sábado, 29 de outubro de 2016

A revolução no coração do homem




DOMINGO XXXI DO TEMPO COMUM

Uma revolução não violenta
Hoje, porém, apresenta-se um problema grave, particularmente agudo em certas zonas: que fazer quando o rico não age como Zaqueu, não se converte, quando a falta de amor de alguns cai sobre muitos sob a forma de fome, subdesenvolvimento, opressão?
Será possível amar ao mesmo tempo a vítima e o carrasco? O amor dos pobres não impõe a eliminação violenta dos exploradores? “Ora, os que, por amor dos pobres, eliminam violentamente, estarão seguros de não agir depois por uma agressividade destrutiva? Uma vez eliminados com violência os pecadores, surgirá ‘automaticamente’ aquela geração de santos que saibam amar?
A experiência histórica e a razão dizem que não. O homem novo, o homem capaz de amar ainda será o resultado de uma ‘conversão interior’”.
Este pecado será tanto mais verdadeiro e radical quanto mais surgir em quem pecou o desgosto por aquilo que fez, simultaneamente com a visão das graves consequências de suas más acções.
O evangelho não nos dá normas sobre “como fazer justiça”. Isso não quer dizer que o cristão deva acomodar-se, aceitando as situações e a sociedade tal como Paulo VI admoesta: “A situação presente deve ser enfrentada corajosamente, devem ser combatidas e vencidas as injustiças que comporta. O desenvolvimento exige transformações audazes, profundamente inovadoras. Devem ser empreendidas, sem tardar, reformas urgentes. Que cada um tome generosamente sua parte
Em suma, o mandamento do amor exige uma activa e radical transformação do mundo. Mas uma coisa é afirmar uma exigência revolucionária, outra é tomar o caminho que se exprime no recurso à violência.

LEITURA I – Sab 11, 22 – 12, 2

«De todos Vos compadeceis, porque amais tudo o que existe»

De novo, a palavra de Deus nos quer convencer do seu amor para com os homens, e particularmente para com os mais pecadores. Deus não quer que ninguém se perca, porque a todos ama. “Se tivesse detestado alguma criatura não a teria formado”. Até a correcção com que nos castiga é um modo de nos chamar a Si.

Leitura do Livro da Sabedoria
“Diante de Vós, Senhor, o mundo inteiro é como um grão de areia na balança, como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra. De todos Vos compadeceis, porque sois omnipotente, e não olhais para os seus pecados, para que se arrependam. Vós amais tudo o que existe e não odiais nada do que fizestes; porque, se odiásseis alguma coisa, não a teríeis criado. E como poderia subsistir, se Vós não a quisésseis? Como poderia durar, se não a tivésseis chamado à existência? Mas a todos perdoais, porque tudo é vosso, Senhor, que amais a vida. O vosso espírito incorruptível está em todas as coisas. Por isso castigais brandamente aqueles que caem e advertis os que pecam, recordando-lhes os seus pecados, para que se afastem do mal e acreditem em Vós, Senhor.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 2 Tes 1, 11 – 2, 2

O nome de Cristo será glorificado em vós, e vós n’Ele

S. Paulo quer corrigir certos rumores sobre a vinda do Senhor, que alguns começavam a entender mal. Em qualquer caso, a glória que o Senhor há-de encontrar neles e eles no Senhor será que Ele, quando vier, os possa encontrar dignos da sua vocação cristã.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
“Irmãos: Oramos continuamente por vós, para que Deus vos considere dignos do seu chamamento e, pelo seu poder, se realizem todos os vossos bons propósitos e se confirme o trabalho da vossa fé. Assim o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós n’Ele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo. Nós vos pedimos, irmãos, a propósito da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e do nosso encontro com Ele: Não vos deixeis abalar facilmente nem alarmar por qualquer manifestação profética, por palavras ou por cartas, que se digam vir de nós, pretendendo que o dia do Senhor está iminente.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 19, 1-10

O Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido

A predilecção de S. Lucas pelos pecadores, em razão da atenção que Jesus lhes dá, é patente, uma vez mais, na passagem que hoje lemos. Com este episódio, somos todos convidados, a tomar parte na mesa do Senhor, particularmente na Eucaristia, com os sentimentos de Zaqueu. A salvação também quer entrar em nossa casa. Seremos capazes de abrir as portas do nosso coração a Cristo, nosso Redentor?

