DOMINGO XXXII DO TEMPO COMUM
Um sermão revolucionário
O evangelho das bem-aventuranças domina a liturgia da Palavra deste
domingo. É a primeira parte do sermão da montanha.
Jesus, subindo ao monte aparece-nos como o Novo Moisés, promulgador da
nova Lei (“mas eu digo-vos...!”) no novo Sinai. Proclamando bem-aventurados os
pobres e os humildes, Jesus fala a linguagem que Deus já havia usado com o seu
povo através dos profetas. Os primeiros a serem chamados são sempre os
pequenos, os pobres, os que o mundo despreza, mas que são grandes no
reino dos céus.
Este sermão é verdadeiramente uma inversão dos valores tradicionais.
Os hebreus cultivavam a convicção de que a prosperidade material, o sucesso
eram sinais da bênção de Deus, e a pobreza e a esterilidade, sinais de
maldição. Jesus denuncia a ambiguidade de uma representação terrena da
bem-aventurança. Agora, os bem-aventurados já não são os ricos deste mundo, os
saciados, os favorecidos, mas os que têm fome e choram, os pobres e
perseguidos. É a nova lógica, a que Maria, a bem-aventurada por excelência,
canta: “Derrubou os poderosos dos seus tronos, elevou os humildes: cumulou de
bens os famintos, despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,52-53).
As nove bem-aventuranças de Mateus resumem-se na primeira: “Bem-aventurados
os pobres em espírito” – que o não são por fatalidade, mas por opção de vida.
As outras são corolário e explicitação desta. Reconhecer-se pobre, fraco, não
é, porém, antes de tudo, condição social, mas uma disposição interior que toca
todo o modo de agir, em qualquer situação em que se esteja. A pobreza, por si
só, não é um bem nem uma situação de ascese. Mas ser rico significa ter poder,
receber honras e ter uma posição superior à dos outros (aqui é que começa o
perigo, porque onde há poder, riqueza e superioridade, há, também, e com muita
frequência, oprimidos, esmagados, desprezados). E é a estes que cabe o
reino dos céus. Jesus põe-se ao lado destes. São os eleitos. Jesus apresenta-se
como o mensageiro enviado por Deus para anunciar aos pobres a Boa-nova; a sua
solicitude pelos pobres, pelos infelizes, pelos doentes era o sinal da sua
missão. Jesus leva aos deserdados não só a segurança de que um dia gozarão o
reino de Deus, mas anuncia-lhes que este reino já chegou.
A missão de Jesus estende-se, além dos pobres, a todas as misérias físicas
e espirituais; todos atraem a sua compaixão. Inaugurando a era da salvação,
Deus concede uma prioridade a todos os que dela têm necessidade mais urgente.
Num mundo como o nosso, terá ainda sentido o sermão da montanha? Que
sentido tem pronunciar este texto numa sociedade de consumo, que mede a
felicidade e a bem-aventurança segundo as posses, o sucesso e o poder? E no
Terceiro Mundo, subdesenvolvido e oprimido, que sentido tem repetir: “Bem-aventurados
os pobres... bem-aventurados os perseguidos? Não soará como um ultraje à sua
miséria, ou como uma tentativa de acalmar ou abafar “a ira dos pobres”?
No entanto, não podemos anular esta bem-aventurança sem anular o Cristo.
De facto, o primeiro pobre é ele, que, sendo rico se fez pobre por nós. Há,
pois, nesta bem-aventurança um apelo a seguir Jesus, que não encontrou lugar na
hospedaria, que não tinha uma pedra onde recostar a cabeça, que morreu pobre e
despojado numa cruz. E o fez para se dar inteiramente aos outros.
A multidão que ouve e segue Jesus não se compõe de escribas, fariseus,
levitas, sacerdotes do templo, poderosos guardiões da ordem. É, pelo contrário,
uma multidão anónima do povo miúdo, pescadores e pastores, gente explorada e
oprimida pelos poderosos...
