DOMINGO IV DA QUARESMA – ano A – 22MAR2020
O CEGO DE NASCENÇA
O cego de nascença simboliza o
povo que nunca tomou consciência de sua própria condição de oprimido, e por
isso não chegou a ver a verdadeira condição humana, o objectivo para o qual
Deus o criou. A missão de Jesus, e dos que acreditam nele, é mostrar essa
possibilidade, a partir de uma prática concreta, mais do que com palavras. A acção
de Jesus abala as ideias religiosas dos representantes do poder. Estes, em
primeiro lugar, procuram transformar o facto em fraude. Não o conseguindo,
recorrem à sua própria autoridade, para definirem o que está ou não de acordo
com a vontade de Deus. Apegados às suas ideias, negam o que é evidente e
invertem as coisas, defendendo a todo o custo a sua posição de privilégio e
poder. Para eles, Deus preferiria a observância da Lei ao bem do homem. Por
fim, recorrem à violência, expulsando o homem da comunidade, marginalizando-o.
Pretendendo possuir a luz, eles tornam-se cegos e querem cegar os outros.
Curado por Jesus, o homem enfrenta a luta com os dirigentes de uma sociedade
cega que o afasta. Como consequência, ele passa então para uma nova comunidade
e começa o seu novo culto. Por outro lado, os dirigentes não querem aceitar
essa realidade e por isso permanecem intransigentes dentro da instituição
opressora. Este é o julgamento de Jesus. Uma das principais características do
evangelho de João são os seus longos diálogos carregados de simbolismo, que se
desenvolvem a partir de cenas expressivas que suscitam interrogações. O núcleo
do diálogo de hoje é o acolhimento à revelação de Jesus, enfatizado pelo
contraste entre o “ver” e o “cego”. Os fariseus continuam cegos e expulsam da
sinagoga aquele que vê. Há aqui uma alusão do evangelista ao facto de os judeus-cristãos
terem sido expulsos das sinagogas cerca do ano 80. Aqueles que na Lei de Israel
acham que vêem tudo, na realidade, como cegos, não vêem a novidade da luz de
Jesus. A luz é a bondade, a justiça e a verdade, que, brilhando, denunciam as
obras das trevas.
MISSA
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ANTÍFONA DE
ENTRADA – Is 66, 10-11
Alegra-te, Jerusalém; rejubilai, todos os seus amigos.
Exultai de alegria, todos vós que participastes no seu luto
e podereis beber e saciar-vos na abundância das suas consolações.
ORAÇÃO COLECTA
Deus de misericórdia, que, pelo vosso Filho, realizais
admiravelmente a reconciliação do género humano, concedei ao povo cristão fé
viva e espírito generoso, a fim de caminhar alegremente para as próximas
solenidades pascais.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
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LEITURA I – 1 Sam
16, 1b.6-7.10-13a
«David é ungido rei de Israel.»
Continuamos a ler, como primeira leitura dos domingos da
Quaresma, algumas das passagens mais significativas da história da salvação do
Antigo Testamento, para assim compreendermos melhor como a Páscoa de Jesus é o
ponto culminante de toda essa história. Hoje lemos a unção de David como rei de
Israel. David é um antepassado de Jesus, a quem foi feita a promessa de que um
descendente seu seria o grande Rei do povo de Deus. Jesus é esse Rei, Filho de
David, mas ao mesmo tempo, Filho de Deus, como Ele próprio Se revela no
Evangelho. É Ele que vem para conduzir os homens, como seu Pastor, até ao Pai.
Leitura
do Primeiro Livro de Samuel
Naqueles
dias, o Senhor disse a Samuel: «Enche a âmbula de óleo e parte. Vou enviar-te a
Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos». Quando chegou,
Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Senhor». Mas
o Senhor disse a Samuel: «Não te impressiones com o seu belo aspecto, nem com a
sua elevada estatura, pois não foi esse que Eu escolhi. Deus não vê como o
homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração». Jessé fez passar os
sete filhos diante de Samuel, mas Samuel declarou-lhe: «O Senhor não escolheu
nenhum destes». E perguntou a Jessé: «Estão aqui todos os teus filhos?». Jessé
respondeu-lhe: «Falta ainda o mais novo, que anda a guardar o rebanho». Samuel
ordenou: «Manda-o chamar, porque não nos sentaremos à mesa, enquanto ele não
chegar». Então Jessé mandou-o chamar: era ruivo, de belos olhos e agradável
presença. O Senhor disse a Samuel: «Levanta-te e unge-o, porque é este mesmo».
