DOMINGO
XXVIII DO TEMPO COMUM – ano B – 14OUT2018
RIQUEZA E
DISPONIBILIDADE
A concepção de riqueza e pobreza diverge tanto entre o
Antigo e o Novo Testamento que, em alguns casos, chegam a parecer opostas. Até
nos textos mais recentes, o Antigo Testamento se compraz em relevar a riqueza
das personagens da história de Israel: a de Job e a dos reis David, Josafá,
Ezequias. Deus enriquece os que ama: Abraão, Isaac, Jacob. A riqueza é sinal da
generosidade divina, imagem da abundância messiânica. A prosperidade material é
sinal da bênção e aceitação divina.
Uma nova perspectiva
A atitude de Jesus e das primeiras comunidades cristãs
diante da riqueza é, de certa maneira, diversa, quase desumana. O “ai de vós,
os ricos” tem o tom de uma condenação sem apelo. A diversidade entre o juízo do
evangelho e do Antigo Testamento a respeito da riqueza é percebida em toda a sua
amplidão quando se põem as bem-aventuranças e as maldições do sermão da
montanha diante das bem-aventuranças e das maldições prometidas pelo Deuteronómio,
conforme seja ou não Israel fiel à aliança (Dt 28). Aí a distância entre o
Antigo e o Novo Testamento é mais evidente. E isto porque a mensagem do Reino
anuncia o dom total de Deus, que requer a disponibilidade e o desprendimento
mais completos. Para adquirir a pérola preciosa, o tesouro único, para seguir
Jesus é preciso vender tudo. De facto, não se pode servir a dois senhores, e o
dinheiro é um senhor exigente; sufoca, no avarento, a palavra do evangelho, faz
esquecer o essencial, a soberania de Deus, bloqueia no caminho da perfeição os
corações mais bem-dispostos (evangelho). E uma lei não admite excepções nem
atenuações: “Quem não renuncia a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc
14, 33). Só os pobres são capazes de acolher a Boa-nova (Is 61, 1; Lc 4, 18),
e, precisamente, fazendo-se pobre por nós é que o Senhor pôde enriquecer-nos
(2Cor 8,9) com suas “imperscrutáveis riquezas” (Ef 3, 8)
Disponibilidade e desapego
O Dinheiro (a riqueza) não é mau; torna-se mau quando o
homem coloca nele a sua riqueza última e faz dele o seu deus, dizendo-lhe o “ámen”
que é devido só a Deus; em si, é realidade boa que serve para todos.
Pode, certamente, ser símbolo de muitas “iniquidades” e
lembrar as terríveis injustiças à custa das quais foi adquirido; mas é
principalmente símbolo do trabalho humano que é por ele retribuído, e das
esperanças humanas que ele pode realizar. Unido ao progresso pessoal e colectivo
do homem é, de um certo ponto de vista, o símbolo actual e eficaz dos esforços
passados e das esperanças futuras. É o “ter” adquirido para poder “ser”. A este
título, participa verdadeiramente do devir liberdade humana. Aliás, o dinheiro
é também o meio para se fazer o bem. Com ele obtém-se o pão para dar aos
famintos, a água, para os sedentos; pode ser símbolo da caridade, quando esta
se traduz concretamente exercendo-se em favor dos homens.
Comprometer-se é partilhar
Na realidade, a pobreza proposta também ao rico não
significa “não ter nada”, mas comprometer-se com os pobres, especialmente com
os que não têm capacidade de se organizar, defender, libertar. Comprometer-se
cristãmente é partilhar as próprias riquezas como Francisco de Assis, é
esforçar-se numa extenuante acção sindical pela melhoria das condições de
trabalho ou pelo aumento de salário, é ser solidário numa greve justa, ainda
que à custa da diminuição do próprio ordenado.
“Os cristãos que participam activamente no actual
desenvolvimento económico-social e lutam pela justiça e pela caridade estejam
convencidos de que podem contribuir muito para o bem-estar da humanidade e a
paz do mundo. Nestas actividades, individual ou colectivamente, brilhem pelo
mundo. Nestas actividades, individual ou colectivamente, brilhem pelo exemplo.
Tendo adquirido a competência e a experiência absolutamente indispensáveis no
meio das actividades terrestres, observem a hierarquia dos valores, fiéis a
Cristo e ao evangelho, de tal modo que toda a sua vida individual e social,
seja impregnada do espírito das bem-aventuranças, destacando-se a pobreza”.
MISSA
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ANTÍFONA DE
ENTRADA – Salmo 129, 3-4
Se tiverdes em conta as nossas faltas,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão, Senhor Deus de Israel.
