sábado, 7 de outubro de 2017

A PEDRA QUE OS CONSTRUTORES REJEITARAM TORNOU-SE A PEDRA ANGULAR


27.º Domingo do tempo comum – 08 Outubro 2017



«ARRENDARÁ A VINHA A OUTROS VINHATEIROS»

A alegoria da vinha inaugura o tema das núpcias de Javé em Israel, tema que voltará frequentemente na literatura bíblica. Às vezes, Israel é designada como vinha (Jr 2, 21; Ez 15, 1-8; 17, 3-10; 19, 10-14; Sl 79, 9-17), outras vezes, como a esposa acariciada e depois repudiada (Ex 16; Mt 22, 2-14; 25, 1-13). Neste cântico de Isaías, as duas linhas misturam-se perfeitamente, através de uma como que superposição de imagens. A intervenção do profeta lembra o papel do amigo do Esposo.

A imagem da vinha
As atenções de que a vinha é cercada (v. 2; ver também evangelho) são as que Deus prodigaliza à sua esposa (Ex. 16, 1-14; Ef 5, 25-33). O julgamento que Deus faz sobre a vinha efectua-se em público, como exigia a Lei em caso de adultério. Enfim, a condenação da vinha à esterilidade é a maldição prometida à esposa infiel (Ez 16, 35-43; Os 2, 4-15).
A figura da vinha, como aliás a da esposa, torna-se como que um exemplo da história da salvação, do modo de agir de Deus perante o seu povo e o mundo inteiro.
O amor de Deus pelos homens revela-se de modo dramático, mas, por fim é sempre o amor que triunfa sobre a recusa e a infidelidade do homem. Vemos assim, imediatamente, a diferença entre a primeira leitura e o evangelho. Enquanto, segundo o profeta, Deus abandona a vinha que não produz frutos, na parábola ela é confiada a outros “vinhateiros que lhe darão os frutos a seu tempo”. Desse modo é indicada a tarefa da Igreja depois da morte de Jesus. A Igreja é o novo povo que tem a missão de “dar frutos”. Por isso, tornou o lugar de Israel e o tomou por ocasião da Páscoa, quando “a pedra que os construtores haviam rejeitado se tornou pedra angular”. Esta pedra é Jesus, que, rejeitado e crucificado, agora ressuscitou e se torna o fundameno estável sobre o qual deverá apoiar-se toda construção futura.
O ensinamento é o da parábola precedente (vide 26º domingo), mas aqui a perspectiva amplia-se na dimensão cristológica. Compreendem-se melhor as obras requeridas: obras que exigem a morte, que passam através da aceitação do mistério de Cristo morto e ressuscitado.

Eleição e reprovação
O velho Simeão tinha previsto que Jesus seria um “sinal de contradição” e que fora posto “para a queda e o soerguimento de muitos” (Lc 2, 34). A parábola de hoje é uma interpretação desta profecia e um anúncio da páscoa de Jesus. O povo “eleito” rejeita Jesus como messias, continuando a tradição de rejeitar os profetas, porque a mensagem deles não coincide com as suas expectativas e os seus interesses de poder. Israel rejeita Jesus, Deus repudia o seu povo, mas a história da salvação continua de um modo novo.
A imagem da história de Israel e o seu misterioso destino evocam-nos também, hoje, o mistério de uma eleição que se transforma na reprovação, enquanto surgem e se põem à frente novos eleitos, novos predestinados. Nenhum de nós, cristãos, se sente excluído deste tremendo e insondável mistério, porque as vicissitudes do povo eleito podem repetir-se na história e na consciência de cada um de nós, enquanto a eleição da parte de Deus exige sempre uma resposta pessoal.

As Igrejas mortas no futuro
Nós temos, certamente, a promessa de que o “novo povo” não será reprovado, e de que as potências do mal não prevalecerão contra a Igreja, mas é sempre impressionante pensar como várias das comunidades muito florescente, dos primeiros séculos (as Igrejas da África e da Ásia Menor) foram abolidas da face da terra, não permanecendo delas senão o nome e a lembrança. Que sucederá com as comunidades cristãs do Ocidente, dentro de alguns séculos? Serão Igrejas florescente, comunidades fervorosas e vivas, ou o facho da fé e da eleição passará para as mãos das novas Igrejas? Falar-se-á das nossas Igrejas do Ocidente como agora falamos da Igreja de Pérgamo, de Filadélfia ou de Hipona? Isto é, como de Igrejas do passado, cuja lembrança só sobrevive na memória e nos monumentos?
O processo de secularização e de secularismo, que, em muitos casos, já reduziu a Igreja a estado de diáspora e de presença pouco significativa, abolirá das nossas regiões todo vestígio de tradição e de cultura cristã, ou será ocasião para a redescoberta de um modo de ser cristão e de viver o evangelho?


MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Est 13, 9.10-11
Senhor, Deus omnipotente, tudo está sujeito ao vosso poder e ninguém pode resistir à vossa vontade.
Vós criastes o céu e a terra e todas as maravilhas que estão sob o firmamento.
Vós sois o Senhor do universo.

ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, que, no vosso amor infinito, cumulais de bens os que Vos imploram muito além dos seus méritos e desejos, pela vossa misericórdia, libertai a nossa consciência de toda a inquietação e dai-nos o que nem sequer ousamos pedir.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Is 5, 1-7

«A vinha do Senhor do Universo é a casa de Israel»

Esta primeira leitura ajuda-nos a compreender depois a do Evangelho, que nos vai falar dos vinhateiros homicidas. A vinha de que uma e outra leitura nos fala é a casa de Israel, o povo de Deus. O Senhor cuida deste povo como o bom agricultor cuida das suas vinhas. Mas este povo nem sempre correspondeu ao carinho que o Senhor teve para com ele.

Leitura do Livro de Isaías
Vou cantar, em nome do meu amigo, um cântico de amor à sua vinha. O meu amigo possuía uma vinha numa fértil colina. Lavrou-a e limpou-a das pedras, plantou-a de cepas escolhidas. No meio dela ergueu uma torre e escavou um lagar. Esperava que viesse a dar uvas, mas ela só produziu agraços. E agora, habitantes de Jerusalém, e vós, homens de Judá, sede juízes entre mim e a minha vinha: Que mais podia fazer à minha vinha que não tivesse feito? Quando eu esperava que viesse a dar uvas, porque é que apenas produziu agraços? Agora vos direi o que vou fazer à minha vinha: vou tirar-lhe a vedação e será devastada; vou demolir-lhe o muro e será espezinhada. Farei dela um terreno deserto: não voltará a ser podada nem cavada, e nela crescerão silvas e espinheiros; e hei-de mandar às nuvens que sobre ela não deixem cair chuva. A vinha do Senhor do Universo é a casa de Israel e os homens de Judá são a plantação escolhida. Ele esperava rectidão e só há sangue derramado; esperava justiça e só há gritos de horror.
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 79 (80), 9.12.13-14.15-16.19-20 (R. Is 5, 7a)
Refrão: A vinha do Senhor é a casa de Israel. (Repete-se)

Arrancastes uma videira do Egipto,
expulsastes as nações para a transplantar.
Estendia até ao mar as suas vergônteas
e até ao rio os seus rebentos. (Refrão)

Porque lhe destruístes a vedação,
de modo que a vindime
quem quer que passe pelo caminho?
Devastou-a o javali da selva
e serviu de pasto aos animais do campo. (Refrão)

Deus dos Exércitos, vinde de novo,
olhai dos céus e vede, visitai esta vinha.
Protegei a cepa que a vossa mão direita plantou,
o rebento que fortalecestes para Vós. (Refrão)

Não mais nos apartaremos de Vós:
fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.
Senhor Deus dos Exércitos, fazei-nos voltar,
iluminai o vosso rosto e seremos salvos. (Refrão)


LEITURA II – Filip 4, 6-9

« Ponde isto em prática e o Deus da paz estará convosco»

No meio de todos os valores deste mundo, que realmente o sejam, os cristãos não devem ter medo de os apreciar e deles se servirem. Tudo são dons do Deus da paz, Criador e Senhor de todos eles. Assim respondia o Apóstolo aos primeiros cristãos que viviam no meio dos pagãos e não sabiam, por vezes, como haviam de proceder em relação aos valores que encontravam na civilização deles.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos: Não vos inquieteis com coisa alguma. Mas, em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e acções de graças. E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. Quanto ao resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro e nobre, tudo o que é justo e puro, tudo o que é amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor é o que deveis ter no pensamento. O que aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim é o que deveis praticar. E o Deus da paz estará convosco.
Palavra do Senhor

ALELUIA – Jo 15, 16
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Eu vos escolhi do mundo, para que vades e deis fruto
e o vosso fruto permaneça, diz o Senhor. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 21, 33-43

«Arrendará a vinha a outros vinhateiros»

Usando a mesma comparação que já encontrámos na primeira leitura, Jesus como que faz o julgamento do seu povo, que, no fim de ter sido, já tantas vezes, infiel a Deus ao longo do Antigo Testamento, agora O rejeita a Ele, o próprio Filho que Deus lhe enviou. O resultado será que outros virão a aproveitar do dom que eles rejeitaram. Foi assim que os pagãos, estranhos até então ao povo de Deus, vieram a entrar no seu povo, a Igreja de Cristo, a que hoje pertencemos.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Ouvi outra parábola: Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e levantou uma torre; depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. Quando chegou a época das colheitas, mandou os seus servos aos vinhateiros para receber os frutos. Os vinhateiros, porém, lançando mão dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram-no. Tornou ele a mandar outros servos, em maior número que os primeiros. E eles trataram-nos do mesmo modo. Por fim, mandou-lhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Respeitarão o meu filho’. Mas os vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; matemo-lo e ficaremos com a sua herança’. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?». Eles responderam: «Mandará matar sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entreguem os frutos a seu tempo». Disse-lhes Jesus: «Nunca lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos’? Por isso vos digo: Ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os seus frutos».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Senhor, o sacrifício que Vós mesmo nos mandastes oferecer e, por estes sagrados mistérios que celebramos, confirmai em nós a obra da redenção.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Lam 3, 25
O Senhor é bom para quem n’Ele confia, para a alma que O procura.

Ou – 1 Cor 10, 17
Porque há um só pão, todos somos um só corpo, nós que participamos do mesmo cálice e do mesmo pão.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus todo-poderoso,
que neste sacramento saciais a nossa fome e a nossa sede, fazei que, ao comungarmos o Corpo e o Sangue do vosso Filho, nos transformemos n’Aquele que recebemos.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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