domingo, 27 de setembro de 2020

OS PUBLICANOS E AS MULHERES DE MÁ VIDA IRÃO DIANTE DE VÓS

 

DOMINGO XXVI TEMPO COMUM – ano A – 27SET2020

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA – Dan 3, 31.29.30.43.42

Vós sois justo, Senhor, em tudo o que fizestes.

Pecámos contra Vós, não observámos

os vossos mandamentos.

Mas para glória do vosso nome,

mostrai-nos a vossa infinita misericórdia.

 

ORAÇÃO COLECTA

Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis, derramai sobre nós a vossa graça, para que, correndo prontamente para os bens prometidos, nos tornemos um dia participantes da felicidade celeste.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Liturgia da Palavra

 

LEITURA I – Ez 18, 25-28

 

«Quando o pecador se afastar do mal, salvará a sua vida»

 

A liturgia da palavra deste domingo vai insistir na sinceridade profunda do coração e na resposta autêntica e prática que ele dá ou não à palavra de Deus. A todo o momento, logo que o homem se converter a essa palavra e por ela orientar a sua vida, logo o Senhor o acolherá. Deus não é de vinganças; é sim salvador.

 

Leitura da Profecia de Ezequiel

Eis o que diz o Senhor: «Vós dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’. Escutai, casa de Israel: Será a minha maneira de proceder que não é justa? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto? Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. Se abrir os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há-de viver e não morrerá».

Palavra do Senhor

 

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 24 (25), 4-5.6-7.8-9

(R. 6a)

 

Refrão: Lembrai-Vos, Senhor, da vossa misericórdia. (Repete-se)

 

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,

ensinai-me as vossas veredas.

Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,

porque Vós sois Deus, meu Salvador:

em vós espero sempre. (Refrão)

 

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias

e das vossas graças que são eternas.

Não recordeis as minhas faltas

e os pecados da minha juventude.

Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,

por causa da vossa bondade, Senhor. (Refrão)

 

O Senhor é bom e recto,

ensina o caminho aos pecadores.

Orienta os humildes na justiça

e dá-lhes a conhecer os seus caminhos. (Refrão)

 

 

LEITURA II – Filip 2, 1-11

 

«Tende os mesmos sentimentos de Cristo Jesus»

 

Para incutir nos cristãos sentimentos de união e de perdão mútuo, S. Paulo não encontra melhor maneira do que lembrar-lhes os sentimentos de Jesus Cristo, manifestados na sua Paixão. A leitura é, na segunda parte, um verdadeiro hino pascal, talvez mesmo um hino das primeiras gerações cristãs para celebrar o mistério pascal do Senhor, incluído depois por S. Paulo nesta sua carta. É uma passagem da Sagrada Escritura que não pode ser ignorada pelo comum dos cristãos.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

Irmãos: Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma comunhão no Espírito, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração. Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

Palavra do Senhor

 

ALELUIA – Jo 10, 27

 

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

 

As minhas ovelhas ouvem a minha voz, diz o Senhor;

Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. (Refrão)

 

 

EVANGELHO – Mt 21, 28-32

 

«Arrependeu-se e foi. Os publicanos e as mulheres de má vida irão adiante de vós para o reino de Deus»

 

Enquanto a palavra de Deus não descer ao coração do homem e o tocar e o converter, não são as palavras, mesmo santas, que lhe saem da boca que o fazem entrar no reino de Deus. Mas, logo que o coração estiver convertido e voltado para Deus, logo o Senhor o acolhe e o recebe como um pai. É que os caminhos de Deus não são como os dos homens.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?». Eles responderam-Lhe: «O primeiro». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus. João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele».

Palavra da salvação.

 

MEDITAÇÃO

 

ELES VOS PRECEDERÃO NO REINO DE DEUS

 

As três parábolas lidas nos evangelho deste e dos dois domingos seguintes, tratam de um único tema: a rejeição do povo judeu que não quis escutar Jesus, e a sua substituição pelos pagãos.