ORAÇÃO COLECTA
Nós Vos pedimos, Senhor, que a vossa graça preceda e
acompanhe sempre as nossas acções e nos torne cada vez mais atentos à prática
das boas obras.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco
na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
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LEITURA I – Sab 7,
7-11
«Considerei a
riqueza como nada, em comparação com a sabedoria»
A sabedoria é um
dos temas mais queridos de certas épocas e de certos povos, como o era na época
em que foi escrito o livro donde é tirada esta leitura. A sabedoria é, na
Sagrada Escritura, um dom de Deus, que leva o homem a saber apreciar e
interpretar a vida e os acontecimentos segundo o pensamento e os critérios de
Deus, que Ele mesmo nos revela. É esta sabedoria que nos há-de levar a
compreender as palavras de Jesus que vamos depois escutar no Evangelho.
Leitura
do Livro da Sabedoria
Orei
e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria.
Preferi-a aos ceptros e aos tronos e, em sua comparação, considerei a riqueza
como nada. Não a equiparei à pedra mais preciosa, pois todo o ouro, à vista
dela, não passa de um pouco de areia e, comparada com ela, a prata é considerada
como lodo. Amei-a mais do que a saúde e a beleza e decidi tê-la como luz,
porque o seu brilho jamais se extingue. Com ela me vieram todos os bens e,
pelas suas mãos, riquezas inumeráveis.
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL
– Salmo 89 (90), 12-13.14-15.16-17 (R. 14)
Refrão: O Saciai-nos,
Senhor, com a vossa bondade e exultaremos de alegria. (Repete-se).
Ou: Enchei-nos da vossa misericórdia: será ela a nossa alegria. Repete-se
Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando?
Tende piedade dos vossos servos. (Refrão)
Saciai-nos, desde a manhã, com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Compensai em alegria os dias de aflição,
os anos em que sentimos a desgraça. (Refrão)
Manifestai a vossa obra aos vossos servos
e aos seus filhos a vossa majestade.
Desça sobre nós a graça do Senhor.
Confirmai em nosso favor a obra das nossas mãos. (Refrão)
LEITURA II – Hebr 4, 12-13
«A
palavra de Deus é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração»
Esta leitura faz
a apresentação de certos aspectos da Palavra de Deus. Ela é palavra eficaz:
realiza sempre aquilo que diz. Ela não é apenas um som que se ouve: ela penetra
até ao mais fundo do coração, e só ela é capaz de pôr o homem, no seu íntimo,
diante da verdade total. Ela tudo ilumina e não deixa que haja esconderijos nem
disfarces; ela é como o olhar de Deus: tudo penetra e tudo ilumina.
Leitura
da Epístola aos Hebreus
A
palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes:
ela penetra até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e
medulas, e é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração. Não há
criatura que possa fugir à sua presença: tudo está patente e descoberto a seus
olhos. É a ela que devemos prestar contas.
Palavra do Senhor
ALELUIA – Mt 5, 3
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus. (Refrão)
EVANGELHO – Mc 10,
17-30
«Vende o que tens
e segue-Me»
A
vida segundo o Evangelho não é um negócio, não se lhe deitam cálculos como quem
olha para a sua conta no banco. É antes a resposta de fé à Palavra de Deus. E
um dos obstáculos que mais frequentemente impede de compreender e responder
prontamente à Palavra de Deus são os bens da terra. Só a sabedoria de Deus nos
poderá trazer a luz necessária para aceitarmos, com fé e esperança, a palavra
do Senhor, que é a palavra da salvação.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos
Naquele
tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo,
ajoelhou diante d’Ele e perguntou- Lhe: «Bom Mestre, que hei-de fazer para
alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom
senão Deus. Tu sabes os mandamentos: Não mates; não cometas adultério; não
roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’».
O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude».
Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender
o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e
segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se
pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos
discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de
Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus
afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É
mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no
reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem
pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é
impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível». Pedro começou a
dizer-Lhe: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em
verdade vos digo: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai,
filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes
mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras,
juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS
OBLATAS
Aceitai, Senhor, as orações e as ofertas dos vossos fiéis e fazei que
esta celebração sagrada nos encaminhe para a glória do Céu.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA
COMUNHÃO – Salmo 33, 11
Os ricos empobrecem e passam fome;
mas nada falta aos que procuram o Senhor.
Ou – 1 Jo 3, 2
Quando o Senhor Se manifestar,
seremos semelhantes a Ele,
porque O veremos na sua glória.
ORAÇÃO DEPOIS DA
COMUNHÃO
Deus de infinita bondade, que nos alimentais com o Corpo e o
Sangue do vosso Filho, tornai-nos também participantes da sua natureza divina.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
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