DOMINGO VI DO TEMPO COMUM – ano A – 16FEV2020
…EU, PORÉM, VOS DIGO
A lei não deve ser observada
simplesmente por ser lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça. Cumprir a
lei fielmente não significa subdividi-la em observâncias minuciosas, criando
uma burocracia escravizante; significa, isto sim, buscar nela inspiração para a
justiça e a misericórdia, a fim de que o homem tenha vida e relações mais
fraternas. Em 5,21-48, Mateus apresenta cinco exemplos, para mostrar como é que
uma lei deve ser entendida. A lei que proíbe matar, proíbe esse acto desde a
raiz, isto é, desde a mais simples ofensa ao irmão. Mesmo ofendido e inocente,
o discípulo de Jesus deve ter a coragem de dar o primeiro passo para se reconciliar.
Caso se sinta culpado, procure urgentemente a reconciliação, porque sobre a sua
culpa pesa um julgamento. Jesus radicaliza até à interioridade a fidelidade
matrimonial, apelando ao amor verdadeiro e leal. O adultério começa com o olhar
de desejo, mas o mal deve ser cortado pela raiz. A excepção ilegítima, por
causa do grau de parentesco que trazia impedimento matrimonial segundo a Lei
(Lv 18,6-18; At 15,29). A necessidade de juramentos é sinal de que a mentira e
a desconfiança pervertem as relações humanas. Jesus exige relacionamento em que
as pessoas sejam verdadeiras e responsáveis. A severidade com que Jesus tratou
a questão da violação dos mandamentos – “mesmo dos menores” – deve ser
entendida no contexto de sua pregação e do seu próprio testemunho de vida.
Estaria equivocado quem tentasse entendê-la com a mentalidade dos fariseus
legalistas da época. O apego deles aos mandamentos estava longe da prática de
Jesus. Os fariseus apegavam-se à letra da Lei; o Messias Jesus, no entanto, ia
além, buscando viver o espírito escondido nas entrelinhas dessa mesma Lei.
Jesus estava pouco interessado em minúcias, em questões irrelevantes com as
quais os fariseus se debatiam. A sua preocupação centrava-se na prática do amor
misericordioso, de modo especial em relação aos pobres e marginalizados; na
busca constante de fidelidade ao Pai, cuja vontade era um imperativo
inquestionável; na relativização das prescrições religiosas, quando estava em
jogo a defesa da vida; na liberdade profética diante de tudo quanto se
apresentava como empecilho para a realização do Reino. Portanto, o seu
horizonte era mais vasto e mais radical que o dos seus adversários. O
mandamento antigo permitia o juramento, desde que não fosse falso e se
cumprisse o juramento feito. Para não infringir o 2º. mandamento, recorria-se a
certos eufemismos, a fim de encobrir a referência a Deus. Por isso, jurava-se
pelo Céu, pela Terra, por Jerusalém. A invocação de Deus ou de outros elementos
visava reforçar a palavra dada, de forma a criar confiança e um senso de
segurança entre as pessoas. Assim, dava-se às palavras humanas um tom de seriedade
e credibilidade. Jesus pôs um basta a tudo isto, proibindo o juramento, puro e
simplesmente. O discípulo do Reino não tem necessidade de jurar, pois age com
transparência, sem a menor intenção de enganar os seus semelhantes. Daí ser
desnecessário lançar mão de juramentos para fazer-se credível. A sua boca fala
o que traz no coração, sem necessidade de reforçar as suas palavras com
juramentos. Na perspectiva do Reino, as palavras supérfluas são intoleráveis e
a mentira, obra do maligno. Este é quem move o ser humano a inverter o sentido
das palavras, encobrir-lhes o significado verdadeiro, não permitindo que a
verdade transpareça. O discípulo do Reino é sóbrio no falar. Cada palavra que
pronuncia assume o seu sentido pleno. Seu sim é sim, seu não é não. As sugestões
do maligno não encontram guarida em seu coração.
MISSA
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ANTÍFONA DE
ENTRADA – Salmo 30, 3-4
Sede a rocha do meu refúgio, Senhor,
e a fortaleza da minha salvação.
Para glória do vosso nome, guiai-me e conduzi-me.
ORAÇÃO COLECTA
Senhor, que prometestes estar presente nos
corações rectos e sinceros, ajudai-nos com a vossa graça a viver de tal modo
que mereçamos ser vossa morada.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é
Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
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LEITURA I – Sir
15, 16-21 (15-20)
«Não mandou a ninguém fazer o mal»
Todas as orientações que a palavra de Deus nos dá são luz
a iluminar o nosso caminho, para assim melhor chegarmos até Ele. A moral, como
se diz, do povo de Deus não é uma lei negativa, mas auxílio para ele se
orientar. Esta lei não destrói a liberdade do homem, antes se lhe oferece como
ajuda. São sempre dois os caminhos possíveis e nenhum deles escapa ao olhar de
Deus; ao homem pertence agora a escolha.
