sábado, 5 de março de 2016

DOMINGO, 6 DE MARÇO DE 2016





(IV Domingo da Quaresma, 6 de Março de 2016)

“Um pai espera a volta do filho”
Não e fácil aceitarmo-nos como pecadores. Em geral tentamos recusá-lo, e alguns acreditam que o conseguem; mas, de repente, sentimos, na nossa vida e na do mundo que nos cerca, uma profunda culpabilidade; guerras e exploração, ódio racial e fome, incapacidade de sermos nós mesmos, de amar o outro desinteressadamente, de perdoar o cônjuge ou o filho. Uma história de fragilidade, de miséria, de pecado. Pecados pessoais e pecados de um povo.
À luz da fé, o pecado do homem surge sobretudo como uma recusa de amor, um afastamento da corrente do amor de que Deus é a fonte. Mas, Deus manifesta-se infinitamente maior do que a recusa que lhe opomos; vai ao encontro do homem mesmo ao seu pecado; perdoando, vence o ódio e dá início à história da misericórdia.
Veio buscar o que estava perdido
Jesus dá início a uma nova e singular história de perdão; Deus, que perdoa o homem com a encarnação do Filho. O Baptista anuncia sua vinda, convidando à conversão em previsão do severo juízo que está para cair sobre toda a humanidade. Mas, quando Jesus vem, declara não ter vindo para condenar o mundo, e sim para salvá-lo" (JO 12,47); declara ter vindo não para os que se crêem justos, mas para os pecadores que se arrependem (2ª leitura).
Procura-os como o pastor vai atrás da ovelha desgarrada, ou a mulher procura a dracma perdida. Os privilegiados da misericórdia, os preferidos de Jesus, são os pobres, as mulheres abandonadas, os estrangeiros, isto é, os marcados por uma interdição e repelidos pela sociedade. Para Jesus, o filho pródigo é sempre esperado. Essa atitude provoca o espanto e a indignação dos fariseus e de certos “justos” incapazes de ultrapassar a justiça, semelhantes ao filho mais velho (evangelho), invejando a bondade do pai para com o irmão mais novo. Toda a vida de Cristo, especialmente a sua morte na cruz, foi expressão de uma misericórdia sem limites. A história do perdão, começada com Jesus, continua na Igreja que é “sacramento de salvação”. O perdão divino continua a exercer-se nela por iniciativa e vontade de Deus e pelo poder que lhe deu Cristo: perdoar é assim ajudar a humanidade a encontrar-se com Deus.
O irmão não queria entrar
Não basta ter permanecido sempre na casa do pai para participar do banquete; é preciso saber perdoar. Não basta nada ter feito de reprovável; é necessário também esperar e desejar a vinda daquele que se afastara de casa. Não basta ter observado as leis da Igreja e do Estado, ter trabalhado sempre por um mundo mais justo; não basta tão-pouco que os países ricos peçam justamente perdão às populações subdesenvolvidas, por terem-nas, talvez inconscientemente, explorado. Devemos ser capazes de perdoar a quem caiu. Nós, ao contrário, expulsamos de casa a filha que se comportou mal, guardamos rancor contra o filho que se casou contra a nossa vontade, alimentamos nossa aversão pelo marido que gasta no bar o que ganha etc. Consideramo-nos justos, queremos sê-lo, mas talvez invejemos os que erram e nos aborreçamos por ficar sempre em casa. E quando percebemos que o Pai está do lado daquele que caiu, que o tem sempre no coração, que o espera e, quando volta, prepara-lhe uma festa, parece-nos que isto é demais; onde está a justiça do Pai? Então ficamos com raiva e não queremos participar do banquete, do qual, aliás, já nos havíamos excluído. A Igreja não é a comunidade dos que não erram, dos que não caem, mas dos pecadores que querem voltar ao Pai, sem pretensões; a comunidade dos que compreendem o outro e, se este cai, o ajudam a retomar o caminho juntos.
Assembleia eucarística, lugar do perdão
Uma concepção demasiadamente parcial do encontro homem-Deus levou-nos a restringir indevidamente o lugar do perdão cristão unicamente ao sacramento da penitência. Entretanto, toda a vez que há uma comunidade reunida e uma troca de perdão entre nós, homens, isto é sacramento do perdão de Deus no confronto de todos nós. De facto, não podemos dirigir-nos ao Pai a fim de que nos perdoe, enquanto mantemos entre nós animosidade, inveja, ódio. A assembleia eucarística, particularmente, é lugar do perdão do Pai. Eucaristia é acção de graças ao Pai na oferta do sacrifício do Filho. Mas essa oferta tornar-se-ia inútil se não fosse, ao mesmo tempo, oferta, em sacrifício, de toda a comunidade inserida no único sacrifício do Cristo. É, porém, exigência fundamental e condição absoluta o perdão mútuo entre os irmãos (cf Mt 5,23-24).
Todo o rancor, o mau humor, a crítica, a fraude devem ser eliminados. Entre marido e mulher, comerciante e freguês, companheiros de trabalho, pároco e coadjutor. Não se pode ir ao encontro do Pai comum se não se está disposto a isto.



