando-se a si mesmos (Ez 34,3), deixando que as ovelhas se desgarrassem e se dispersassem (I leitura). Mas Javé tomará nas suas mãos o rebanho (Jr 23,3), reuni-lo-á (Mq 4,6), conduzi-lo-á e fá-lo-á repousar em pastagens verdejantes e águas calmas (salmo responsorial) Depois, providenciará para elas “pastores segundo o seu coração”, para que haja um só pastor, um novo David, tendo Javé como Deus.

A intensa expectativa dos antigos profetas cumpre-se em Jesus. “Éreis errantes como ovelhas, mas agora voltastes ao pastor e guarda das vossas almas” (1 Pd 2,25). O tema do rebanho disperso é comum à leitura e ao evangelho, no qual se diz que Jesus “se comove por causa deles, pois eram ‘como ovelhas sem pastor’”.

 

Jesus, bom pastor

Entre a promessa (Antigo Testamento) e o seu cumprimento (Novo Testamento) há um paralelismo preciso e antitético: os chefes exploram o povo, enquanto Jesus e os seus discípulos se dedicam a ele a tal ponto que não têm tempo nem para comer; o povo está separado dos chefes, enquanto Jesus é o chefe (pastor) que o reúne; o povo constitui-se em virtude de um poder régio extrínseco, enquanto o novo povo é convocado pela palavra de Jesus. Mas a divergência de método revela-se mais claramente por estas palavras do Senhor: “Os chefes das nações, vós o sabeis, dominam sobre elas, e os grandes exercem poder sobre elas. Entre vós não será assim; mas quem quiser tornar-se grande entre vós, far-se-á servo de todos, e quem quiser ser o primeiro far-se-á vosso escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido...” (Mt 20,25-28)

Com estas e muitas outras palavras, o Novo Testamento declara que os pastores da Igreja, enviados por Deus à frente do seu povo, têm um modo de exercer a autoridade totalmente diverso do que tem o mundo.

A este respeito, é muito significativo que todo sacerdote e bispo seja ordenado em primeiro lugar diácono isto é, servidor: estar humildemente a serviço de todos permanece um elemento fundamental de toda a sua obra.

 

Para um serviço mais pleno

Em toda a sociedade, o serviço desinteressado não desperta nunca muito entusiasmo. Trata-se, pois, de uma função da qual o sacerdote (o pastor) não será facilmente privado. Conforme as suas possibilidades, ele conserva algo do desprendimento e da liberdade absoluta do Senhor. Tornou-se livre para estar ligado ao povo de Deus sem preocupações pessoais, para carregar o peso das preocupações da Igreja. Por isto, a Igreja do Ocidente decidiu só ordenar sacerdotes aos que, com este fim, pretendam permanecer celibatários. O sentido do celibato é o de uma disponibilidade mais plena ao serviço dos irmãos. Ao mesmo tempo, torna-se cada vez mais aguda a consciência de que o sacerdote não deve ser rico: a posse de bens divide o coração e é fonte de divisão entre as pessoas.

“A distinção feita pelo Senhor entre os ministros sagrados e o resto do povo de Deus inclui um laço, estando os Pastores e os outros fiéis ligados entre si por um intercâmbio necessário; que os Pastores da Igreja, a exemplo de Cristo se sirvam entre si e sirvam os outros fiéis, e estes, por sua vez, prestem a sua colaboração aos Pastores e mestres, de boa vontade. Assim, na diversidade, todos dão testemunho da admirável unidade no corpo de Cristo, pois a própria variedade de graças, de ministérios e de operações reúne num só corpo os filhos de Deus, uma vez que 'todas essas coisas são obra de um único Espírito”' (1Cor 12,11). (LG 32,c).

 

Deus tem piedade…

Uma grande multidão pode abafar física e moralmente. Compreende-se que Jesus queira preservar os seus apóstolos: eles foram ao encontro das multidões para as ensinar e fazer milagres, então Ele propõe-lhes para se afastarem para um lugar deserto a fim de retomar o fôlego e não perderem o sentido daquilo que é essencial. Mas a multidão tem fome de palavras e de sinais, é ela que dirige o curso dos acontecimentos, parece querer recordar a Jesus e aos seus discípulos que eles não têm o direito de fugir. Como reagem os apóstolos? Não sabemos. O que sabemos é que Jesus se enche de piedade; este sentimento que o anima revela-nos algo do rosto do Pai. É o coração de Deus que bate no coração de Jesus cheio de piedade. Sim, Deus tem piedade da multidão na margem do lado Tiberíades, como outrora teve piedade do seu povo escravo no Egipto. E quando Deus tem piedade, Ele age.

 

Instituição evangélica das férias!

“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco”. É a instituição evangélica das férias! De facto, a multidão era tão numerosa que os Apóstolos nem tinham tempo para comer. Deviam estar esgotados, tanto mais que regressavam da primeira expedição em missão, que não terá sido propriamente um tempo de repouso. Conhecemos a vida de Jesus, a sua missão, as grandes fadigas, as noites em oração, sem dormir, após um dia extenuante… Numa das travessias de barco, aproveita mesmo para repousar um pouco e dormir… Assim, Ele sabe estar atento à fadiga dos seus companheiros. Convida-os a respeitar também as exigências da natureza corporal, a ter um pouco de repouso. E nós, hoje? Sabemos bem que as férias não são um luxo, se corresponderem àquilo para que existem: precisamente para respeitar a nossa natureza humana, que exige tempos de relaxe, de recuperação, não apenas física, mas também intelectual e espiritualmente. As férias não são um tempo de ócio, mas de “recriação”, de retomar energias. Sabemos que há ainda muitos homens, mulheres e crianças que são explorados como vulgares máquinas para produzir. Isso não é respeitar a vontade criadora de Deus. O Evangelho de hoje, que cai bem em período de férias, recorda-nos isso de modo muito oportuno. Isso é também válido para os servidores do Evangelho! Os Apóstolos diminuem as funções pastorais e aumentam… a fadiga, também. Cabe a cada um tirar as devidas consequências evangélicas!

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

 

Senhor, que levastes à plenitude os sacrifícios da Antiga Lei no único sacrifício de Cristo, aceitai e santificai esta oblação dos vossos fiéis, como outrora abençoastes a oblação de Abel; e fazei que os dons oferecidos em vossa honra por cada um de nós sirvam para a salvação de todos.

Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 110, 4-5

O Senhor misericordioso e compassivo

instituiu o memorial das suas maravilhas,

deu sustento àqueles que O temem.

 

Ou – Ap 3, 20

 

Eu estou à porta e chamo, diz o Senhor.

Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta,

entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

 

Protegei, Senhor, o vosso povo que saciastes nestes divinos mistérios e fazei-nos passar da antiga condição do pecado à vida nova da graça.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.