 

Ninguém é marginalizado por Deus

A parábola dos dois filhos justifica a posição de Cristo diante dos “desprezados”, esta nova categoria de pobres. Cristo dirige a parábola aos sumos sacerdotes e aos anciãos, como faz, com outra do mesmo teor, aos fariseus (fariseu e publicano: Lc 18,9); replica a todos os que se escandalizam com sua predilecção pelos pecadores, dizendo-lhes que estes estão mais próximos da salvação do que os que se consideram justos; entra em casa de Zaqueu, que durante anos usurpou os vencimentos de todos, deixa que uma prostituta lhe lave os pés, protege a adúltera contra os “puros” que a queriam apedrejar.

A sua vida deixa a Deus a possibilidade de se manifestar como verdadeiramente é. Estas situações revelam, no fundo, a liberdade de Deus. A parábola dirige-se, pois, aos que se fecham para a Boa-nova, aos que não querem reconhecer a identidade de Deus em nome da própria justiça e se consideram pagos pela sua própria suficiência.

 

As prostitutas haviam dito “não”

A fidelidade a Deus e a justiça não se julgam pelo dizer “sim” ou pela vinha que se possui (figura da pertença racial ao povo eleito!), mas pelos factos. Trata-se de eliminar as discriminações sociais que a tradição hebraica elaborou. O que importa não é agir como a tradição ensina. É necessário ter coragem de sujar as mãos e de se arriscar na busca de novos valores mais próximos da liberdade, do amor, da felicidade do homem. É pelas obras que se julga a pertença. “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus” (Mt 7,21). As palavras, as ideologias podem enganar, podem ser uma ilusão. Descobre-se a verdade do homem por suas obras. Elas não dão margem a equívocos. Só então o homem mostra o que é. Compreendemos então aquela palavra de Jesus, que provoca escândalos aos ouvidos dos que se pretendem bons: “Em verdade vos digo: os publicanos e as prostitutas vos precederão no reino de Deus”. Oficialmente, conforme as categorias religiosas e os critérios morais exteriores da época, eles tinham dito “não”, mas de facto o que importa é a sua profunda disponibilidade: a vontade de cumprir, não com palavras, mas com factos, as obras de penitências.

Deus não decidiu, a um dado momento da história, rejeitar Israel e adoptar as nações pagãs. Foi o comportamento perante o Messias que os fez perder o papel que desempenhavam na ordem da mediação. O modo como viviam o seu “sim” à Lei levou-os a dizer “não” ao evangelho.

 

Para além das práticas

Existe ainda uma concepção exterior e quantitativa da religiosidade dos grupos e das pessoas (como se só fosse possível medir a religiosidade pela pertença sociológica ou a presença a certas práticas religiosas facilmente verificáveis: missa, sacramentos, orações, devoções, esmolas...). Contribuem para provocar este equívoco certas pesquisas sócio-religiosas que codificam convencionalmente uma escala de religiosidade e de pertença eclesial que, se de um certo ponto de vista obriga a abrir os olhos para situações penosas, de outro está bem longe de esgotar o complexo fenómeno da religiosidade, tanto de grupo como individual.

Para além da prática e da pertença exterior e jurídica, existe uma presença e um evidente influxo cristão e evangélico em camadas de populações aparentemente marginais e alheias.

A religião, como é vivida pelos cristãos, apresenta diversos níveis e modalidades de experiência. Pode ser vivida como uma soma de práticas, de devoções, de ritos, como fins em si mesmos; como uma visão do mundo e das coisas; como um critério de juízo sobre pessoas, valores, acontecimentos. Pode manifestar-se como código moral e norma de acção ou como integração fé-vida, isto é, como síntese no plano do juízo e da acção, entre a mensagem do evangelho e as exigências e os esforços da própria vida pessoal e comunitária.

O cristão opera a integração fé-vida. Isto é, o “sim” de sua fé se torna o “sim” de sua vida; a palavra e a confissão dos lábios se tornam acção e gesto das mãos. Assim, a discriminação entre o “sim” e o “não” não passa través das práticas e da observância das leis, mas através da vida.

 

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

 

Deus de misericórdia infinita, aceitai esta nossa oblação e fazei que por ela se abra para nós a fonte de todas as bênçãos.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 118, 9-5

 

Senhor, lembrai-Vos da palavra que destes ao vosso servo.

A consolação da minha amargura

é a esperança na vossa promessa.

