sábado, 22 de fevereiro de 2020

AMAI OS VOSSOS INIMIGOS


DOMINGO VII DO TEMPO COMUM – ano A – 23FEV2020



O PAI, MODELO DA PERFEIÇÃO

Como se pode superar a vingança ou até mesmo a “justa” punição? O Evangelho propõe atitude nova, a fim de eliminar pela raiz o círculo infernal da violência: a resistência ao inimigo não deve ser feita com as mesmas armas usadas por ele, mas através de comportamento que o desarme. Um dos desafios mais tremendos para os discípulos de Jesus consistia em “oferecer a outra face a quem lhes esbofeteasse a face direita”. Receber um bofetada no rosto é uma experiência altamente ofensiva em qualquer cultura. Replicar é uma reacção natural. O discípulo do Reino, porém, é orientado para agir de maneira diferente: jamais responder à violência com violência. As primeiras comunidades cristãs viam-se pressionadas pela violência dos seus perseguidores. Quanto mais sem fundamento é a violência, tanto mais perversa e maligna ela é. A violência contra os cristãos era deste tipo. Se pagassem com a mesma moeda a violência sofrida, que moral teriam para proclamar a excelência do mandamento do amor e a urgência da reconciliação? Caso se submetessem passivamente seriam dizimados dentro de pouco tempo. Se optassem por se dispersar ou por viver na clandestinidade, não poderiam realizar a missão de arautos do Evangelho que tinham recebido. O gesto de oferecer a outra face era uma forma de resistência pacífica à fúria dos perseguidores. Significava que os discípulos de Jesus não temiam quem os perseguia; que recusavam a se rebaixar ao nível dos seus adversários; que buscavam eliminar a violência na sua origem; e que davam testemunho de um mundo novo onde a violência não tinha lugar. Este testemunho inusitado poderia até mesmo levar os perseguidores à conversão. O Evangelho abre a perspectiva do relacionamento humano para além das fronteiras que os homens costumam construir. Amar o inimigo é entrar em relação concreta com aquele que também é amado por Deus, mas que se apresenta como problema para mim. Os conflitos também são uma tarefa do amor. Os discípulos são convidados a um comportamento que os torne filhos testemunhando a justiça do Pai. Os cobradores de impostos eram desprezados e marginalizados porque colaboravam com a dominação romana, cobrando imposto e, em geral, aproveitando para roubar. Jesus rompe os esquemas sociais que dividem os homens em bons e maus, puros e impuros. Chamando um cobrador de impostos para ser seu discípulo, e comendo com os pecadores, Jesus mostra que a sua missão é reunir e salvar aqueles que a sociedade hipócrita rejeita como maus. A ordem de Jesus pode, à primeira vista, parecer exorbitante e inexequível. Quem será tão pretensioso a ponto de querer igualar-se, em perfeição, ao Pai? Não foi essa a tentação de Adão e Eva, no paraíso, quando ousaram querer ser como deuses, conhecedores de toda a ciência do bem e do mal? Conhecemos o resultado de tal ousadia. Urge entender, de maneira conveniente, o preceito de Jesus, para não classificá-lo de injusto. A ordem do Mestre desponta na vida do discípulo como um ideal, embora sabendo que jamais será alcançado. Com isso sentir-se-á impulsionado a progredir, sem se dar por satisfeito com as metas já alcançadas. Existe sempre a possibilidade de ir além e descobrir novas formas de manifestar o amor ao semelhante, de fazer-se servidor dos mais necessitados, de buscar construir comunhão e reconciliação entre todos os seres humanos, sem acepção de pessoas. Agindo assim, o discípulo torna-se sacramento da perfeição divina na história humana. Seu modo de proceder funcionará como um alerta para quem ainda não se deu conta de quem é o Pai e do que ele exige de nós. O discípulo deve recusar-se a modelar o seu agir pelos esquemas mundanos, calcados no egoísmo. É o Pai que, no esplendor da sua perfeição, aparece como modelo a ser imitado. O amor ao próximo e o ódio ao inimigo estão muito presentes na tradição de Israel. Como “próximo” era considerado todo aquele que integrava o “povo eleito” de Israel, que se identificava através de genealogias raciais. Os povos vizinhos eram inimigos a serem exterminados. Com a parábola do bom samaritano, no evangelho de Lucas, Jesus identifica o próximo com o necessitado, o excluído, o carente. O amor ao próximo ultrapassa qualquer fronteira racial ou religiosa. Com o preceito do amor aos inimigos, Jesus remove os limites da tradição do Antigo Testamento. Com as sugestivas imagens de Deus que faz o sol e a chuva para todos, Jesus revela a dimensão universal do amor e da misericórdia de Deus. Jesus exorta a não só amar os inimigos, mas, também, a orar por eles. Com essa oração se exprime o seu sincero acolhimento diante do Pai. O modelo da perfeição é o Pai celeste, que derrama os seus bens e a sua graça a bons e a maus, justos e injustos. Jesus, com o seu amor e a sua misericórdia, é a revelação do Pai e convida todos ao seu seguimento. Com a auto-afirmação de “povo eleito” por Deus, a religião de Israel pregava o amor entre os irmãos, filhos de Abraão, e o ódio e a destruição dos inimigos. A própria ocupação da “terra prometida”, com Josué, se deu com o extermínio dos povos que ali habitavam, considerados inimigos de Deus e seus. O amor do Pai, manifestado por Jesus, tem conotação universal, sem exclusões e sem limites. Não há discriminação no dom do seu amor. Pela comum filiação divina, devemos viver a fraternidade e a conaturalidade com o Pai. É esta atitude de amor indiscriminado que caracteriza as comunidades de discípulos e a sua acção missionária. A conversão, em seu sentido mais profundo, consiste no revestir-se de misericórdia até ao mais íntimo do seu ser. O “sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” é a grande síntese. Ela opõe-se a multiplicidade de preceitos e observâncias santificadoras do Antigo Testamento. A prática do amor misericordioso significa participar da perfeição do Pai celeste, em comunhão de vida com Deus e com os irmãos. A revelação do Deus Amor abre o caminho da perfeição a todos. A compreensão de que somos todos filhos do Deus Pai e Mãe e a percepção de que o seu amor é sem limites levam à fraternidade universal, à solidariedade e à partilha, vivendo-se com alegria, tendo como meta a união e a Paz.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 12, 6
Eu confio, Senhor, na vossa bondade.
O meu coração alegra-se com a vossa salvação.
Cantarei ao Senhor por tudo o que Ele fez por mim.

