sábado, 31 de outubro de 2020

TODOS OS SANTOS

 



DOMINGO XXXI TEMPO COMUM – ano A – 01NOV2020

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA

Exultemos de alegria no Senhor,

celebrando este dia de festa

em honra de Todos os Santos.

Nesta solenidade alegram-se os Anjos

e cantam louvores ao Filho de Deus.

 

ORAÇÃO COLECTA

Deus eterno e omnipotente, que nos concedeis a graça de honrar numa única solenidade os méritos de Todos os Santos, dignai-Vos derramar sobre nós, em atenção a tão numerosos intercessores, a desejada abundância da vossa misericórdia.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Liturgia da Palavra

 

LEITURA I – Ap 7, 2-4.9-14

 

«Vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas»

 

 

 

 

Leitura do Apocalipse de São João

Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente,

trazendo o selo do Deus vivo.

Ele clamou em alta voz

aos quatro Anjos a quem foi dado o poder

de causar dano à terra e ao mar:

«Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores,

até que tenhamos marcado na fronte

os servos do nosso Deus».

E ouvi o número dos que foram marcados:

cento e quarenta e quatro mil,

de todas as tribos dos filhos de Israel.

Depois disto, vi uma multidão imensa,

que ninguém podia contar,

de todas as nações, tribos, povos e línguas.

Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro,

vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão.

E clamavam em alta voz:

«A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono,

e ao Cordeiro».

Todos os Anjos formavam círculo

em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos.

Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra,

e adoraram a Deus, dizendo:

«Ámen! A bênção e a glória, a sabedoria e a acção de graças,

a honra, o poder e a força

ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Ámen!».

Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me:

«Esses que estão vestidos de túnicas brancas,

quem são e de onde vieram?».

Eu respondi-lhe:

«Meu Senhor, vós é que o sabeis».

Ele disse-me:

«São os que vieram da grande tribulação,

os que lavaram as túnicas

e as branquearam no sangue do Cordeiro».

Palavra do Senhor

 

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 23 (24), 1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)

 

Refrão: Esta é a geração dos que procuram o Senhor. (Repete-se)

 

Do Senhor é a terra e o que nela existe,

o mundo e quantos nele habitam.

Ele a fundou sobre os mares

e a consolidou sobre as águas. (Refrão)

 

Quem poderá subir à montanha do Senhor?

Quem habitará no seu santuário?

O que tem as mãos inocentes e o coração puro,

o que não invocou o seu nome em vão. (Refrão)

 

Este será abençoado pelo Senhor

e recompensado por Deus, seu Salvador.

Esta é a geração dos que O procuram,

que procuram a face de Deus. (Refrão)

 

 

LEITURA II – 1 Jo 3, 1-3

 

«Veremos a Deus tal como Ele é»

 

 

 

Leitura da Primeira Epístola de São João

Caríssimos:

Vede que admirável amor o Pai nos consagrou

em nos chamar filhos de Deus.

E somo-lo de facto.

Se o mundo não nos conhece,

é porque não O conheceu a Ele.

Caríssimos, agora somos filhos de Deus

e ainda não se manifestou o que havemos de ser.

Mas sabemos que, na altura em que se manifestar,

seremos semelhantes a Deus,

porque O veremos tal como Ele é.

Todo aquele que tem n’Ele esta esperança

purifica-se a si mesmo,

para ser puro, como Ele é puro.

Palavra do Senhor

 

ALELUIA – Jo 14, 23

 

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

 

Vinde a Mim, vós todos os que andais cansados

e oprimidos

e Eu vos aliviarei, diz o Senhor. (Refrão)

 

 

EVANGELHO – Mt 5, 1-12a

 

«Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa»

 

 

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo,

ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se.

Rodearam-n’O os discípulos

e Ele começou a ensiná-los, dizendo:

«Bem-aventurados os pobres em espírito,

porque deles é o reino dos Céus.

Bem-aventurados os humildes,

porque possuirão a terra.

Bem-aventurados os que choram,

porque serão consolados.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,

porque serão saciados.

Bem-aventurados os misericordiosos,

porque alcançarão misericórdia.