Samuel pegou na âmbula do óleo e ungiu-o no meio dos irmãos. Daquele dia em
diante, o Espírito do Senhor apoderou-Se de David.
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL
– Salmo 22 (23), 1-3a.3b-4.5.6 (R. 1)
Refrão: O Senhor é meu
pastor: nada me faltará. Repete-se (Repete-se)
OU: O Senhor me conduz: nada me faltará. (Repete-se)
O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma. (Refrão)
Ele me guia por sendas direitas
por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo:
o vosso cajado e o vosso báculo
me enchem de confiança. (Refrão)
Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça
e meu cálice transborda. (Refrão)
A bondade e a graça hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre. (Refrão)
LEITURA II – Ef 5, 8-14
«Desperta e
levanta-te do meio dos mortos, e Cristo brilhará sobre ti»
Este é o Domingo da luz, da iluminação. Essa luz é Cristo,
como se diz no final da leitura, numa passagem que é talvez parte de um hino
cristão primitivo. O Baptismo é o sacramento da iluminação, da fé, que havemos
de professar, de novo, na Vigília Pascal. Se na nossa comunidade houver
catecúmenos (que nesta altura, já serão “eleitos”), eles nos ajudarão a sentir
como se deve olhar para o baptismo como o momento da “iluminação”, conforme os
antigos lhe chamavam.
Leitura
da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
Irmãos:
Outrora vós éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da
luz, porque o fruto da luz é a bondade, a justiça e a verdade. Procurai sempre
o que mais agrada ao Senhor. Não tomeis parte nas obras das trevas, que nada
trazem de bom; tratai antes as denunciar abertamente, porque o que eles fazem
em segredo até é vergonhoso dizê-lo. Mas todas as coisas que são condenadas são
postas a descoberto pela luz, e tudo o que assim se manifesta torna-se luz. É
por isso que se diz: «Desperta, tu que dormes; levanta-te do meio dos mortos e
Cristo brilhará sobre ti».
Palavra do Senhor
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Jo 8, 12
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai (Repete-se)
Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor.
Quem Me segue terá a luz da vida. (Refrão)
EVANGELHO –Jo 9,
1-41
«Eu fui, lavei-me
e comecei a ver»
Jesus, que no domingo anterior Se revelou
como Aquele que dá a água da vida, revela-Se hoje como a luz que ilumina o
homem. O cego de nascença é figura de toda a humanidade, que tacteia, neste
mundo, como que às apalpadelas, a caminho da vida, caminho que só Deus lhe pode
desvendar. O Baptismo é o banho que ilumina, porque nos faz mergulhar em Cristo
que é a luz. Os antigos chamavam justamente ao Baptismo a “iluminação”.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele
tempo, Jesus encontrou no seu caminho um cego de nascença. Os discípulos
perguntaram-Lhe: «Mestre, quem é que pecou para ele nascer cego? Ele ou os seus
pais?». Jesus respondeu-lhes: «Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou
dos pais; mas aconteceu assim para se manifestarem nele as obras de Deus. É
preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou. Vai chegar
a noite, em que ninguém pode trabalhar. Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz
do mundo». Dito isto, cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e
ungiu os olhos do cego. Depois disse-lhe: «Vai lavar-te à piscina de Siloé»;
Siloé quer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e ficou a ver. Entretanto,
perguntavam os vizinhos e os que antes o viam a mendigar: «Não é este o que
costumava estar sentado a pedir esmola?». Uns diziam: «É ele». Outros
afirmavam: «Não é. É parecido com ele». Mas ele próprio dizia: «Sou eu».