 

Ou – Jo 3, 16

Nisto conhecemos o amor de Deus: Ele deu a vida por nós;

também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

 

Fazei, Senhor, que este sacramento celeste renove a nossa alma e o nosso corpo, para que, unidos a Cristo neste memorial da sua morte, possamos tomar parte na sua herança gloriosa.

Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 


domingo, 20 de setembro de 2020

SERÃO MAUS OS TEUS OLHOS PORQUE EU SOU BOM?

 

DOMINGO XXV TEMPO COMUM – ano A – 20SET2020

 

MISSA

 ANTÍFONA DE ENTRADA

Eu sou a salvação do meu povo, diz o Senhor.

Quando chamar por Mim nas suas tribulações,

Eu o atenderei e serei o seu Deus para sempre.

 

ORAÇÃO COLECTA

Senhor, que fizestes consistir a plenitude da lei no vosso amor e no amor do próximo, dai-nos a graça de cumprirmos este duplo mandamento, para alcançarmos a vida eterna.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Liturgia da Palavra

 LEITURA I – Is 55, 6-9

 «Os meus pensamentos não são os vossos»

 O Evangelho vai apresentar-nos uma parábola, na qual se vê a liberdade e o amor com que Deus trata os homens, mesmo sem eles saberem, por vezes, apreciar essa bondade. Nesta leitura, o profeta vai-nos já prevenindo de que os caminhos de Deus não são como os dos homens, que têm dificuldade em compreender que o amor é mais generoso do que aquilo a que, por vezes, chamamos justiça.

Leitura do Livro de Isaías

Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-O, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho e o homem perverso os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que terá compaixão dele, ao nosso Deus, que é generoso em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus – oráculo do Senhor –. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos vossos e acima dos vossos estão os meus pensamentos.

Palavra do Senhor

 SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144 (145), 2-3.8-9.17-18 (R. 18a)

 Refrão: O Senhor está perto de quantos O invocam. (Repete-se)

 Quero bendizer-Vos, dia após dia,

e louvar o vosso nome para sempre.

Grande é o Senhor e digno de todo o louvor,

insondável é a sua grandeza. (Refrão)

 

O Senhor é clemente e compassivo,

paciente e cheio de bondade.

O Senhor é bom para com todos

e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas. (Refrão)

 

O Senhor é justo em todos os seus caminhos

e perfeito em todas as suas obras.

O Senhor está perto de quantos O invocam,

de quantos O invocam em verdade. (Refrão)

 

 LEITURA II – Filip 1, 20c-24.27a

 «Para mim, viver é Cristo»

 S. Paulo escreve estas palavras na prisão. Nelas mostra que todo o seu ideal é apenas servir a Cristo. Viver ou morrer é para ele coisa secundária; interessa-lhe, sim, estar sempre unido a Cristo. Ele é a sua vida. A própria morte o conduzirá ainda à união a Cristo: por isso, ela é para ele um lucro. Assim ele deseja que todos os cristãos vivam com ideal semelhante ao seu.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

Irmãos: Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva quer eu morra. Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se viver neste corpo mortal me permite um trabalho útil, não sei o que escolher. Sinto-me constrangido por este dilema: desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal. Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo.

Palavra do Senhor

 

ALELUIA – Actos 16, 14b

 Refrão: Aleluia. (Repete-se)

 Abri, Senhor, os nossos corações, para aceitarmos a palavra do vosso Filho. (Refrão)

 

 

EVANGELHO – Mt 20, 1-16a

 «Serão maus os teus olhos porque eu sou bom

 Esta parábola quer fazer-nos compreender que Deus é bom, e que a todos os homens que se disponham a servi-l’O Ele oferece a entrada no seu reino. Segundo o primeiro sentido da parábola, os operários da primeira hora foram os judeus; os outros, são os que, ao longo dos tempos, vão entrando na Igreja de Deus. A todos o Senhor abre as portas da salvação, porque, se para uns Se mostrou bondoso desde a primeira hora, para todos os outros Ele reserva os mesmos dons. Não há, pois, lugar para invejas, onde tudo é puro dom gratuito de Deus.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um pro­prie­tário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizen­do: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos».

Palavra da salvação.

 

MEDITAÇÃO

 

IDE PARA A MINHA VINHA!