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, Jesus entrou em Jericó e começou a atravessar a cidade. Vivia ali um homem rico chamado Zaqueu, que era chefe de publicanos. Procurava ver quem era Jesus, mas, devido à multidão, não podia vê-l’O, porque era de pequena estatura. Então correu mais à frente e subiu a um sicómoro, para ver Jesus, que havia de passar por ali. Quando Jesus chegou ao local, olhou para cima e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». Ele desceu rapidamente e recebeu Jesus com alegria. Ao verem isto, todos murmuravam, dizendo: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Entretanto, Zaqueu apresentou-se ao Senhor, dizendo: «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». Disse-lhe Jesus: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».”
Palavra da Salvação



sábado, 22 de outubro de 2016

Quem se humilha será exaltado




DOMINGO XXX DO TEMPO COMUM

Deus transforma em justo quem o busca com fé

Todos os homens participam da mesma impotência e são solidários no mesmo estado de ruptura com Deus; não podem salvar-se por si mesmos, isto é, não podem entrar sozinhos na amizade de Deus. O primeiro acto de verdade que o homem deve fazer é reconhecer-se pecador, impotente para se salvar, e abrir-se, pois, à acção de Deus.

O fariseu e o publicano: dois modos de dialogar com Deus
Vemos, na parábola, dois modos de conceber o homem e a sua relação com Deus. A oração do fariseu é uma acção de graças a Deus. Mas só aparentemente. Na realidade é um pretexto para se louvar a si mesmo e não a Deus, comprazer-se em si por não ter pecado algum e pelo mérito das boas obras; diante disso considera-se justificado e “exige” de Deus a recompensa. A oração do fariseu não é oração, é o seu oposto. O publicano, pelo contrário, está “na verdade”: consciente da sua culpa e de não ter méritos diante de Deus. Pede misericórdia. A sua é a verdadeira oração.
Assim, pode-se perceber por trás das duas personagens da parábola a oposição entre os dois tipos de justiça: a do homem que pensa poder realizá-la pelo cumprimento perfeito da lei, e a que Deus concede ao pecador, que se reconhece como tal e se converte. O tema paulino da justificação mediante a fé já se encontra delineado nesta parábola.

Por que a fé em Cristo “justifica” o homem
O cristão é realmente o homem justificado pela fé em Jesus Cristo, naquele que é, ao mesmo tempo, dom substancial do Pai e homem entre os homens, e que pôde dar a única resposta agradável a Deus. É este o motivo pelo qual a fé em Jesus salva. De facto, Jesus inaugura na sua pessoa o reino do Pai, no qual se realiza o destino do homem. De si, como dos seus irmãos, Jesus exige a renúncia absoluta, que implica a fidelidade à condição de criatura: renúncia até à morte e, se necessário, até à morte na cruz. É o salvador do mundo que fala assim.
Como pode esse homem, que levou até as últimas consequências a revelação da condição humana, proclamar-se ao mesmo tempo salvador da humanidade? A esta pergunta há uma só resposta: verdadeiramente, este homem é o Filho de Deus; Deus amou tanto o mundo que, por isso, lhe deu seu Filho único; e ao mesmo tempo, ele é homem entre os homens; a sua fidelidade de criatura é, por identidade, uma fidelidade filial. A resposta activa deste homem encontra-se perfeitamente com a iniciativa divina da salvação.

A fé, fonte de vida nova – vida de filho
A união a Cristo torna-nos capazes da mesma “fidelidade filial” até à cruz. O homem é “justificado” porque a fé em Cristo lhe dá acesso ao Pai na qualidade de filho adoptivo.
A salvação é o dom divino; torna-se, no homem, fonte de uma actividade filial, em que se realiza, ilimitadamente, a fidelidade à nova lei do amor. Paulo, o arauto da justificação pela fé, é também a grande testemunha da vida nova que vem da fé em Cristo. Agora, velho, no cárcere, na expectativa da condenação à morte, reflecte sobre sua vida (2ª leitura). A sua experiência de Cristo termina por um malogro humano: todos o abandonaram, nenhum o defendeu em juízo. Mas ele “conservou a fé”, combateu por Cristo e permaneceu fiel até a meta final. A sua esperança leva-o à certeza da “recompensa” que receberá de Cristo pela sua vida de dedicação e amor a exemplo de Jesus.

