DOMINGO XXXIV DO TEMPO COMUM
Rei, Senhor da paz e da unidade
Cristo é chamado a dirigir o povo de Deus, a ser o seu condutor; a sua
realeza é de origem divina e tem o primado sobre tudo, porque nele o Pai pôs a
plenitude de todas as coisas. O evangelho de Lucas apresenta a realeza de Jesus
narrando a paródia da sua investidura como Rei dos Judeus na cruz, que lembra a
outra paródia que se deu no pretório de Pilatos e narrada pelos outros
evangelistas. A investidura real de Jesus desenrola-se em torno da cruz, trono
improvisado do novo Messias. Para tornar mais evidente essa aproximação, Lucas
recorda a inscrição que encabeça a cruz (v. 38), mas sem dizer que se trata de
um motivo de condenação (cf Mt 27,37). Assim, a inscrição tem o lugar da
palavra de investidura, como a do Pai que investe o seu Filho no baptismo (Lc
3,22). Além disso, Lucas introduz aqui um episódio que se refere a outro lugar
(v. 36a; cf Mt 27,48) e lhe acrescenta uma frase (v. 37b) com a qual a multidão
espera que Jesus se manifeste como rei; mas ele não quer que sua realeza lhe
advenha da fuga à sua sorte, mas sim da sua fidelidade a ela!
Cristo, rei de
reconciliação
Como em todas as coisas importantes na lei mosaica, é necessário que a
entronização seja reconhecida por duas testemunhas. Mas, enquanto as
testemunhas da investidura real da transfiguração são dois entre as principais
personagens do Antigo Testamento (Lc 9,28-36) e as testemunhas da ressurreição
são também misteriosas (Lc 24,4), as duas testemunhas da entronização no
Gólgota são apenas dois vulgares bandidos. Investidura ridícula daquele que só será
rei assumindo até ao fim o escárnio!
Lucas coloca, a seguir deste trecho, o episódio dos dois ladrões, como
que a indicar que, para Cristo, o modo de exercer a sua realeza sobre todos os
homens, inclusive sobre os seus inimigos, é oferecendo-lhes o perdão (v.
34a.39-43). Lucas é muito sensível a esta ideia em toda a narrativa da paixão,
mas aqui ela chega ao máximo. Com esse perdão, Cristo apresenta-se como o novo
Adão, aquele que pode ajudar a humanidade a reintegrar o paraíso perdido pelo
primeiro homem (cf Lc 3,38). É preciso ainda que essa humanidade nova aceite o
perdão de Deus e não se volte orgulhosamente sobre si mesma. Cristo chega ao
momento da sua vida em que poderá inaugurar uma nova humanidade, libertada das
alienações do pecado; oferece ao bom ladrão a participação dela, porque a sua
vontade de perdoar não tem limites. O reino de Cristo manifesta-se sobre
convertidos.
Cristo, rei de
perdão
Os termos Rei e Messias ressoam em torno da cruz em fases zombeteiras e
provocantes. Nesta situação, Jesus tem um gesto verdadeiramente régio e
assegura ao malfeitor arrependido a entrada no reino do Pai. Também diante dos
adversários mais encarniçados, Jesus dirá palavras de perdão: “Pai, perdoa-lhes
porque não sabem o que fazem”. Jesus exerce e manifesta a sua realeza não nas
afirmações de um poder despótico, mas no serviço de um perdão que busca a
reconciliação.
Ele é o primogénito de toda a criatura, e como todas as coisas foram
criadas nele, “foi do agrado de Deus reconciliar consigo todas as coisas, por
meio dele, estabelecendo a paz no sangue da sua cruz”. Cristo é rei porque,
perdoando e morrendo para a remissão dos pecados, cria uma nova unidade entre
os homens. Quebrando a corrente do ódio, oferece a possibilidade de um novo
futuro.
Um rei que veio
para servir
Reconhecendo que Jesus é rei, cremos que, com ele, Deus manifestou
plenamente que a realização do homem só se pode dar pela obediência à sua
vontade. Não há acção do homem que não esteja sob o juízo de Deus. Não pode
haver lugar na historia sem relação com Deus por meio de Jesus.
Na Igreja de Cristo, como em toda comunidade, o ministério (serviço) da
autoridade é dado não para a afirmação pessoal, mas em função da unidade e da
caridade. Cristo, bom pastor, não veio para ser servido, mas para servir (Mt
20,28; Mc 10,45) e dar a vida pelas ovelhas (Jo 10,11).
Essas afirmações ajudam a evitar as ambiguidades inerentes ao conceito de
realeza quando não compreendido no sentido da realeza de Cristo.
LEITURA I – 2 Sam 5,
1-3
“Ungiram
David como rei de Israel”
O
rei David, antepassado de Jesus, é uma figura de Cristo, Pastor e Rei. A
leitura refere-se à unção de David como rei de Israel. David fez a união de
todas as tribos do povo do Antigo Testamento, e recebeu a promessa de que da
sua descendência nasceria o Messias, o enviado de Deus. De facto, Jesus,
descendente de David, é o verdadeiro Ungido de Deus, como indica o nome de
“Cristo”, e é Ele o verdadeiro unificador e pastor, não só das tribos de
Israel, mas de todos os homens, por quem Ele deu o Sangue na Cruz, “para trazer
à unidade os filhos de Deus que andavam dispersos”. (Jo 11, 5-2).
Leitura do
Segundo Livro de Samuel
“Naqueles
dias, todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe:
«Nós somos dos teus ossos e da tua carne. Já antes, quando Saul era o nosso
rei, eras tu quem dirigia as entradas e saídas de Israel. E o Senhor disse-te:
‘Tu apascentarás o meu povo de Israel, tu serás rei de Israel’». Todos os
anciãos de Israel foram à presença do rei, a Hebron. O rei David concluiu com
eles uma aliança diante do Senhor e eles ungiram David como rei de Israel.”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Col 1, 12-20
“Transferiu-nos
para o reino do seu Filho muito amado”
Esta
leitura é um verdadeiro hino, possivelmente um cântico da Igreja primitiva,
incluído por S. Paulo nesta carta, em honra de Jesus Cristo, conforme a fé com
que o povo de Deus sempre O soube contemplar: o “Primogénito de toda a criatura”
e o “Primogénito de entre os mortos”, “Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo”,
vértice e plenitude de todo o Universo.
Leitura da
Epístola de São Paulo aos Colossenses
“Irmãos: Damos
graças a Deus Pai, que nos fez dignos de tomar parte na herança dos santos, na
luz divina. Ele nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o reino
do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados.
Cristo é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; Porque
n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis,
Tronos e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi
criado. Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça
da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os
mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse
toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas,
estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e
nos céus.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 23, 35-43
“Lembra-Te de mim, Senhor, quando vieres com a tua realeza”
A
fé na realeza de Jesus é a que nós confessamos quando chamamos a Jesus Cristo,
nosso “Senhor”. Esta “Senhoria” ou realeza de Jesus, reconheceu-a o bom ladrão
no meio dos sofrimentos da Cruz, revelou-se claramente na glória da
Ressurreição, e esperamo-la nós quando ela se manifestar a todos os homens na
última vinda do Senhor, que este Domingo simbolicamente antecipa para alimento
da nossa fé e da nossa esperança.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros:
salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados
troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o
Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é
o Rei dos judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós
também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu
que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o
castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável». E
acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus
respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».”
Palavra da Salvação
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