 

No Reino não existem marginalizados. Todos têm o mesmo direito de participar da bondade e misericórdia divinas, que superam tudo o que os homens consideram como justiça. No Reino não há lugar para o ciúme. Aqueles que julgam possuir mais méritos do que os outros devem aprender que o reino é dom gratuito. A vinha, no contexto bíblico, simboliza o povo de Israel. Já os profetas serviram-se desta metáfora para falar ao povo. A vinha aponta para a predilecção da qual Israel era objecto por parte de Deus. Como o vinhateiro prepara a terra, planta mudas escolhidas, cuida delas com muito carinho e protege-as, na esperança de que produzam frutos de qualidade; também Deus, no trato com o seu povo, desdobra-se em atenção para que corresponda ao que espera dele. Jesus rompeu a concepção de sua época, ensinando que a benevolência divina não era exclusiva de Israel. A vinha de Deus, na verdade, era a humanidade inteira, toda ela destinatária da Boa Nova da salvação e convidada a viver em comunhão com o Pai. Cessam todos os privilégios tanto de Israel quanto de qualquer outro povo que queira assenhorear-se com exclusividade da vinha, ou seja, do Reino de Deus. Deixa de ter sentido, em termos de garantir a precedência no Reino: a quantidade ou a qualidade do serviço prestado, a antiguidade, as funções e cargos exercidos em favor da comunidade. E até mesmo as diferenças de carácter étnico, cultural, social ou de género. Por se tratar de uma adesão livre e gratuita ao chamamento do Senhor do Reino, ninguém tem o direito de exigir recompensa, muito menos de julgar-se merecedor de maior recompensa. Basta-lhe a consciência de saber-se humilde servidor! As parábolas narrativas são caracterizadas pela sua extensão e pelos seus detalhes. Esta de hoje é exclusiva de Mateus. No cenário aparecem o dono da vinha, imagem característica na tradição de Israel, e os trabalhadores desocupados na praça, cena característica de uma cidade grega. Uma parábola dá margem a uma pluralidade de interpretações. Estes “desocupados” não eram indolentes, mas curtiam a amargura da busca de um trabalho para a sobrevivência diária, excluídos pelo sistema social. Comumente se vê na parábola a expressão da simples generosidade do proprietário que convocou os operários. Com pena dos últimos, decidiu dar-lhes o mesmo que aos outros. Outra interpretação pode ser a compreensão do significado do trabalho. O trabalho não é mercadoria que se vende, avaliado pela eficiência do trabalhador que produz. O trabalho é o meio de subsistência das pessoas e da família, bem como é serviço à comunidade, pela partilha de seus frutos. Todos têm direito ao essencial para a sua sobrevivência. Na parábola, a todos foi dado o necessário para a sobrevivência de um dia, independentemente da quantidade de sua produção. O fruto do trabalho é uma extensão do próprio trabalhador. A venda deste fruto por um salário é uma alienação da dignidade do trabalhador e da trabalhadora. É vender uma parte do seu ser, uma extensão de seu próprio corpo, para a acumulação de riqueza e prazer de outro.

 

 ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

 Aceitai benignamente, Senhor, os dons da vossa Igreja, para que receba nestes santos mistérios os bens em que pela fé acredita.Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 118, 4-5

 Promulgastes, Senhor,

os vossos preceitos para se cumprirem fielmente.

Fazei que os meus passos sejam firmes

na observância dos vossos mandamentos.

 Ou – Jo 10, 14

Eu sou o Bom Pastor, diz o Senhor;

conheço as minhas ovelhas

e as minhas ovelhas conhecem-Me.

 ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

 

Sustentai, Senhor, com o auxílio da vossa graça aqueles que alimentais nos sagrados mistérios, para que os frutos de salvação que recebemos neste sacramento se manifestem em toda a nossa vida.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 


domingo, 13 de setembro de 2020

PERDOAR SEMPRE




DOMINGO XXIV TEMPO COMUM – ano A – 13SET2020

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Sir 36, 18
Dai a paz, Senhor, aos que em Vós esperam
e confirmai a verdade dos vossos profetas.
Escutai a prece dos vossos servos e abençoai o vosso povo.