Hoje a suficiência farisaica não é mais a observância de uma lei: toma outro nome.
Em muita gente ela é a convicção de que o homem pode salvar-se como homem, apelando unicamente para os seus recursos. O homem salva o homem mediante a ciência, a política, a arte...
É, por isso, mais do que nunca necessário que os cristãos anunciem ao mundo Cristo como salvador. A salvação que ele traz não se opõe à salvação humana. Mas, conduz essa mesma salvação à plenitude. Com a celebração dos sacramentos, especialmente da eucaristia, os cristãos dão testemunho da necessidade da intervenção divina na vida do homem, põem-se sob a acção de Deus presente, com seu espírito, e fazem a experiência privilegiada da justificação obtida mediante a fé em Jesus Cristo. Devem, por isso, estar continuamente vigilantes para não participarem dos sacramentos com espírito farisaico.

LEITURA I – Sir 35, 15b-17.20-22a

«A oração do humilde atravessa as nuvens»

Deus é a própria Verdade; diante d’Ele o homem deve agir com toda a verdade, sob pena de não ser acolhido por Ele. A oração deve ser o momento mais verdadeiro diante de Deus. E a oração humilde será sempre escutada por Deus.

Leitura do Livro de Ben-Sirá
O Senhor é um juiz que não faz acepção de pessoas. Não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido. Não despreza a súplica do órfão, nem os gemidos da viúva. Quem adora a Deus será bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens. A oração do humilde atravessa as nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino. Não desiste, até que o Altíssimo o atenda, para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 2 Tim 4, 6-8.16-18

Já me está preparada a coroa da justiça

A leitura faz-nos escutar a última mensagem de S. Paulo antes de sofrer o martírio: abandonado dos homens, ele sente-se plenamente confiante na justiça de Deus que nunca o abandonou nem abandonará.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo: Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. Na minha primeira defesa, ninguém esteve a meu lado: todos me abandonaram. Queira Deus que esta falta não lhes seja imputada. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Ámen.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 18, 9-14

O publicano desceu justificado para sua casa e o fariseu não

Jesus ensina, por meio de uma parábola, como devemos orar. Este ensinamento não se aplica somente à oração individual, mas também à oração da assembleia litúrgica, onde os sinais de festa hão-de proceder sempre de um coração humilde e consciente do dom de Deus, que comunitariamente celebramos.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».”
Palavra da Salvação



sábado, 15 de outubro de 2016

Deus fará justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam




DOMINGO XXIX DO TEMPO COMUM

O CLAMOR DO POBRE

Insistência e perseverança só existem naqueles que estão insatisfeitos com a situação presente e, por isso, não desanimam; pelo contrário, jamais conseguiriam alguma coisa. Deus atende àqueles que, através da oração, testemunham o desejo e a esperança de que se faça justiça. Jesus ilustrou o seu ensinamento, a respeito do dever de orar sem jamais desanimar, com a parábola da pobre viúva às voltas com um juiz iníquo. A Sua doutrina tem como pano de fundo um tema frequente na literatura sapiencial do Antigo Testamento: a predisposição divina em ouvir e atender o clamor dos pobres. Pode-se falar em parcialidade de Deus a favor dos seus preferidos. Ele ouve a prece de quem é tratado injustamente e jamais rejeita a súplica do órfão e da viúva, quando extravasam as suas queixas. O grito dos pobres atravessa as nuvens e o Altíssimo não descansa enquanto não intervém a favor deles. Deus está sempre pronto para defender a causa do humilde e indefeso. Em suma, coloca-se a favor dos fracos e assume a causa deles. Pelo contrário, ele rejeita a oração dos injustos e prepotentes, cujas mãos estão manchadas de sangue e só são usadas para oprimir e massacrar. E, se se voltam para Deus, é só para falar com soberba e arrogância. Resultado: a sua oração jamais obterá o beneplácito divino! A oração do discípulo do Reino deve ser a do pobre que só conta com a protecção divina, pois, fora de Deus, não tem a quem recorrer. A sua oração será perseverante, uma vez que está sempre seguro de ser atendido, mesmo que isso possa demorar. Se um Juiz iníquo acabou sendo movido pela insistência de uma pobre viúva, quando mais o Pai misericordioso se deixará mover pelo clamor de seus filhos queridos. Lucas, em seu evangelho, dá grande destaque à oração. Nesta parábola, a viúva, que é uma das categorias de extrema exclusão na Bíblia, representa o povo oprimido. O juiz é a expressão da classe dirigente, elitista e opressora. A insistência e a perseverança da viúva vencem a indiferença e a omissão do juiz iníquo. Se o pedido insistente da viúva demoveu o juiz iníquo da sua posição omissa, com maior razão Deus fará justiça aos seus, que a ele clamam dia e noite. É o clamor do seu povo, oprimido por um poder injusto, opressor e idólatra do dinheiro. Este poder acumula as riquezas que deveriam ser destinadas à promoção da vida no mundo e aplica-as nas fabulosas e sofisticadas armas de destruição. É o clamor que exprime o desejo de uma nova sociedade, com a restauração da justiça e da vida plena para todos.

