DOMINGO III
DA PÁSCOA
Que a paz esteja com vocês!
A ressurreição não é fruto da imaginação dos
discípulos, nem se reduz ao fenómeno puramente espiritual. A ressurreição é um facto
que atinge o próprio corpo; daí a identidade do ressuscitado com o Jesus
terrestre. Qualquer acção humana que traz mais vida para os corpos oprimidos,
doentes, torturados, famintos e sedentos, não é apenas obra de misericórdia,
mas é sinal concreto do facto central da fé cristã – a ressurreição do próprio
Senhor Jesus.
A missão cristã nasce da leitura das
Escrituras, onde se percebe o testemunho de Jesus (vida-morte-ressurreição)
como seu centro e significado. Essa missão continua no anúncio de Jesus a todos
os povos e provoca a transformação da história a partir da actividade de Jesus
voltada para os pobres e oprimidos. A conversão e o perdão pressupõem percorrer
o caminho de Jesus na própria vida e nos caminhos da história. A missão é
iluminada pelo Espírito do Pai e de Jesus (a “força que vem do alto”). As
primeiras comunidades cristãs tiveram dificuldade em ver, no Ressuscitado, o
Jesus que havia sido crucificado. A tentação era a de não os identificar e de
tomá-los como duas pessoas distintas. O Evangelho explicita esta identificação aplicando
ao Ressuscitado gestos típicos da antiga convivência de Jesus com os
discípulos. O Mestre come peixe assado e mel, diante deles. Entretanto, a prova
melhor da identidade do Ressuscitado era oferecida pelas Escrituras. Lidas com
atenção, ajudavam a comunidade cristã a compreender que o Cristo devia sofrer,
mas também haveria de ressuscitar, por desígnio de Deus. Os discípulos teriam a
missão de ser anunciadores deste gesto amoroso do Pai para com Jesus, penhor de
salvação para toda a humanidade. A comunidade cristã compreendeu que, se o
Ressuscitado não fosse o mesmo Jesus que fora crucificado, a salvação de Deus
não a teria atingido. Os pecados da humanidade só foram redimidos porque Jesus
foi capaz de vencê-los com a sua morte na cruz. No entanto, se a última palavra
na vida de Jesus tivesse sido a morte, com seu sabor de derrota, não tinha de
se gloriar, pois em nada teria sido diferente dos demais seres humanos. Quando
a comunidade entendeu o verdadeiro sentido do “Sou
Eu!” pronunciado pelo Ressuscitado, tornou-se capaz de
fazer a conexão entre o passado e o presente e proclamar a fé no Jesus vivo e actuante
no meio dela, incentivando-a a superar o medo e a proclamar as maravilhas
operadas por Deus no seu Filho Jesus. Após o encontro do túmulo vazio, Lucas
narra as aparições do ressuscitado aos discípulos de Emaús e, agora, aos onze
apóstolos e companheiros. O núcleo da narrativa é a comunicação da paz e a
afirmação da realidade corpórea do ressuscitado. É o próprio Jesus de Nazaré
que foi crucificado, porém permanece na eternidade. A seguir, com a fala de
Jesus, Lucas repete a menção ao cumprimento das Escrituras sobre Jesus. As
comunidades de discípulos devem viver na paz, conscientes da presença de Jesus.
Os discípulos são enviados a todas as nações como testemunhas da ressurreição.
É a confirmação da vida eterna comunicada por Jesus de Nazaré a todos, pela
conversão. Os dois discípulos, retornando de Emaús, comunicam aos demais,
reunidos em Jerusalém, o reconhecimento de Jesus na partilha do pão. Então, o
próprio Jesus aparece no meio deles e comunica-lhes a paz. É a paz em
plenitude, a paz da participação na vida eterna do Pai, que Jesus traz a todos.
Jesus não foi destruído pela morte e a sua missão de anunciar a conversão para
participar da vida eterna deve ser continuada pelos discípulos em todas as
nações. Jesus aponta o caminho para a vida eterna: a
conversão à prática da justiça, na plenitude do amor. Os discípulos de Jesus, em todos os tempos e povos, são convocados a
testemunhar que um mundo novo onde reina a paz e o amor é possível.
MISSA
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ANTÍFONA DE
ENTRADA – Salmo 65, 1-2
Aclamai a Deus, terra inteira, cantai a glória do seu nome, celebrai os
seus louvores. Aleluia.
ORAÇÃO COLECTA
Exulte sempre o vosso povo, Senhor, com a renovada juventude da alma, de
modo que, alegrando-se agora por se ver restituído à glória da adopção divina,
aguarde o dia da ressurreição na esperança da felicidade eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
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LEITURA I – Actos
3, 13-15.17-19
«Matastes o autor da vida; mas Deus ressuscitou-o dos
mortos»
O plano da
salvação, traçado por Deus, cumpriu-se em Jesus Cristo, que realizou todas as
profecias do Antigo Testamento. Contudo perante o desígnio de Deus, a atitude
dos judeus é de incompreensão: do verdadeiro Servo de Deus fizeram o «Servo
sofredor».
Mas Deus
ressuscitou Jesus! Como o prova o milagre, realizado por Pedro antes deste
discurso, Ele está vivo e continua a Sua obra de restauração da humanidade.