ORAÇÃO COLECTA
Deus, Criador e Senhor de todas as coisas, lançai sobre nós o vosso olhar; e para sentirmos em nós os efeitos do vosso amor, dai-nos a graça de Vos servirmos com todo o coração.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Sir 27, 33 – 28, 9

«Perdoa a ofensa do teu próximo e quando pedires, as tuas faltas serão perdoadas»

A vingança pode ser uma tendência instintiva natural, fruto de uma natureza ainda não suficientemente dominada e educada. Mas, a compreensão das faltas dos outros e o perdão são atitudes fundamentais para o coração de quem olha para os outros como gostaria que Deus olhasse para si. Mesmo já no Antigo Testamento, os homens de Deus assim pensavam.

Leitura do Livro de Ben-Sirá
O rancor e a ira são coisas detestáveis, e o pecador é mestre nelas. Quem se vinga sofrerá a vingança do Senhor, que pedirá minuciosa conta de seus pecados. Perdoa a ofensa do teu próximo e, quando o pedires, as tuas ofensas serão perdoadas. Um homem guarda rancor contra outro e pede a Deus que o cure? Não tem compaixão do seu semelhante e pede perdão para os seus próprios pecados? Se ele, que é um ser de carne, guarda rancor, quem lhe alcançará o perdão das suas faltas? Lembra-te do teu fim e deixa de ter ódio; pensa na corrupção e na morte, e guarda os mandamentos. Recorda os mandamentos e não tenhas rancor ao próximo; pensa na aliança do Altíssimo e não repares nas ofensas que te fazem.
Palavra do Senhor


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 102 (103), 1-2.3-4.9-10.11-12 (R. 8)

Refrão: O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. (Repete-se)

Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios. (Refrão)

Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia. (Refrão)

Não está sempre a repreender,
nem guarda ressentimento.
Não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos castigou segundo as nossas culpas. (Refrão)

Como a distância da terra aos céus,
assim é grande a sua misericórdia
para os que O temem.
Como o Oriente dista do Ocidente,
assim Ele afasta de nós os nossos pecados. (Refrão)


LEITURA II – Rom 14, 7-9

«Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor»

É preciso viver, tendo sempre o sentido de Deus em toda a nossa vida. Só assim a vida e a morte têm sentido e nos enchem de paz e de alegria.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos: Nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum de nós morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor, e se morremos, morremos para o Senhor. Portanto, quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Na verdade, Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos vivos e dos mortos.
Palavra do Senhor

ALELUIA – Jo 13, 34

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 18, 21-35

«Não te digo que perdoes até sete vezes, mas até setenta vezes sete»

O perdão das ofensas é atitude fundamental para o discípulo de Cristo. Este perdão não tem limites, vai até ao que se possa imaginar. O número sete tem uma certa ideia de plenitude, de totalidade. Mas Jesus, para indicar que o perdão deve ser sem limites, ainda o multiplica por setenta, setenta vezes sete, isto é, sempre.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe: «Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?». Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Na verdade, o reino de Deus pode comparar-se a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo de começo, apresentaram-lhe um homem que devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido, com a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, para assim pagar a dívida. Então o servo prostrou-se a seus pés, dizendo: ‘Senhor, concede-me um prazo e tudo te pagarei’. Cheio de compaixão, o senhor daquele servo deu-lhe a liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço, dizendo: ‘Paga o que me deves’. Então o companheiro caiu a seus pés e suplicou-lhe, dizendo: ‘Concede-me um prazo e pagar-te-ei’. Ele, porém, não consentiu e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto devia. Testemunhas desta cena, os seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor tudo o que havia sucedido. Então, o senhor mandou-o chamar e disse: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque mo pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’. E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração».
Palavra da salvação.

MEDITAÇÃO

O PERDÃO

O judaísmo já conhecia o dever do perdão das ofensas, mas tratava-se de uma conquista recente, que só se conseguia impor mediante a lista de tarifas precisas. A mesquinhez humana procura sempre uma medida, uma norma que lhe dê satisfação. Perdoar, sim, mas quantas vezes? Os rabinos, para acentuar a liberalidade de Deus, diziam que ele perdoa três vezes; as escolas rabínicas exigiam que seus discípulos perdoassem certo número de vezes à mulher, aos filhos, aos irmãos etc., e esta lista variava de escola para escola. Pedro pergunta a Jesus qual a sua taxa.

