Domingo XI do Tempo Comum
SÓ DEUS PERDOA
OS PECADOS
Só Deus perdoa os
pecados. Jesus, porque é Filho de Deus, diz de Si próprio: «O Filho do Homem
tem na terra o poder de perdoar os pecados» (Mc 2, 10) e exerce este
poder divino: «Os teus pecados são-te perdoados!» (Mc 2, 5). Mais ainda:
em virtude da sua autoridade divina, concede este poder aos homens para que o
exerçam em seu nome.
Cristo
quis que a sua Igreja fosse, toda ela, na sua oração, na sua vida e na sua
actividade, sinal e instrumento do perdão e da reconciliação que Ele nos adquiriu
pelo preço do seu sangue. Entretanto, confiou o exercício do poder de absolvição
ao ministério apostólico. É este que está encarregado do «ministério da
reconciliação» (2 Cor 5, 18). O apóstolo é enviado «em nome de Cristo» e
«é o próprio Deus» que, através dele, exorta e suplica: «Deixai-vos reconciliar
com Deus» (2 Cor 5, 20).
A Justificação
A graça do Espírito Santo tem o poder de nos justificar,
isto é, de nos lavar dos nossos pecados e de nos comunicar «a justiça de Deus
pela fé em Jesus Cristo» e pelo Baptismo:
«Se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele
viveremos, sabendo que, uma vez ressuscitado dos mortos, Cristo já não morre; a
morte já não tem domínio sobre Ele. Porque, na morte que sofreu, Cristo morreu
para o pecado de uma vez para sempre; mas a sua vida é uma vida para Deus.
Assim vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em
Cristo Jesus» (Rm 6, 8-11).
Pelo poder do Espírito Santo, nós tomamos parte na paixão de
Cristo, morrendo para o pecado, e na sua ressurreição, nascendo para uma vida
nova. Somos os membros do seu corpo, que é a Igreja, os sarmentos enxertados na
videira, que é Ele próprio:
«É pelo Espírito que nós temos parte em Deus. […] Pela
participação no Espírito, tornamo-nos participantes da natureza divina [...]. É
por isso que aqueles em quem habita o Espírito são divinizados».
A primeira obra da graça do Espírito Santo é a conversão,
que opera a justificação, segundo a mensagem de Jesus no princípio do
Evangelho: «Convertei-vos, que está perto o Reino dos céus» (Mt
4, 17). Sob a moção da graça, o homem volta-se para Deus e desvia-se
do pecado, acolhendo assim o perdão e a justiça do Alto. «A justificação
comporta, portanto, a remissão dos pecados, a santificação e a renovação do
homem interior».
A justificação
desliga o homem do pecado, que está em contradição com o amor de Deus, e
purifica-lhe o coração. A justificação continua a iniciativa da misericórdia de
Deus, que oferece o perdão; reconcilia o homem com Deus; liberta-o da
escravidão do pecado e cura-o.
A
justificação é, ao mesmo tempo, acolhimento da justiça de Deus pela fé
em Jesus Cristo. Justiça designa, aqui, a rectidão do amor divino. Com a
justificação, são difundidas nos nossos corações a fé, a esperança e a
caridade, e é-nos concedida a obediência à vontade divina.
A
justificação foi-nos merecida pela paixão de Cristo, que na cruz Se
ofereceu como hóstia viva, santa e agradável a Deus, e cujo sangue se tornou
instrumento de propiciação pelos pecados de todos os homens. A justificação é
concedida pelo Baptismo, sacramento da fé. Conforma‑nos com a justiça de Deus que nos torna interiormente
justos pelo poder da sua misericórdia. E tem por fim a glória de Deus e de
Cristo, e o dom da vida eterna;
«Mas agora, foi sem a Lei que se manifestou a justiça de
Deus, atestada pela Lei e pelos Profetas: a justiça que vem para todos os
crentes, mediante a fé em Jesus Cristo. É que não há diferença alguma: todos
pecaram e estão privados da glória de Deus. Sem o merecerem, são justificados
pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. Deus ofereceu-o
para, nele, pelo seu sangue, se realizar a expiação que actua mediante a fé;
foi assim que Ele mostrou a sua justiça, ao perdoar os pecados cometidos
outrora, no tempo da divina paciência. Deus mostra assim a sua justiça no tempo
presente, porque Ele é justo e justifica quem tem fé em Jesus» (Rm 3,
21-26).
A
justificação estabelece a colaboração entre a graça de Deus e a liberdade do
homem. Do lado do homem, exprime-se no assentimento da fé à Palavra de Deus
que convida à conversão, e na cooperação da caridade com o impulso do Espírito
Santo que se lhe adianta e o guarda:
«Quando Deus move o coração do homem pela iluminação do
Espírito Santo, o homem não fica sem fazer nada ao receber esta inspiração, que,
aliás, pode rejeitar; no entanto, também não pode, sem a graça de Deus,
caminhar, por sua livre vontade, para a justiça na sua presença».
A
justificação é a obra mais excelente do amor de Deus manifestado em
Cristo Jesus e concedido pelo Espírito Santo. Santo Agostinho pensa que «a
justificação do ímpio é obra maior que a criação do céu e da terra»; porque «o
céu e a terra passarão, ao passo que a justificação e a salvação dos eleitos
permanecerão». Pensa mesmo que a justificação dos pecadores é mais importante
que a criação dos anjos em justiça, pelo facto de testemunhar uma maior
misericórdia.