LEITURA I – Jos 5, 9a.10-12

Tendo entrado na terra prometida, o povo de Deus celebra a Páscoa

Mais um passo na história da salvação nos é apresentado na primeira leitura deste Quarto Domingo: depois da travessia do deserto, guiado por Moisés (domingo anterior), o povo de Deus entra na Terra Prometida e celebra a Páscoa. É também esta a perspectiva do tempo litúrgico em que nós entrámos: depois dos 40 dias do deserto quaresmal, celebraremos o mistério da Páscoa, na Terra Santa da Igreja de Cristo. O maná, a comida do deserto, cessou de cair, quando o povo de Deus chegou à Terra Prometida, e lá pôde, finalmente, alimentar-se dos frutos daquela nova Terra. Também a Igreja, depois do jejum da Quaresma, comerá da Ceia do Senhor, na Eucaristia da Páscoa. Não se trata apenas de uma comparação, mas de um mistério que todos os anos se renova no meio de nós.

Leitura do Livro de Josué
“Naqueles dias, disse o Senhor a Josué: «Hoje tirei de vós o opróbrio do Egipto». Os filhos de Israel acamparam em Gálgala e celebraram a Páscoa, no dia catorze do mês, à tarde, na planície de Jericó. No dia seguinte à Páscoa, comeram dos frutos da terra: pães ázimos e espigas assadas nesse mesmo dia. Quando começaram a comer dos frutos da terra, no dia seguinte à Páscoa, cessou o maná. Os filhos de Israel não voltaram a ter o maná, mas, naquele ano, já se alimentaram dos frutos da terra de Canaã.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 2 Cor 5, 17-21

Por Cristo, Deus reconciliou-nos consigo

A Páscoa celebra o mistério da aliança que Deus fez com os homens, e, porque o homem é pecador, esse mistério é também de reconciliação. Pelo sacrifício de Jesus Cristo, todos os homens são tornados nova criação, uma vez que são reconciliados com Deus, que é o Criador de todas as coisas. Este mistério de reconciliação, realizado, de uma vez para sempre, por Cristo, é-nos agora acessível através da Igreja. A nós pertence, pois, aceitá-lo e deixar-nos reconciliar, cada um de nós, com Deus, por Cristo, por meio da Igreja. O Sacramento da Penitência é o sinal sagrado desta reconciliação. Por meio dele seremos, na Páscoa, novas criaturas.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram; tudo foi renovado. Tudo isto vem de Deus, que por Cristo nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. Na verdade, é Deus que em Cristo reconcilia o mundo consigo, não levando em conta as faltas dos homens e confiando-nos a palavra da reconciliação. Nós somos, portanto, embaixadores de Cristo; é Deus quem vos exorta por nosso intermédio. Nós vos pedimos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus. A Cristo, que não conhecera o pecado, Deus identificou-O com o pecado por causa de nós, para que em Cristo nos tornemos justiça de Deus.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 15, 1-3.11-32

Este teu irmão estava morto e voltou à vida

Na parábola do filho pródigo está expresso todo o itinerário do pecador, que, pela penitência, regressa à comunhão com Deus. Da morte à vida; é precisamente este o movimento de todo o Mistério Pascal. A parábola põe em relevo sobretudo o amor, paciente e sempre acolhedor, do Pai, de Deus nosso Pai. Por isso, a esta parábola melhor se poderia chamar a parábola do Pai misericordioso.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».”
Palavra da Salvação



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