Bem-aventurados os puros de coração,

porque verão a Deus.

Bem-aventurados os que promovem a paz,

porque serão chamados filhos de Deus.

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça,

porque deles é o reino dos Céus.

Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa,

vos insultarem, vos perseguirem

e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.

Alegrai-vos e exultai,

porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

Palavra da salvação.

 

MEDITAÇÃO

 

A VERDADEIRA FELICIDADE

 

As bem-aventuranças são o anúncio da felicidade, porque proclamam a libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino através da palavra e acção de Jesus. Estas tornam presente no mundo a justiça do próprio Deus. Justiça para aqueles que são inúteis ou incómodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. Os que buscam a justiça do Reino são os “pobres em espírito”. Sufocados no seu anseio pelos valores que a sociedade injusta rejeita, esses pobres estão profundamente convictos de que eles têm necessidade de Deus, pois só com Deus esses valores podem vigorar, surgindo assim uma nova sociedade. A santidade é uma meta a ser atingida por todos os cristãos. Ninguém é excluído deste apelo nem pode eximir-se de dar sua resposta. Mas importa nutrir um ideal sadio de santidade, sem se deixar levar por falsas concepções. Ser santo é ser capaz de colocar-se totalmente nas mãos do Pai, contar com ele, sabendo-se dependente dele. Por outro lado, é colocar-se ao serviço dos semelhantes, fazendo-lhes o bem, como resposta aos benefícios recebidos do Pai. O enraizamento em Deus desabrocha em forma de misericórdia para com o próximo. A santidade constrói-se no ritmo da entrega da própria vida nas mãos do Pai, explicitada no serviço gratuito e desinteressado aos demais, deixando de lado os interesses pessoais e tudo quanto seja incompatível com o projecto de Deus. Este ideal não é inatingível. E se constrói nas situações mais simples nas quais a pessoa é chamada a ser bondosa, a não agir com dolo ou fingimento, a criar canais de comunicação entre os desavindos, a superar o ódio e a violência, a cultivar o hábito da partilha fraterna, a ser defensor da justiça. Qualquer cristão, no seu dia-a-dia, tem a chance de fazer experiências deste género. Se o fizer, com a graça de Deus, estará dando passos decisivos no caminho da bem-aventurança. Mateus, no seu evangelho, apresenta a proclamação das bem-aventuranças como sendo as primeiras palavras de Jesus dirigidas às multidões, no início de seu ministério. Estas bem-aventuranças são uma proposta de felicidade a ser encontrada na união da vontade com Deus a partir das práticas amorosas acessíveis a todos. Não se trata da prática de virtudes pessoais, ascéticas ou morais, para um aperfeiçoamento individual. As bem-aventuranças são a felicidade alcançada por aqueles que entram em comunhão de vida com os irmãos, particularmente os mais excluídos, num processo solidário e fraterno de libertação e restauração da dignidade humana. As bem-aventuranças não têm o mesmo carácter que os mandamentos. Elas são um convite e uma proposta de vida nova, na prática da justiça que conduz à paz. À prática das bem-aventuranças todos são chamados, sem elitismos ou exclusões, particularmente os mais simples e humildes. A primeira bem-aventurança apresenta a pobreza, na forma de desapego concreto dos bens terrenos, como a característica fundamental do Reino. As duas bem-aventuranças seguintes apontam para as vítimas da sociedade injusta: os que choram e os submissos (“mansos”) aos quais o amor de Deus traz a libertação. Seguem-se quatro bem-aventuranças activas com vista à transformação da sociedade: a fome e a sede da justiça, que são a vontade de Deus; a misericórdia, que impulsiona à acção solidária; a pureza do coração, que supera a pureza ritual e acolhe a todos, e os promotores da paz em vista à construção de um mundo sem ambição e violência daqueles que tiram o alimento dos pobres para transformá-lo em armas de destruição maciça diante da consolidação de um império mundial. As duas últimas bem-aventuranças retomam o tema da justiça, exaltando a sua grandeza e advertindo sobre a repressão a que estarão sujeitos os que a buscam. Neste mundo em que a violência é alimentada pela ambição dos poderosos, a prática das bem-aventuranças aponta para novos rumos em vista da comunhão fraterna, da solidariedade mundial e da conquista da paz.

