sábado, 12 de março de 2016

DOMINGO, 13 DE MARÇO DE 2016




(V Domingo da Quaresma, 13 de Março de 2016)

“Condenada ao apedrejamento”

“Enviais vosso Espírito e tudo é criado e renovais a face da terra” (Sl 103,30); “Criai em mim, ó Deus, um coração puro, renovai em mim um espírito firme” (Si 50,12); é a oração de todos nós, que desejamos ser diferentes, tornarmo-nos melhores. O desejo de mudar de actividade, de casa, de vestes, oculta a vontade de mudarmos a nós mesmos juntamente com o objecto dos nossos desejos. No entanto, cristãos de nascimento, tão habituados a este nome, custamos a perceber a novidade radical em que nos introduz a fé em Jesus Cristo. A salvação trazida por Cristo apresenta-se com um carácter de “novidade” com a qual jamais nos deveríamos habituar.
A novidade de vida é um dom
Uma afirmação muito repetida, mas que não perde a eficácia: não basta observar a lei para ser justo diante de Deus. O fariseu observante não pode atirar a pedra contra a adúltera, como não pode fazê-lo o cristão praticante. E o quadro termina por inverter-se; onde há miséria, uma pessoa curvada sob o peso de suas culpas, aí é que se faz o dom de uma “vida nova”, de salvação (evangelho). Salvação gratuita para a adúltera e salvação inesperada para um povo humilhado na deportação forçada. “Eis que vou realizar uma coisa nova: já desponta... traçarei no deserto uma estrada, farei nascer rios na terra árida” (1ª leitura). Para o israelita deportado e desanimado era difícil esperar ainda, mas a palavra do profeta estimula a descobrir nos últimos acontecimentos a intervenção de Deus, que está para realizar uma coisa nova; o passado e a própria libertação do Egipto serão superados pela nova realidade. Esta acção criadora de Deus, que reaviva o que é deserto e faz jorrar águas abundantes do solo árido, torna-se realidade no encontro com o Cristo. Jesus é aquele que das trevas faz surgir o universo de luz, de uma pecadora adúltera faz uma mulher que crê, com uma massa de pecadores constrói o seu povo, a Igreja. A frase “não peques mais” (evangelho) é palavra de libertação e de novidade. Lembra a passagem do mundo do mal para um mundo novo pela força de Cristo. Cumulando a nossa esperança para além de toda a expectativa, Jesus formou a família de Deus, em que todos os homens entram como filhos. Ele é o primogénito do Reino, que veio para abrir-nos o caminho, indicar-nos o itinerário de novidade que leva à felicidade.
Vida nova é optar por morrer
Somos o povo que Deus formou para si, porque Deus irrigou com a sua água o deserto da nossa vida (1ª leitura). A adúltera é a Igreja. A água do baptismo é novidade de vida. E Cristo repete-nos: “Vai e de agora em diante não peques mais”; viver o próprio baptismo, pelo qual fomos unidos a Cristo, é, para Paulo, sacrificar tudo para ganhar a Cristo. Participar do seu sofrimento, tornarmo-nos conformes a sua morte, para alcançar a ressurreição dos mortos, experimentando a força da sua ressurreição. A opção pelo caminho do próprio fracasso torna-se opção pela ressurreição.
Lançar a pedra é fácil
O “farisaísmo” é a doença de quem não se olha ao espelho. Todo rosto tem rugas, e por detrás de uma fachada restaurada ocultam-se manchas escuras.
Entretanto, em todos nós existe o sentimento de culpa. Existe um sentimento de culpa exacerbado, resultado de um formalismo legalista, de aspectos inconscientes, de educação ilusória. Mas há também um sentimento de culpa que põe o dedo na chaga. As chagas ardem e causam nojo; também aquelas que comprometem toda a sociedade. A prostituição, a delinquência juvenil, a droga, as mães solteiras. Há as responsabilidades pessoais de quem se deixa explorar e há a responsabilidade de quem explora; é uma sociedade sem valores. Também a nós faltam os valores, mas é mais cómodo libertar-se dessa crise de valores procurando bodes expiatórios. E é fácil encontrá-los. A satisfação de lançar a pedra faz-nos esquecer quem somos, liberta-nos da nossa responsabilidade e do sentimento de culpa. Assim, fazem-se campanhas contra a prostituição, para que as ruas estejam “limpas”; marginalizam-se os drogados, para que não possam censurar a nossa inutilidade. Fazem-se casas de correcção, para dizermos a nós mesmos que fazemos o possível. Escondemos o espelho para não vermos mais o nosso rosto, e assim pensamos estar limpos.
Mas não há apenas esse farisaísmo em grande escala. A satisfação de poder dizer que não somos como a vizinha, ou como o colega de trabalho, é coisa de todos os dias, ou como quando, voltando da missa de Domingo, olhamos com desconfiança para aquele que só tem recebido da vida situações humilhantes ou que continua a pagar na solidão os erros da sua vida. O desprezo que lhes tributamos é, para Cristo, acusação contra nós, e o seu sofrimento torna-se sofrimento de Cristo.


LEITURA I – Is 43, 16-21

Vou realizar uma coisa nova: matarei a sede ao meu povo

A história da salvação acompanha todos os tempos e o que Deus fez, no passado em favor do seu povo, continua a fazê-lo no presente. Nesta leitura, o Profeta, que anuncia o regresso do exílio, onde o povo de Deus esteve em cativeiro, quer fazer sentir que o que vai agora acontecer não é menos admirável do que o que tinha acontecido na Páscoa antiga, quando o povo saiu do Egipto. Quanto mais admirável não é o que Deus faz agora por nós em Jesus Cristo!

Leitura do Livro de Isaías
“O Senhor abriu outrora caminhos através do mar, veredas por entre as torrentes das águas. Pôs em campanha carros e cavalos, um exército de valentes guerreiros; e todos caíram para não mais se levantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga. Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. Os animais selvagens – chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei brotar água no deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo escolhido, o povo que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – Filip 3, 8-14

Por Cristo, considerei todas as coisas como prejuízo, configurando-me à sua morte

Esta leitura liga-se hoje à anterior: é em Cristo que vamos encontrar completamente realizado o momento culminante e a plenitude da história da salvação, é n’Ele que a Lei e os Profetas encontram a realização perfeita, é para Ele que toda a história anterior apontava, e sem Ele nada tem sentido. Quem assim o entender, como S. Paulo o entendeu, há-de considerar a participação no mistério da Páscoa do Senhor como a maior graça de Deus.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo S. Paulo aos Filipenses
“Irmãos: Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que se recebe pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e se funda na fé. Assim poderei conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, configurando-me à sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos. Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus. Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido. Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Jo 8, 1-11

Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra

A novidade que Deus oferece ao mundo em Jesus Cristo não aparece à custa da destruição do que anteriormente existiu. A graça não vem à custa da morte do pecador. É a partir da história dos homens pecadores que Deus vai fazer surgir a história da salvação, que os há-de renovar. É na mulher pecadora que Jesus faz brilhar a luz nova da sua graça. Envelhecida pelo pecado, torna-se, pelo poder do Senhor, nova criatura.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Naquele tempo, Jesus foi para o monte das Oliveiras. Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo e todo o povo se aproximou d’Ele. Então sentou-Se e começou a ensinar. Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?». Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar. Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. Como persistiam em interrogá-l’O, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão. Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».”
Palavra da Salvação



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