O
Espírito Santo é o mestre interior. Fazendo nascer o «homem interior», a justificação
implica a santificação de todo o ser:
«Pois, como pusestes os vossos membros ao serviço da impureza
e do mal para cometer a iniquidade, assim ponde agora os vossos membros ao
serviço da justiça para chegar à santidade. [...] Mas agora, libertos do pecado
e feitos servos de Deus, tendes por fruto a santidade; e o termo é a vida
eterna» (Rm 6, 19.22).
LEITURA I – 2 Sam 12,
7-10.13
“O
Senhor perdoou o teu pecado: Não morrerás”
A
fraqueza chega a todos os homens. O pecado do rei David é disso uma prova. Mas
também chega a todos os homens a misericórdia do Senhor. Ela se manifesta bem
clara na palavra que o profeta de Deus dirige ao rei, primeiro chamando-o à
consciência do pecado, depois anunciando-lhe o perdão. A leitura põe em relevo
o acolhimento dado por David à palavra de Deus e o perdão que logo Deus lhe
oferece.
Leitura do Segundo
Livro de Samuel
“Naqueles
dias, disse Natã a David: «Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Ungi-te como
rei de Israel e livrei-te das mãos de Saul. Entreguei-te a casa do teu senhor e
pus-te nos braços as suas mulheres. Dei-te a casa de Israel e de Judá e, se
isto não é suficiente, dar-te-ei muito mais. Como ousaste desprezar a palavra
do Senhor, fazendo o que é mal a seus olhos? Mataste à espada Urias, o hitita;
tomaste como esposa a sua mulher, depois de o teres feito passar à espada pelos
amonitas. Agora a espada nunca mais se afastará da tua casa, porque Me
desprezaste e tomaste a esposa de Urias, o hitita, para fazeres dela tua
mulher». Então David disse a Natã: «Pequei contra o Senhor». Natã
respondeu-lhe: «O Senhor perdoou o teu pecado: Não morrerás».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Gal 2, 16.19-21
“Não
sou eu que vivo: é Cristo que vive em mim”
A
grande descoberta que S. Paulo fez, na sua conversão, foi Cristo. A partir daí,
Cristo ocupou o lugar central na sua vida. S. Paulo descobriu que a salvação
nos foi alcançada por Cristo, morto e ressuscitado; que não somos nós que nos salvamos,
mas que é Ele quem nos salva, e que a vida cristã não é outra coisa senão
aceitar esse dom e a ele corresponder, na fé e na fidelidade em toda a vida.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
“Irmãos:
Sabemos que o homem não é justificado pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus
Cristo; por isso acreditámos em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé
em Cristo e não pelas obras da Lei, porque pelas obras da Lei ninguém é
justificado. De facto, por meio da Lei, morri para a Lei, a fim de viver para
Deus. Com Cristo estou crucificado. Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive
em mim. Se ainda vivo dependente de uma natureza carnal, vivo animado pela fé
no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim. Não quero tornar inútil a
graça de Deus, porque, se a justificação viesse por meio da Lei, então Cristo
teria morrido em vão.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 7, 36 – 8, 3
“São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou”
A
pecadora de que nesta leitura se fala (e que não deve ser identificada nem com
a irmã de Marta e de Lázaro, nem com Maria Madalena), é mais uma testemunha da
misericórdia do Senhor, de que S. Lucas tanto gosta de falar. Toda a narração,
que inclui, a certa altura, a pequena parábola do devedor perdoado, estabelece
a ligação entre o amor e o perdão: o amor alcança o perdão, mas o perdão é
fonte de amor. A resposta de Jesus a Simão deixa antever este duplo movimento.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, um fariseu convidou Jesus para comer com ele. Jesus entrou em casa do
fariseu e tomou lugar à mesa. Então, uma mulher – uma pecadora que vivia na
cidade – ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de
alabastro com perfume; pôs-se atrás de Jesus e, chorando muito, banhava-Lhe os
pés com as lágrimas e enxugava-Lhos com os cabelos, beijava-os e ungia-os com o
perfume. Ao ver isto, o fariseu que tinha convidado Jesus pensou consigo: «Se
este homem fosse profeta, saberia que a mulher que O toca é uma pecadora».
Jesus tomou a palavra e disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa a dizer-te». Ele
respondeu: «Fala, Mestre». Jesus continuou: «Certo credor tinha dois devedores:
um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Como não tinham com que
pagar, perdoou a ambos. Qual deles ficará mais seu amigo?». Respondeu Simão:
«Aquele – suponho eu – a quem mais perdoou». Disse-lhe Jesus: «Julgaste bem». E
voltando-Se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa
e não Me deste água para os pés; mas ela banhou-Me os pés com as lágrimas e
enxugou-os com os cabelos. Não Me deste o ósculo; mas ela, desde que entrei,
não cessou de beijar-Me os pés. Não Me derramaste óleo na cabeça; mas ela
ungiu-Me os pés com perfume. Por isso te digo: São-lhe perdoados os seus muitos
pecados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama».
Depois disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados». Então os convivas
começaram a dizer entre si: «Quem é este homem, que até perdoa os pecados?».
Mas Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz». Depois disso, Jesus
ia caminhando por cidades e aldeias, a pregar e a anunciar a Boa Nova do reino
de Deus. Acompanhavam-n’O os Doze, bem como algumas mulheres que tinham sido
curadas de espíritos malignos e de enfermidades. Eram Maria, chamada Madalena,
de quem tinham saído sete demónios, Joana, mulher de Cusa, administrador de
Herodes, Susana e muitas outras, que serviam Jesus com os seus bens.”
Palavra da Salvação
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