sábado, 13 de outubro de 2018

VENDE O QUE TENS…





DOMINGO XXVIII DO TEMPO COMUM – ano B – 14OUT2018



RIQUEZA E DISPONIBILIDADE

A concepção de riqueza e pobreza diverge tanto entre o Antigo e o Novo Testamento que, em alguns casos, chegam a parecer opostas. Até nos textos mais recentes, o Antigo Testamento se compraz em relevar a riqueza das personagens da história de Israel: a de Job e a dos reis David, Josafá, Ezequias. Deus enriquece os que ama: Abraão, Isaac, Jacob. A riqueza é sinal da generosidade divina, imagem da abundância messiânica. A prosperidade material é sinal da bênção e aceitação divina.

Uma nova perspectiva
A atitude de Jesus e das primeiras comunidades cristãs diante da riqueza é, de certa maneira, diversa, quase desumana. O “ai de vós, os ricos” tem o tom de uma condenação sem apelo. A diversidade entre o juízo do evangelho e do Antigo Testamento a respeito da riqueza é percebida em toda a sua amplidão quando se põem as bem-aventuranças e as maldições do sermão da montanha diante das bem-aventuranças e das maldições prometidas pelo Deuteronómio, conforme seja ou não Israel fiel à aliança (Dt 28). Aí a distância entre o Antigo e o Novo Testamento é mais evidente. E isto porque a mensagem do Reino anuncia o dom total de Deus, que requer a disponibilidade e o desprendimento mais completos. Para adquirir a pérola preciosa, o tesouro único, para seguir Jesus é preciso vender tudo. De facto, não se pode servir a dois senhores, e o dinheiro é um senhor exigente; sufoca, no avarento, a palavra do evangelho, faz esquecer o essencial, a soberania de Deus, bloqueia no caminho da perfeição os corações mais bem-dispostos (evangelho). E uma lei não admite excepções nem atenuações: “Quem não renuncia a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 33). Só os pobres são capazes de acolher a Boa-nova (Is 61, 1; Lc 4, 18), e, precisamente, fazendo-se pobre por nós é que o Senhor pôde enriquecer-nos (2Cor 8,9) com suas “imperscrutáveis riquezas” (Ef 3, 8)

Disponibilidade e desapego
O Dinheiro (a riqueza) não é mau; torna-se mau quando o homem coloca nele a sua riqueza última e faz dele o seu deus, dizendo-lhe o “ámen” que é devido só a Deus; em si, é realidade boa que serve para todos.
Pode, certamente, ser símbolo de muitas “iniquidades” e lembrar as terríveis injustiças à custa das quais foi adquirido; mas é principalmente símbolo do trabalho humano que é por ele retribuído, e das esperanças humanas que ele pode realizar. Unido ao progresso pessoal e colectivo do homem é, de um certo ponto de vista, o símbolo actual e eficaz dos esforços passados e das esperanças futuras. É o “ter” adquirido para poder “ser”. A este título, participa verdadeiramente do devir liberdade humana. Aliás, o dinheiro é também o meio para se fazer o bem. Com ele obtém-se o pão para dar aos famintos, a água, para os sedentos; pode ser símbolo da caridade, quando esta se traduz concretamente exercendo-se em favor dos homens.

Comprometer-se é partilhar
Na realidade, a pobreza proposta também ao rico não significa “não ter nada”, mas comprometer-se com os pobres, especialmente com os que não têm capacidade de se organizar, defender, libertar. Comprometer-se cristãmente é partilhar as próprias riquezas como Francisco de Assis, é esforçar-se numa extenuante acção sindical pela melhoria das condições de trabalho ou pelo aumento de salário, é ser solidário numa greve justa, ainda que à custa da diminuição do próprio ordenado.
“Os cristãos que participam activamente no actual desenvolvimento económico-social e lutam pela justiça e pela caridade estejam convencidos de que podem contribuir muito para o bem-estar da humanidade e a paz do mundo. Nestas actividades, individual ou colectivamente, brilhem pelo mundo. Nestas actividades, individual ou colectivamente, brilhem pelo exemplo. Tendo adquirido a competência e a experiência absolutamente indispensáveis no meio das actividades terrestres, observem a hierarquia dos valores, fiéis a Cristo e ao evangelho, de tal modo que toda a sua vida individual e social, seja impregnada do espírito das bem-aventuranças, destacando-se a pobreza”.


MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 129, 3-4
Se tiverdes em conta as nossas faltas,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão, Senhor Deus de Israel.

ORAÇÃO COLECTA
Nós Vos pedimos, Senhor, que a vossa graça preceda e acompanhe sempre as nossas acções e nos torne cada vez mais atentos à prática das boas obras.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


Liturgia da Palavra


LEITURA I – Sab 7, 7-11
«Considerei a riqueza como nada, em comparação com a sabedoria»

A sabedoria é um dos temas mais queridos de certas épocas e de certos povos, como o era na época em que foi escrito o livro donde é tirada esta leitura. A sabedoria é, na Sagrada Escritura, um dom de Deus, que leva o homem a saber apreciar e interpretar a vida e os acontecimentos segundo o pensamento e os critérios de Deus, que Ele mesmo nos revela. É esta sabedoria que nos há-de levar a compreender as palavras de Jesus que vamos depois escutar no Evangelho.

Leitura do Livro da Sabedoria
Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria. Preferi-a aos ceptros e aos tronos e, em sua comparação, considerei a riqueza como nada. Não a equiparei à pedra mais preciosa, pois todo o ouro, à vista dela, não passa de um pouco de areia e, comparada com ela, a prata é considerada como lodo. Amei-a mais do que a saúde e a beleza e decidi tê-la como luz, porque o seu brilho jamais se extingue. Com ela me vieram todos os bens e, pelas suas mãos, riquezas inumeráveis.
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 89 (90), 12-13.14-15.16-17 (R. 14)
Refrão: O Saciai-nos, Senhor, com a vossa bondade e exultaremos de alegria. (Repete-se).

Ou: Enchei-nos da vossa misericórdia: será ela a nossa alegria. Repete-se

Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando?
Tende piedade dos vossos servos. (Refrão)

Saciai-nos, desde a manhã, com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Compensai em alegria os dias de aflição,
os anos em que sentimos a desgraça. (Refrão)

Manifestai a vossa obra aos vossos servos
e aos seus filhos a vossa majestade.
Desça sobre nós a graça do Senhor.
Confirmai em nosso favor a obra das nossas mãos. (Refrão)


LEITURA II – Hebr 4, 12-13

«A palavra de Deus é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração»

Esta leitura faz a apresentação de certos aspectos da Palavra de Deus. Ela é palavra eficaz: realiza sempre aquilo que diz. Ela não é apenas um som que se ouve: ela penetra até ao mais fundo do coração, e só ela é capaz de pôr o homem, no seu íntimo, diante da verdade total. Ela tudo ilumina e não deixa que haja esconderijos nem disfarces; ela é como o olhar de Deus: tudo penetra e tudo ilumina.

Leitura da Epístola aos Hebreus
A palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes: ela penetra até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e medulas, e é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração. Não há criatura que possa fugir à sua presença: tudo está patente e descoberto a seus olhos. É a ela que devemos prestar contas.
Palavra do Senhor


ALELUIA – Mt 5, 3

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus. (Refrão)


EVANGELHO – Mc 10, 17-30

«Vende o que tens e segue-Me»

A vida segundo o Evangelho não é um negócio, não se lhe deitam cálculos como quem olha para a sua conta no banco. É antes a resposta de fé à Palavra de Deus. E um dos obstáculos que mais frequentemente impede de compreender e responder prontamente à Palavra de Deus são os bens da terra. Só a sabedoria de Deus nos poderá trazer a luz necessária para aceitarmos, com fé e esperança, a palavra do Senhor, que é a palavra da salvação.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos
Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e perguntou- Lhe: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude». Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível». Pedro começou a dizer-Lhe: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Senhor, as orações e as ofertas dos vossos fiéis e fazei que esta celebração sagrada nos encaminhe para a glória do Céu.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 33, 11
Os ricos empobrecem e passam fome;
mas nada falta aos que procuram o Senhor.

Ou – 1 Jo 3, 2
Quando o Senhor Se manifestar,
seremos semelhantes a Ele,
porque O veremos na sua glória.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus de infinita bondade, que nos alimentais com o Corpo e o Sangue do vosso Filho, tornai-nos também participantes da sua natureza divina.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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