sábado, 23 de setembro de 2017

SERÃO MAUS OS TEUS OLHOS PORQUE EU SOU BOM?




25.º Domingo do tempo comum – 24 Setembro 2017


OS PRIMEIROS E OS ÚLTIMOS

A interpretação da leitura proposta pelo próprio Cristo para a parábola encontra-se no v. 15. A acusação feita ao senhor da vinha (Deus) é de ser injusto, acusação já formulada pelo filho mais velho ao pai do filho pródigo (Lc 15,29-30), acusação dos “bons” judeus ao ouvir a doutrina da retribuição (Ez 18,25-29), acusação de Jonas pelo perdão concedido por Deus a Nínive, pagã.

A justiça dos homens e a justiça de Deus
Em cada um desses casos, os textos opõem a justiça de Deus, concebida à maneira dos homens, à sua atitude misericordiosa, nova para os homens (Lc 15,1-2). A esta objecção, Cristo responde: o senhor da vinha é “justo” (à maneira humana) com os primeiros, pois dá-lhes o que havia combinado, e é “justo” com os últimos (à maneira divina), porque não assumira com eles nenhum compromisso de salário.
Afirma, pois, o primado da bondade de Deus: a sua maneira de agir não contrasta com a justiça humana, mas transcende-a totalmente pelo amor. Em consequência, o contrato concluído entre o senhor da vinha e os seus operários apresenta-se como uma figura da aliança entre Deus e os seus, aliança que não tem relação alguma com o contrato “dou para que dês”, que os judeus queriam encontrar no caso, mas é um acto gratuito de Deus (Dt 7,7-10; 4,7). A aliança é, portanto, uma graça do amor gratuito do Pai, baseada na sua absoluta liberdade, e supõe a nossa (Gl 3,16-22; 4,21-31). Aplicando uma justiça aos primeiros e outra aos últimos, Deus quer antes de tudo afirmar o seu amor por uns e outros, levando em conta as diversas situações em que cada um se encontra.
Jesus quer alertar os seus compatriotas contra o orgulho, atitude de quem se coloca pretensiosamente diante de Deus e julga a sua bondade e a sua escolha: Deus é bom e fiel, e a sua bondade, porque soberana, sempre encontra novos modos de afirmar-se cada vez mais para o bem dos que são chamados. Ao mesmo tempo, a conclusão da parábola, em que há uma inversão de lugares entre os primeiros e os últimos, quer ser uma advertência aos judeus, os primeiros a serem chamados por Deus, mas que, pela mesquinhez de uma justiça toda sua, correm o risco de ser ultrapassados pelos que foram chamados posteriormente ao reino, unicamente por dom e graça da bondade do Senhor.

A lógica do reino
“Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos; os vossos caminhos não são os meus caminhos” (1ª leitura). A lógica de Deus é diferente da dos homens; às vezes, oposta e inconciliável com ela, embora sempre superior. Em geral, o que é lucro para o homem, poderá ser perda para Deus; e o que para o homem está em primeiro lugar, poderá vir em último lugar para Deus. A palavra de Deus e o seu juízo comportam uma radical inversão de valores; os primeiros são os últimos (evangelho); felizes são os que choram; os verdadeiros ricos são os que abandonam tudo; quem quer salvar sua vida perde-a...
A lei do seu reino parece ser o paradoxo, o inédito, o inesperado. Deus escolhe as coisas frágeis e desprezíveis deste mundo para confundir as fortes e bem consideradas. Não escolhe o primeiro, mas o último; não o justo, mas o pecador; não o sadio, mas o doente. Faz mais festa pela ovelha perdida e reencontrada do que pelas noventa e nove que estão na segurança do aprisco. O Deus cristão é o “absolutamente-Outro” o imprevisível. Nenhuma categoria humana pode “capturá-lo”. Ele escapa a qualquer definição e revela continuamente novos aspectos do seu mistério.