 

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

 

Aceitai benignamente, Senhor, os dons que Vos apresentamos em honra de Todos os Santos e fazei-nos sentir a intercessão daqueles que já alcançaram a imortalidade.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Mt 5, 8-10

 

Bem-aventurados os puros de coração,

porque verão a Deus.

Bem-aventurados os pacíficos,

porque serão chamados filhos de Deus.

Bem-aventurados os perseguidos por amor da justiça,

porque deles é o reino dos Céus.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

 

Nós Vos adoramos, Senhor nosso Deus, única fonte de santidade, admirável em todos os Santos, e confiadamente Vos pedimos a graça de chegarmos também nós à plenitude do vosso amor e passarmos desta mesa de peregrinos ao banquete da pátria celeste.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

domingo, 25 de outubro de 2020

AMARÁS O SENHOR TEU DEUS E O PRÓXIMO COMO A TI MESMO

 

DOMINGO XXX TEMPO COMUM – ano A – 25OUT2020 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 104, 3-4

Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor.

Buscai o Senhor e o seu poder,

procurai sempre a sua face.

 

ORAÇÃO COLECTA

Deus eterno e omnipotente, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade; e para merecermos alcançar o que prometeis, fazei-nos amar o que mandais.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Liturgia da Palavra

 

LEITURA I – Ex 22, 20-26

 

«Se fizerdes algum mal à viúva e ao órfão, inflamar-se-á a minha ira contra vós»

 

O amor de Deus concretiza-se logo no amor do próximo. Esta leitura assinala algumas situações particularmente exigentes, onde se há-de tornar concreto este amor do próximo. A primeira expressão do amor ao próximo é a justiça, sem a qual não há caridade. E não se perca de vista que este texto é do Antigo Testamento, ainda anterior ao próprio Evangelho.

 

Leitura do Livro do Êxodo

Eis o que diz o Senhor: «Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egipto. Não maltratarás a viúva nem o órfão. Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor; inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos. Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que vive junto de ti, não procederás com ele como um usurário, sobrecarregando-o com juros. Se receberes como penhor a capa do teu próximo, terás de lha devolver até ao pôr do sol, pois é tudo o que ele tem para se cobrir, é o vestuário com que cobre o seu corpo. Com que dormiria ele? Se ele Me invocar, escutá-lo-ei, porque sou misericordioso».

Palavra do Senhor

 

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 17 (18), 2-3.7.47.51ab (R. 2)

 

Refrão: Eu Vos amo, Senhor: sois a minha força. (Repete-se)

 

Eu Vos amo, Senhor, minha força,

minha fortaleza, meu refúgio e meu libertador.

Meu Deus, auxílio em que ponho a minha confiança,

meu protector, minha defesa e meu salvador. (Refrão)

 

Na minha aflição invoquei o Senhor

e clamei pelo meu Deus.

Do seu templo Ele ouviu a minha voz

e o meu clamor chegou aos seus ouvidos. (Refrão)

 

Viva o Senhor, bendito seja o meu protector;

exaltado seja Deus, meu salvador.

O Senhor dá ao Rei grandes vitórias

e usa de bondade para com o seu Ungido. (Refrão)

 

 

LEITURA II – 1 Tes 1, 5c-10

 

«Convertestes-vos dos ídolos para servir a Deus e esperar o seu Filho»

 

Esta leitura é como que um certificado de vida cristã, passado pelo Apóstolo à sua querida comunidade de Tessalónica, e que poderá servir de modelo e estímulo a outras Igrejas. Assim ela sirva ainda hoje para a nossa comunidade.

 

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses

Irmãos: Vós sabeis como procedemos no meio de vós, para vosso bem. Tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo; e assim vos tornastes exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia. Porque, partindo de vós, a palavra de Deus ressoou não só na Macedónia e na Acaia, mas em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus, de modo que não precisamos de falar sobre ela. De facto, são eles próprios que relatam o acolhimento que tivemos junto de vós e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos Céus o seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livrará da ira que há-de vir.