Setenta vezes sete
Jesus havia ensinado a amar os próprios inimigos e orar pelos que nos perseguem a fim de sermos filhos do Pai que está nos céus, que faz surgir o sol sobre os maus e os bons e faz chover sobre justos e injustos (Mt 5,44-45). No pai-nosso, havia ensinado a pedir: “perdoai as nossas dívidas, como nós perdoamos aos nossos devedores”. Pedro, que, pelo contacto com Jesus, compreendeu que as medidas até agora tidas como válidas, não servem mais, tenta uma resposta: “até sete vezes”? É mais do que o dobro de três, e além disso é um numero simbólico que significa plenitude. Jesus formula a sua resposta retomando o número simbólico, mas multiplicando-o de tal maneira que signifique uma plenitude ilimitada. É preciso perdoar sempre. A parábola que segue explica esse dever de perdoar sem limites. O sentido da parábola é que Deus perdoa gratuitamente o pecado a quem lhe pede perdão, demonstrando uma benevolência absolutamente desinteressada para com os pecadores.
Em consequência dessa experiência do perdão de Deus, o homem deve aprender a perdoar aos seus irmãos, tanto porque as suas ofensas nada são diante da gravidade do pecado, como porque ele já foi alvo do perdão de Deus.

O perdão cristão pode transformar a fisionomia da história
O perdão das ofensas e o amor aos inimigos constituem uma das características mais evidentes e a maior novidade da moral evangélica. Mas, como acontece frequentemente, quanto maior a exigência, mais elevada a meta indicada, tanto mais mesquinha e pobre se manifesta a sua realização na vida prática.
Qual a influência da doutrina do evangelho sobre o perdão das ofensas na vida e no comportamento prático dos cristãos? Deve-se dizer que muitos cristãos, no decorrer da história da Igreja, têm tomado a sério a palavra de Jesus, e a hagiografia cristã está cheia de exemplos sublimes de amor e de gestos heróicos de perdão e reconciliação. Se hoje se fala, cada vez com mais frequência, de paz, desarmamento, solução pacífica das controvérsias internacionais e de cooperação mútua e auxílio aos povos em via de desenvolvimento... temos de reconhecer que muitos cristãos têm contribuído para a difusão e a maturação desses ideais do cristianismo. O evangelho teve importância capital na educação dos povos do Ocidente e, muitas ideias, instâncias e estímulos positivos alimentados por sistemas que combatem o cristianismo, nasceram de uma cultura originariamente cristã e fortemente marcada pelo espírito evangélico. Mas a história dos povos, mesmo a dos cristãos, está cheia de testemunhos negativos: guerras, discórdias, morticínios, vinganças, injustiças, guerras de religião, conquistas coloniais; e hoje: o imperialismo económico, a exploração do Terceiro Mundo, a indústria da guerra e da morte. A responsabilidade dos cristãos perante o evangelho e perante os irmãos ainda não iluminados pela luz da fé é enorme. Os contra testemunhos desmentem, no plano dos factos, todo esforço de evangelização e comprometem a credibilidade do próprio evangelho.

Romper a cadeia do ódio
A iniciativa da reconciliação vem de Deus, e a Igreja e os cristãos devem ser os construtores da paz no mundo; devem criar um clima de reconciliação, perdão, encontro, fraternidade em todos os sectores e todos os níveis, desde o internacional até as pequenas relações de vizinhança e trabalho, entre esposos, entre os filhos, nas relações entre operários e patrões, entre pobres e ricos. Não há relação humana, por menor que seja, que não possa melhorar pela reconciliação e o perdão. A curva ascendente da violência é um apelo ao amor cristão, do qual o perdão é um momento importante. Só com o amor é possível formar uma comunidade, também a nacional.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Ouvi, Senhor, com bondade as nossas súplicas e recebei estas ofertas dos vossos fiéis, para que os dons oferecidos por cada um de nós para glória do vosso nome sirvam para a salvação de todos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 35, 8

Como é admirável, Senhor, a vossa bondade!
À sombra das vossas asas se refugiam os homens.

