sábado, 20 de fevereiro de 2016

DOMINGO, 21 DE FEVEREIRO DE 2016




(II Domingo da Quaresma, 21 de Fevereiro de 2016)

“A Glória do Filho de Deus”

Lucas apresenta Jesus rezando continuamente (5,16; 6,12; 9,18). Com isso o evangelista mostra que Jesus, através de sua palavra e acção, está a realizar a vontade do Pai. Na transfiguração aparece claramente esse sentido da oração. É a vontade do Pai que Jesus realize o êxodo, isto é, que ele realize, mediante a sua morte, ressurreição e ascensão, o acto supremo de libertação do povo, acabando com a opressão exercida pelo sistema implantado em Jerusalém. A transfiguração forma um fascinante contraste com a mensagem de sofrimento e humilhação. Como sempre acontece na tradição evangélica, é preciso manter unidos os dois extremos a fim de aceitar Jesus como ele é, Filho do Homem e Filho de Deus. Diversos detalhes lembram a experiência de Deus no Sinai: Moisés, o topo da montanha, a nuvem (Ex 24,9-19). Jesus é visto como Filho de Deus na sua glória celestial. O “aspecto do seu rosto mudou”, como ele mudará no seu corpo glorificado pela ressurreição (Mc 16,12). Com ele aparecem duas importantes figuras do Antigo Testamento, Moisés – o Legislador –, e Elias – o Profeta. Eles são um sinal de que Jesus satisfará as expectativas do povo hebreu. De facto, falam com ele sobre o seu êxodo, a sua morte, a ressurreição e, na teologia de Lucas, em especial a sua ascensão, que ia “realizar-se” em Jerusalém. O comportamento dos três discípulos íntimos desaponta-nos. Eles adormecem, como fará mais tarde num momento decisivo. Confrontando com a glória divina, Pedro não chama Jesus pelo título de “Senhor”, que o identifica adequadamente como o Salvador, a fala sem coerência sobre erguer tendas terrenas para os seres celestiais. A revelação culmina com a voz proveniente das nuvens, como no baptismo de Jesus. Ele é o Filho de Deus, escolhido por Deus (Sl 2,7; Is 42,1). A admoestação “ouvi-o!” salienta a importância daquilo que Jesus tem dito sobre a sua missão e a natureza do discipulado. A cena da Transfiguração é narrada pelos três evangelistas. A narrativa é feita num estilo apocalíptico, também presente nas narrativas do baptismo e da crucifixão de Jesus. Este estilo caracteriza-se por fenómenos espantosos, abalos da natureza, nuvens e voz celestial, que indicam a presença e comunicação de Deus. Com isto, na Transfiguração fica confirmada a filiação divina de Jesus e seu carácter de enviado para anunciar e instruir a todos. Moisés, representante da Lei, e Elias, representante do profetismo, haviam subido à montanha ao encontro de Deus. Agora, estando Jesus no alto da montanha a orar, Moisés e Elias vão a ele. O ponto alto é a voz que proclama: "Este é o meu filho, o Eleito. Escutai-o". Do ponto de vista de uma interpretação messiânica escatológica, a Transfiguração seria o prenúncio da ressurreição, como coroação dos sofrimentos de Jesus na sua Paixão. Sob outro ponto de vista, a Transfiguração revela a condição divina de Jesus de Nazaré, filho de Maria, na simplicidade de seu convívio entre nós. Os discípulos devem ver em Jesus a nova condição humana glorificada pela encarnação do Filho de Deus. Não se trata de esperar um messias poderoso, mas, sim, de reencontrar a dignidade e a grandeza da condição humana, em tudo que ela tem de justo, bom e verdadeiro. Ao entrarmos em comunhão de amor com Jesus e com o próximo, Deus é glorificado e é-nos comunicada a sua vida divina e eterna.


LEITURA I – Gen 15, 5-12.17-18

Deus estabelece a aliança com Abraão

Toda a história da salvação, desde o princípio até ao fim dos tempos, não é outra coisa senão o estabelecimento de uma aliança entre Deus e os homens, aliança que é oferta gratuita de Deus e que há-de ser aceitação humilde e agradecida da parte do homem. Mas há momentos mais significativos no estabelecimento desta aliança. Um deles, que é o seu ponto de partida mais explícito, é o da Aliança com Abraão, o crente por excelência, que, pela fé, se entrega totalmente à palavra de Deus. Nesta leitura, a aliança é significada por meio de um antigo rito: os animais oferecidos e esquartejados são o gesto do homem e o fogo que passa pelo meio deles é sinal da presença de Deus. Assim, de aliança em aliança, nos encaminhamos para a celebração da nova e eterna aliança na Páscoa do Senhor.

Leitura do Livro do Génesis
“Naqueles dias, Deus levou Abrão para fora de casa e disse-lhe: «Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar». E acrescentou: «Assim será a tua descendência». Abraão acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído como justiça. Disse-lhe Deus: «Eu sou o Senhor que te mandou sair de Ur dos caldeus, para te dar a posse desta terra». Abraão perguntou: «Senhor, meu Deus, como saberei que a vou possuir?». O Senhor respondeu-lhe: «Toma uma vitela de três anos, uma cabra de três anos e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho». Abraão foi buscar todos esses animais, cortou-os ao meio e pôs cada metade em frente da outra metade; mas não cortou as aves. Os abutres desceram sobre os cadáveres, mas Abraão pô-los em fuga. Ao pôr-do-sol, apoderou-se de Abraão um sono profundo, enquanto o assaltava um grande e escuro terror. Quando o sol desapareceu e caíram as trevas, um brasido fumegante e um archote de fogo passaram entre os animais cortados. Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abraão uma aliança, dizendo: «Aos teus descendentes darei esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio Eufrates».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Filip 3, 17 – 4,1

Cristo nos transformará à imagem do seu corpo glorioso

Cristo glorioso é o termo de toda a história humana, o objecto da esperança de toda a nossa vida e a meta para onde se orienta o nosso itinerário quaresmal. Ao tempo da ascese difícil e dolorosa na subida, que acompanha a vida que vivemos neste corpo mortal, responde a vida gloriosa, que já se manifesta no Corpo do Senhor transfigurado. Mas o caminho e a porta da glória passa pela Cruz.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
“Irmãos: Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós. Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição: têm por deus o ventre, orgulham-se da sua vergonha e só apreciam as coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que Ele tem de sujeitar a Si todo o universo. Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 9, 28b-36

Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto

A Transfiguração aparece todos os anos no Segundo Domingo da Quaresma, como anúncio da Ressurreição, de modo que, ao longo deste tempo de preparação pascal, estejamos bem conscientes de que o termo, para onde caminhamos, é Jesus ressuscitado. A Transfiguração, lida neste Domingo depois do Domingo da Tentação, faz com ela uma espécie de preâmbulo, antes de chegarmos à parte central da Quaresma. Mortificação e glorificação, tentação e glória, morte e ressurreição, são de facto, a síntese do mistério pascal que vamos celebrar.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.”
Palavra da Salvação



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