Aqueles que não reconheceram o Messias, quando estava entre eles, têm agora a
possibilidade de se converter, pois a Sua acção renovadora continua através dos
Sacramentos.
Leitura
dos Actos dos Apóstolos
Naqueles
dias, Pedro disse ao povo: «O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, o Deus de
nossos pais, glorificou o seu Servo Jesus, que vós entregastes e negastes na
presença de Pilatos, estando ele resolvido a soltá-l’O. Negastes o Santo e o
Justo e pedistes a libertação dum assassino; matastes o autor da vida, mas Deus
ressuscitou-O dos mortos, e nós somos testemunhas disso. Agora, irmãos, eu sei
que agistes por ignorância, como também os vossos chefes. Foi assim que Deus
cumpriu o que de antemão tinha anunciado pela boca de todos os Profetas: que o
seu Messias havia de padecer. Portanto, arrependei-vos e convertei-vos, para
que os vossos pecados sejam perdoados».
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL
– Salmo 4, 2.4.7.9 (R. 7a)
Refrão: Fazei brilhar
sobre nós, Senhor, a luz do vosso rosto. (Repete-se)
Quando Vos invocar, ouvi-me, ó Deus de justiça.
Vós que na tribulação me tendes protegido,
compadecei-Vos de mim
e ouvi a minha súplica. (Refrão)
Sabei que o Senhor faz maravilhas pelos seus amigos,
o Senhor me atende quando O invoco. Refrão
Muitos dizem: «Quem nos fará felizes?»
Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face. (Refrão)
Em paz me deito e adormeço tranquilo,
porque só Vós, Senhor,
me fazeis repousar em segurança. (Refrão)
LEITURA II – 1 Jo
2, 1-5a
«Ele é a vítima de
propiciação pelos nossos pecados e também pelos do mundo inteiro»
Vencer o mal e
responder, de modo perfeito, a Deus, é um ideal que ultrapassa as nossas
forças. Não devemos, porém, desanimar. Com efeito, Jesus Cristo, para nos
livrar do mal, aceitou ser vítima de expiação por todos nós, tornando-se assim
o nosso advogado, o nosso intercessor junto do Pai. Só Ele pode fortificar a
nossa fé e sustentar a nossa fidelidade. Exige-se-nos apenas que amemos a
Cristo, esforçando-nos por traduzir a nossa fidelidade pela observância dos Seus
mandamentos.
Leitura
da Epístola do apóstolo São João
Meus
filhos, escrevo-vos isto, para que não pequeis. Mas se alguém pecar, nós temos
Jesus Cristo, o Justo, como advogado junto do Pai. Ele é a vítima de
propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do
mundo inteiro. E nós sabemos que O conhecemos, se guardamos os seus
mandamentos. Aquele que diz conhecê-l’O e não guarda os seus mandamentos é
mentiroso e a verdade não está nele. Mas se alguém guardar a sua palavra, nesse
o amor de Deus é perfeito.
Palavra do Senhor
ALELUIA – Lc 24, 32
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Senhor Jesus, abri-nos as Escrituras,
falai-nos e inflamai o nosso coração. (Refrão)
EVANGELHO – Lc 24, 35-48
«Assim está
escrito que o Messias havia de sofrer
e de ressuscitar
dos mortos ao terceiro dia»
Jesus
aparece, visivelmente, aos Apóstolos e convida-os a tocarem o Seu corpo
glorificado, a fim de que não subsistam dúvidas acerca da realidade corporal da
Sua Ressurreição. Ele não é apenas um espírito imortalizado. Ele ressuscitou
também no Seu corpo, como o provam as cicatrizes da Paixão e a refeição tomada
diante deles.
A
salvação alcançada por Jesus é, na verdade, total. Não abrange apenas a alma.
Também o nosso corpo será glorificado. O que é necessário é que o cristão saiba
sempre respeitar o seu corpo. Só assim a renovação iniciada com os Sacramentos
se tornará, no futuro, «glória incorruptível».
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele
tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como
tinham reconhecido Jesus ao partir do pão. Enquanto diziam isto, Jesus
apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Espantados e
cheios de medo, julgavam ver um espírito. Disse-lhes Jesus: «Porque estais
perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as
minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem
carne nem ossos, como vedes que Eu tenho». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os
pés. E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar,
perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?». Deram-Lhe uma posta de
peixe assado, que Ele tomou e começou a comer diante deles. Depois disse-lhes:
«Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: ‘Tem de
se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos
Profetas e nos Salmos’». Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as
Escrituras e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de
ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome
o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por
Jerusalém. Vós sois as testemunhas de todas estas coisas».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS
OBLATAS
Aceitai, Senhor, os dons da vossa Igreja em festa.
Vós que lhe destes tão grande felicidade, fazei-a tomar parte na alegria
eterna.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA
COMUNHÃO
Cristo tinha de sofrer a morte e ressuscitar ao terceiro dia, para ser
proclamado, em seu nome, o arrependimento e o perdão dos pecados. Aleluia.
ORAÇÃO DEPOIS DA
COMUNHÃO
Olhai com bondade, Senhor, para o vosso povo e
fazei chegar à gloriosa ressurreição da carne aqueles que renovastes com os
sacramentos de vida eterna.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é
Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
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