ESTAI VÓS TAMBÉM PREPARADOS
DOMINGO XIX
DO TEMPO COMUM
[CATECISMO]
[…]
A ORAÇÃO, HUMILDE VIGILÂNCIA DO CORAÇÃO [2729-2733]
2729 A dificuldade habitual da nossa oração é a distracção.
Pode ter por objecto as palavras e o seu sentido, na oração vocal; mais
profundamente, pode incidir sobre Aquele a Quem rezamos, na oração vocal
(litúrgica ou pessoal), na meditação e na contemplação. Partir à caça das
distracções seria cair nas suas ciladas; basta regressar ao nosso coração: uma
distracção revela-nos aquilo a que estamos apegados e esta humilde tomada de
consciência diante do Senhor deve despertar o nosso amor preferencial por Ele,
oferecendo-Lhe resolutamente o nosso coração para que Ele o purifique. É aí que
se situa o combate: na escolha do Senhor a quem servir.
2730 Positivamente, o combate contra o nosso eu, possessivo e dominador,
consiste na vigilância, a sobriedade do coração. Quando Jesus insiste na
vigilância, esta refere-se sempre a Ele, à sua vinda, no último dia e em cada
dia: «hoje». O Esposo chega a meio da noite. A luz que não se deve extinguir é
a da fé: «Diz-me o coração: “Procura a sua face”» (Sl 27, 8).
2731 Outra dificuldade, especialmente para os que
querem rezar com sinceridade, é a aridez. Faz parte da oração em que o coração
está seco, sem gosto pelos pensamentos, lembranças e sentimentos, mesmo
espirituais. É o momento da fé pura, que aguenta fielmente ao lado de Jesus na
agonia e no sepulcro. «Se o grão de trigo morrer, dará muito fruto» (Jo 12,
24). Se a aridez for devida à falta de raiz, por a Palavra ter caído em terreno
pedregoso, o combate entra no campo da conversão.
2732 A tentação mais
comum e a mais oculta é a nossa falta de fé. Exprime-se menos por uma
incredulidade declarada do que por uma preferência de facto. Quando começamos a
orar, mil trabalhos e preocupações, julgados urgentes, apresentam-se-nos como
prioritários. É mais uma vez o momento da verdade do coração e do seu amor
preferencial. Umas vezes, voltamo-nos para o Senhor como nosso último recurso:
mas será que acreditamos mesmo n’Ele? Outras vezes, tomamos o Senhor como
aliado, mas conservamos o cheio de presunção. Em todos os casos, a nossa falta
de fé revela que ainda não temos as disposições de um coração humilde: «Sem
Mim, nada podereis fazer» (Jo 15, 5).
2733 Outra tentação, à
qual a presunção abre a porta, é a acédia. Os Padres espirituais entendem por
ela uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da
vigilância, à negligência do coração. «O espírito está decidido, mas a carne é
fraca» (Mt 26, 41). Quanto de mais alto se cai, mais magoado se fica. O
desânimo doloroso é o reverso da presunção. Quem é humilde não se admira da sua
miséria; ela leva-o a ter mais confiança e a manter-se firme na constância.
[…]
[LITURGIA DA PALAVRA]
LEITURA I – Sab 18, 6-9
“Da
mesma forma castigastes os adversários e nos cobristes de glória, chamando-nos
a Vós”
A
leitura do Evangelho vai dizer-nos que devemos estar sempre de vigia, como quem
guarda a casa de noite. Daí que esta primeira leitura nos recorde que foi
também numa noite que o Senhor passou pelo meio do seu povo para fazer a
libertação pascal, aquando da saída do Egipto. A Vigília pascal, que mantém,
todos os anos, o povo de Deus em atitude de quem vigia, é o modelo da atitude
que este povo e cada um de nós há-de manter até que o Senhor volte.