Um
dos momentos fortes da “conversão” a que o Concílio chamou a Igreja é a
pobreza. Acaso não será devido a certa riqueza de meios, certo apego ao
dinheiro e ao poder, na Igreja, que em muitos cristãos nasce uma sensação de
mal-estar? Nas nossas assembleias eucarísticas estão presentes hoje muitas
pessoas que dispõem de recursos e de cultura. Eles nunca estarão dispensados de
procurar os caminhos da pobreza e de servir seus irmãos indigentes, porque é
nos pobres que se encontra, ainda e sempre, aquele que veio para salvar. A missão é servir.
LEITURA I – 2 Mac 7,
1-2.9-14
«O Rei do
universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna»
A
fé na ressurreição é o tema central da terceira e da primeira leitura. Se a
consciência da ressurreição levou tempo a nascer no povo do Antigo Testamento,
ela é claramente professada, e não só por palavras, mas no testemunho do
martírio, pelos sete jovens irmãos e sua mãe, martirizados cerca do ano 68
antes de Cristo pelo rei pagão.
Leitura do
Segundo Livro dos Macabeus
“Naqueles
dias, foram presos sete irmãos, juntamente com a mãe, e o rei da Síria quis
obrigá-los, à força de golpes de azorrague e de nervos de boi, a comer carne de
porco proibida pela Lei judaica. Um deles tomou a palavra em nome de todos e
falou assim ao rei: «Que pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos
para morrer, antes que violar a lei de nossos pais». Prestes a soltar o último
suspiro, o segundo irmão disse: «Tu, malvado, pretendes arrancar-nos a vida
presente, mas o Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna, se
morrermos fiéis às suas leis». Depois deste começaram a torturar o terceiro.
Intimado a pôr fora a língua, apresentou-a sem demora e estendeu as mãos
resolutamente, dizendo com nobre coragem: «Do Céu recebi estes membros e é por
causa das suas leis que os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo». O
próprio rei e quantos o acompanhavam estavam admirados com a força de ânimo do
jovem, que não fazia nenhum caso das torturas. Depois de executado este último,
sujeitaram o quarto ao mesmo suplício. Quando estava para morrer, falou assim:
«Vale a pena morrermos às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de
que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – 2 Tes 2, 16 –
3, 5
“O
Senhor vos torne firmes em toda a espécie de boas obras e palavras”
S.
Paulo fez também a experiência do que é sentir-se acabrunhado pelos seus
inimigos; mas foi então que ele mais soube apelar para a confiança em Cristo,
tanto para si como para os outros.
Leitura da
Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
“Irmãos: Jesus
Cristo, nosso Senhor, e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu, pela sua
graça, eterna consolação e feliz esperança, confortem os vossos corações e os
tornem firmes em toda a espécie de boas obras e palavras. Entretanto, irmãos,
orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague rapidamente e seja
glorificada, como acontece no meio de vós. Orai também, para que sejamos livres
dos homens perversos e maus, pois nem todos têm fé. Mas o Senhor é fiel: Ele
vos dará firmeza e vos guardará do Maligno. Quanto a vós, confiamos
inteiramente no Senhor que cumpris e cumprireis o que vos mandamos. O Senhor
dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com
perseverança.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 20, 27-38
“Não é um Deus de mortos, mas de vivos”
Jesus
afirma claramente o mistério da ressurreição dos mortos, contra certa maneira
de pensar em contrário de alguns daqueles com quem falava. A “ressurreição da
carne” é, por isso, um dos pontos do Símbolo da fé cristã, o “Credo”.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus – que negam a ressurreição – e
fizeram-lhe a seguinte pergunta: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se morrer
a alguém um irmão, que deixe mulher, mas sem filhos, esse homem deve casar com
a viúva, para dar descendência a seu irmão’. Ora havia sete irmãos. O primeiro
casou-se e morreu sem filhos. O segundo e depois o terceiro desposaram a viúva;
e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram e não deixaram filhos. Por fim, morreu
também a mulher. De qual destes será ela esposa na ressurreição, uma vez que os
sete a tiveram por mulher?». Disse-lhes Jesus: Os filhos deste mundo casam-se e
dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura
e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade,
já não podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da
ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu
a entender no episódio da sarça ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de
Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de
vivos, porque para Ele todos estão vivos».”
Palavra da Salvação
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