Leitura
do Livro de Ben-Sirá
Se
quiseres, guardarás os mandamentos: ser fiel depende da tua vontade. Deus pôs
diante de ti o fogo e a água: estenderás a mão para o que desejares. Diante do
homem estão a vida e a morte: o que ele escolher, isso lhe será dado. Porque é
grande a sabedoria do Senhor, Ele é forte e poderoso e vê todas as coisas. Seus
olhos estão sobre aqueles que O temem, Ele conhece todas as coisas do homem.
Não mandou a ninguém fazer o mal, nem deu licença a ninguém de cometer o
pecado.
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL
– Salmo 118 (119), 1-2.4-5.17-18.33-34 (R. 1b)
Refrão: Ditoso o que
anda na lei do Senhor. (Repete-se)
Felizes os que seguem o caminho perfeito
e andam na lei do Senhor.
Felizes os que observam as suas ordens
e O procuram de todo o coração. (Refrão)
Promulgastes os vossos preceitos
para se cumprirem fielmente.
Oxalá meus caminhos sejam firmes
na observância dos vossos decretos. (Refrão)
Fazei bem ao vosso servo:
viverei e cumprirei a vossa palavra.
Abri, Senhor, os meus olhos
para ver as maravilhas da vossa lei. (Refrão)
Ensinai-me, Senhor, o caminho dos vossos decretos,
para ser fiel até ao fim.
Dai-me entendimento para guardar a vossa lei
e para a cumprir de todo o coração. (Refrão)
LEITURA II – 1 Cor 2, 6-10
«Antes dos séculos
Deus predestinou a sabedoria para a nossa glória»
O plano de Deus sobre este mundo é um mistério, que só foi
completa e definitivamente revelado em Jesus Cristo, por meio do Espírito
Santo. Antes da Encarnação de Jesus Cristo, já ele ia sendo anunciado, mais ou
menos claramente; mas a manifestação deste plano de salvação, que está acima de
toda a sabedoria dos homens, brilha agora como maravilhoso dom celeste.
Conhecê-lo não é conquista humana, mas dom divino, que havemos de acolher com
humildade e em acção de graças.
Leitura
da Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Nós falamos de sabedoria entre os perfeitos, mas de uma sabedoria que não é
deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que vão ser destruidos. Falamos da
sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que já antes dos séculos Deus tinha
destinado para a nossa glória. Nenhum dos príncipes deste mundo a conheceu;
porque se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. Mas,
como está escrito, «nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais
passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam».
Mas a nós Deus o revelou por meio do Espírito Santo, porque o Espírito Santo
penetra todas as coisas, até o que há de mais profundo em Deus.
Palavra do Senhor
ALELUIA – Mt 11, 25
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque revelastes aos pequeninos
os mistérios do reino. (Refrão)
EVANGELHO – Mt 5,
17-37
«Foi dito aos
antigos... Eu, porém, digo-vos...»
Jesus veio a este mundo, e não desfez a
Lei antiga, mas levou-a à perfeição, ensinando a entender o seu sentido
profundo e a observá-la no íntimo do coração, no espírito e não apenas na
letra. Por isso, o cristianismo, que tem as suas leis como todas as comunidades
humanas, coloca a exigência profunda no amor, do qual as regras de vida são a
expressão concreta e visível. O cristianismo tem, por isso, uma moral, mas não
se reduz a uma lei moral.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou
os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que
passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais
pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só
destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens,
será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será
grande no reino dos Céus. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a
dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito
aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém,
digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento.
Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar
louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua
oferta ao altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti,
deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu
irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário,
enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz
ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá,
enquanto não pagares o último centavo. Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás
adultério’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher com maus
desejos já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o teu olho direito é
para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é melhor
perder-se um só dos teus olhos do que todo o corpo ser lançado na geena. E se a
tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de
ti, porque é melhor que se perca um só dos teus membros, do que todo o corpo
ser lançado na geena. Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher dê-lhe
certidão de repúdio’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que repudiar sua mulher,
salvo em caso de união ilegítima, expõe-na ao adultério. E quem se casar com
uma repudiada comete adultério. Ouvistes ainda que foi dito aos antigos: ‘Não
faltarás ao que tiveres jurado, mas cumprirás diante do Senhor o que juraste’.
Eu, porém, digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono
de Deus; nem pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que
é a cidade do grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes
fazer branco ou preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não,
não’. O que passa disto vem do Maligno».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS
OBLATAS
Concedei, Senhor, que estes dons sagrados nos purifiquem e renovem, para
que, obedecendo sempre à vossa vontade, alcancemos a recompensa eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA
COMUNHÃO – Salmo 77, 24.29
O Senhor deu-lhes o pão do Céu:
comeram e ficaram saciados.
Ou Jo 3, 16
Deus amou tanto o mundo que lhe deu
o seu Filho Unigénito.
Quem acredita n’Ele tem a vida eterna.
ORAÇÃO DEPOIS DA
COMUNHÃO
Senhor, que nos alimentastes com o pão do Céu, concedei-nos
a graça de buscarmos sempre aquelas realidades que nos dão a verdadeira vida.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
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