Ou – Cor 10, 16
O cálice de bênção é comunhão no Sangue de Cristo;
e o pão que partimos é comunhão no Corpo do Senhor.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

Senhor nosso Deus,
concedei que este sacramento celeste nos santifique totalmente a alma e o corpo, para que não sejamos conduzidos pelos nossos sentimentos mas pela virtude vivificante do vosso Espírito.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



domingo, 6 de setembro de 2020

SE TE ESCUTAR, TERÁS GANHO O TEU IRMÃO




DOMINGO XXIII TEMPO COMUM – ano A – 06SET2020

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 118, 137.124
Vós sois justo, Senhor, e são rectos os vossos julgamentos.
Tratai o vosso servo segundo a vossa bondade.

ORAÇÃO COLECTA
Senhor nosso Deus, que nos enviastes o Salvador e nos fizestes vossos filhos adoptivos, atendei com paternal bondade as nossas súplicas e concedei que, pela nossa fé em Cristo, alcancemos a verdadeira liberdade e a herança eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Ez 33, 7-9

«Se não falares ao ímpio, pedir-te-ei contas do seu sangue»

A palavra de Deus, anunciada, acreditada, posta em prática, faz nascer o povo de Deus, a Igreja de Deus. E cada membro deste povo é, por sua vez, anunciador, profeta, desta palavra de Deus. Por isso, há-de anunciá-la com as suas palavras, se o puder fazer, mas sempre com a sua vida. Deste modo, cada filho da Igreja é, ao mesmo tempo, construtor da Igreja.

Leitura da Profecia de Ezequiel
Eis o que diz o Senhor: «Filho do homem, coloquei-te como sentinela na casa de Israel. Quando ouvires a palavra da minha boca, deves avisá-los da minha parte. Sempre que Eu disser ao ímpio: ‘Ímpio, hás-de morrer’, e tu não falares ao ímpio para o afastar do seu caminho, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas Eu pedir-te-ei contas da sua morte. Se tu, porém, avisares o ímpio, para que se converta do seu caminho, e ele não se converter, morrerá nos seus pecados, mas tu salvarás a tua vida».
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 94 (95), 1-2.6-7.8-9 (R. cf. 8)

Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações. (Repete-se)

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor. (Refrão)

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
Pois Ele é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho. (Refrão)

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras». (Refrão)


LEITURA II – Rom 13, 8-10

«A caridade é o pleno cumprimento da lei»

Toda a lei moral cristã, toda a Lei de Deus, se resume na caridade, que é o amor segundo Deus. Todos e cada um dos preceitos cristãos são aplicações concretas desta lei da caridade, que os envolve e os anima a todos.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos: Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros, pois, quem ama o próximo, cumpre a lei. De facto, os mandamentos que dizem: «Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás», e todos os outros mandamentos, resumem-se nestas palavras: «Amarás ao próximo como a ti mesmo». A caridade não faz mal ao próximo. A caridade é o pleno cumprimento da lei.
Palavra do Senhor

ALELUIA – 2 Cor 5, 19

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo
e confiou-nos a palavra da reconciliação. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 18, 15-20

«Se te escutar, terás ganho o teu irmão»

Esta passagem do Evangelho tem em vista a vida em Cristo dos membros da comunidade cristã entre si. Desde o início a Igreja sentiu, no meio de si, dificuldades na vida de comunidade. Onde houver homens, haverá dificuldades de convivência. Mas, por isso mesmo, essas dificuldades hão-de ser resolvidas humanamente, e sempre à luz de Deus, que é como quem diz, à luz da caridade de Cristo, sempre em ordem à unidade, e à construção no amor, nunca à destruição. É então, na unidade, que a comunidade se tornará a morada do Senhor, onde os homens O poderão encontrar.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão. Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou um publicano. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu. Digo-vos ainda: Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus. Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles».
Palavra da salvação.

MEDITAÇÃO

A CORREÇÃO FRATERNA

O trecho do evangelho de hoje segue imediatamente a narrativa da parábola da ovelha desgarrada, da qual se toma uma aplicação concreta. Se um irmão cometeu uma falta, deve fazer-se em primeiro lugar a correcção pessoal; se não escuta, é necessário chamar em auxílio algumas testemunhas; em terceira instância, convém referir à comunidade; e, se não ouve nem esta, deve-se, só então, considerá-lo como um pagão ou publicano, isto é, como um excomungado.

