(I Domingo da Quaresma, 14 de
Fevereiro de 2016)
“Jesus supera as tentações”
A tentação no deserto
resume os conflitos que Jesus vai experimentar em toda a sua vida. Deverá
enfrentar o representante das forças do mal que escravizam os homens. E Deus sustentá-lo-á
nessa luta. Mateus pormenoriza, salientando três tentações. Nelas, Jesus é
tentado a falsificar a própria missão, realizando uma actividade que tenda só a
satisfazer as necessidades imediatas, procurar o prestígio e ambicionar o poder
e as riquezas. Jesus, porém, resiste a essas tentações. O seu projecto de
justiça é transformar as estruturas segundo a vontade de Deus (palavra que sai
da boca de Deus), não pondo Deus ao seu próprio serviço ou interesse (Não tente
o Senhor seu Deus), e não universalizando coisas que geram opressão e
exploração sobre os homens, criando ídolos (Você adorará ao Senhor seu
Deus...). Lucas inverte a ordem das duas últimas tentações, porque em Jerusalém
(Templo) é onde acontecerá a suprema tentação e a vitória final sobre ela. Na
tradição do Êxodo, no Primeiro Testamento, o deserto é o lugar de purificação e
definição, num processo de mudança de vida. As condições ambientais de
despojamento, próprias do deserto, são propícias à reformulação de valores
pessoais ou comunitários, previamente assumidos. Assim, o povo hebreu, conforme
a tradição, ao sair do Egipto, permaneceu quarenta anos no deserto, que
serviram como preparação para as novas condições de vida na "terra
prometida", que conquistaram. Os três evangelistas sinópticos narram que
Jesus, após receber o baptismo de João, passou também "quarenta dias"
no deserto, como um tempo de provação. O agente da provação é o diabo, que
propõe a Jesus, sucessivamente, que transforme pedras em pães, que se prostre
diante dele e que se lance do alto do Templo. Estas tentações delineiam o
perfil do messias glorioso: promessa demagógica de pão para todos, assumir o
poder sobre todos os reinos do mundo e ostentar-se como o protegido pelo poder
divino. Assim, o evangelista associa tal messias ao projecto do diabo. E a
"tentação" de Jesus exprime um momento de decisão pelo início de seu
ministério, optando pelas suas linhas mestras: Jesus vem para instaurar o Reino
da partilha, da humildade e do serviço, com a comunicação do amor de Deus a
todos os povos, sem exclusões. A Quaresma é o tempo propício a um maior
amadurecimento da fé em Jesus, que toca os corações pela sua palavra. É a
palavra humilde e amorosa que tem a força transformadora, revelando o
"Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam", e renovando
a vida no mundo.
LEITURA I – Deut 26, 4-10
“A
profissão de fé do povo eleito”
Através
da oferta dos primeiros frutos da terra, o Povo eleito reconhece que tudo vem
de Deus: a terra que cultiva, assim como a energia para a cultivar. Com este
gesto, o homem vencia a tentação de se encerrar no mundo material, afirmando o
primado do espiritual: «nem só de pão vive o homem».
Mas
este gesto tem uma dimensão religiosa mais profunda. Na verdade, a oferta das
primícias a Deus, por intermédio do sacerdote, era acompanhada duma autêntica
profissão de fé, em que se recapitulavam os acontecimentos mais importantes da
História da Salvação.
Leitura do
Livro do Deuteronómio
“Moisés falou
ao povo, dizendo: «O sacerdote receberá da tua mão as primícias dos frutos da
terra e colocá-las-á diante do altar do Senhor teu Deus. E diante do Senhor teu
Deus, dirás as seguintes palavras: ‘Meu pai era um arameu errante, que desceu
ao Egipto com poucas pessoas, e aí viveu como estrangeiro até se tornar uma
nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios maltrataram-nos, oprimiram-nos
e sujeitaram-nos a dura escravidão. Então invocámos o Senhor Deus dos nossos
pais e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a
opressão que nos dominava. O Senhor fez-nos sair do Egipto com mão poderosa e
braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios.
Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e
mel. E agora venho trazer-Vos as primícias dos frutos da terra que me destes,
Senhor’. Então colocarás diante do Senhor teu Deus as primícias dos frutos da
terra e te prostrarás diante do Senhor teu Deus».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Rom 10, 8-13
“Profissão
de fé dos que crêem em Cristo”
A
fé do Povo Eleito baseava-se em factos concretos, pelos quais Deus manifestava
o Seu amor e a Sua fidelidade.
A
fé cristã consiste na adesão a uma pessoa, Jesus Cristo, Ressuscitado, e, por
isso, Senhor. Com efeito, todas as maravilhosas intervenções salvíficas de Deus
têm o seu ponto culminante no Mistério Pascal de Cristo.
Deste
modo, «a fé é crer em Alguém e não em alguma coisa, o que significa abrir um
crédito, que me põe à disposição do Único, em quem creio» (Gabriel Marcel).
Só
esta fé em Cristo Ressuscitado, proclamada com alegria e vivida até às últimas
consequências, nos dá a salvação.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
“Irmãos: Que
diz a Escritura? «A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração».
Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua boca que
Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos
mortos, serás salvo. Pois com o coração se acredita para obter a justiça e com
a boca se professa a fé para alcançar a salvação. Na verdade, a Escritura diz:
«Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido». Não há diferença
entre judeu e grego: todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que O
invocam. Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 4, 1-13
“Esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado”
A
tentação no Deserto não foi um acontecimento isolado. Foi o começo duma luta
contra o «príncipe deste mundo», que se prolongará por toda a vida, atingindo o
auge com a Morte em Jerusalém.
Como
a de Jesus, a vida do cristão conhece também a prova da tentação. O Baptismo,
que nos faz filhos de Deus, não nos introduz num estado de segurança. É antes o
começo de dura caminhada, no decorrer da qual a nossa fidelidade a Deus é,
muitas vezes, posta à prova.
Em
todas as circunstâncias, porém, o cristão poderá ser invencível. Cristo
Ressuscitado, que venceu, definitivamente, o mal, ficou na Eucaristia, para nos
comunicar esse poder.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão.
Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi
tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu
fome. O Diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se
transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o
homem’». O Diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os
reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes
reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares
diante de mim, tudo será teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Ao Senhor
teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo levou-O a
Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de
Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus
Anjos a teu respeito, para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te
levarão, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está
mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». Então o Diabo, tendo terminado toda
a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.”
Palavra da Salvação
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