LEITURA I – Ex 17, 8-13

«Quando Moisés erguia as mãos, Israel ganhava vantagem»

O episódio de Moisés de braços erguidos em oração pela vitória do seu povo no combate contra os Amalecitas é-nos hoje lido em relação com a leitura do Evangelho, em que se nos fala da perseverança na oração. Seremos capazes de acreditar que Deus tem os ouvidos atentos à oração dos pobres e dos humildes que sabem confiar-se a Ele?

Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, Amalec veio a Refidim atacar Israel. Moisés disse a Josué: «Escolhe alguns homens e amanhã sai a combater Amalec. Eu irei colocar-me no cimo da colina, com a vara de Deus na mão». Josué fez o que Moisés lhe ordenara e atacou Amalec, enquanto Moisés, Aarão e Hur subiram ao cimo da colina. Quando Moisés tinha as mãos levantadas, Israel ganhava vantagem; mas quando as deixava cair, tinha vantagem Amalec. Como as mãos de Moisés se iam tornando pesadas, trouxeram uma pedra e colocaram-na por debaixo para que ele se sentasse, enquanto Aarão e Hur, um de cada lado, lhe seguravam as mãos. Assim se mantiveram firmes as suas mãos até ao pôr do sol e Josué desbaratou Amalec e o seu povo ao fio da espada.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 2 Tim 3, 14 – 4, 2

O homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas obras

Ao procurar a formação do seu discípulo Timóteo, S. Paulo incute-lhe o amor à palavra de Deus, contida na Sagrada Escritura. A leitura assídua que dela fazemos, ao menos, mas sobretudo na celebração da liturgia, é a melhor escola de formação no serviço de Deus, e sempre alimento que fortifica no crescimento da vida em Cristo, pois que ela continua a ser criadora.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo: Permanece firme no que aprendeste e aceitaste como certo, sabendo de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras; elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a justiça. Assim o homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas obras. Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há-de julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 18, 1-8

Deus fará justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam

No princípio da leitura desta passagem do Evangelho explica-se a intenção de Jesus ao pronunciar esta parábola: “Sobre a necessidade de orar sempre, sem desanimar”. A maior penúria do homem não será não possuir, mas não ter coragem de sentir a necessidade de pedir! Não queremos ser certamente dos que vão desanimar na sua fé antes da vinda do Senhor! Para isso, oramos sem cessar.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos uma parábola sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar: «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor acrescentou: «Escutai o que diz o juiz iníquo!... E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?».”
Palavra da Salvação



sábado, 8 de outubro de 2016

Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?