O pecador é excluído
O contexto de todo o trecho é o do convite à misericórdia e ao perdão. Não se trata tanto de uma “excomunhão”, mas da constatação de que, apesar do recurso a todos os meios possíveis para a reconciliação e o diálogo fraterno, não há no irmão a vontade eficaz de comunhão e conversão. E, no entanto, convém lembrar que a Igreja conserva o direito de pronunciar-se contra os pecadores contumazes, para não prejudicar a comunidade, e com o fim de fazer o pecador entrar em si e converter-se. Assim se pronunciou Paulo a respeito do incestuoso de Corinto (1 Cor 5,5-6).
A práxis penitencial da Igreja primitiva testemunha a grande seriedade e coerência do esforço da conversão. O pecador só encontra o perdão de Deus na redescoberta da sua misericórdia actuando na Igreja, especialmente na assembleia eucarística que torna actual a redenção de Cristo.
É sobretudo no sacramento da penitência que a Igreja exerce e exprime a misericórdia e o perdão de Cristo; mas para muitos cristãos, infelizmente, o próprio sinal sacramental da reconciliação tornou-se vazio e insignificante. O sacramento é reduzido a gesto mágico, repetido por hábito.
Um dos aspectos que mais preocupam na actual práxis penitencial está na ruptura entre sinal sacramental e experiência da comunidade cristã.

O significado comunitário da penitência
O que dificulta a aplicação concreta dos temas contidos nas leituras bíblicas às assembleias eucarísticas dominicais é o facto, já aceito por todos, de que em geral essas assembleias não são verdadeiras comunidades. Isto é, falta uma verdadeira relação pessoal entre os membros, pela qual cada um se sinta responsável diante dos irmãos. Por isso, “ao ensinamento da correcção fraterna, do perdão pedido à comunidade e não só a Deus, falta um suporte sociológico” importante. Será preciso que se aproveitem pelo menos os elementos do rito (pedido de perdão recíproco no rito penitencial da missa e abraço da paz), para fazer captar as riquezas da práxis penitencial da Igreja. A confissão, além de ser conversão a Deus, é sempre também reconciliação com os irmãos; reintroduz-nos na Igreja; de membros mortos tornamo-nos membros vivos, activos e responsáveis. Devemos redescobrir o sentido comunitário do pecado e, portanto, da penitência; ela é o sacramento em que toda a comunidade cristã reconstitui, sob a acção de Cristo, a unidade rompida. Uma comunidade de amor, entre os homens, é sempre uma comunidade de reconciliação e de correcção fraterna. A comunhão perfeita jamais é uma posse já adquirida; é uma conquista contínua, um dom a implorar do alto.

Correção e encorajamento
Mas o verdadeiro amor, o perdão autêntico, não deixa as pessoas como são, com os seus defeitos e as suas limitações. Amar um irmão significa ajudá-lo a “crescer” em todos os níveis, querer concretamente a sua “libertação” daquilo que é defeituoso e mau, lutar pela sua plena humanização. Por isto, corrigir é obra de amor; nunca é extinguir energias e entusiasmos; é coisa muito diferente da crítica. Juntamente com a correcção fraterna, o cristão faz largo uso do encorajamento. As pessoas esperam dos outros algo diferente de um dom material; esperam que os Outros se lhes tornem próximos, que entrem em contacto com elas, percebam que elas existem e lhes digam tudo isso. Nada é tão encorajador como a atenção vigilante, o respeito não puramente formal, a palavra inesperada de congratulação, se não forem fórmulas vazias de rito ou expressões convencionais. O encorajamento, como a correcção, é uma das muitas facetas da caridade.

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Senhor nosso Deus, fonte da verdadeira devoção e da paz, fazei que esta oblação Vos glorifique dignamente e que a nossa participação nos sagrados mistérios reforce os laços da nossa unidade.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 41, 2-3

Como suspira o veado pela corrente das águas,
assim minha alma suspira por Vós, Senhor.
A minha alma tem sede do Deus vivo.

Ou Jo 8, 12
Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor;
quem Me segue não anda nas trevas,
mas terá a luz da vida.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

Senhor, que nos alimentais e fortaleceis à mesa da palavra e do pão da vida, fazei que recebamos de tal modo estes dons do vosso Filho que mereçamos participar da sua vida imortal.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.