DOMINGO XXV DO TEMPO COMUM
A riqueza para
construir a fraternidade
O mundo está geralmente dividido entre ricos e pobres. A contestação, a
luta de classes parece baseada no princípio de que não há possibilidade de
acordo senão pela eliminação de uma das partes. O anúncio do reino de Deus, do
seu amor que salva, é feito num mundo dividido entre ricos e pobres. E um
anúncio que, revolucionando o íntimo do homem, revoluciona também certo tipo de
ordem social.
Uma falsa
religião oculta a injustiça
Há uma falsa religião que os profetas nunca cessaram de denunciar: a
religião dos que julgam ter a consciência em dia sem muito esforço, cumprindo
ritos e práticas exteriores de culto. Muitas vezes é uma aparência de
religiosidade que serve para encobrir a exploração dos pobres.
De uma terra
dividida...
A amizade que o rico deve construir não é fruto de seu bom coração, mas
exigência e dever que lhe advêm daquilo que possui. O que ele dá não deve
parecer uma esmola. O pobre, na comunidade cristã, tem direitos a serem
satisfeitos. O rico deve considerar-se mais um atento administrador dos bens do
que um proprietário.
“Não és acaso um ladrão, afirma São Basílio, tu que te apossas das
riquezas cuja gestão recebeste?... Ao faminto pertence o pão que conservas; ao
homem nu, o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que se estão a estragar
na tua casa; ao necessitado, o dinheiro que escondeste. Cometes assim tantas
injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar”.
E santo Ambrósio continua: “É justo, pois,
que, se reivindicas como teu algo daquilo que foi dado em comum (a terra) ao género
humano e até a todos os animais, ao menos dês uma parte aos pobres; eles
participam do teu direito; não lhes negues o alimento”.
O que os Padres da Igreja pregam, referindo-se a casos particulares,
agora inclui povos, nações, milhões de pessoas. Nações ou grupos multinacionais
controlam toda a riqueza com uma liberdade que não se pode discutir, continuam
a fazer da riqueza a fonte de divisões e aproveitam-se dessas divisões para seu
domínio económico.
Os capitais são transferidos de um país para outro onde pode haver maior
incentivo para o lucro. Milhões de trabalhadores rurais não têm direito nem
possibilidade de habitar em terras que, no entanto, são suas, enquanto grandes
proprietários têm incultas as suas terras, visando mais à exploração ou a maior
fonte de lucro.
...a uma terra
de amizade
Ambos os apelos só podem ser compreendidos e acolhidos pelo homem novo,
renascido de Deus, que descobre o verdadeiro valor das coisas. Sem a conversão
do coração, as riquezas nas mãos do homem tomam-se riquezas de iniquidade,
tanto no acto de possuir como no de dar. A doação feita para tranquilizar a
consciência e não por amizade não é verdadeira doação.
Toda decisão que não termina no amor está errada na raiz. Fazer amigos
significa procurar, no uso dos bens, uma realização horizontal, entre irmãos, e
não vertical, de alto para baixo.
“O dinheiro, símbolo das coisas, é instrumento de divisão e de luta; deve
tornar-se instrumento de comunhão entre as pessoas, de amizade, de igualdade, e
não veículo de guerra e discriminação. Isto exige comunidade na produção, na
distribuição, no consumo. Ora, a pobreza dos que têm bens, e não podem nem
devem despojar-se deles, consiste em usá-los para criar amizade e comunicar-se
com os homens. Este ‘fazei amigos’ deve ser repensado em cada época e
continuamente renovado no conteúdo” (A. Paoli).
LEITURA I – Am 8, 4-7
«Contra
aqueles que “possuem dinheiro alheio”»
No
Evangelho, o Senhor vai ensinar-nos como deve o cristão usar o dinheiro. Esta
primeira leitura prepara-nos já, pela palavra do profeta, para escutarmos o
Senhor a prevenir-nos de como o amor ao dinheiro pode vir a dominar o coração
do homem e a fazê-lo cometer as maiores injustiças, de que os mais pobres
acabam sempre por ser as maiores vítimas.
Leitura da
Profecia de Amós
“Escutai bem,
vós que espezinhais o pobre e quereis eliminar os humildes da terra. Vós
dizeis: «Quando passará a lua nova, para podermos vender o nosso grão? Quando
chegará o fim de sábado, para podermos abrir os celeiros de trigo? Faremos a
medida mais pequena, aumentaremos o preço, arranjaremos balanças falsas.
Compraremos os necessitados por dinheiro e os indigentes por um par de
sandálias. Venderemos até as cascas do nosso trigo». Mas o Senhor jurou pela
glória de Jacob: «Nunca esquecerei nenhuma das suas obras».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – 1 Tim 2, 1-8
“Façam-se
preces por todos os homens a Deus, que quer salvar todos os homens”
Na
continuação da leitura da epístola de S. Paulo encetada no domingo anterior,
lemos hoje uma passagem que está na origem da “oração universal” ou “oração dos
fiéis” que fazemos na Missa a concluir a liturgia da palavra. Recomenda-se a
oração por todos os homens e, em especial, por aqueles que estão constituídos
em autoridade. A sua missão é em favor da comunidade; é, portanto, normal que
toda a comunidade reze por eles. A leitura inclui uma bela palavra de louvor a
Cristo.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo:
Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de
graças por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades, para que
possamos levar uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.
Isto é bom e agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador; Ele quer que todos os
homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Há um só Deus e um só
mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte
pela redenção de todos. Tal é o testemunho que foi dado a seu tempo e do qual
fui constituído arauto e apóstolo – digo a verdade, não minto – mestre dos
gentios na fé e na verdade. Quero, portanto, que os homens rezem em toda a
parte, erguendo para o Céu as mãos santas, sem ira nem contenda.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 16, 1-13
“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”
Jesus
ensina que o dinheiro deve ser administrado com sabedoria, a sabedoria de Deus,
e não com avareza ou ganância. O dinheiro serve muitas vezes para fins vis;
para o conseguir há quem não hesite em tomar atitudes cheias de astúcia e
mentira, como o administrador de que fala a parábola. O Senhor convida-nos a
pormos, pelo menos, tanto cuidado em usá-lo bem, como ele o fez, embora de
maneira má, para granjear amigos que depois o acolhessem.
Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Um homem rico tinha um administrador,
que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens. Mandou chamá-lo e
disse-lhe: ‘Que é isto que ouço dizer de ti? Presta contas da tua
administração, porque já não podes continuar a administrar’. O administrador
disse consigo: ‘Que hei-de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a
administração? Para cavar não tenho força, de mendigar tenho vergonha. Já sei o
que hei-de fazer, para que, ao ser despedido da administração, alguém me receba
em sua casa’. Mandou chamar um por um os devedores do seu senhor e disse ao
primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’. Ele respondeu: ‘Cem talhas de azeite’.
O administrador disse-lhe: ‘Toma a tua conta: senta-te depressa e escreve
cinquenta’. A seguir disse a outro: ‘E tu quanto deves?’. Ele respondeu: ‘Cem
medidas de trigo’. Disse-lhe o administrador: ‘Toma a tua conta e escreve oitenta’.
E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza.
De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no
trato com os seus semelhantes. Ora Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil
dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas
eternas. Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; e quem é
injusto nas coisas pequenas também é injusto nas grandes. Se não fostes fiéis
no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não
fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso? Nenhum servo pode
servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou
se dedica a um e despreza o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».”
Palavra da Salvação
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