sábado, 5 de novembro de 2016

“Não é um Deus de mortos, mas de vivos”




DOMINGO XXXII DO TEMPO COMUM

Um sermão revolucionário

O evangelho das bem-aventuranças domina a liturgia da Palavra deste domingo. É a primeira parte do sermão da montanha.
Jesus, subindo ao monte aparece-nos como o Novo Moisés, promulgador da nova Lei (“mas eu digo-vos...!”) no novo Sinai. Proclamando bem-aventurados os pobres e os humildes, Jesus fala a linguagem que Deus já havia usado com o seu povo através dos profetas. Os primeiros a serem chamados são sempre os pequenos, os pobres, os que o mundo despreza, mas que são grandes no reino dos céus.
Este sermão é verdadeiramente uma inversão dos valores tradicionais. Os hebreus cultivavam a convicção de que a prosperidade material, o sucesso eram sinais da bênção de Deus, e a pobreza e a esterilidade, sinais de maldição. Jesus denuncia a ambiguidade de uma representação terrena da bem-aventurança. Agora, os bem-aventurados já não são os ricos deste mundo, os saciados, os favorecidos, mas os que têm fome e choram, os pobres e perseguidos. É a nova lógica, a que Maria, a bem-aventurada por excelência, canta: “Derrubou os poderosos dos seus tronos, elevou os humildes: cumulou de bens os famintos, despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,52-53).
As nove bem-aventuranças de Mateus resumem-se na primeira: “Bem-aventurados os pobres em espírito” – que o não são por fatalidade, mas por opção de vida. As outras são corolário e explicitação desta. Reconhecer-se pobre, fraco, não é, porém, antes de tudo, condição social, mas uma disposição interior que toca todo o modo de agir, em qualquer situação em que se esteja. A pobreza, por si só, não é um bem nem uma situação de ascese. Mas ser rico significa ter poder, receber honras e ter uma posição superior à dos outros (aqui é que começa o perigo, porque onde há poder, riqueza e superioridade, há, também, e com muita frequência, oprimidos, esmagados, desprezados). E é a estes que cabe o reino dos céus. Jesus põe-se ao lado destes. São os eleitos. Jesus apresenta-se como o mensageiro enviado por Deus para anunciar aos pobres a Boa-nova; a sua solicitude pelos pobres, pelos infelizes, pelos doentes era o sinal da sua missão. Jesus leva aos deserdados não só a segurança de que um dia gozarão o reino de Deus, mas anuncia-lhes que este reino já chegou.
A missão de Jesus estende-se, além dos pobres, a todas as misérias físicas e espirituais; todos atraem a sua compaixão. Inaugurando a era da salvação, Deus concede uma prioridade a todos os que dela têm necessidade mais urgente.
Num mundo como o nosso, terá ainda sentido o sermão da montanha? Que sentido tem pronunciar este texto numa sociedade de consumo, que mede a felicidade e a bem-aventurança segundo as posses, o sucesso e o poder? E no Terceiro Mundo, subdesenvolvido e oprimido, que sentido tem repetir: “Bem-aventurados os pobres... bem-aventurados os perseguidos? Não soará como um ultraje à sua miséria, ou como uma tentativa de acalmar ou abafar “a ira dos pobres”?
No entanto, não podemos anular esta bem-aventurança sem anular o Cristo. De facto, o primeiro pobre é ele, que, sendo rico se fez pobre por nós. Há, pois, nesta bem-aventurança um apelo a seguir Jesus, que não encontrou lugar na hospedaria, que não tinha uma pedra onde recostar a cabeça, que morreu pobre e despojado numa cruz. E o fez para se dar inteiramente aos outros.
A multidão que ouve e segue Jesus não se compõe de escribas, fariseus, levitas, sacerdotes do templo, poderosos guardiões da ordem. É, pelo contrário, uma multidão anónima do povo miúdo, pescadores e pastores, gente explorada e oprimida pelos poderosos...
Um dos momentos fortes da “conversão” a que o Concílio chamou a Igreja é a pobreza. Acaso não será devido a certa riqueza de meios, certo apego ao dinheiro e ao poder, na Igreja, que em muitos cristãos nasce uma sensação de mal-estar? Nas nossas assembleias eucarísticas estão presentes hoje muitas pessoas que dispõem de recursos e de cultura. Eles nunca estarão dispensados de procurar os caminhos da pobreza e de servir seus irmãos indigentes, porque é nos pobres que se encontra, ainda e sempre, aquele que veio para salvar. A missão é servir.