Palavra do Senhor

 

ALELUIA – Jo 14, 23

 

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

 

Se alguém Me ama, guardará a minha palavra,

diz o Senhor;

meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada. (Refrão)

 

 

EVANGELHO –
Mt 22, 34-40

 

«Amarás o Senhor teu Deus e o próximo como a ti mesmo»

 

Uma pergunta frontal posta a Jesus, embora com má intenção, foi ocasião para o Senhor afirmar, de maneira solene e inequívoca, a verdadeira hierarquia dos valores à luz de Deus: o mandamento fundamental é o do amor a Deus e ao próximo. Ao ser interrogado sobre qual era o maior mandamento, Jesus acrescenta também qual é o segundo, não fosse julgar-se que, ao pretender amar-se a Deus, se poderia humilhar o próximo, como parece ter sido intenção daquele que O interrogou.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».

Palavra da salvação.

 

MEDITAÇÃO

 

ENCONTRO DE DOIS AMORES

 

Será necessário afastar-se dos homens para encontrar ao Deus? E quem encontrou a Deus ainda poderá voltar aos homens e viver com eles? Interessar-se por eles, trabalhar com eles e para eles? Noutras palavras são compatíveis o amor de Deus e o amor dos homens, ou ao contrário, um exclui o outro, de modo que seja absolutamente necessário fazer uma opção?

 

Amar o homem para amar a Deus

Nenhuma destas perguntas recebeu de Jesus uma resposta essencial: o primeiro mandamento é amar a Deus e o segundo, que lhe é semelhante, amar os homens. Não se pode, pois, pensar que a entrada de Deus numa consciência provoque a exclusão do homem (evangelho).

Ao contrário, os textos mais seguros da mensagem do Antigo Testamento e de Jesus nos levam a crer com certeza que o encontro com Deus renova e aperfeiçoa a atenção e a solicitude para com os homens (1ª leitura).

“Quando Deus se revela pessoalmente, ele fá-lo servindo-se das categorias do homem. Assim revela-se Pai, Filho, Espírito de amor: e revela-se supremamente na humanidade de Jesus Cristo. Por isto, não é demasiada ousadia afirmar que é preciso conhecer o homem para conhecer a Deus; é preciso amar o homem para amar a Deus” (rdC 122,b).

Mas convém aprofundar alguns problemas impostos pelos próprios textos evangélicos. Importa amar os homens, mas importa também acautelar-se em relação ao mundo, saber deixar o pai e a mãe... Como fazer um acordo entre proposições que, à primeira vista, parecem opor-se? Devendo absolutamente escolher entre o homem e Deus, que fazer? O amor dos homens não é uma ameaça ao amor de Deus?

Nunca a Escritura e a tradição cristã permitiram ao cristão desinteressar-se do homem, sob pretexto de interessar-se unicamente por Deus. Nunca deixaram de indicar no serviço do homem um modo de servir a Deus.

 

Teoria e práxis

A atenção a Deus e a atenção ao homem não são facilmente separáveis. O cultivo da “via interior” é um valor cristão, um valor permanente, como a necessidade de recolhimento. Mas a “vida interior”, quando se é cristão, não é monólogo nem é falar com Deus só. Encontrando Deus na oração, o cristão, mais cedo ou mais tarde, encontra inevitavelmente os homens que Deus cria e quer salvar. Ele não pode deixar de subscrever estas linhas de Paulo Ricoerur: “Minha vida interior é a fonte das minhas relações exteriores. Contrariamente à sabedoria meditativa e contemplativa do fim do paganismo grego ou do Oriente, a pregação cristã jamais opôs o ser ao fazer, do interior ao exterior, a teoria à práxis, a oração à vida, a fé às obras. Deus ao próximo. É sempre no momento em que a comunidade cristã se desfaz ou a fé decai, que ela abandona o mundo e as suas responsabilidades, reconstruindo o mito da interioridade. Então, o Cristo não é mais reconhecido na pessoa do pobre, do exilado, do prisioneiro”. Todo o teu espírito: eis o grande e primeiro mandamento. Era o texto do Deuteronómio que constituía a essência da oração que os Israelitas rezavam diariamente – o “Shemá” – e que na actual liturgia das horas nós rezamos na oração da noite de domingo. Mas Jesus acrescentou: “o segundo mandamento é semelhante a ele: amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 37-37). E disse ainda: “Desses dois mandamentos decorre toda a lei e os profetas (v 40)”.

