29.º Domingo do tempo comum – 22
Outubro 2017
«…E
A DEUS O QUE É DE DEUS»
Naquela época, os fariseus retiraram-se e chegaram a um
acordo para envolver Jesus com uma pergunta. Eles enviaram-lhe discípulos com
os adeptos de Herodes e disseram-lhe: “Mestre, sabemos que você é sincero e
ensina o caminho de Deus de acordo com a verdade, e que ninguém se preocupa consigo,
porque você não vê o que as pessoas são. Então, o que acha: é lícito pagar
impostos a César ou não?” Compreendendo a sua má vontade, Jesus disse-lhes: “Hipócritas,
por que me tentam? Mostrem-me a moeda do imposto”. Eles apresentaram-lhe um
denário. Ele perguntou-lhes: “De quem é a face e esta inscrição?” Eles responderam:
“De César”. Então ele disse lhes: “Dai a César o que pertence a César e a Deus
o que pertence a Deus”. (Mt 22: 15-21)
Esta é a questão que se levantam em Jerusalém no
momento-chave de sua revelação messiânica. O sinal do fundo é o denário do
tributo, que Jesus não carrega, não por acaso (como se estivesse esquecido
de aceitar), mas, por princípio, ele pediu aos discípulos que anunciassem o
Reino sem dinheiro ou roupas de reposição Mc 6, 6b-13).
É por isso que ele disse ao homem rico para vender o que ele
tinha, para distribuir o que obtivesse pelos pobres, para iniciar uma forma
pela qual casas, campos e compromissos familiares devessem ser compartilhados
(ver Mc 10, 17-31). Neste contexto, a relação entre o movimento de Jesus e o
império, com base na situação tensa da Palestina (Israel), que depois de alguns
anos (67 dC) termina numa dura guerra contra Roma:
- Os defensores do Império pretendem justificar a
economia e a política de Roma pagando impostos que são entendidos como uma forma
de participar desse Império, em comunhão com outros povos dessa época. O
denário do tributo é uma forma de contribuir para a ordem externa (mundana) de
Deus.
- Os inimigos do Império, compreenderão o tributo como um
ataque contra a sacralidade israelita. Possivelmente, identificam a família de
Deus com o grupo nacional judeu e querem cunhar a sua própria moeda, marcada
como Jerusalém. É por isso que eles rejeitam César e o seu imposto. Alguns ou
outros, dizem que o que Jesus diz, e até podem acusá-lo: se ele afirma, chamá-lo-ão
de colaboracionista; se negar, insubmisso, anti-romano…
Bem, Jesus não defende a oposição violenta (não paga
guerra contra Roma), mas apoia a ordem de Roma porque sabe que ao tentá-lo,
respondendo que se deve devolver o dinheiro a César, se e quando for de César. Em
princípio, podemos assumir que ele se opôs ao pagamento do imposto, não só pelo
que implicava em colaboração com o Império, mas também porque esse imposto
estava ao serviço de uma economia baseada em dinheiro.
Nessa linha, a sua resposta (devolveria a César o que
pertence a César e atribuiria a Deus o que é de Deus!) Não pode ser entendida
como uma declaração de guerra contra Roma, nem como aceitação do seu tributo,
mas obriga-nos a elevar o nível, convidando-nos a um tipo diferente de comunhão
humana.
Jesus, portanto, coloca-se “fora da lei”, não contra ela,
mas à margem, pois ele busca as “coisas de Deus” (Mc 8, 33) além do
dinheiro e da espada, não num plano de ideais feitas para o espírito, mas de
relações humanas (como o Sermão do Monte indica: Mt 5-7; Lc 6: 20-46). As “coisas”
de Deus que definem a identidade de seu projecto messiânico estão situadas num
espaço de gratuidade e pão compartilhado, não dinheiro e talião, como o Mt 5:
21-48 sabe: “vós já ouvistes falar do que foi dito; Eu, no entanto, digo...”.
- É legítimo pagar ou não? Os fariseus e os
herodianos querem colocar Jesus, perante um dilema entre o sim e o não; e, num
plano monetário, numa sociedade camponesa na qual o dinheiro quase não circula,
para muitos, quase não há mais dinheiro do que o imposto. Mas Jesus superou esse
dilema. Não se trata de pagar ou não pagar, mas de se colocar numa dimensão
superior à da revelação de Deus, isto é, de humanidade, de solidariedade, acima
de uma economia e política fundada na posse da moeda. Jesus não aceita o
tributo ou rejeita-o, mas ultrapassa esse plano monetário (pagando ou não
pagando), exigindo que o dinheiro de seus impostos seja devolvido a Roma,
iniciando assim um curso diferente do evangelho.
- Jesus não tem dinheiro, e então pergunta a um de seus
tentadores. Eles trazem-no (o denário), e ele olha-o, pedindo a inscrição e
a imagem gravada sobre ele. Por um lado, ele quer superar o nível de economia
em que parecem situar tudo. Por outro lado, ele sabe que a moeda tem valor
legal (económico), mas não é profano, no sentido moderno do termo, onde se
gravou uma imagem do César, que actua como autoridade religiosa nele, como
sinal de divindade. Também a inscrição (que poderia ser “Tiberius César
Augusto, filho do divino Augusto”) tinha carácter sagrado. De acordo com isso,
o tributo do César colocou os homens diante de um “deus” que age por interesse
do dinheiro (Mammon) e que Jesus não pode aceitá-lo, como já disse no Mt 6, 24.