DOMINGO XXVIII DO TEMPO COMUM

Os Dez Leprosos e a Gratidão do Samaritano

No Evangelho do próximo domingo, Lc 17, 11-19, o ponto alto da narrativa é a fé do samaritano. O samaritano tem uma fé madura, que nasce da esperança, cresce na obediência à Palavra de Jesus e se manifesta na gratidão. Com isso, ele não só recebe a cura, mas é salvo. A sua vida chega à plenitude, ao reconhecer que, em Jesus, o amor de Deus leva os homens a viver na alegria da gratidão. A vida que Deus dá em Jesus Cristo é gratuita, é graça.
No tempo de Jesus, havia rivalidades entre os habitantes da Samaria (samaritanos) e os judeus. Estes desprezavam aqueles acirradamente. Esse ressentimento era infundado e Jesus quer mostrar que pessoas de bem não são, necessariamente, apenas os judeus. Aqueles de quem não gostamos ou que desprezamos, podem, naturalmente, ser melhores do que nós.
Há várias parábolas em que Jesus coloca o samaritano como aquele que age melhor, que está mais perto de Deus. Somos todos irmãos e precisamos agradecer a Deus, a cada manhã, pela oportunidade de mais um dia de vida.
Jesus não quer que desprezemos as pessoas, mas que entendamos, pois aquele que desprezamos pode dar-nos uma lição de vida muito mais bonita do que a que levamos.
Os dez leprosos viram-se “curados” da sua doença, mas só um foi “salvo”: aquele que, movido pela sua fé, deu glória a Deus e agradeceu a Jesus. São Lucas põe em relevo o facto de o leproso salvo ser um estrangeiro, tal como era estrangeiro também Naamã, comandante do exército dos Arameus, mas ferido de lepra. Naamã ficou curado quando, obedecendo à palavra do profeta Eliseu, foi lavar-se nas águas do rio Jordão. A Palavra de Deus põe em evidência que “a salvação do Senhor é para todos os povos”. O destino universal da salvação e a fidelidade a Israel, que à primeira vista podem parecer em contradição, são na realidade dois aspectos inseparáveis e recíprocos do mesmo mistério salvífico: é precisamente a intensidade e a solidez do amor de Deus pelo povo por Ele escolhido que torna este amor uma “bênção” para todos os povos (cf. Gn 12, 3). A manifestação mais alta disto mesmo está na cruz de Cristo, o máximo sinal da sua dedicação às ovelhas perdidas da Casa de Israel e, simultaneamente, da redenção da humanidade inteira.
São Paulo diz-nos que, quando ele está fraco, é aí que se torna forte porque é na fraqueza que mais precisamos da graça e da força de Deus. E é então que a recebemos em toda a sua plenitude.
No cumprimento das leis e prescrições mosaicas, os leprosos que encontram Cristo param “à distância”, sentem-se impuros, fora da convivência humana; quem os toca também ficará impuro. O Senhor cura-os e manifesta-lhes a sua vontade salvífica com as palavras e com dois sinais muito consistentes: estende as mãos e toca-os. Cristo não aceita somente aproximar-se dos leprosos mas estende a sua mão, recebe-os e toca-os. Cristo identifica-se com o leproso, torna-se completamente solidário com eles. Destrói a impureza e a marginalização deles, manifesta a sua plena solidariedade com eles.
A solidariedade coincide com a autêntica espiritualidade, ou seja: a acção do Espírito Santo, o amor. O Espírito Santo é o amor de Deus que se faz história na misericórdia solidária do Pai Eterno que nos envia o seu Filho redentor através da sua encarnação pascal. O Espírito Santo é a intercomunicação trinitária infinita no amor. A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade mostra-nos a natureza divina de Deus como Amor; um amor que é a entrega total do Pai ao seu Filho e do Filho ao seu Pai que, na sua total dedicação, fazem proceder deles a pessoa Amor, a pessoa Dom, que é o Espírito Santo. Portanto, o Espírito Santo significa a infinita posse pessoal individual tanto do Pai como do Filho em si próprios, posse que o coloca em condição de se poder doar de modo absoluto. Aqui encontra-se a essência da solidariedade. Quando falamos da solidariedade humana, esta é autêntica somente quando é feita à imagem de Deus. O homem torna-se filho de Deus somente através da solidariedade, que significa receber numa doação gratuita plena tudo aquilo que é e doá-lo também sem medida a Deus e aos outros.
Somente sob esta luz se pode entender o mistério da solidariedade redentora: de facto, a maior doação que se possa pensar é a doação até à morte: “Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13). Desta doação, até à morte, o Pai cria a solidariedade da humanidade redimida. Consequentemente, a autêntica solidariedade é aquela a que não importa o risco da perda da vida até ao ponto de poder dar a vida pelos outros.

LEITURA I – 2 Reis 5, 14-17

« Naamã foi ter novamente com o homem de Deus e confessou a sua fé no Senhor»

A primeira e a terceira leitura deste domingo põem, lado a lado, dois estrangeiros que mostram ter uma alma mais próxima de Deus do que muitos dos do seu povo. Não foi o pertencerem oficialmente ao povo eleito que os salvou, mas o saberem abrir-se à palavra de Deus e terem fé n’Ele. Para Deus não há estrangeiros, e os que são do seu povo só aproveitarão de tal situação se viverem da fé.