 

Contemplação e acção

O cristão pode afastar-se momentaneamente dos homens, para orar, para pensar só em Deus. Pode fazer uma hora de meditação sem encontrar expressamente, na contemplação de um mistério divino, o pensamento das necessidades dos homens... Isto torna-se mesmo, em certos momentos, uma profunda necessidade. Na vida cristã, como na vida humana em geral, existem normalmente ritmos; passa-se da contemplação à acção desta à contemplação. Mas como acontece na nossa existência em que se sucedem tempos de retiro e tempos de intensa actividade, também na Igreja vemos contemplativos e activos. O mistério de Cristo, no seu todo, é vivido na Igreja, no conjunto dos seus membros e em todos os séculos. O contemplativo serve aos homens servindo a Deus o activo serve a Deus servindo aos homens. Os dois exprimem, especializando-se na limitação do Cristo, um mesmo e único mistério: o da vida religiosa do Verbo encarnado. Assim aconteceu e acontece ainda na história da Igreja. O santo Cura D´Ars suspirava por um convento e pela solidão, enquanto se dedicava inteiramente aos homens; e os conventos deram à Igreja grandes papas, bispos, reformadores e missionários, que passaram da contemplação e da solidão à acção mais perseverante e ininterrupta.

 

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

 

Olhai, Senhor, para os dons que Vos apresentamos e fazei que a celebração destes mistérios dê glória ao vosso nome.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 19, 6

 

Celebramos, Senhor, a vossa salvação

e glorificamos o vosso santo nome.

 

OuEf 5, 2

 

Cristo amou-nos e deu a vida por nós,

oferecendo-Se em sacrifício agradável a Deus.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

 

Fazei, Senhor, que os vossos sacramentos realizem em nós o que significam, para alcançarmos um dia em plenitude o que celebramos nestes santos mistérios.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 


sábado, 17 de outubro de 2020

DAI A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

 

DOMINGO XXIX TEMPO COMUM – ano A – 18OUT2020

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 16, 6.8.9

Respondei-me, Senhor, quando Vos invoco,

ouvi a minha voz, escutai as minhas palavras.

Guardai-me dos meus inimigos, Senhor.

Protegei-me à sombra das vossas asas.

 

ORAÇÃO COLECTA

Deus eterno e omnipotente, dai-nos a graça de consagrarmos sempre ao vosso serviço a dedicação da nossa vontade e a sinceridade do nosso coração.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Liturgia da Palavra

 

LEITURA I – Is 45, 1.4-6

 

«Tomei Ciro pela mão direita para subjugar diante dele as nações»

 

O Evangelho de hoje vai afirmar a relação entre o poder temporal e o poder espiritual. Mas Deus é Senhor de todos os homens, e nada nem ninguém é autónomo em relação a Ele. Deus realiza os seus desígnios, que são sempre de salvação, através dos homens e das instituições humanas, por vezes até de maneira muito clara, como se mostra nesta leitura: o rei da Pérsia, Ciro, um pagão, é instrumento de Deus para a libertação do seu povo.

 

Leitura do Livro de Isaías

Assim fala o Senhor a Ciro, seu ungido, a quem tomou pela mão direita, para subjugar diante dele as nações e fazer cair as armas da cintura dos reis, para abrir as portas à sua frente, sem que nenhuma lhe seja fechada: «Por causa de Jacob, meu servo, e de Israel, meu eleito, Eu te chamei pelo teu nome e te dei um título glorioso, quando ainda não Me conhecias. Eu sou o Senhor e não há outro; fora de Mim não há Deus. Eu te cingi, quando ainda não Me conhecias, para que se saiba, do Oriente ao Ocidente, que fora de Mim não há outro. Eu sou o Senhor e mais ninguém».