LEITURA I – 2 Mac 7, 1-2.9-14

«O Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna»

A fé na ressurreição é o tema central da terceira e da primeira leitura. Se a consciência da ressurreição levou tempo a nascer no povo do Antigo Testamento, ela é claramente professada, e não só por palavras, mas no testemunho do martírio, pelos sete jovens irmãos e sua mãe, martirizados cerca do ano 68 antes de Cristo pelo rei pagão.

Leitura do Segundo Livro dos Macabeus
“Naqueles dias, foram presos sete irmãos, juntamente com a mãe, e o rei da Síria quis obrigá-los, à força de golpes de azorrague e de nervos de boi, a comer carne de porco proibida pela Lei judaica. Um deles tomou a palavra em nome de todos e falou assim ao rei: «Que pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos para morrer, antes que violar a lei de nossos pais». Prestes a soltar o último suspiro, o segundo irmão disse: «Tu, malvado, pretendes arrancar-nos a vida presente, mas o Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna, se morrermos fiéis às suas leis». Depois deste começaram a torturar o terceiro. Intimado a pôr fora a língua, apresentou-a sem demora e estendeu as mãos resolutamente, dizendo com nobre coragem: «Do Céu recebi estes membros e é por causa das suas leis que os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo». O próprio rei e quantos o acompanhavam estavam admirados com a força de ânimo do jovem, que não fazia nenhum caso das torturas. Depois de executado este último, sujeitaram o quarto ao mesmo suplício. Quando estava para morrer, falou assim: «Vale a pena morrermos às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 2 Tes 2, 16 – 3, 5

O Senhor vos torne firmes em toda a espécie de boas obras e palavras

S. Paulo fez também a experiência do que é sentir-se acabrunhado pelos seus inimigos; mas foi então que ele mais soube apelar para a confiança em Cristo, tanto para si como para os outros.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
“Irmãos: Jesus Cristo, nosso Senhor, e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu, pela sua graça, eterna consolação e feliz esperança, confortem os vossos corações e os tornem firmes em toda a espécie de boas obras e palavras. Entretanto, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague rapidamente e seja glorificada, como acontece no meio de vós. Orai também, para que sejamos livres dos homens perversos e maus, pois nem todos têm fé. Mas o Senhor é fiel: Ele vos dará firmeza e vos guardará do Maligno. Quanto a vós, confiamos inteiramente no Senhor que cumpris e cumprireis o que vos mandamos. O Senhor dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com perseverança.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 20, 27-38

Não é um Deus de mortos, mas de vivos

Jesus afirma claramente o mistério da ressurreição dos mortos, contra certa maneira de pensar em contrário de alguns daqueles com quem falava. A “ressurreição da carne” é, por isso, um dos pontos do Símbolo da fé cristã, o “Credo”.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus – que negam a ressurreição – e fizeram-lhe a seguinte pergunta: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se morrer a alguém um irmão, que deixe mulher, mas sem filhos, esse homem deve casar com a viúva, para dar descendência a seu irmão’. Ora havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. O segundo e depois o terceiro desposaram a viúva; e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram e não deixaram filhos. Por fim, morreu também a mulher. De qual destes será ela esposa na ressurreição, uma vez que os sete a tiveram por mulher?». Disse-lhes Jesus: Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já não podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos».”
Palavra da Salvação



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