27.º Domingo do tempo comum – 08
Outubro 2017
«ARRENDARÁ A VINHA A OUTROS
VINHATEIROS»
A alegoria da vinha inaugura o tema das núpcias de Javé em
Israel, tema que voltará frequentemente na literatura bíblica. Às vezes, Israel
é designada como vinha (Jr 2, 21; Ez 15, 1-8; 17, 3-10; 19, 10-14; Sl 79,
9-17), outras vezes, como a esposa acariciada e depois repudiada (Ex 16; Mt 22,
2-14; 25, 1-13). Neste cântico de Isaías, as duas linhas misturam-se perfeitamente,
através de uma como que superposição de imagens. A intervenção do profeta
lembra o papel do amigo do Esposo.
A imagem da vinha
As atenções de que a vinha é cercada (v. 2; ver também
evangelho) são as que Deus prodigaliza à sua esposa (Ex. 16, 1-14; Ef 5,
25-33). O julgamento que Deus faz sobre a vinha efectua-se em público, como
exigia a Lei em caso de adultério. Enfim, a condenação da vinha à esterilidade
é a maldição prometida à esposa infiel (Ez 16, 35-43; Os 2, 4-15).
A figura da vinha, como aliás a da esposa, torna-se como que
um exemplo da história da salvação, do modo de agir de Deus perante o seu povo
e o mundo inteiro.
O amor de Deus pelos homens revela-se de modo dramático, mas,
por fim é sempre o amor que triunfa sobre a recusa e a infidelidade do homem. Vemos
assim, imediatamente, a diferença entre a primeira leitura e o evangelho. Enquanto,
segundo o profeta, Deus abandona a vinha que não produz frutos, na parábola ela
é confiada a outros “vinhateiros que lhe darão os frutos a seu tempo”. Desse
modo é indicada a tarefa da Igreja depois da morte de Jesus. A Igreja é o novo
povo que tem a missão de “dar frutos”. Por isso, tornou o lugar de Israel e o
tomou por ocasião da Páscoa, quando “a pedra que os construtores haviam
rejeitado se tornou pedra angular”. Esta pedra é Jesus, que, rejeitado e
crucificado, agora ressuscitou e se torna o fundameno estável sobre o qual
deverá apoiar-se toda construção futura.
O ensinamento é o da parábola precedente (vide 26º domingo),
mas aqui a perspectiva amplia-se na dimensão cristológica. Compreendem-se
melhor as obras requeridas: obras que exigem a morte, que passam através da
aceitação do mistério de Cristo morto e ressuscitado.
Eleição e reprovação
O velho Simeão tinha previsto que Jesus seria um “sinal de
contradição” e que fora posto “para a queda e o soerguimento de muitos” (Lc 2,
34). A parábola de hoje é uma interpretação desta profecia e um anúncio da
páscoa de Jesus. O povo “eleito” rejeita Jesus como messias, continuando a
tradição de rejeitar os profetas, porque a mensagem deles não coincide com as suas
expectativas e os seus interesses de poder. Israel rejeita Jesus, Deus repudia o
seu povo, mas a história da salvação continua de um modo novo.
A imagem da história de Israel e o seu misterioso destino
evocam-nos também, hoje, o mistério de uma eleição que se transforma na
reprovação, enquanto surgem e se põem à frente novos eleitos, novos
predestinados. Nenhum de nós, cristãos, se sente excluído deste tremendo e
insondável mistério, porque as vicissitudes do povo eleito podem repetir-se na
história e na consciência de cada um de nós, enquanto a eleição da parte de
Deus exige sempre uma resposta pessoal.
As Igrejas mortas no futuro
Nós temos, certamente, a promessa de que o “novo povo” não
será reprovado, e de que as potências do mal não prevalecerão contra a Igreja,
mas é sempre impressionante pensar como várias das comunidades muito
florescente, dos primeiros séculos (as Igrejas da África e da Ásia Menor) foram
abolidas da face da terra, não permanecendo delas senão o nome e a lembrança.
Que sucederá com as comunidades cristãs do Ocidente, dentro de alguns séculos?
Serão Igrejas florescente, comunidades fervorosas e vivas, ou o facho da fé e
da eleição passará para as mãos das novas Igrejas? Falar-se-á das nossas
Igrejas do Ocidente como agora falamos da Igreja de Pérgamo, de Filadélfia ou
de Hipona? Isto é, como de Igrejas do passado, cuja lembrança só sobrevive na
memória e nos monumentos?
O processo de secularização e de secularismo, que, em muitos
casos, já reduziu a Igreja a estado de diáspora e de presença pouco
significativa, abolirá das nossas regiões todo vestígio de tradição e de
cultura cristã, ou será ocasião para a redescoberta de um modo de ser cristão e
de viver o evangelho?
MISSA
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ANTÍFONA DE ENTRADA – Est 13, 9.10-11
Senhor, Deus
omnipotente, tudo está sujeito ao vosso poder e ninguém pode resistir à vossa
vontade.
Vós criastes o céu e
a terra e todas as maravilhas que estão sob o firmamento.
Vós sois o Senhor do
universo.
ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, que, no vosso amor infinito, cumulais
de bens os que Vos imploram muito além dos seus méritos e desejos, pela vossa
misericórdia, libertai a nossa consciência de toda a inquietação e dai-nos o
que nem sequer ousamos pedir.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I – Is 5, 1-7
«A vinha do Senhor do
Universo é a casa de Israel»
Esta primeira leitura ajuda-nos
a compreender depois a do Evangelho, que nos vai falar dos vinhateiros
homicidas. A vinha de que uma e outra leitura nos fala é a casa de Israel, o
povo de Deus. O Senhor cuida deste povo como o bom agricultor cuida das suas vinhas.
