sábado, 17 de agosto de 2019

DOMINGO XX DO TEMPO COMUM – ano C – 18AGO2019






«NÃO VIM TRAZER A PAZ, MAS A DESUNIÃO»
Baseando-se em tradições antigas (como a Lei do Jubileu: Lev 25) e revertendo o modelo dominante da política e da economia importado de Roma, baseado na sua fé em Deus / Abba, Jesus não queria formar grupos de domínio (para impor o seu projecto na Galileia), mas de criatividade religiosa e comunicação humana dos mais pobres. É por isso que ele começou a “curar” os enfermos e aproximar-se dos possuídos e impuros a quem convidava para fazer parte de sua nova família social (eclesial), entendida como uma comunhão de pessoas unidas na mensagem e no caminho do Reino. É por isso que ele convidou os pobres de uma forma especial, tornando-os iniciadores de seu projecto de uma família pacífica de irmãos (filhos) de Deus.

O movimento pela paz de Jesus não começou com grandes reformas económicas e / ou políticas, num sentido global, mas com a criação de grupos familiares pacíficos, abertos dos pobres (itinerantes) a todos os homens e mulheres, intensificando a comunicação pessoal. Ele não anunciou uma paz futura apenas, nem queria que seus pobres tirassem a riqueza dos ricos, mas que eles mesmos (os pobres) começariam a superar o sistema de propriedade privada (violentos), mas não matando ou privando os ricos das suas propriedades, mas oferecendo-lhes saúde e cura (paz), precisamente dos próprios pobres que haviam expulsado e tomado os bens.
Logicamente, por querer e procurar essa paz (e por fazê-lo como ele fez) ele teve que enfrentar a violência do sistema dominante. O Império Romano, que dominava a Galileia, formou-se como um “assunto de família”, uma hierarquia descendente, dos níveis superiores, de modo que a grande ordem da sociedade reproduziu um modelo de boa família padroeira (coisa nossa! ), onde os maiores “beneficiaram” os baixos (e os baixos apoiaram os altos, como clientes de um sistema patronal). O Império era um sistema de violência controlada, de modo que a sua paz era o resultado da imposição de um sobre o outro. Logicamente, Deus era a Ordem, o Valor do valioso, o sistema.
Contra isso, Jesus queria criar um grupo de famílias não patriarcais, onde havia espaço para todos, dos mais pobres. Para isso, ele teve que se opor aos esquemas familiares tradicionais, como era uma família de impostos, centrada no valor superior dos “patriarcas” (pais, homens), deixando os outros membros da família num lugar mais baixo e expulsando os órfãos-viúvas-estrangeiros (cf. Ex 22, 20-23; Dt 16, 9-15; 24, 17-22), vítimas de um tipo de vida e economia comercial. Para superar a violência da família estabelecida (que, por outro lado, foi incapaz de permanecer na nova situação),Jesus teve que criar um novo tipo de família mais extensa, não patriarcal, onde todos se encaixam, não apenas os que estão dentro, mas os do meio social, dos mais pobres. Esta foi a sua revolução, esta é a sua “guerra”, mais difícil do que as guerras de Júlio César ou Augusto.
Logicamente, ao procurar o que procurava, uma família aberta a todos, para criar o que ele queria criar (grupos do Reino), ele não poderia começar a reforçar as instituições existentes (mais família patriarcal, mais ordem, mais lei, mais templo!) , mas começou a “criar família” a partir de órfãos-viúvas-estrangeiros, isto é, daqueles que estavam sendo rejeitados pela boa sociedade estabelecida. Ele não tinha escolha a não ser opor-se a um tipo de família dominante, de natureza hierárquico-tributária, porque ela ia contra a escolha do Reino e porque trabalhava com modelos de imposição hierárquica, expulsando os mais pobres (cf. Mt 10,35-37; Lc 12,53; 14,26). Logicamente, ele teve que dizer aos seus discípulos para “criar desavença” entre pai-pai, irmãos-irmãs... (Lc 14, 26 Q; cf. Ev Tom 55, 1-2; 101, 1-3).
Quando disse aos seus seguidores que deveriam “odiar” os seus parentes (Lc 14,26), Jesus não queria negar ou criticar “laços de sangue e biológicos”, de tipo biológico e social, para promover um tipo de comunhão espiritual, sem vínculos de parentesco tipo “carnal” (como parece querer o apócrifo Evangelho de Tomé), mas rejeitou um modelo familiar exclusivo, para criar outro modelo de família, mas muito concreto (muito carne e sangue, amizade e comunhão), mas não exclusivista; uma família onde homens e mulheres importam, cada um deles e todos em relações concretas, sem imposições ou exclusões, uma família onde os expulsos das outras “tribos” e más famílias do seu tempo se encaixam. Foi uma revolução como nunca antes se vira.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 83, 10-11
Senhor Deus, nosso protector,
ponde os olhos no rosto do vosso Ungido.
Um dia em vossos átrios vale mais de mil longe de Vós.

