sábado, 17 de outubro de 2020

DAI A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

 

DOMINGO XXIX TEMPO COMUM – ano A – 18OUT2020

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 16, 6.8.9

Respondei-me, Senhor, quando Vos invoco,

ouvi a minha voz, escutai as minhas palavras.

Guardai-me dos meus inimigos, Senhor.

Protegei-me à sombra das vossas asas.

 

ORAÇÃO COLECTA

Deus eterno e omnipotente, dai-nos a graça de consagrarmos sempre ao vosso serviço a dedicação da nossa vontade e a sinceridade do nosso coração.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Liturgia da Palavra

 

LEITURA I – Is 45, 1.4-6

 

«Tomei Ciro pela mão direita para subjugar diante dele as nações»

 

O Evangelho de hoje vai afirmar a relação entre o poder temporal e o poder espiritual. Mas Deus é Senhor de todos os homens, e nada nem ninguém é autónomo em relação a Ele. Deus realiza os seus desígnios, que são sempre de salvação, através dos homens e das instituições humanas, por vezes até de maneira muito clara, como se mostra nesta leitura: o rei da Pérsia, Ciro, um pagão, é instrumento de Deus para a libertação do seu povo.

 

Leitura do Livro de Isaías

Assim fala o Senhor a Ciro, seu ungido, a quem tomou pela mão direita, para subjugar diante dele as nações e fazer cair as armas da cintura dos reis, para abrir as portas à sua frente, sem que nenhuma lhe seja fechada: «Por causa de Jacob, meu servo, e de Israel, meu eleito, Eu te chamei pelo teu nome e te dei um título glorioso, quando ainda não Me conhecias. Eu sou o Senhor e não há outro; fora de Mim não há Deus. Eu te cingi, quando ainda não Me conhecias, para que se saiba, do Oriente ao Ocidente, que fora de Mim não há outro. Eu sou o Senhor e mais ninguém».

Palavra do Senhor

 

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96), 1.3.4-5.7-8.9-10a.c (R. 7b)

 

Refrão: Aclamai a glória e o poder do Senhor. (Repete-se)

 

Cantai ao Senhor um cântico novo,

cantai ao Senhor, terra inteira.

Publicai entre as nações a sua glória,

em todos os povos as suas maravilhas. (Refrão)

 

O Senhor é grande e digno de louvor,

mais temível que todos os deuses.

Os deuses dos gentios não passam de ídolos,

foi o Senhor quem fez os céus. (Refrão)

 

Dai ao Senhor, ó família dos povos,

dai ao Senhor glória e poder.

Dai ao Senhor a glória do seu nome,

levai-Lhe oferendas e entrai nos seus átrios. (Refrão)

 

Adorai o Senhor com ornamentos sagrados,

trema diante d’Ele a terra inteira.

Dizei entre as nações: «O Senhor é Rei»,

governa os povos com equidade. (Refrão)

 

 

LEITURA II – 1 Tes 1, 1-5b

 

«Recordamos a vossa fé, caridade e esperança»

 

Começamos hoje a leitura da primeira epístola aos Tessalonicenses, a comunidade cristã existente na cidade de Tessalónica (ou Salónica), no norte da Grécia. Como de costume, S. Paulo começa com uma acção de graças, hoje, por verificar o progresso espiritual desses cristãos. Como podemos observar, os Apóstolos pregavam e escreviam como verdadeiros mestres e pastores, e não apenas como moralistas ou legisladores. E sempre será esta a verdadeira finalidade da pregação na Igreja: levar os seus filhos a crescerem nos caminhos do reino de Deus, o que é para ela fonte de alegria e de acção de graças.

 

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses

Paulo, Silvano e Timóteo à Igreja dos Tessalonicenses, que está em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: A graça e a paz estejam convosco. Damos continuamente graças a Deus por todos vós, ao fazermos menção de vós nas nossas orações. Recordamos a actividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo, na presença de Deus, nosso Pai. Nós sabemos, irmãos amados por Deus, como fostes escolhidos. O nosso Evangelho não vos foi pregado somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a acção do Espírito Santo.

Palavra do Senhor

 

ALELUIA – Filip 2, 15d.16a

 

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

 

Vós brilhais como estrelas no mundo,

ostentando a palavra da vida. (Refrão)

 

 

EVANGELHO – Mt 22, 15-21

 

«Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus»

 

Perante o poder temporal, aqui representado por César, o imperador de Roma – que ao tempo de Jesus imperava também na Terra Santa – a atitude de Jesus é de respeito pela sua autonomia, mas reivindica, ao mesmo tempo, as exigências primordiais do serviço de Deus, às quais nada se pode antepor. E, ao mesmo tempo, denuncia a falta de sinceridade dos que O interrogavam; sem ela, ninguém se poderá dirigir a Deus.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes acepção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-Lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».

Palavra da salvação.