Mas este povo nem sempre correspondeu ao carinho que o Senhor teve para com
ele.
Leitura do Livro de Isaías
Vou cantar, em nome do meu
amigo, um cântico de amor à sua vinha. O meu amigo possuía uma vinha numa
fértil colina. Lavrou-a e limpou-a das pedras, plantou-a de cepas escolhidas.
No meio dela ergueu uma torre e escavou um lagar. Esperava que viesse a dar
uvas, mas ela só produziu agraços. E agora, habitantes de Jerusalém, e vós,
homens de Judá, sede juízes entre mim e a minha vinha: Que mais podia fazer à
minha vinha que não tivesse feito? Quando eu esperava que viesse a dar uvas,
porque é que apenas produziu agraços? Agora vos direi o que vou fazer à minha
vinha: vou tirar-lhe a vedação e será devastada; vou demolir-lhe o muro e será
espezinhada. Farei dela um terreno deserto: não voltará a ser podada nem
cavada, e nela crescerão silvas e espinheiros; e hei-de mandar às nuvens que
sobre ela não deixem cair chuva. A vinha do Senhor do Universo é a casa de
Israel e os homens de Judá são a plantação escolhida. Ele esperava rectidão e
só há sangue derramado; esperava justiça e só há gritos de horror.
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 79 (80),
9.12.13-14.15-16.19-20 (R. Is 5, 7a)
Refrão: A vinha do Senhor é a casa de Israel. (Repete-se)
Arrancastes uma
videira do Egipto,
expulsastes as
nações para a transplantar.
Estendia até ao mar
as suas vergônteas
e até ao rio os
seus rebentos. (Refrão)
Porque lhe
destruístes a vedação,
de modo que a
vindime
quem quer que passe
pelo caminho?
Devastou-a o javali
da selva
e serviu de pasto
aos animais do campo. (Refrão)
Deus dos Exércitos,
vinde de novo,
olhai dos céus e
vede, visitai esta vinha.
Protegei a cepa que
a vossa mão direita plantou,
o rebento que
fortalecestes para Vós. (Refrão)
Não mais
nos apartaremos de Vós:
fazei-nos
viver e invocaremos o vosso nome.
Senhor
Deus dos Exércitos, fazei-nos voltar,
iluminai o
vosso rosto e seremos salvos. (Refrão)
LEITURA II – Filip 4, 6-9
« Ponde isto em prática e o Deus da paz estará
convosco»
No meio de todos os valores
deste mundo, que realmente o sejam, os cristãos não devem ter medo de os
apreciar e deles se servirem. Tudo são dons do Deus da paz, Criador e Senhor de
todos eles. Assim respondia o Apóstolo aos primeiros cristãos que viviam no
meio dos pagãos e não sabiam, por vezes, como haviam de proceder em relação aos
valores que encontravam na civilização deles.
Leitura da Epístola do apóstolo
São Paulo aos Filipenses
Irmãos: Não vos inquieteis com
coisa alguma. Mas, em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos
diante de Deus, com orações, súplicas e acções de graças. E a paz de Deus, que
está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos
pensamentos em Cristo Jesus. Quanto ao resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro e
nobre, tudo o que é justo e puro, tudo o que é amável e de boa reputação, tudo
o que é virtude e digno de louvor é o que deveis ter no pensamento. O que
aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim é o que deveis praticar. E o
Deus da paz estará convosco.
Palavra do Senhor
ALELUIA – Jo 15, 16
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Eu vos escolhi do
mundo, para que vades e deis fruto
e o vosso fruto
permaneça, diz o Senhor. (Refrão)
EVANGELHO – Mt 21, 33-43
«Arrendará
a vinha a outros vinhateiros»
Usando a mesma comparação que já
encontrámos na primeira leitura, Jesus como que faz o julgamento do seu povo,
que, no fim de ter sido, já tantas vezes, infiel a Deus ao longo do Antigo
Testamento, agora O rejeita a Ele, o próprio Filho que Deus lhe enviou. O
resultado será que outros virão a aproveitar do dom que eles rejeitaram. Foi
assim que os pagãos, estranhos até então ao povo de Deus, vieram a entrar no
seu povo, a Igreja de Cristo, a que hoje pertencemos.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos
príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Ouvi outra parábola: Havia um
proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar
e levantou uma torre; depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe.
Quando chegou a época das colheitas, mandou os seus servos aos vinhateiros para
receber os frutos. Os vinhateiros, porém, lançando mão dos servos, espancaram
um, mataram outro, e a outro apedrejaram-no. Tornou ele a mandar outros servos,
em maior número que os primeiros. E eles trataram-nos do mesmo modo. Por fim,
mandou-lhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Respeitarão o meu filho’. Mas os vinhateiros,
ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; matemo-lo e ficaremos
com a sua herança’. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no.
Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?». Eles responderam:
«Mandará matar sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a outros
vinhateiros, que lhe entreguem os frutos a seu tempo». Disse-lhes Jesus: «Nunca
lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra
angular; tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos’? Por isso vos
digo: Ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os seus
frutos».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Senhor, o sacrifício que Vós mesmo nos mandastes
oferecer e, por estes sagrados mistérios que celebramos, confirmai em nós a
obra da redenção.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Lam 3, 25
O Senhor é
bom para quem n’Ele confia, para a alma que O procura.
Ou – 1 Cor 10, 17
Porque há um só pão, todos somos um só corpo, nós
que participamos do mesmo cálice e do mesmo pão.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus todo-poderoso,
que neste sacramento saciais a nossa fome e a nossa sede, fazei
que, ao comungarmos o Corpo e o Sangue do vosso Filho, nos transformemos
n’Aquele que recebemos.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
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