As preferências de Deus
Mas há um traço da face de Deus que Jesus revelou com clareza e insistência: a preferência pelos pobres, os humildes, os últimos. São eles, em contacto com a benevolência gratuita e proveniente de Deus, destinados a serem os primeiros, os afortunados, os eleitos.
Não se deve esquecer a aventura do povo judaico que, de primeiro, se torna último; de eleito, rejeitado. A parábola de Jesus conserva o seu valor de admoestação também para os novos chamados, que já começaram a pertencer ao reino, porque para eles também há o perigo de assumir a atitude dos primeiros chamados, e de se esquecerem de que tudo quanto têm é puro dom; portanto, não pode motivar nenhuma retribuição ou pretensão.



MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA
Eu sou a salvação do meu povo, diz o Senhor.
Quando chamar por Mim nas suas tribulações,
Eu o atenderei e serei o seu Deus para sempre.

ORAÇÃO COLECTA
Senhor, que fizestes consistir a plenitude da lei no vosso amor e no amor do próximo, dai-nos a graça de cumprirmos este duplo mandamento, para alcançarmos a vida eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Is 55, 6-9

Os meus pensamentos não são os vossos

O Evangelho vai apresentar-nos uma parábola, na qual se vê a liberdade e o amor com que Deus trata os homens, mesmo sem eles saberem, por vezes, apreciar essa bondade. Nesta leitura, o profeta vai-nos já prevenindo de que os caminhos de Deus não são como os dos homens, que têm dificuldade em compreender que o amor é mais generoso do que aquilo a que, por vezes, chamamos justiça.

Leitura do Livro de Isaías
“Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-O, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho e o homem perverso os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que terá compaixão dele, ao nosso Deus, que é generoso em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus – oráculo do Senhor –. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos vossos e acima dos vossos estão os meus pensamentos.”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144 (145), 2-3.8-9.17-18 (R. 18a)
Refrão: O Senhor está perto de quantos O invocam. (Repete-se)

Quero bendizer-Vos, dia após dia,
e louvar o vosso nome para sempre.
Grande é o Senhor e digno de todo o louvor,
insondável é a sua grandeza. (Refrão)

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas. (Refrão)

O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade. (Refrão)


LEITURA II – Filip 1, 20c-24.27a

Para mim, viver é Cristo

S. Paulo escreve estas palavras na prisão. Nelas mostra que todo o seu ideal é apenas servir a Cristo. Viver ou morrer é para ele coisa secundária; interessa-lhe, sim, estar sempre unido a Cristo. Ele é a sua vida. A própria morte o conduzirá ainda à união a Cristo: por isso, ela é para ele um lucro. Assim ele deseja que todos os cristãos vivam com ideal semelhante ao seu.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
“Irmãos: Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva quer eu morra. Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se viver neste corpo mortal me permite um trabalho útil, não sei o que escolher. Sinto-me constrangido por este dilema: desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal. Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – Actos 16, 14b
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Abri, Senhor, os nossos corações,
para aceitarmos a palavra do vosso Filho. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 20, 1-16a

Serão maus os teus olhos porque eu sou bom?

Esta parábola quer fazer-nos compreender que Deus é bom, e que a todos os homens que se disponham a servi-l’O Ele oferece a entrada no seu reino. Segundo o primeiro sentido da parábola, os operários da primeira hora foram os judeus; os outros, são os que, ao longo dos tempos, vão entrando na Igreja de Deus. A todos o Senhor abre as portas da salvação, porque, se para uns Se mostrou bondoso desde a primeira hora, para todos os outros Ele reserva os mesmos dons. Não há, pois, lugar para invejas, onde tudo é puro dom gratuito de Deus.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um pro­prie­tário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizen­do: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primei­ros e os primeiros serão os últimos».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai benignamente, Senhor, os dons da vossa Igreja, para que receba nestes santos mistérios os bens em que pela fé acredita.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 118, 4-5
Promulgastes, Senhor,
os vossos preceitos para se cumprirem fielmente.
Fazei que os meus passos sejam firmes
na observância dos vossos mandamentos.

Ou – Jo 10, 14
Eu sou o Bom Pastor, diz o Senhor;
conheço as minhas ovelhas
e as minhas ovelhas conhecem-Me.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Sustentai, Senhor, com o auxílio da vossa graça aqueles que alimentais nos sagrados mistérios, para que os frutos de salvação que recebemos neste sacramento se manifestem em toda a nossa vida.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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