MISSA
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ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 16, 6.8.9
Respondei-me,
Senhor, quando Vos invoco,
ouvi a minha voz,
escutai as minhas palavras.
Guardai-me dos meus
inimigos, Senhor.
Protegei-me à sombra
das vossas asas.
ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, dai-nos a graça de consagrarmos
sempre ao vosso serviço a dedicação da nossa vontade e a sinceridade do nosso
coração.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I – Is 45, 1.4-6
«Tomei Ciro pela mão direita
para subjugar diante dele as nações»
O Evangelho de hoje vai afirmar
a relação entre o poder temporal e o poder espiritual. Mas Deus é Senhor de
todos os homens, e nada nem ninguém é autónomo em relação a Ele. Deus realiza
os seus desígnios, que são sempre de salvação, através dos homens e das
instituições humanas, por vezes até de maneira muito clara, como se mostra nesta
leitura: o rei da Pérsia, Ciro, um pagão, é instrumento de Deus para a
libertação do seu povo.
Leitura do Livro de Isaías
Assim fala o Senhor a Ciro, seu
ungido, a quem tomou pela mão direita, para subjugar diante dele as nações e
fazer cair as armas da cintura dos reis, para abrir as portas à sua frente, sem
que nenhuma lhe seja fechada: «Por causa de Jacob, meu servo, e de Israel, meu
eleito, Eu te chamei pelo teu nome e te dei um título glorioso, quando ainda
não Me conhecias. Eu sou o Senhor e não há outro; fora de Mim não há Deus. Eu
te cingi, quando ainda não Me conhecias, para que se saiba, do Oriente ao
Ocidente, que fora de Mim não há outro. Eu sou o Senhor e mais ninguém».
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96),
1.3.4-5.7-8.9-10a.c (R. 7b)
Refrão: Aclamai a glória e o
poder do Senhor. (Repete-se)
Cantai ao Senhor um
cântico novo,
cantai ao Senhor,
terra inteira.
Publicai entre as
nações a sua glória,
em todos os povos
as suas maravilhas. (Refrão)
O Senhor é grande e
digno de louvor,
mais temível que
todos os deuses.
Os deuses dos
gentios não passam de ídolos,
foi o Senhor quem
fez os céus. (Refrão)
Dai ao Senhor, ó
família dos povos,
dai ao Senhor
glória e poder.
Dai ao Senhor a
glória do seu nome,
levai-Lhe oferendas
e entrai nos seus átrios. (Refrão)
Adorai o
Senhor com ornamentos sagrados,
trema
diante d’Ele a terra inteira.
Dizei
entre as nações: «O Senhor é Rei»,
governa os
povos com equidade. (Refrão)
LEITURA II – 1 Tes 1, 1-5b
«Recordamos
a vossa fé, caridade e esperança»
Começamos hoje a leitura da
primeira epístola aos Tessalonicenses, a comunidade cristã existente na cidade
de Tessalónica (ou Salónica), no norte da Grécia. Como de costume, S. Paulo
começa com uma acção de graças, hoje, por verificar o progresso espiritual
desses cristãos. Como podemos observar, os Apóstolos pregavam e escreviam como
verdadeiros mestres e pastores, e não apenas como moralistas ou legisladores. E
sempre será esta a verdadeira finalidade da pregação na Igreja: levar os seus
filhos a crescerem nos caminhos do reino de Deus, o que é para ela fonte de
alegria e de acção de graças.
Leitura da Primeira Epístola do
apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Paulo, Silvano e Timóteo à
Igreja dos Tessalonicenses, que está em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: A
graça e a paz estejam convosco. Damos continuamente graças a Deus por todos
vós, ao fazermos menção de vós nas nossas orações. Recordamos a actividade da
vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso
Senhor Jesus Cristo, na presença de Deus, nosso Pai. Nós sabemos, irmãos amados
por Deus, como fostes escolhidos. O nosso Evangelho não vos foi pregado somente
com palavras, mas também com obras poderosas, com a acção do Espírito Santo.
Palavra do Senhor
ALELUIA – Filip 2, 15d.16a
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Vós brilhais como
estrelas no mundo,
ostentando a
palavra da vida. (Refrão)
EVANGELHO – Mt 22, 15-21
«Dai
a César o que é de César e a Deus o que é de Deus»
Perante o poder temporal, aqui
representado por César, o imperador de Roma – que ao tempo de Jesus imperava
também na Terra Santa – a atitude de Jesus é de respeito pela sua autonomia,
mas reivindica, ao mesmo tempo, as exigências primordiais do serviço de Deus,
às quais nada se pode antepor. E, ao mesmo tempo, denuncia a falta de
sinceridade dos que O interrogavam; sem ela, ninguém se poderá dirigir a Deus.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, os fariseus
reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que
dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os
herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas,
segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém,
pois não fazes acepção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar
tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me
tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um
denário e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles
responderam: «De César». Disse-Lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César
e a Deus o que é de Deus».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Fazei, Senhor, que possamos servir ao vosso altar
com plena liberdade de espírito, para que estes mistérios
que celebramos nos purifiquem de todo o pecado.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 32, 18-19
O Senhor
vela sobre os seus fiéis,
sobre
aqueles que esperam na sua bondade,
para
libertar da morte as suas almas,
para os
alimentar no tempo da fome.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Concedei, Senhor,
que a participação nos mistérios celestes nos faça progredir
na santidade,
nos obtenha as graças temporais e nos confirme nos bens
eternos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
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