terça-feira, 24 de setembro de 2013

O CRISTIANISMO EM POUCAS PALAVRAS



Há pouca gente, cristãos ou não, que questionam: o que quer efectivamente o cristianismo? Cristo – de onde procede o “cristianismo” –, o que pretendeu quando passou entre nós, há mais de dois mil anos?

A resposta deve, por um momento, esquecer todo o aparato doutrinário criado ao longo da história e ir directamente ao essencial. E este “essencial” deve poder expressar-se de tal modo que o homem da rua possa entendê-lo.

Jesus não começou a anunciar-se a si mesmo ou à Igreja. Anunciou o Reino de Deus, que significa o sonho de uma revolução absoluta que se propõe transformar todas as relações que se encontram deturpadas, no modo pessoal, social, cósmico e, especialmente, com referência a Deus. Este Reino começa quando as pessoas aderem a este anúncio de esperança e assumem a ética do Reino: amor incondicional, a misericórdia, a fraternidade sem fronteiras, a aceitação humilde de Deus vivo como Pai de infinita bondade.

Além de proclamar o Reino de Deus, qual é a intenção original de Jesus? Os apóstolos fizeram esta pergunta directamente a Jesus, usando um subterfúgio linguístico típico naquele tempo: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11,1). Isto é o mesmo que pedir: "Dá-nos um resumo da tua mensagem, qual é a tua proposta?” Jesus responde com a Oração do Pai Nosso. É a “ipsissima vox Jesu”: a palavra que saiu, sem dúvida, da boca do Jesus histórico.

Nesta oração está o mínimo dos mínimos da mensagem de Jesus: Deus-Abba e o seu reino, o ser humano e as suas necessidades. Mais resumidamente: trata-se do Pai nosso e do pão nosso no arco do sonho do Reino de Deus. Aqui se encontram os dois movimentos: um em direcção ao céu, onde se encontra Deus como Abba, nosso Pai amado e o seu projecto de resgate de toda a criação (o Reino); o outro em direcção à terra, onde se encontra o pão nosso sem o qual não podemos viver. Note-se que não se diz “meu Pai”, mas sim “Pai Nosso”, ou “meu pão”, mas “pão nosso de cada dia.”

Podemos apenas dizer amém, se unirmos os dois pólos: o Pai com o pão. O cristianismo realiza-se nesta dialéctica: anunciar um Deus bom porque é Pai amado que tem um projecto de total libertação e, ao mesmo tempo à luz desta experiência, construir colectivamente o pão como meio de vida para todos.

Sabemos da “tragédia” ocorrida com Jesus. O Reino foi rejeitado e o seu proclamador executado na cruz. Mas Deus tomou partido por Jesus: ressuscitou-O. A ressurreição não é a reanimação de um cadáver mas o surgimento do “novo Adão” (1 Coríntios 15,45). A ressurreição é a realização do sonho do Reino na pessoa de Jesus como antecipação do que vai acontecer com todos e com o universo inteiro.

A execução de Jesus e a sua ressurreição abriram um espaço para que surgisse o movimento de Jesus, as primeiras comunidades a nível familiar e local e, por fim, a Igreja como comunidade de fiéis e comunidade de comunidades.

Leonardo Boff, no seu livro “Cristianismo. Lo mínimo de lo mínimo” faz uma retrospectiva do que significou o cristianismo na história, nos seus momentos de sombras e de luz, até chegar ao dia de hoje com o desafio de encontrar o seu lugar no processo de globalização da humanidade. Este descobre-se vivendo numa Casa Comum, o planeta Terra, agora seriamente ameaçado por uma crise ecológica generalizada que pode pôr em risco o futuro da nossa civilização, até a sobrevivência da espécie humana.

O Cristianismo pode trazer elementos salvadores porque Deus, segundo as Escrituras judaico-cristãs, é “o soberano amante da vida” (Sabedoria 11,24) e não vai permitir que a vida e o mundo, assumidos pelo Verbo, desapareçam da história.


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