Palavra do Senhor

 

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96), 1.3.4-5.7-8.9-10a.c (R. 7b)

 

Refrão: Aclamai a glória e o poder do Senhor. (Repete-se)

 

Cantai ao Senhor um cântico novo,

cantai ao Senhor, terra inteira.

Publicai entre as nações a sua glória,

em todos os povos as suas maravilhas. (Refrão)

 

O Senhor é grande e digno de louvor,

mais temível que todos os deuses.

Os deuses dos gentios não passam de ídolos,

foi o Senhor quem fez os céus. (Refrão)

 

Dai ao Senhor, ó família dos povos,

dai ao Senhor glória e poder.

Dai ao Senhor a glória do seu nome,

levai-Lhe oferendas e entrai nos seus átrios. (Refrão)

 

Adorai o Senhor com ornamentos sagrados,

trema diante d’Ele a terra inteira.

Dizei entre as nações: «O Senhor é Rei»,

governa os povos com equidade. (Refrão)

 

 

LEITURA II – 1 Tes 1, 1-5b

 

«Recordamos a vossa fé, caridade e esperança»

 

Começamos hoje a leitura da primeira epístola aos Tessalonicenses, a comunidade cristã existente na cidade de Tessalónica (ou Salónica), no norte da Grécia. Como de costume, S. Paulo começa com uma acção de graças, hoje, por verificar o progresso espiritual desses cristãos. Como podemos observar, os Apóstolos pregavam e escreviam como verdadeiros mestres e pastores, e não apenas como moralistas ou legisladores. E sempre será esta a verdadeira finalidade da pregação na Igreja: levar os seus filhos a crescerem nos caminhos do reino de Deus, o que é para ela fonte de alegria e de acção de graças.

 

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses

Paulo, Silvano e Timóteo à Igreja dos Tessalonicenses, que está em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: A graça e a paz estejam convosco. Damos continuamente graças a Deus por todos vós, ao fazermos menção de vós nas nossas orações. Recordamos a actividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo, na presença de Deus, nosso Pai. Nós sabemos, irmãos amados por Deus, como fostes escolhidos. O nosso Evangelho não vos foi pregado somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a acção do Espírito Santo.

Palavra do Senhor

 

ALELUIA – Filip 2, 15d.16a

 

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

 

Vós brilhais como estrelas no mundo,

ostentando a palavra da vida. (Refrão)

 

 

EVANGELHO – Mt 22, 15-21

 

«Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus»

 

Perante o poder temporal, aqui representado por César, o imperador de Roma – que ao tempo de Jesus imperava também na Terra Santa – a atitude de Jesus é de respeito pela sua autonomia, mas reivindica, ao mesmo tempo, as exigências primordiais do serviço de Deus, às quais nada se pode antepor. E, ao mesmo tempo, denuncia a falta de sinceridade dos que O interrogavam; sem ela, ninguém se poderá dirigir a Deus.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes acepção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-Lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».

Palavra da salvação.

 

MEDITAÇÃO

 

DAI A CÉSAR

 

Diversas, e às vezes divergentes, são as interpretações dadas à célebre frase-resposta de Jesus aos que queriam armar-lhe uma cilada: uma frase de efeito, como que evasiva, com a que Jesus responde sem se perturbar; uma resposta irónica, como se Jesus quisesse dizer: só quando se tem que pagar os impostos aparece o problema da consciência; uma definição precisa dos limites do campo e das relações recíprocas entre Estado e Igreja.

De qualquer modo, é claro que o que importa é o reino de Deus. É o único absoluto a ser procurado, Jesus veio pregar o reino; esta é a realidade fundamental e clara. Diante deste anúncio, tudo passa para segundo plano. Com isto, Jesus não quer negar a função de César, mas quer atingir seus adversários que não compreenderam sua missão e esquecem a questão decisiva.

 

Soberania espiritual ou senhorio temporal?

