(Domingo de Ramos)
“Entrada
triunfal”
A última Páscoa celebrada por Jesus
indica o sentido da sua morte: ele entrega-se totalmente (corpo e sangue) em
favor dos homens. Trata-se de gesto supremo de amor que liberta os homens de
uma vida marcada pelo mal do egoísmo; só assim se constrói a Nova Aliança, que
produz a sociedade fundada no dom de si para o bem de todos.
LEITURA I – Is. 50, 4-7
“Não
desviei o meu rosto dos que Me ultrajavam, mas sei que não ficarei desiludido”
Esta
leitura é um dos chamados “Cânticos do Servo do Senhor”. Este Servo revela-se
plenamente em Jesus, na sua Paixão: Ele escuta a palavra do Pai e responde-lhe
cheio de confiança, oferecendo-Se, em obediência total, pela salvação dos
homens.
Leitura do
Livro de Isaías
“O Senhor
deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra
de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos,
para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos
e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me
batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que
me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio, e, por isso,
não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não
ficarei desiludido.”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Filip 2, 6-11
“Humilhou-Se
a Si próprio; por isso Deus O exaltou”
Esta
leitura é também um cântico, mas agora do Novo Testamento, muito provavelmente
em uso nas primitivas comunidades cristãs. Nele é celebrado o Mistério Pascal:
Cristo fez-Se um de nós, obedeceu aos desígnios do Pai e humilhou-Se até à
morte, e foi, por isso, exaltado até à glória de “Senhor”, que é a própria
glória de Deus.
Leitura da
Segunda Epístola do apóstolo S. Paulo aos Filipenses
“Cristo Jesus,
que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas
aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante
aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte
e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de
todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e
nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória
de Deus Pai.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 22, 14 – 23,
56
São
Lucas é evangelista especialmente culto, pois que, segundo a tradição, era
médico, e muito atento a circunstâncias mais significativas da sensibilidade
dos participantes da Paixão do Senhor, como na referência às mulheres que desde
a Galileia O tinham acompanhado e Lhe saíram ao encontro no caminho do Calvário
e O seguiram até à hora da sua morte; é ele o único que refere o suor de sangue
na agonia de Jesus, como também a oração do bom ladrão na cruz e o perdão que
em resposta o Senhor lhe oferece. Ele é, de facto, o evangelista da
misericórdia de Jesus.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Quando chegou a hora, Jesus sentou-Se à mesa com os seus
Apóstolos e disse-lhes:
J «Tenho
desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer; pois
digo-vos que não tornarei a comê-la, até que se realize plenamente no reino de
Deus».
N Então, tomando
um cálice, deu graças e disse:
J «Tomai e
reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até
que venha o reino de Deus».
N Depois tomou o
pão e, dando graças, partiu-o e deu-lho, dizendo:
J «Isto é o meu
Corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim».
N No fim da ceia,
fez o mesmo com o cálice, dizendo:
J «Este cálice é
a nova aliança no meu Sangue, derramado por vós.
Entretanto, está comigo à mesa a mão daquele que Me vai
entregar.
O Filho do homem vai partir, como está determinado. Mas ai
daquele por quem Ele vai ser entregue!».
N Começaram então
a perguntar uns aos outros
qual deles iria fazer semelhante coisa. Levantou-se também entre
eles uma questão: qual deles se devia considerar o maior?
Disse-lhes Jesus:
J «Os reis das
nações exercem domínio sobre elas e os que têm sobre elas autoridade são
chamados benfeitores. Vós não deveis proceder desse modo. O maior entre vós
seja como o menor
e aquele que manda seja como quem serve. Pois quem é o maior:
o que está à mesa ou o que serve? Não é o que está à mesa?
Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve. Vós
estivestes sempre comigo nas minhas provações. E Eu preparo para vós um reino, como
meu Pai o preparou para Mim: comereis e bebereis à minha mesa, no meu reino, e
sentar-vos-eis em tronos, a julgar as doze tribos de Israel. Simão, Simão,
Satanás vos reclamou para vos agitar na joeira como trigo. Mas Eu roguei por
ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os
teus irmãos».
N Pedro
respondeu-Lhe:
R «Senhor, eu
estou pronto a ir contigo, até para a prisão e para a morte».
N Disse-lhe
Jesus:
J «Eu te digo,
Pedro: Não cantará hoje o galo, sem que tu, por três vezes, negues
conhecer-Me».
N Depois
acrescentou:
J «Quando vos
enviei sem bolsa nem alforge nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?».
N Eles
responderam que não lhes faltara nada. Disse-lhes Jesus:
J «Mas agora,
quem tiver uma bolsa pegue nela, bem como no alforge; e quem não tiver espada
venda a capa e compre uma. Porque Eu vos digo que se deve cumprir em Mim o que
está escrito: ‘Foi contado entre os malfeitores’. Na verdade, o que Me diz
respeito está a chegar ao fim».