ORAÇÃO COLECTA
Concedei-nos, Deus todo-poderoso, que, meditando continuamente nas realidades espirituais, pratiquemos sempre, em palavras e obras, o que Vos agrada.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Lev 19, 1-2.17-18

«Amarás o teu próximo como a ti mesmo»

Na leitura do Evangelho, continuamos a ler o sermão da montanha: o Senhor continua a expor a novidade da Nova Aliança, do Testamento Novo. A passagem de hoje põe, uma vez mais, em relevo a caridade para com o próximo. Mas este era já mandamento de Deus no Antigo Testamento, como bem o mostra esta leitura. Na verdade, quem faz a ligação e até a unidade dos dois Testamentos é Deus, que é sempre o mesmo. Ele é Santo, o Santo por excelência; por isso, não admira que desde sempre e para sempre Deus proponha aos homens o mandamento do amor mútuo, sinal daquele amor com que Ele sempre amou todos os homens.

Leitura do Livro do Levítico
O Senhor dirigiu-Se a Moisés nestes termos: «Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo’. Não odiarás do íntimo do coração os teus irmãos, mas corrigirás o teu próximo, para não incorreres em falta por causa dele. Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor».
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 102 (103), 1-2.3-4.8.10.12-13 (R. 8a)

Refrão: O Senhor é clemente e cheio de compaixão. (Repete-se)

Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios. (Refrão)

Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades;
salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia. (Refrão)

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade;
não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos castigou segundo as nossas culpas. (Refrão)

Como o Oriente dista do Ocidente,
assim Ele afasta de nós os nossos pecados;
como um pai se compadece dos seus filhos,
assim o Senhor Se compadece dos que O temem. (Refrão)


LEITURA II – 1 Cor 3, 16-23

«Tudo é vosso; vós sois de Cristo; Cristo é de Deus»

A fé cristã faz nascer no crente uma forma nova de sabedoria, que não tem nada a ver com a sabedoria do mundo. A sabedoria que vem de Cristo leva-nos a olhar para tudo e para todos como Deus olha, e de tudo e de todos sabe fazer a unidade. Deus é uno, e a todos quer reconduzir à unidade por Cristo. Assim como pelo Verbo de Deus tudo foi chamado à existência, assim pelo Verbo feito homem, por Cristo, tudo é chamado à unidade.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo, e vós sois esse templo. Ninguém tenha ilusões. Se alguém entre vós se julga sábio aos olhos do mundo, faça-se louco, para se tornar sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus, como está escrito: «Apanharei os sábios na sua própria astúcia». E ainda: «O Senhor sabe como são vãos os pensamentos dos sábios». Por isso, ninguém deve gloriar-se nos homens. Tudo é vosso: Paulo, Apolo e Pedro, o mundo, a vida e a morte, as coisas presentes e as futuras. Tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.
Palavra do Senhor

ALELUIA – 1 Jo 2, 5

Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Quem observa a palavra de Cristo,
nesse o amor de Deus é perfeito. (Refrão)


EVANGELHO – 5, 38-48

«Amai os vossos inimigos»

A Boa Nova, o Evangelho, que o Filho de Deus nos revelou, é o ponto mais alto aonde a palavra de Deus guiou os homens. Tudo o que antes dessa Boa Nova foi dito encaminhava-se para a revelação que o Evangelho do Senhor Jesus nos manifestou. Se o Antigo Testamento nos ensinava a amar os amigos, o Novo Testamento vai mais longe e ensina-nos a amar até os inimigos. É assim que se ama como Ele nos amou; e será ao reconhecerem o amor de Deus no nosso coração que os outros serão levados a amá-l’O também.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Olho por olho e dente por dente’. Eu, porém, digo-vos: Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado. Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem a mesma coisa os publicanos? E se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Concedei, Senhor, que celebremos dignamente estes divinos mistérios, de modo que os dons oferecidos para vossa glória sejam para nós fonte de eterna salvação.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 9, 2-3

Cantarei todas as vossas maravilhas.
Quero alegrar-me e exultar em Vós.
Cantarei ao vosso nome, ó Altíssimo.

Ou Jo 11, 27
Senhor, eu creio que sois Cristo, Filho de Deus vivo,
o Salvador do mundo.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

Nós Vos pedimos, Deus omnipotente, que este sacramento de salvação seja para nós penhor seguro de vida eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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