 

MEDITAÇÃO

 

DAI A CÉSAR

 

Diversas, e às vezes divergentes, são as interpretações dadas à célebre frase-resposta de Jesus aos que queriam armar-lhe uma cilada: uma frase de efeito, como que evasiva, com a que Jesus responde sem se perturbar; uma resposta irónica, como se Jesus quisesse dizer: só quando se tem que pagar os impostos aparece o problema da consciência; uma definição precisa dos limites do campo e das relações recíprocas entre Estado e Igreja.

De qualquer modo, é claro que o que importa é o reino de Deus. É o único absoluto a ser procurado, Jesus veio pregar o reino; esta é a realidade fundamental e clara. Diante deste anúncio, tudo passa para segundo plano. Com isto, Jesus não quer negar a função de César, mas quer atingir seus adversários que não compreenderam sua missão e esquecem a questão decisiva.

 

Soberania espiritual ou senhorio temporal?

O trecho é usado hoje, com frequência, para reafirmar e dar um fundamento bíblico, revelado, à distinção e recíproca autonomia entre Igreja e Estado. Muito provavelmente, a resposta de Jesus não tinha esta intenção: tanto pelo contexto do relato, que não exigia um pronunciamento sobre este problema, como pelo contexto histórico do seu tempo, no qual não se distinguia ainda entre poder político e religioso. Mas a resposta de Jesus é igualmente esclarecedora, porque indica uma direcção. Os judeus do tempo de Jesus estavam habituados a conceber o reino, inaugurado pelo futuro Messias, na forma de uma teocracia, isto é, como domínio directo de Deus, através de seu povo, sobre toda a terra. A palavra de Jesus revela a existência de um reino de Deus na história, no qual é possível a todos, não só aos judeus, entrar desde já, sem esperar que se inaugure um hipotético reino político de Deus em toda a terra. De facto, o reino de Deus tanto é possível dentro de um reino pagão como no quadro de uma teocracia, pois não se identifica com nenhum dos dois. Revelam-se assim dois modos qualitativamente diferentes de domínio e de sabedoria de Deus no mundo: a soberania espiritual, que constitui o reino de Deus e que ele exerce directamente em Cristo, e o senhorio temporal, que ele exerce indirectamente, através do livre jogo das causas segundas.

 

A tarefa do cristão no mundo

A palavra de Jesus leva a nossa reflexão a um dos problemas mais importantes e cruciais dos cristãos de hoje. O homem moderno tem a profunda convicção de lhe caber uma tarefa histórica e desempenhar na terra, tarefa proporcional à sua possibilidade cada vez maior, e que implica um real domínio sobre o universo. O fim é este: a promoção da comunidade humana no meio d e uma “cidade” cada vez mais fraterna. Esta tomada de consciência é acompanhada às vezes de uma crítica amarga da religião, considerada a responsável pela secular alienação dos homens. Muitos assumem perante a religião uma atitude de desconsideração, como se ela não tivesse nenhuma contribuição positiva a oferecer.

A fé cristão, vivia integralmente, longe de sugerir demissão e evasão frente as tarefas terrestres do homem, ajusta os que crêem a assumir as suas responsabilidades na conquista dos objectivos que se impõem à consciência moderna. Os apelos do mundo actual encontram um eco cada vez mais profundo em vastas camadas do povo cristão e, felizmente, não são raros os cristãos coerentes que assumem os papéis da promoção, libertação e construção de uma cidade terrestre mais justa e humana. O Vaticano II dedicou uma parte importante dos seus trabalhos à análise das preocupações do homem do Século XX, problemas em aparência mais profanos que religiosos, de tal modo que as reticências ou ausências do cristão de ontem em relação ao seu compromisso com o mundo, deveriam ser superadas.

 

A construção da cidade terrestre

Entretanto, permanece uma pergunta: a construção da cidade terrestre é uma tarefa importante, mas não estará ela caduca? Construindo a cidade dos homens contribui-se ou não para a edificação do reino de Deus? Não serão dois reinos diferentes?

A esperança cristã não se realiza, certamente, em plenitude, senão no mundo futuro. Contudo, ela manifesta desde já a sua eficácia: é uma força imensa no mundo, é um fermento que o faz levedar, é um sal que dá sentido e sabor ao esforço humano de libertação, ao empenho temporal. Não é alienação, não é álibi. Não existem duas esperanças: uma terrena e outra celeste; a esperança é uma só: diz respeito à realidade futura, mas através do empenho cristão, antecipa-a na realidade terrestre.

 

 

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

 

Fazei, Senhor, que possamos servir ao vosso altar com plena liberdade de espírito, para que estes mistérios que celebramos nos purifiquem de todo o pecado.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 32, 18-19

 

O Senhor vela sobre os seus fiéis,

sobre aqueles que esperam na sua bondade,

para libertar da morte as suas almas,

para os alimentar no tempo da fome.

 

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

 

Concedei, Senhor, que a participação nos mistérios celestes nos faça progredir na santidade, nos obtenha as graças temporais e nos confirme nos bens eternos.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 


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