Leitura do
Livro da Sabedoria
“A noite em
que foram mortos os primogénitos do Egipto foi dada previamente a conhecer aos
nossos antepassados, para que, sabendo com certeza a que juramentos tinham dado
crédito, ficassem cheios de coragem. Ela foi esperada pelo vosso povo, como
salvação dos justos e perdição dos ímpios, pois da mesma forma que castigastes
os adversários, nos cobristes de glória, chamando-nos para Vós. Por isso os
piedosos filhos dos justos ofereciam sacrifícios em segredo e de comum acordo
estabeleceram esta lei divina: que os justos seriam solidários nos bens e nos
perigos; e começaram a cantar os hinos de seus antepassados.”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Hebr 11,
1-2.8-19
“Esperava
a cidade, da qual Deus é arquitecto e construtor”
Começamos
hoje a ler uma parte da Epístola aos Hebreus, em que se faz o elogio dos nossos
antepassados na fé que, seguindo os passos de Abraão, caminharam fielmente para
a Terra Prometida. A fé, que é resposta do homem à palavra de Deus, é sempre a
luz que ilumina toda a caminhada pascal do homem deste mundo para o Pai.
Leitura da
Epístola aos Hebreus
“Irmãos: A fé
é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se
vêem. Ela valeu aos antigos um bom testemunho. Pela fé, Abraão obedeceu ao
chamamento e partiu para uma terra que viria a receber como herança; e partiu
sem saber para onde ia. Pela fé, morou como estrangeiro na terra prometida,
habitando em tendas, com Isaac e Jacob, herdeiros, como ele, da mesma promessa,
porque esperava a cidade de sólidos fundamentos, cujo arquitecto e construtor é
Deus. Pela fé, também Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a
idade, porque acreditou na fidelidade d’Aquele que lho prometeu. É por isso
também que de um só homem – um homem que a morte já espreitava – nasceram
descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia que há na
praia do mar. Todos eles morreram na fé, sem terem obtido a realização das
promessas. Mas vendo-as e saudando-as de longe, confessaram que eram
estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Aqueles que assim falam mostram
claramente que procuram uma pátria. Se pensassem na pátria de onde tinham
saído, teriam tempo de voltar para lá. Mas eles aspiravam a uma pátria melhor,
que era a pátria celeste. E como Deus lhes tinha preparado uma cidade, não Se
envergonha de Se chamar seu Deus. Pela fé, Abraão, submetido à prova, ofereceu
o seu filho único Isaac, que era o depositário das promessas, como lhe tinha
sido dito: «Por Isaac será assegurada a tua descendência». Ele considerava que
Deus pode ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, ele recuperou
o seu filho.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 12, 32-48
“Estai vós também preparados”
Na
continuação do espírito da primeira leitura, também esta leitura evangélica nos
coloca como que em atitude de vigília pascal: sobre esta Terra, esperamos e
aguardamos o Senhor, que virá. Celebrando o mistério pascal em cada Eucaristia,
não recordamos apenas os acontecimentos pascais do passado, mas nós próprios
nos colocamos em atitude espiritual de vigília, como, de maneira mais
significativa, o fazemos, uma vez por ano, na noite santa da Páscoa. A atitude
contínua da Igreja é a de vigília.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não temas, pequenino rebanho, porque
aprouve ao vosso Pai dar-vos o reino. Vendei o que possuís e dai-o em esmola.
Fazei bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão
não chega nem a traça rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso
coração. Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que
esperam o seu senhor ao voltar do casamento, para lhe abrirem logo a porta,
quando chegar e bater. Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar
vigilantes. Em verdade vos digo: cingir-se-á e mandará que se sentem à mesa e,
passando diante deles, os servirá. Se vier à meia-noite ou de madrugada,
felizes serão se assim os encontrar. Compreendei isto: se o dono da casa
soubesse a que hora viria o ladrão, não o deixaria arrombar a sua casa. Estai
vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do
homem». Disse Pedro a Jesus: «Senhor, é para nós que dizes esta parábola, ou
também para todos os outros?». O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel
e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente
a cada um a sua ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar,
encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os
seus bens. Mas se aquele servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em
vir’, e começar a bater em servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se,
o senhor daquele servo chegará no dia em que menos espera e a horas que ele não
sabe; ele o expulsará e fará que tenha a sorte dos infiéis. O servo que,
conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou ou não cumpriu a sua
vontade, levará muitas vergastadas. Aquele, porém, que, sem a conhecer, tenha
feito acções que mereçam vergastadas, levará apenas algumas. A quem muito foi dado,
muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá».”
Palavra da Salvação
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