Perguntaram-lhe então: «Como foi que se abriram os teus olhos?». Ele respondeu:
«Esse homem, que se chama Jesus, fez um pouco de lodo, ungiu-me os olhos e
disse-me: ‘Vai lavar-te à piscina de Siloé’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver».
Perguntaram-lhe ainda: «Onde está Ele?». O homem respondeu: «Não sei». Levaram
aos fariseus o que tinha sido cego. Era sábado esse dia em que Jesus fizera
lodo e lhe tinha aberto os olhos. Por isso, os fariseus perguntaram ao homem
como tinha recuperado a vista. Ele declarou-lhes: «Jesus pôs-me lodo nos olhos;
depois fui lavar-me e agora vejo». Diziam alguns dos fariseus: «Esse homem não
vem de Deus, porque não guarda o sábado». Outros observavam: «Como pode um
pecador fazer tais milagres?». E havia desacordo entre eles. Perguntaram então
novamente ao cego: «Tu que dizes d’Aquele que te deu a vista?». O homem
respondeu: «É um profeta». Os judeus não quiseram acreditar que ele tinha sido
cego e começara a ver. Chamaram então os pais dele e perguntaram-lhes: «É este
o vosso filho? É verdade que nasceu cego? Como é que ele agora vê?». Os pais
responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; mas não
sabemos como é que ele agora vê, nem sabemos quem lhe abriu os olhos. Ele já
tem idade para responder; perguntai-lho vós». Foi por medo que eles deram esta
resposta, porque os judeus tinham decidido expulsar da sinagoga quem
reconhecesse que Jesus era o Messias. Por isso é que disseram: «Ele já tem
idade para responder; perguntai-lho vós». Os judeus chamaram outra vez o que
tinha sido cego e disseram-lhe: «Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é
pecador». Ele respondeu: «Se é pecador, não sei. O que sei é que eu era cego e
agora vejo». Perguntaram-lhe então: «Que te fez Ele? Como te abriu os olhos?».
O homem replicou: «Já vos disse e não destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo
novamente? Também quereis fazer-vos seus discípulos?». Então insultaram-no e
disseram-lhe: «Tu é que és seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés. Nós
sabemos que Deus falou a Moisés; mas este, nem sabemos de onde é». O homem
respondeu-lhes: «Isto é realmente estranho: não sabeis de onde Ele é, mas a
verdade é que Ele me deu a vista. Ora, nós sabemos que Deus não escuta os
pecadores, mas escuta aqueles que O adoram e fazem a sua vontade. Nunca se
ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se Ele não
viesse de Deus, nada podia fazer». Replicaram-lhe então eles: «Tu nasceste
inteiramente em pecado e pretendes ensinar-nos?». E expulsaram-no. Jesus soube
que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: «Tu acreditas no Filho do
homem?». Ele respondeu-Lhe: «Quem é, Senhor, para que eu acredite n'Ele?».
Disse-lhe Jesus: «Já O viste: é quem está a falar contigo». O homem prostrou-se
diante de Jesus e exclamou: «Eu creio, Senhor». Então Jesus disse: «Eu vim a
este mundo para exercer um juízo: os que não vêem ficarão a ver; os que vêem
ficarão cegos». Alguns fariseus que estavam com Ele, ouvindo isto,
perguntaram-Lhe: «Nós também somos cegos?». Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis
cegos, não teríeis pecado. Mas como agora dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado
permanece».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS
OBLATAS
Ao apresentarmos com alegria estes dons de vida eterna, humildemente Vos
pedimos, Senhor, a graça de os celebrar com verdadeira fé e de os oferecer
dignamente pela salvação do mundo.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO
– Jo 9, 11
O Senhor ungiu os meus olhos.
Eu fui lavar-me, comecei a ver e acreditei em Deus.
ORAÇÃO DEPOIS DA
COMUNHÃO
Senhor nosso Deus, luz de todo o homem que vem a este mundo,
iluminai os nossos corações com o esplendor da vossa graça, para que pensemos
sempre no que Vos é agradável e Vos amemos de todo o coração.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
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