O trecho é usado hoje, com frequência, para reafirmar e dar um fundamento bíblico, revelado, à distinção e recíproca autonomia entre Igreja e Estado. Muito provavelmente, a resposta de Jesus não tinha esta intenção: tanto pelo contexto do relato, que não exigia um pronunciamento sobre este problema, como pelo contexto histórico do seu tempo, no qual não se distinguia ainda entre poder político e religioso. Mas a resposta de Jesus é igualmente esclarecedora, porque indica uma direcção. Os judeus do tempo de Jesus estavam habituados a conceber o reino, inaugurado pelo futuro Messias, na forma de uma teocracia, isto é, como domínio directo de Deus, através de seu povo, sobre toda a terra. A palavra de Jesus revela a existência de um reino de Deus na história, no qual é possível a todos, não só aos judeus, entrar desde já, sem esperar que se inaugure um hipotético reino político de Deus em toda a terra. De facto, o reino de Deus tanto é possível dentro de um reino pagão como no quadro de uma teocracia, pois não se identifica com nenhum dos dois. Revelam-se assim dois modos qualitativamente diferentes de domínio e de sabedoria de Deus no mundo: a soberania espiritual, que constitui o reino de Deus e que ele exerce directamente em Cristo, e o senhorio temporal, que ele exerce indirectamente, através do livre jogo das causas segundas.

 

A tarefa do cristão no mundo

A palavra de Jesus leva a nossa reflexão a um dos problemas mais importantes e cruciais dos cristãos de hoje. O homem moderno tem a profunda convicção de lhe caber uma tarefa histórica e desempenhar na terra, tarefa proporcional à sua possibilidade cada vez maior, e que implica um real domínio sobre o universo. O fim é este: a promoção da comunidade humana no meio d e uma “cidade” cada vez mais fraterna. Esta tomada de consciência é acompanhada às vezes de uma crítica amarga da religião, considerada a responsável pela secular alienação dos homens. Muitos assumem perante a religião uma atitude de desconsideração, como se ela não tivesse nenhuma contribuição positiva a oferecer.

A fé cristão, vivia integralmente, longe de sugerir demissão e evasão frente as tarefas terrestres do homem, ajusta os que crêem a assumir as suas responsabilidades na conquista dos objectivos que se impõem à consciência moderna. Os apelos do mundo actual encontram um eco cada vez mais profundo em vastas camadas do povo cristão e, felizmente, não são raros os cristãos coerentes que assumem os papéis da promoção, libertação e construção de uma cidade terrestre mais justa e humana. O Vaticano II dedicou uma parte importante dos seus trabalhos à análise das preocupações do homem do Século XX, problemas em aparência mais profanos que religiosos, de tal modo que as reticências ou ausências do cristão de ontem em relação ao seu compromisso com o mundo, deveriam ser superadas.

 

A construção da cidade terrestre

Entretanto, permanece uma pergunta: a construção da cidade terrestre é uma tarefa importante, mas não estará ela caduca? Construindo a cidade dos homens contribui-se ou não para a edificação do reino de Deus? Não serão dois reinos diferentes?

A esperança cristã não se realiza, certamente, em plenitude, senão no mundo futuro. Contudo, ela manifesta desde já a sua eficácia: é uma força imensa no mundo, é um fermento que o faz levedar, é um sal que dá sentido e sabor ao esforço humano de libertação, ao empenho temporal. Não é alienação, não é álibi. Não existem duas esperanças: uma terrena e outra celeste; a esperança é uma só: diz respeito à realidade futura, mas através do empenho cristão, antecipa-a na realidade terrestre.

 

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

 

Fazei, Senhor, que possamos servir ao vosso altar com plena liberdade de espírito, para que estes mistérios que celebramos nos purifiquem de todo o pecado.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 32, 18-19

 

O Senhor vela sobre os seus fiéis,

sobre aqueles que esperam na sua bondade,

para libertar da morte as suas almas,

para os alimentar no tempo da fome.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

 

Concedei, Senhor, que a participação nos mistérios celestes nos faça progredir na santidade, nos obtenha as graças temporais e nos confirme nos bens eternos.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.