Leitura do Segundo Livro dos Reis
Naqueles dias, o general sírio Naamã desceu ao Jordão e aí mergulhou sete vezes, como lhe mandara Eliseu, o homem de Deus. A sua carne tornou-se tenra como a de uma criança e ficou purificado da lepra. Naamã foi ter novamente com o homem de Deus, acompanhado de toda a sua comitiva. Ao chegar diante dele, exclamou: «Agora reconheço que em toda a terra não há outro Deus senão o de Israel. Peço-te que aceites um presente deste teu servo». Eliseu respondeu-lhe: «Pela vida do Senhor que eu sirvo, nada aceitarei». E apesar das insistências, ele recusou. Disse então Naamã: «Se não aceitas, permite ao menos que se dê a este teu servo uma porção de terra para um altar, tanto quanto possa carregar uma parelha de mulas, porque o teu servo nunca mais há-de oferecer holocausto ou sacrifício a quaisquer outros deuses, mas apenas ao Senhor, Deus de Israel».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 2 Tim 2, 8-13

Se sofremos com Cristo, também com Ele reinaremos

A leitura do Apóstolo começa por um acto de fé na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, para passar depois a uma profissão de fé no sentido da vida do cristão em comunhão com Cristo, que morreu e ressuscitou. Esta leitura é assim um verdadeiro hino, onde se proclama o sentido último da vida cristã, vida que encontra todo o sentido na união ao Senhor Jesus, no seu mistério pascal.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo: Lembra-te de que Jesus Cristo, descendente de David, ressuscitou dos mortos, segundo o meu Evangelho, pelo qual eu sofro, até ao ponto de estar preso a estas cadeias como um malfeitor. Mas a palavra de Deus não está encadeada. Por isso, tudo suporto por causa dos eleitos, para que obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com a glória eterna. É digna de fé esta palavra: Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com Ele reinaremos; se O negarmos, também Ele nos negará; se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 17, 11-19

Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro

A atitude fundamental da oração é a acção de graças, porque ela supõe no cristão, antes de mais, o reconhecimento do que Deus lhe dá e a resposta a esse dom, com o louvor agradecido. É precisamente esta atitude espiritual que se exprime com a palavra “eucaristia”, o nome da acção de graças por excelência.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, indo Jesus a caminho de Jerusalém, passava entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar numa povoação, vieram ao seu encontro dez leprosos. Conservando-se a distância, disseram em alta voz: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E sucedeu que no caminho ficaram limpos da lepra. Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto em terra aos pés de Jesus, para Lhe agradecer. Era um samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?». E disse ao homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou».”
Palavra da Salvação



sábado, 1 de outubro de 2016

Se tivésseis fé!




DOMINGO XXVII DO TEMPO COMUM

A força de quem tem fé

Cristianismo é fé. Esta é sua característica específica. “Nós afirmamos muito facilmente, como pressuposto, que religião e fé são a mesma coisa. Mas isso só é verdade até certo ponto...
Por exemplo, o Antigo Testamento apresentou-se, no seu conjunto, não sob o conceito de fé, mas de lei.
Encarna primariamente um género de vida, no âmbito do qual o acto de fé vai continuamente adquirindo maior importância.
Mais tarde, para a religiosidade romana não é realmente decisivo que se emita um acto de fé no sobrenatural; ele pode, decerto, faltar sem, por isso, diminuir a religião. Sendo a religião essencialmente um sistema de ritos, o elemento determinante é representado a seus olhos pela minuciosa observância das cerimónias”. (J. Ratzinger).

O justo viverá pela fé
A história da fé começa com Abraão. A sua atitude diante de Deus é de fé. Ainda que o nosso pai na fé não tenha percebido distintamente o objecto da sua fé, teve, entretanto, todas as condições pessoais necessárias à fé. Respondeu prontamente sim ao chamado de Deus que derruba os seus planos, disposto a dar-lhe tudo, até o filho, desprezando todo o cálculo humano.
Superou as aparentes contradições para se entregar somente à palavra de Deus, e nela viu a verdade que salva.
Durante toda a história do povo de Deus, os profetas foram os arautos da fé; convidaram a superar as seguranças e alianças humanas para se apegar com confiança à palavra dada por Deus.
Crer é dar-se a Deus. Vemo-lo na primeira leitura: Deus “parece” ausente da história. O profeta o interroga sobre o enigma da opressão e da injustiça que invadem a sociedade em que vive, tanto dentro de Israel como entre as nações pelas quais os fracos são esmagados. Deus responde que a fé é o único caminho para compreender o mistério da história.
A resposta de Deus, porém, não é fácil consolação: fala de espera ainda longa. O que importa é permanecer firmemente ancorados só em Deus; crer no seu amor apesar de todas as aparências contrárias, porque a sua palavra não nos pode enganar.

