sábado, 17 de setembro de 2016

UMA FALSA RELIGIÃO OCULTA A INJUSTIÇA





DOMINGO XXV DO TEMPO COMUM

A riqueza para construir a fraternidade
O mundo está geralmente dividido entre ricos e pobres. A contestação, a luta de classes parece baseada no princípio de que não há possibilidade de acordo senão pela eliminação de uma das partes. O anúncio do reino de Deus, do seu amor que salva, é feito num mundo dividido entre ricos e pobres. E um anúncio que, revolucionando o íntimo do homem, revoluciona também certo tipo de ordem social.

Uma falsa religião oculta a injustiça
Há uma falsa religião que os profetas nunca cessaram de denunciar: a religião dos que julgam ter a consciência em dia sem muito esforço, cumprindo ritos e práticas exteriores de culto. Muitas vezes é uma aparência de religiosidade que serve para encobrir a exploração dos pobres.

De uma terra dividida...
A amizade que o rico deve construir não é fruto de seu bom coração, mas exigência e dever que lhe advêm daquilo que possui. O que ele dá não deve parecer uma esmola. O pobre, na comunidade cristã, tem direitos a serem satisfeitos. O rico deve considerar-se mais um atento administrador dos bens do que um proprietário.
“Não és acaso um ladrão, afirma São Basílio, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste?... Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu, o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que se estão a estragar na tua casa; ao necessitado, o dinheiro que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar”.
E santo Ambrósio continua: “É justo, pois, que, se reivindicas como teu algo daquilo que foi dado em comum (a terra) ao género humano e até a todos os animais, ao menos dês uma parte aos pobres; eles participam do teu direito; não lhes negues o alimento”.
O que os Padres da Igreja pregam, referindo-se a casos particulares, agora inclui povos, nações, milhões de pessoas. Nações ou grupos multinacionais controlam toda a riqueza com uma liberdade que não se pode discutir, continuam a fazer da riqueza a fonte de divisões e aproveitam-se dessas divisões para seu domínio económico.
Os capitais são transferidos de um país para outro onde pode haver maior incentivo para o lucro. Milhões de trabalhadores rurais não têm direito nem possibilidade de habitar em terras que, no entanto, são suas, enquanto grandes proprietários têm incultas as suas terras, visando mais à exploração ou a maior fonte de lucro.

...a uma terra de amizade
Ambos os apelos só podem ser compreendidos e acolhidos pelo homem novo, renascido de Deus, que descobre o verdadeiro valor das coisas. Sem a conversão do coração, as riquezas nas mãos do homem tomam-se riquezas de iniquidade, tanto no acto de possuir como no de dar. A doação feita para tranquilizar a consciência e não por amizade não é verdadeira doação.
Toda decisão que não termina no amor está errada na raiz. Fazer amigos significa procurar, no uso dos bens, uma realização horizontal, entre irmãos, e não vertical, de alto para baixo.
“O dinheiro, símbolo das coisas, é instrumento de divisão e de luta; deve tornar-se instrumento de comunhão entre as pessoas, de amizade, de igualdade, e não veículo de guerra e discriminação. Isto exige comunidade na produção, na distribuição, no consumo. Ora, a pobreza dos que têm bens, e não podem nem devem despojar-se deles, consiste em usá-los para criar amizade e comunicar-se com os homens. Este ‘fazei amigos’ deve ser repensado em cada época e continuamente renovado no conteúdo” (A. Paoli).


LEITURA I – Am 8, 4-7

«Contra aqueles que “possuem dinheiro alheio”»

No Evangelho, o Senhor vai ensinar-nos como deve o cristão usar o dinheiro. Esta primeira leitura prepara-nos já, pela palavra do profeta, para escutarmos o Senhor a prevenir-nos de como o amor ao dinheiro pode vir a dominar o coração do homem e a fazê-lo cometer as maiores injustiças, de que os mais pobres acabam sempre por ser as maiores vítimas.

Leitura da Profecia de Amós
“Escutai bem, vós que espezinhais o pobre e quereis eliminar os humildes da terra. Vós dizeis: «Quando passará a lua nova, para podermos vender o nosso grão? Quando chegará o fim de sábado, para podermos abrir os celeiros de trigo? Faremos a medida mais pequena, aumentaremos o preço, arranjaremos balanças falsas. Compraremos os necessitados por dinheiro e os indigentes por um par de sandálias. Venderemos até as cascas do nosso trigo». Mas o Senhor jurou pela glória de Jacob: «Nunca esquecerei nenhuma das suas obras».”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 1 Tim 2, 1-8

Façam-se preces por todos os homens a Deus, que quer salvar todos os homens

Na continuação da leitura da epístola de S. Paulo encetada no domingo anterior, lemos hoje uma passagem que está na origem da “oração universal” ou “oração dos fiéis” que fazemos na Missa a concluir a liturgia da palavra. Recomenda-se a oração por todos os homens e, em especial, por aqueles que estão constituídos em autoridade. A sua missão é em favor da comunidade; é, portanto, normal que toda a comunidade reze por eles. A leitura inclui uma bela palavra de louvor a Cristo.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo: Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades, para que possamos levar uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador; Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte pela redenção de todos. Tal é o testemunho que foi dado a seu tempo e do qual fui constituído arauto e apóstolo – digo a verdade, não minto – mestre dos gentios na fé e na verdade. Quero, portanto, que os homens rezem em toda a parte, erguendo para o Céu as mãos santas, sem ira nem contenda.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 16, 1-13

Não podeis servir a Deus e ao dinheiro

Jesus ensina que o dinheiro deve ser administrado com sabedoria, a sabedoria de Deus, e não com avareza ou ganância. O dinheiro serve muitas vezes para fins vis; para o conseguir há quem não hesite em tomar atitudes cheias de astúcia e mentira, como o administrador de que fala a parábola. O Senhor convida-nos a pormos, pelo menos, tanto cuidado em usá-lo bem, como ele o fez, embora de maneira má, para granjear amigos que depois o acolhessem.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Um homem rico tinha um administrador, que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens. Mandou chamá-lo e disse-lhe: ‘Que é isto que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar’. O administrador disse consigo: ‘Que hei-de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a administração? Para cavar não tenho força, de mendigar tenho vergonha. Já sei o que hei-de fazer, para que, ao ser despedido da administração, alguém me receba em sua casa’. Mandou chamar um por um os devedores do seu senhor e disse ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’. Ele respondeu: ‘Cem talhas de azeite’. O administrador disse-lhe: ‘Toma a tua conta: senta-te depressa e escreve cinquenta’. A seguir disse a outro: ‘E tu quanto deves?’. Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. Disse-lhe o administrador: ‘Toma a tua conta e escreve oitenta’. E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes. Ora Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas também é injusto nas grandes. Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedica a um e despreza o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».”
Palavra da Salvação



Sem comentários:

Enviar um comentário