(Domingo, 31 de Agosto
de 2014)
“Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo”
LEITURA I – Jer 20,
7-9
“A palavra do Senhor tornou-se para mim ocasião de insultos...”
Apesar de falar em nome de Deus ao povo de Israel, o profeta
só deste recebe insultos, ameaças e perseguição. Sentiu então a tentação de
abandonar essa sua missão profética, apesar de sentir o coração abrasado do
zelo do Senhor. Nesta luta interior, o amor foi mais forte que o desânimo,
porque mais forte que os insultos dos homens é a palavra de Deus.
“Vós me seduzistes,
Senhor, e eu deixei-me seduzir; Vós me dominastes e vencestes. Em todo o tempo
sou objecto de escárnio, toda a gente se ri de mim; porque sempre que falo é
para gritar e proclamar: «Violência e ruína!». E a palavra do Senhor tornou-se
para mim ocasião permanente de insultos e zombarias. Então eu disse: «Não
voltarei a falar n’Ele, não falarei mais em seu nome». Mas havia no meu coração
um fogo ardente, comprimido dentro dos meus ossos. Procurava contê-lo, mas não
podia.”
LEITURA II – Rom 12,
1-2
“Oferecei-vos como vítima viva”
O culto verdadeiramente cristão nasce da fé e atinge toda a
vida do homem renascido em Cristo. Como Cristo, o cristão é homem novo, vive,
por isso, uma vida nova; não se conforma já com este mundo, mas vive do
Espírito de Deus e faz de toda a sua vida uma oferta viva, agradável a Deus.
Leitura da Epístola do
apóstolo São Paulo aos Romanos[2]
“Peço-vos, irmãos, pela
misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós mesmos como sacrifício vivo,
santo, agradável a Deus, como culto espiritual. Não vos conformeis com este
mundo, mas transformai-vos, pela renovação espiritual da vossa mente, para
saberdes discernir, segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é
agradável, o que é perfeito.”
EVANGELHO Mt 16,
21-27
“Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo”
À vista da Paixão, anunciada por Jesus aos seus discípulos,
Pedro como que tenta Jesus, dissuadindo-O de aceitar a Cruz. Jesus rejeita
energicamente a sua proposta, e, pelo contrário, apresenta aos discípulos, como
programa para eles, o mistério da sua própria Cruz. Quem quiser ser seu
discípulo, terá, como o Mestre, de renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e
segui-l’O. Assim ganhará a vida; doutro modo, perdê-la-ia, ainda que tivesse
ganho todo o mundo.
Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, Jesus
começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer
muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; que
tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, tomando-O à parte,
começou a contestá-l’O, dizendo: «Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de
acontecer!». Jesus voltou-Se para Pedro e disse-lhe: «Vai-te daqui, Satanás. Tu
és para mim uma ocasião de escândalo, pois não tens em vista as coisas de Deus,
mas dos homens»[3]. Jesus disse então aos seus discípulos: «Se alguém quiser seguir-Me,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua
vida há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de
encontrá-la[4]. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a
sua vida? Que poderá dar o homem em troca da sua vida? O Filho do homem há-de
vir na glória de seu Pai, com os seus Anjos, e então dará a cada um segundo as
suas obras»[5].”
[1]
Temos aqui o último texto das chamadas Confissões, que é também aquele que
melhor traduz o drama do seu ministério profético. Jeremias sente-se
prisioneiro de uma forte paixão por Deus a que chama “sedução”. No entanto,
essa paixão não o impede de amaldiçoar a própria vida, tal era a violência que
sobre ele era feita (Jb 3,1-26).
[2]
O Culto espiritual
[3]
Jesus rejeita a sugestão de Pedro, do mesmo modo que resistiu à tentação no
deserto (4,10). Pedro estava a ser pedra de estorvo (escândalo: ver Mc 8,33).
De resto, Jesus convida o discípulo a segui-lo.
[4]
Salvar a sua vida, expressão de raiz semita que pode traduzir-se por salvar-se.
Na sua forma paradoxal, refere-se às duas etapas da vida humana: a presente e a
futura (10,39; Lc 17,33; Jo 12,25).
[5]
Citando Sl 62,13; Dn 7,13-14, Mt exprime a ideia da retribuição pessoal,
profundamente enraizada no AT (Ez 14,13-20 nota), que ele apresenta com
aspectos novos: é Jesus quem julga cada um no último dia (25,31-46); e
retribuirá segundo as obras de cada um (6,4.6.18).