A fé é adesão incondicional à pessoa de Jesus
No Novo Testamento, o objecto da fé atinge a plenitude: o Filho de Deus manifesta-se e o seu reino é constituído. Mas a atitude pessoal continua a mesma; uma decisão da vontade que ama, move a inteligência a superar os cálculos humanos para se entregar a Deus com toda fidelidade.
A fé não consiste, pois, somente numa adesão intelectual a uma série de verdades abstractas, mas é a adesão incondicional a uma pessoa, a Deus, que nos propõe o seu amor em Cristo morto e ressuscitado. A fé é, portanto, obediência a Deus, comunhão com ele, vitória sobre a solidão.
É dom de Deus, mas dom que espera a nossa livre resposta, que quer tornar-se a alma da nossa vida quotidiana e da comunidade cristã.

Fé como libertação de todos os Ídolos
É também conhecimento novo, modo de ler a realidade com o olhar de Cristo. “A fé é virtude, atitude habitual da alma, inclinação permanente a julgar e agir segundo o pensamento de Cristo com espontaneidade e vigor”.
O cristão animado pela fé, nela encontra a crítica permanente a todas as ideologias e a libertação de todos os ídolos. “Esta é a vitória que venceu o mundo, a nossa fé” (1Jo 5,4).
O cristão vive hoje num mundo secularizado, do qual Deus está ausente, que vive e se organiza sem ele. Com a sua fé, tem o cristão neste mundo a tarefa de destruir as falsas seguranças propondo-lhe as questões fundamentais e oferecendo a todos a sua grande esperança. A fé cristã é posta diante de um desafio: tomar-se propugnadora de problemas que nenhum laboratório, experiência ou computador electrónico podem resolver, e que, no entanto, decidem o destino do homem e do mundo.
Portanto, é mais do que actual para os cristãos a invocação dos discípulos: “Senhor, aumentai a nossa fé”.

LEITURA I – Hab 1, 2-3; 2, 2-4

«O justo viverá pela sua fé»

A grande provação do exílio de Babilónia pôde fazer nascer no espírito de muitos de entre o povo de Deus interrogações e dúvidas, que vieram perturbar a sua fé: “Até quando Senhor...? Porquê ?” Mas a provação é purificação para a fé, e “o justo viverá pela sua fidelidade”. Sendo fiel até ao fim, viverá para sempre em Deus, a quem nenhum acontecimento do mundo poderá afectar.

Leitura da Profecia de Habacuc
“«Até quando, Senhor, chamarei por Vós e não me ouvis? Até quando clamarei contra a violência e não me enviais a salvação? Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a injustiça? Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia?» O Senhor respondeu-me: «Põe por escrito esta visão e grava-a em tábuas com toda a clareza, de modo que a possam ler facilmente. Embora esta visão só se realize na devida altura, ela há-de cumprir-se com certeza e não falhará. Se parece demorar, deves esperá-la, porque ela há-de vir e não tardará. Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta; mas o justo viverá pela sua fidelidade».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 2 Tim 1, 6-8.13-14

Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor

A imposição das mãos, que foi certamente para Timóteo o momento da sua ordenação, é fonte do dom de Deus orientado para o apostolado. Este é uma obra difícil. É necessário, por isso, recorrer constantemente a essa fonte, donde brota a graça do Espírito Santo, que é a “força de Deus”.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo: Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro. Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus. Toma como norma as sãs palavras que me ouviste, segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo. Guarda a boa doutrina que nos foi confiada, com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 17, 5-10

Se tivésseis fé!

A fé é a raiz de toda a vida do cristão. A fé é que nos há-de predispor a fazer, com simplicidade e generosidade, tudo o que o Senhor nos mandar. Por isso, no cristão, todo o serviço do reino de Deus é exercício da fé, e, no fim de tudo, realização da sua própria vocação cristã.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé». O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e beberás tu’? Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’.”
Palavra da Salvação