N Eles disseram:
R «Senhor, estão
aqui duas espadas».
N Mas Jesus
respondeu:
J «Basta».
N Então saiu e
foi, como de costume, para o monte das Oliveiras e os discípulos
acompanharam-n’O. Quando chegou ao local, disse-lhes:
J «Orai, para
não entrardes em tentação».
N Depois
afastou-Se deles cerca de um tiro de pedra e, pondo-Se de joelhos, começou a
orar, dizendo:
J «Pai, se
quiseres, afasta de Mim este cálice. Todavia, não se faça a minha vontade, mas
a tua».
N Então
apareceu-Lhe um Anjo, vindo do Céu, para O confortar. Entrando em angústia,
orava mais instantemente e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que
caíam na terra.
Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discípulos,
que encontrou a dormir, por causa da tristeza. Disse-lhes Jesus:
J «Porque estais
a dormir?
Levantai-vos e orai, para não entrardes em tentação».
N Ainda Ele
estava a falar, quando apareceu uma multidão de gente. O chamado Judas, um dos
Doze, vinha à sua frente e aproximou-se de Jesus, para O beijar. Disse-lhe
Jesus:
J «Judas, é com
um beijo que entregas o Filho do homem?».
N Ao verem o que
ia suceder, os que estavam com Jesus perguntaram-Lhe:
R «Senhor, vamos
feri-los à espada?».
N E um deles
feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus
interveio, dizendo:
J «Basta!
Deixai-os».
N E, tocando na
orelha do homem, curou-o.
Disse então Jesus aos que tinham vindo ao seu encontro, príncipes
dos sacerdotes, oficiais do templo e anciãos:
J «Vós saístes
com espadas e varapaus, como se viésseis ao encontro dum salteador. Eu estava
todos os dias convosco no templo e não Me deitastes as mãos. Mas esta é a vossa
hora e o poder das trevas.
N Apoderaram-se
então de Jesus,
levaram-n’O e introduziram-n’O em casa do sumo sacerdote. Pedro
seguia-os de longe. Acenderam uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se em
volta dela e Pedro foi sentar-se no meio deles. Ao vê-lo sentado ao lume, uma
criada, fitando os olhos nele, disse:
R «Este homem
também andava com Jesus».
N Mas Pedro
negou:
R «Não O conheço,
mulher».
N Pouco depois,
disse outro, ao vê-lo:
R «Tu também és
um deles».
N Mas Pedro
disse:
R «Homem, não
sou».
N Passada mais ou
menos uma hora, afirmava outro com insistência:
R «Esse homem,
com certeza, também andava com Jesus,
pois até é galileu».
N Pedro
respondeu:
R «Homem, não sei
o que dizes».
N Nesse instante
– ainda ele falava – um galo cantou. O Senhor voltou-Se e fitou os olhos em
Pedro. Então Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: ‘Antes de
o galo cantar, Me negarás três vezes’. E, saindo para fora, chorou amargamente.
Entretanto, os homens que guardavam Jesus troçavam d’Ele e
maltratavam-n’O. Cobrindo-Lhe o rosto, perguntavam-Lhe:
R «Adivinha,
profeta: Quem Te bateu?».
N E dirigiam-Lhe
muitos outros insultos.
Ao romper do dia, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, os
príncipes dos sacerdotes e os escribas. Levaram-n’O ao seu tribunal e
disseram-Lhe:
R «Diz-nos se Tu
és o Messias».
N Jesus
respondeu-lhes:
J «Se Eu vos
disser, não acreditareis e, se fizer alguma pergunta, não respondereis. Mas o
Filho do homem sentar-Se-á doravante à direita do poder de Deus».
N Disseram todos:
R «Tu és então o
Filho de Deus?».
N Jesus
respondeu-lhes:
J «Vós mesmos
dizeis que Eu sou».
N Então
exclamaram:
R «Que
necessidade temos ainda de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca».
N Levantaram-se
todos e levaram Jesus a Pilatos. Começaram a acusá-l’O, dizendo:
R «Encontrámos
este homem a sublevar o nosso povo, a impedir que se pagasse o tributo a César e
dizendo ser o Messias-Rei».
N Pilatos
perguntou-Lhe:
R «Tu és o Rei
dos judeus?».
N Jesus
respondeu-lhe:
J «Tu o dizes».
N Pilatos disse
aos príncipes dos sacerdotes e à multidão:
R «Não encontro
nada de culpável neste homem».
N Mas eles
insistiam:
R «Amotina o
povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até aqui».