ORAÇÃO COLECTA
Deus de bondade infinita, que preparastes bens invisíveis para aqueles que Vos amam, infundi em nós o vosso amor, para que, amando-Vos em tudo e acima de tudo, alcancemos as vossas promessas, que excedem todo o desejo.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Jer 38, 4-6.8-10

«Geraste-me como homem de discórdia para toda a terra»

A incompreensão que rodeou Jesus foi também a que envolveu os profetas, concretamente Jeremias, que é, por isso, uma figura de Jesus. Se ele tivesse anunciado só o que era agradável de ouvir, todos o teriam aceitado como profeta; mas porque ele também teve de anunciar o que não era desejado, todos o acharam falso profeta. Mas Deus também está nas coisas dolorosas; foi até na Cruz que Jesus deu o maior testemunho da verdade.

Leitura do Livro de Jeremias
Naqueles dias, os ministros disseram ao rei de Judá: «Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os combatentes que ficaram na cidade e também todo o povo com as palavras que diz. Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição». O rei Sedecias respondeu: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para vos contrariar». Apoderaram-se então de Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à cisterna do príncipe Melquias, situada no pátio da guarda. Na cisterna não havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se no lodo. Entretanto, Ebed-Melec, o etíope, saiu do palácio e falou ao rei: «Ó rei, meu senhor, esses homens procederam muito mal tratando assim o profeta Jeremias: meteram-no na cisterna, onde vai morrer de fome, pois já não há pão na cidade». Então o rei ordenou a Ebed-Melec, o etíope: «Leva daqui contigo três homens e retira da cisterna o profeta Jeremias, antes que ele morra».
Palavra do Senhor


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 39 (40), 2.3.4.18 (R. 14b)

Refrão: Senhor, socorrei-me sem demora. (Repete-se)

Esperei no Senhor com toda a confiança
e Ele atendeu-me.
Ouviu o meu clamor
e retirou-me do abismo e do lamaçal,
assentou os meus pés na rocha
e firmou os meus passos. (Refrão)

Pôs em meus lábios um cântico novo,
um hino de louvor ao nosso Deus.
Vendo isto, muitos hão-de temer
e pôr a sua confiança no Senhor. (Refrão)

Eu sou pobre e infeliz:
Senhor, cuidai de mim.
Sois o meu protector e libertador:
ó meu Deus, não tardeis. (Refrão)

LEITURA II – Hebr 12, 1-4

«Corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós»

Por uma coincidência feliz, também a segunda leitura se vem articular hoje com as outras duas. Ela põe diante de nós a multidão daqueles que levaram a bom termo o combate pela sua fé. Eles nos convidam a nós a seguirmos também o caminho da Cruz, a sermos capazes de, acima de tudo, pormos os olhos em Jesus que foi fiel até à morte e que, por isso, “está sentado à direita do trono de Deus”.

Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos: Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas, ponhamos de parte todo o fardo e pecado que nos cerca e corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição. Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus. Pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado.
Palavra do Senhor

ALELUIA – Jo 10, 27

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

As minhas ovelhas escutam a minha voz,
diz o Senhor;
Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. (Refrão)


EVANGELHO – Lc 12, 49-53

«Não vim trazer a paz, mas a desunião»

Jesus iniciou um movimento pela paz, dos mais pobres, superando a lógica do confronto que regulou a vida das famílias e grupos do seu tempo, na Galileia. Foi uma revolução a partir de baixo, daqueles que viviam à margem da sociedade estabelecida, um movimento de seguidores e amigos, basicamente composto por pessoas que haviam sido expulsas da nova ordem social que estava sendo imposta na Galileia, por causa da transformação económica e política ligada ao Império Romano e às tradições patriarcais.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um baptismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Aceitai, Senhor, o que trazemos ao vosso altar, nesta admirável permuta de dons, de modo que, oferecendo-Vos o que nos destes, mereçamos receber-Vos a Vós mesmo.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 129, 7

No Senhor está a misericórdia,
no Senhor está a plenitude da redenção.

Ou - Jo 6, 51-52
Eu sou o pão vivo descido do Céu, diz o Senhor.
Quem comer deste pão viverá eternamente.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor, que neste sacramento nos fizestes participar mais intimamente no mistério de Cristo, transformai-nos à sua imagem na terra para merecermos ser associados à sua glória no Céu.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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