sábado, 19 de novembro de 2016

Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas




DOMINGO XXXIV DO TEMPO COMUM

Rei, Senhor da paz e da unidade
Cristo é chamado a dirigir o povo de Deus, a ser o seu condutor; a sua realeza é de origem divina e tem o primado sobre tudo, porque nele o Pai pôs a plenitude de todas as coisas. O evangelho de Lucas apresenta a realeza de Jesus narrando a paródia da sua investidura como Rei dos Judeus na cruz, que lembra a outra paródia que se deu no pretório de Pilatos e narrada pelos outros evangelistas. A investidura real de Jesus desenrola-se em torno da cruz, trono improvisado do novo Messias. Para tornar mais evidente essa aproximação, Lucas recorda a inscrição que encabeça a cruz (v. 38), mas sem dizer que se trata de um motivo de condenação (cf Mt 27,37). Assim, a inscrição tem o lugar da palavra de investidura, como a do Pai que investe o seu Filho no baptismo (Lc 3,22). Além disso, Lucas introduz aqui um episódio que se refere a outro lugar (v. 36a; cf Mt 27,48) e lhe acrescenta uma frase (v. 37b) com a qual a multidão espera que Jesus se manifeste como rei; mas ele não quer que sua realeza lhe advenha da fuga à sua sorte, mas sim da sua fidelidade a ela!

Cristo, rei de reconciliação
Como em todas as coisas importantes na lei mosaica, é necessário que a entronização seja reconhecida por duas testemunhas. Mas, enquanto as testemunhas da investidura real da transfiguração são dois entre as principais personagens do Antigo Testamento (Lc 9,28-36) e as testemunhas da ressurreição são também misteriosas (Lc 24,4), as duas testemunhas da entronização no Gólgota são apenas dois vulgares bandidos. Investidura ridícula daquele que só será rei assumindo até ao fim o escárnio!
Lucas coloca, a seguir deste trecho, o episódio dos dois ladrões, como que a indicar que, para Cristo, o modo de exercer a sua realeza sobre todos os homens, inclusive sobre os seus inimigos, é oferecendo-lhes o perdão (v. 34a.39-43). Lucas é muito sensível a esta ideia em toda a narrativa da paixão, mas aqui ela chega ao máximo. Com esse perdão, Cristo apresenta-se como o novo Adão, aquele que pode ajudar a humanidade a reintegrar o paraíso perdido pelo primeiro homem (cf Lc 3,38). É preciso ainda que essa humanidade nova aceite o perdão de Deus e não se volte orgulhosamente sobre si mesma. Cristo chega ao momento da sua vida em que poderá inaugurar uma nova humanidade, libertada das alienações do pecado; oferece ao bom ladrão a participação dela, porque a sua vontade de perdoar não tem limites. O reino de Cristo manifesta-se sobre convertidos.

Cristo, rei de perdão
Os termos Rei e Messias ressoam em torno da cruz em fases zombeteiras e provocantes. Nesta situação, Jesus tem um gesto verdadeiramente régio e assegura ao malfeitor arrependido a entrada no reino do Pai. Também diante dos adversários mais encarniçados, Jesus dirá palavras de perdão: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Jesus exerce e manifesta a sua realeza não nas afirmações de um poder despótico, mas no serviço de um perdão que busca a reconciliação.
Ele é o primogénito de toda a criatura, e como todas as coisas foram criadas nele, “foi do agrado de Deus reconciliar consigo todas as coisas, por meio dele, estabelecendo a paz no sangue da sua cruz”. Cristo é rei porque, perdoando e morrendo para a remissão dos pecados, cria uma nova unidade entre os homens. Quebrando a corrente do ódio, oferece a possibilidade de um novo futuro.

Um rei que veio para servir
Reconhecendo que Jesus é rei, cremos que, com ele, Deus manifestou plenamente que a realização do homem só se pode dar pela obediência à sua vontade. Não há acção do homem que não esteja sob o juízo de Deus. Não pode haver lugar na historia sem relação com Deus por meio de Jesus.
Na Igreja de Cristo, como em toda comunidade, o ministério (serviço) da autoridade é dado não para a afirmação pessoal, mas em função da unidade e da caridade. Cristo, bom pastor, não veio para ser servido, mas para servir (Mt 20,28; Mc 10,45) e dar a vida pelas ovelhas (Jo 10,11).
Essas afirmações ajudam a evitar as ambiguidades inerentes ao conceito de realeza quando não compreendido no sentido da realeza de Cristo.

LEITURA I – 2 Sam 5, 1-3

Ungiram David como rei de Israel

O rei David, antepassado de Jesus, é uma figura de Cristo, Pastor e Rei. A leitura refere-se à unção de David como rei de Israel. David fez a união de todas as tribos do povo do Antigo Testamento, e recebeu a promessa de que da sua descendência nasceria o Messias, o enviado de Deus. De facto, Jesus, descendente de David, é o verdadeiro Ungido de Deus, como indica o nome de “Cristo”, e é Ele o verdadeiro unificador e pastor, não só das tribos de Israel, mas de todos os homens, por quem Ele deu o Sangue na Cruz, “para trazer à unidade os filhos de Deus que andavam dispersos”. (Jo 11, 5-2).

Leitura do Segundo Livro de Samuel
“Naqueles dias, todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Nós somos dos teus ossos e da tua carne. Já antes, quando Saul era o nosso rei, eras tu quem dirigia as entradas e saídas de Israel. E o Senhor disse-te: ‘Tu apascentarás o meu povo de Israel, tu serás rei de Israel’». Todos os anciãos de Israel foram à presença do rei, a Hebron. O rei David concluiu com eles uma aliança diante do Senhor e eles ungiram David como rei de Israel.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Col 1, 12-20

Transferiu-nos para o reino do seu Filho muito amado

Esta leitura é um verdadeiro hino, possivelmente um cântico da Igreja primitiva, incluído por S. Paulo nesta carta, em honra de Jesus Cristo, conforme a fé com que o povo de Deus sempre O soube contemplar: o “Primogénito de toda a criatura” e o “Primogénito de entre os mortos”, “Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo”, vértice e plenitude de todo o Universo.

Leitura da Epístola de São Paulo aos Colossenses
“Irmãos: Damos graças a Deus Pai, que nos fez dignos de tomar parte na herança dos santos, na luz divina. Ele nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados. Cristo é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; Porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi criado. Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 23, 35-43

Lembra-Te de mim, Senhor, quando vieres com a tua realeza

A fé na realeza de Jesus é a que nós confessamos quando chamamos a Jesus Cristo, nosso “Senhor”. Esta “Senhoria” ou realeza de Jesus, reconheceu-a o bom ladrão no meio dos sofrimentos da Cruz, revelou-se claramente na glória da Ressurreição, e esperamo-la nós quando ela se manifestar a todos os homens na última vinda do Senhor, que este Domingo simbolicamente antecipa para alimento da nossa fé e da nossa esperança.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».”
Palavra da Salvação



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