N Ao ouvir isto,
Pilatos perguntou se o homem era galileu; e, ao saber que era da jurisdição de
Herodes, enviou-O a Herodes, que também estava nesses dias em Jerusalém. Ao ver
Jesus, Herodes ficou muito satisfeito. Havia bastante tempo que O queria ver, pelo
que ouvia dizer d’Ele, e esperava que fizesse algum milagre na sua presença. Fez-Lhe
muitas perguntas, mas Ele nada respondeu. Os príncipes dos sacerdotes e os
escribas que lá estavam acusavam-n’O com insistência. Herodes, com os seus
oficiais, tratou-O com desprezo e, por troça, mandou-O cobrir com um manto
magnífico e remeteu-O a Pilatos. Herodes e Pilatos, que eram inimigos, ficaram
amigos nesse dia. Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes, os chefes e o
povo, e disse-lhes:
R «Trouxestes
este homem à minha presença como agitador do povo. Interroguei-O diante de vós e
não encontrei n’Ele nenhum dos crimes de que O acusais. Herodes também não, uma
vez que no-l’O mandou de novo. Como vedes, não praticou nada que mereça a
morte. Vou, portanto, soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
N Pilatos tinha
obrigação de lhes soltar um preso por ocasião da festa. E todos se puseram a
gritar:
R «Mata Esse e
solta-nos Barrabás».
N Barrabás tinha
sido metido na cadeia por causa de uma insurreição desencadeada na cidade e por
assassínio. De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra, querendo libertar Jesus. Mas
eles gritavam:
R «Crucifica-O!
Crucifica-O!».
N Pilatos
falou-lhes pela terceira vez:
R «Mas que mal
fez este homem?
Não encontrei n’Ele nenhum motivo de morte. Por isso vou
soltá-l’O, depois de O mandar castigar».
N Mas eles
continuavam a gritar, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores
aumentavam de violência. Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam: soltou
aquele que fora metido na cadeia por insurreição e assassínio, como eles
reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam. Quando O conduziam, lançaram
mão de um certo Simão de Cirene, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às
costas, para a levar atrás de Jesus. Seguia-O grande multidão de povo e
mulheres que batiam no peito e se lamentavam, chorando por Ele. Mas Jesus
voltou-Se para elas e disse-lhes:
J «Filhas de
Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos
filhos; pois dias virão em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que
não geraram e os peitos que não amamentaram’. Começarão a dizer aos montes:
‘Caí sobre nós’;
e às colinas: ‘Cobri-nos’. Porque, se tratam assim a madeira
verde,
que acontecerá à seca?».
N Levavam ainda
dois malfeitores para serem executados com Jesus. Quando chegaram ao lugar
chamado Calvário, crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores, um à direita e
outro à esquerda. Jesus dizia:
J «Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem».
N Depois deitaram
sortes, para repartirem entre si as vestes de Jesus. O povo permanecia ali a
observar. Por sua vez, os chefes zombavam e diziam:
R «Salvou os
outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito».
N Também os
soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam:
R «Se és o Rei
dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
N Por cima d’Ele
havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». Entretanto, um dos malfeitores que
tinham sido crucificados insultava-O, dizendo:
R «Não és Tu o
Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
N Mas o outro,
tomando a palavra, repreendeu-o:
R «Não temes a
Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois
recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de
condenável».
N E acrescentou:
R «Jesus,
lembra-Te de mim,
quando vieres com a tua realeza».
N Jesus
respondeu-lhe:
J «Em verdade te
digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
N Era já quase
meio-dia, quando as trevas cobriram toda a terra, até às três horas da tarde, porque
o sol se tinha eclipsado. O véu do templo rasgou-se ao meio. E Jesus exclamou
com voz forte:
J «Pai, em tuas
mãos entrego o meu espírito».
N Dito isto,
expirou. Vendo o que sucedera, o centurião deu glória a Deus, dizendo:
R «Realmente este
homem era justo».
N E toda a
multidão que tinha assistido àquele espectáculo, ao ver o que se passava,
regressava batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres
que O acompanhavam desde a Galileia, mantinham-se à distância, observando estas
coisas.
Havia um homem chamado José, da cidade de Arimateia, que era
pessoa recta e justa e esperava o reino de Deus. Era membro do Sinédrio, mas
não tinha concordado com a decisão e o proceder dos outros. Foi ter com Pilatos
e pediu-lhe o corpo de Jesus. E depois de o ter descido da cruz, envolveu-o num
lençol e depositou-o num sepulcro escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha
sido sepultado. Era o dia da Preparação e começavam a aparecer as luzes do
sábado. Entretanto, as mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia acompanharam
José e observaram o sepulcro e a maneira como fora depositado o corpo de Jesus.
No regresso, prepararam aromas e perfumes. E no sábado guardaram o descanso, conforme
o preceito. Palavra da salvação.”
Palavra da Salvação
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