(Domingo, 7 de Fevereiro de
2016)
“Vida missionária”
Para anunciar Deus é
preciso tê-Lo “conhecido”. Para conhecer Deus é necessário que Ele “se revele”.
Não podemos atingir Deus com os nossos silogismos e encerrá-Lo nos nossos
raciocínios. A revelação de Deus é um acto soberanamente livre, é iniciativa
sua – totalmente gratuita. O homem não tem poder sobre Deus. Ora, o profeta não
anuncia uma doutrina abstracta, meramente humana, mas o Deus vivo; ele só é
profeta se Deus se lhe revela, se o chama, se o envia. Revelação, vocação e
missão estão estreitamente unidas.
A cena é simbólica.
Jesus chama os seus primeiros discípulos, mostrando-lhes qual a missão que lhes
era reservada: fazer que os homens participem da libertação trazida por Jesus e
que só pode realizar-se no seguimento dele, mediante a união com ele e a sua
missão. O convite ao seguimento é exigente: é preciso “deixar tudo”, para que
nada impeça o discípulo de anunciar a Boa Notícia do Reino. A cena da pesca
milagrosa ilustra a vida missionária dos discípulos do Reino. Tudo começou com
um encontro fortuito com Jesus. Comprimido pelas multidões ansiosas para ouvir
a Palavra de Deus, o Mestre pediu a Simão um favor: levá-lo na sua barca um
pouco para largo do lago de Genesaré, não muito longe da margem, para que
pudesse falar às multidões. O seu pedido foi prontamente atendido. Quando
concluiu a pregação, deu a Simão uma ordem inesperada: conduzir o barco para
águas mais profundas e lançar a rede. Simão tinha trabalhado, em vão, toda a
noite; mas, por obediência à ordem do Mestre, lançou novamente a rede. E disto
resultou uma pescaria espectacular. Entretanto, o facto mais notável foi Simão
ter tido a oportunidade de reconhecer Jesus como Messias. O espanto que se
apoderou dele e dos seus companheiros foi semelhante ao que, no Antigo
Testamento, acontecia nas teofanias, quando pessoas achavam que iriam morrer,
caso vissem a Deus. Simão reconheceu em Jesus a manifestação da divindade. E
Jesus exortou-o a não ter medo, pois a sua vida havia sido transformada.
Doravante, teria outra preocupação, não mais com peixes, mas com pessoas
humanas. Simão aceitou a tarefa de ser pescador de homens e pôs a seguir Jesus.
Começava para ele uma nova vida. O centro desta narrativa é o anúncio de Jesus
e a escolha dos seus colaboradores. A multidão comprime-se para ouvir a sua
palavra, Jesus sobe ao barco de Simão (Pedro) e daí ensina estas multidões. A
pesca imprevista e abundante (acentuada desmedidamente) sob a orientação de
Jesus é uma confirmação da força da sua palavra e da confiança que se deve ter
nesta palavra. Jesus chama os discípulos como cooperadores na sua missão. Os
discípulos, com desprendimento, dispõem-se a seguir Jesus. O sucesso da missão
implica o abandono e a docilidade à palavra de Jesus.
LEITURA I – Is 6, 1-2a.3-8
“Eis-me
aqui: podeis enviar-me”
Esta
leitura apresenta a vocação de Isaías e a sua missão, para introduzir a missão
dos Apóstolos, de que falará o Evangelho. A vocação e a missão vêm de Deus, são
dom seu. Em presença de tais dons, ao homem compete simplesmente responder e
deixar-se enviar, porque a obra a que é enviado é toda de Deus. Foi por isso
que o profeta começou por sentir-se envolvido em sinais da presença e da
santidade de Deus. E ao reconhecer que Deus o chamava, respondeu a esse
chamamento e deixou-se enviar para a missão a que Deus o destinava.
Leitura do
Livro de Isaías
“No ano em que
morreu Ozias, rei de Judá, vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime; a
fímbria do seu manto enchia o templo. À sua volta estavam serafins de pé, que
tinham seis asas cada um e clamavam alternadamente, dizendo: «Santo, santo,
santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!». Com estes
brados as portas oscilavam nos seus gonzos e o templo enchia-se de fumo. Então
exclamei: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros,
moro no meio de um povo de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor
do Universo». Um dos serafins voou ao meu encontro, tendo na mão um carvão
ardente que tirara do altar com uma tenaz. Tocou-me com ele na boca e disse-me:
«Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua
culpa». Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: «Quem enviarei? Quem irá por
nós?». Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – 1 Cor 15, 1-11
“É
assim que pregamos e foi assim que acreditastes”
Os
cristãos de Corinto, cidade grega de ambiente pagão, deviam sentir a atitude
negativa dos grupos no meio dos quais viviam, em relação à ressurreição dos
mortos, que até os próprios Judeus só lentamente foram admitindo. Para os cristãos,
a morte e a ressurreição de Cristo constitui a base e o fundamento da sua fé.
Ao afirmar o mistério pascal de Cristo, S. Paulo apresenta o núcleo central da
profissão de fé da Igreja, o “Credo”.
Leitura da
primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Recordo-vos,
irmãos, o Evangelho que vos anunciei e que recebestes, no qual permaneceis e
pelo qual sereis salvos, se o conservais como eu vo-lo anunciei; aliás teríeis
abraçado a fé em vão. Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi:
Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois
aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos
quais a maior parte ainda vive, enquanto alguns já faleceram. Posteriormente
apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me
também a mim, como o abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos e não sou
digno de ser chamado Apóstolo, por ter perseguido a Igreja de Deus. Mas pela graça
de Deus sou aquilo que sou e a graça que Ele me deu não foi inútil. Pelo
contrário, tenho trabalhado mais que todos eles, não eu, mas a graça de Deus,
que está comigo. Por conseguinte, tanto eu como eles, é assim que pregamos; e
foi assim que vós acreditastes.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 5, 1-11
“Deixaram tudo e seguiram Jesus”
A
disponibilidade verificada no profeta Isaías, vemo-la agora nos Apóstolos. É o
Senhor que os envia, mas eles, por seu lado, deixam-se enviar. A obra de Deus
está também nas mãos dos homens, porque Deus os quer associar a Si na obra de
salvação. É, no fundo, a lei que nasce do mistério da Encarnação: Deus no homem
e o homem em Deus. E a única atitude possível para o homem a quem Deus chama e
envia é responder como Isaías: “Eis-me aqui”, e como Pedro: “Já que o dizes,
lançarei as redes”.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de
Deus. Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré e viu dois barcos
estacionados no lago. Os pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar
as redes. Jesus subiu para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se
afastasse um pouco da terra. Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a
multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as
redes para a pesca». Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a
noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim
fizeram e apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a
romper-se. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para os
virem ajudar; eles vieram e encheram ambos os barcos, de tal modo que quase se
afundavam. Ao ver o sucedido, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e
disse-Lhe: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Na verdade, o
temor tinha-se apoderado dele e de todos os seus companheiros, por causa da
pesca realizada. Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que
eram companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não temas. Daqui em diante
serás pescador de homens». Tendo conduzido os barcos para terra, eles deixaram
tudo e seguiram Jesus.”
Palavra da Salvação
Sem comentários:
Enviar um comentário